terça-feira, 28 de julho de 2009

Lembra De Mim Cap11 ao 14

Capítulo 11

Isso não podia ser verdade.
A luz da manhã é crescente pelos vidros e eu estava acordada há algum tempo, mas anda não tinha levantado da cama. Eu estava encarando o teto, respirando devagar. Minha teoria é que se eu mentir
o suficiente, talvez o turbilhão da minha mente se acalme e tudo volte ao seu devido lugar.
Até agora tem sido uma porcaria de teoria.
Toda vez que relembro os acontecimentos de ontem, eu me sinto tonta. Eu pensei que ia agarrar a punhos essa minha nova vida. Eu achava que estava tudo fora do lugar. Mas agora é como se tudo estivesse deslizando e se esvaindo. Fi disse que sou a chefe-chata-do-inferno. Um cara disse que é meu amante secreto. O que vem agora? Vou descobrir que sou uma agente do FBI?
Isso não pode ser verdade. Fim de história. Por que eu trairia o Eric? Ele é bonito, cuidadoso e multimilionário e sabe como dirigir uma lancha. Enquanto Jon era cheio de truques. Um pouco... irracional.
E quando ele disse “você não sabe nada sobre sua vida” – Que cara-de- pau! Eu sei o suficiente sobre minha vida, obrigada. Sei onde arrumo meu cabelo, sei qual a sobremesa que foi servida em meu casamento, sei com que freqüência eu e Eric fazemos sexo... está tudo no manual.
E além do mais, isso não foi muita grosseria? Você simplesmente não se joga na casa de alguém dizendo “somos amantes”, enquanto a pessoa está recebendo convidados para jantar juntamente com seu marido. Você... você escolhe um outro momento. Você escreve um bilhete. Não, você ã escreve um bilhete. Você – sei lá. Pare de pensar nisso. Eu sentei, apertei o botão para que o vidro da janela se retraísse, corri meus dedos pelos meus cabelos, fiz uma careta por causa dos nós.
A tela à minha frente estava vazia e o quarto estava estranhamente silencioso. Eu ainda acho esquisito, depois do meu quarto arejado em Balham, viver em um lugar que parece uma caixa hermeticamente fechada. De acordo com o manual nós não devemos abrir as janelas por que isso prejudica o sistema de ar-condicionado.
Esse tal de Jon era provavelmente um louco. Ele provavelmente tinha o hábito de fazer de alvo pessoas com amnésia e lhes dizer que tem um caso com elas. Nada. Eu não tinha visto nenhuma menção a ele, nenhuma nota rabiscada, nem fotos, nenhuma lembrança.
Mas daí... eu dificilmente deixaria essas coisas por aí para que o Eric encontrasse, deixaria? Uma pequena voz na mina cabeça disse. Eu sento perfeitamente, apenas por um instante, deixando meus pensamentos correndo soltos. Então num impulso eu levantei e fui para o meu camarim. Me apressei para a penteadeira e abri a primeira gaveta. Estava cheia de maquiagem Chanel dispostas em perfeitas fileiras por Gianna. Fechei a gaveta e abri a próxima, cheia de echarpes dobradas. A seguinte continha um rolo de jóias e um álbum de fotos de camurça, os dois vazios.
Devagar fechei a gaveta. Até aqui, em meu próprio santuário privado, tudo é tão arrumado e estéril e meio que nada eu. Cadê a bagunça? Onde estão minhas coisas? Onde estão minhas cartas e fotos? Onde estão todos os meus cintos de metal e batons gratuitos de lojas baratas? Cadê... eu?
Me inclinei sobre meus cotovelos e comecei a mastigar minha unha por um momento. A inspiração me atingiu. Gaveta de lingerie. Se eu fosse esconder alguma coisa, seria lá. Procurei entre aquele mar de cetim da La Perla, mas não consegui encontrar nada. Nem na gaveta de soutiens.
“Procurando alguma coisa?” A voz de Eric me fez pular. Me virei e dei de cara com ele parado na porta, observando minha procura, e minhas bochechas ficaram coradas.
Ele sabe.
Não, não sabe. Não seja estúpida. Não tem nada pra ele saber.
“Oi, Eric!” Retiro a minha mão do armário o mais despreocupadamente possível. “Eu só estou procurando por... alguns soutiens.”
Okay, essa e a razão pela qual eu não posso ter um caso. Eu sou a pior mentirosa do mundo. Por que eu precisaria de “alguns soutiens”? Por acaso eu tenho seis peitos?
“Na verdade, eu estava pensando,” continuei apressadamente. “Tem mais coisas minhas em algum lugar?”
“Coisas?” Eric levantou as sombrancelhas.
“Cartas, diários, esse tipo de coisas?”
“Devem estar em sua mesa no escritório. É lá que você guarda todos os seus arquivos de trabalho.”
“Claro!” Eu tinha esquecido o ecritório. Ou melhor, eu achava que lá era mais domínio do Eric do que meu.
“Achei que hoje foi uma noite excelente.” Eric deu uns dois passos dentro do quarto. “Bravo. Querida. Não deve ter sido fácil pra você.”
“Foi uma boa diversão.” Sentei de volta os meus quadris, mexendo na pulseira do meu relógio. “Tinha algumas pessoas... interessantes.”
“Você foi sugada demais?”
“Um pouco.” Dei a ele um sorriso brilhante. “Ainda tenho muito o que aprender.”
“Bem, você sabe que pode me perguntar qualquer coisa sobre sua vida. É pra isto que estou aqui.” Eric espalha seus braços. “Tem alguma coisa e particular na sua mente?”

Encarei ele de volta por um momento, sem fala.
Eu tenho transado com o seu arquiteto, você sabe disso?
“Bem.” Limpei a garganta. “Já que você perguntou, eu estava imaginando. Nós somos felizes juntos, não somos? Nós temos um casamento feliz... fiel...?
Eu estava pensando que tinha soltado fiel bem discretamente, mas os ouvidos de Eric pegaram na mesma hora.
“Fiel?” ele franziu o cenho. “Lexi, eu nunca foi infiel a você. Eu nunca sequer pensaria nisso. Nós fizemos votos. Nós temos um compromisso.”
“Claro!” exclamei rapidamente. “Absolutamente.”
“Eu nem consigo imaginar como uma idéia dessas passou pela sua cabeça.” Ele me olhou muito chocado. “Alguém andou dizendo algo diferente? Algum dos nossos convidados? Porque quem quer que seja - ”
“Não! Ninguém disse nada! Eu só... tudo ainda é tão novo e estranho.” Eu estava hesitante, meu rosto quente. “Eu só... pensei que devia perguntar. Sem nenhum motivo.”
Okay, então nós não temos nenhum tipo de casamento aberto e moderno.
Só pra garantir eu precisava esclarecer esse ponto.
Fechei a gaveta de soutiens, abri outra aleatoriamente, e encarei três fileiras de meias-calças enroladas e minha cabeça girou. Eu devo ter tirado tudo dessa área. Mas eu não consigo evitar. Eu tenho que investigar.
“Então, um, aquele cara...” franzi a sombrancelha como se tentasse lembrar do nome dele. “O arquiteto.”
“Jon.”
“Jon. Claro. Ele parece um cara muito bacana.” Eu encolhi os ombros, tentando parecer o mais casual possível.
“Oh, ele é um dos melhores,” Eric disse firmemente. “Ele tem sido uma parte significativa do nosso sucesso. Aquele cara tem mais imaginação que qualquer um que eu conheço.”
“Imaginação?” aproveitei isso com uma ligeira esperança. “Então ele meio que inventa algumas coisas de vez em quando? Tipo... meio fantasioso?
“Não.”Eric pareceu perplexo. “De jeito nenhum. Ele e meu braço direito. Você pode confiar no Jon com sua vida.”

Para meu alívio, o telefone tocou alto, antes que Eric pudesse me perguntar por que eu estava tão intressada no Jon.
Eric desapareceu pelo quarto para atender a ligação e eu fechei a gaveta de meias. Eu estava prestes a desistir da minha busca na penteadeira quando de repete notei algo que nunca tinha reparado antes. Um gaveta oculta, na base do móvel, com um
minúsculo teclado localizado à direita.
Era uma gaveta secreta?
Meu coração começa a disparar. Lentamente eu me abaixo e digito
o número PIN que eu sempre utilizava - 4591. Há um minúsculo
clique - e a gaveta abre. Olho para a porta para ter certeza de que
Eric não estava lá, e ficando avermelhada coloquei a minha mão dentro e alcancei algo duro, como uma alça de . . .
É um chicote.
Por um momento eu fiquei muito embasbacada para me mexer. É um pequeno chicote, com partes de couro preto, parecia uma coisa de loja de masoquistas. Fiquei totalmente hipnotizada com a visão disso em minhas mãos. Era esse o meu chicote do adultério? Eu me tornei uma pessoa totalmente diferente? Sou agora uma fetichista e vou a bares sadomasoquistas para arrastar os homens vestindo um espartilho?
De repente senti olhos em mim e me virei pra Eric parado na porta. Seu olhar foi direto no chicote e ele levantou rapidamente suas sobrancelhas.
“Oh!” eu disse entrando em pânico. “Eu só...achei isso aqui! Eu não sei...”
“É melhor você não deixar isso por aí onde Gianna possa encontrar.”
Ele soou divertido.
Eu o olhei de volta, meu cérebro confuso trabalhando incessantemente. Eric sabia sobre o chicote. Ele está sorrindo. Isso, então, quer dizer...
Não pode ser.
Não pode, não pode, não pode.
“Isto não estava no manual, Eric!” eu estava com o objetivo de ser leve e engraçada, mas minha voz saiu estridente.
“Nem tudo está no manual.” Ele piscou.
Okay, isso muda as regras. Eu pensava que tudo estava no manual.
Olhei para o chicote nervosa. Então... o que acontecia? Eu chicoteava ele? Ou ele-“
Não. Eu não posso mais pensar nisso. Enfiei isso de volta na gaveta fechando com força, minhas mãos suando.
“Isso mesmo.” Eric me dá uma piscadinha. “Mantenha a salvo. Vejo você depois.” Ele saiu e alguns minutos mais tarde eu ouvi a porta da frente bater.
Eu acho que preciso de um pouco de vodka.

***

No final sentei para uma xícara de café e dois pãezinhos. Gianna me deu de seu próprio estoque. Deus, como eu sentia falta de pãezinhos (tipo bagel). E pão francês. E torradas. Eu poderia morrer por algumas torradas, todas macias e douradinhas, coberta com manteiga...
De todo modo, pare de fantasiar com carboidratos. E pare de pensar no chicote. Um chicotinho de nada. E daí?
Minha mãe vinha me visitar às onze horas, e eu não tinha nada pra fazer até lá. Estava pensando pela sala, sentada no braço do sofá imaculado e abri uma revista. Depois de dois minutos, fechei. Eu estava muito nervosa para ler. Era como se pequenas fissuras aparecessem na minha vida perfeita. Eu não sabia em que acreditar. Deixei minha xícara de café de lado e encarei minhas unhas impecáveis. Eu era uma garota normal, com cabelo frizado e dentes tortos e com uma porcaria de namorado. E uma porcaria de emprego justo, e amigas com quem eu me divertia e um pequeno e aconchegante flat.
E agora... eu ainda tenho que checar duas vezes toda vez que vejo meu relexo no espelho. Não vejo minha personalidade refletida em nenhum lugar desse apartamento. O reality show...os saltos altos...minhas amigas se recusando a andar comigo...um cara dizendo que era meu amante secreto...eu simplesmente não sei no que me transformei. Não sei que porra aconteceu comigo. Num impulso, entrei no escritório. Lá estava minha mesa, tudo novo e arrumado com a cadeira empurrada para dentro ordenadamente. Eu nunca tinha tido uma mesa como essa em mina vida; não espanta que não tenha achado que fosse minha. Sentei e abri a primeira gaveta. Estava cheia de cartas, em ordem com clips num arquivo de plástico. A segunda estava cheia de extratos de banco, enrolados com um pedaço de fita azul.
Jeez Louise.*
*(expressão comum para maldizer algo ou mostrar frustração)
Desde quando me tornei tão obcecada com organização*? *(no texto está escrito anal, que além do óbvio, é também uma expressão informal que significa loucos por ordem)
Abri a última gaveta grande, esperando encontrar ordenadamente embalagens de corretivo empilhadas ou algo parecido – mas estava vazia, com exceção de dois pedaços de papel.
Coloquei os extratos bancários em cima da mesa e comecei a examiná-los, meus olhos esbugalharam quando vi meu atual salário mensal, que era pelo menos três vezes mais que o que eu costumava ganhar. A maior parte do meu dinheiro estava indo da minha conta pessoal pra uma conta corrente conjunta que eu mantinha com o Eric, com exceção de uma grande soma que ia todo mês para um lugar chamado “Unito Ace”. Eu tinha que descobrir o que era isso.
Coloquei os extratos de lado e passei para a gaveta com os pedaços de papel. Um deles estava coberto com minha própria caligrafia – mas tava tudo tão abreviado que não consegui ler nada. Estava quase em código. O outro era um pedaço de papel almaço arrancado que tinha minha letra escrita nele a lápis com apenas três palavras.
Eu apenas desejo.
Eu olho, atenta. O quê? O que eu desejo?
Enquanto fico mexendo o pedaço de papel, fico me imaginando escrevendo essas palavras. Eu até tentei – achando que era inútil – lembrar de mim escrevendo aquilo. Teria sido há um ano atrás? Seis meses? Três semanas? Sobre o quê eu estava falando?
A campainha tocou, interrompendo meus pensamentos.
Peguei os pedaços de papel e os enfiei cuidadosamente no meu bolso. Então bati a gaveta e saí.

***

A mamãe trouxe três dos cães junto com ela. Três
enormes, enérgicos e endiabrados bichinhos. Para um apartamento impecável, cheio de coisas impecáveis.
"Oi, mãe!" Pego seu casaco surrado de patchwork e tento beijá-la
enquanto dois dos cachorros escorregam para fora de seu aperto e saltam em direção ao sofá. "Uau. ... Você trouxe cães!"
" Os pobrezinhos pareciam tão solitários quando eu estava saindo." Ela abraça um deles, esfregando bochecha dela contra o seu rosto.
"Agnes está se sentindo bastante vulnerável no momento."
"Certo", eu disse, na tentativa de soar simpática. "Pobre velha
Agnes. Ela poderia talvez ficar no carro? "
“Querida não posso simplesmente abandoná-la!” Mamãe levanta o olhar com um ar martirizado. “Você sabe, não é tão fácil organizar essas viagens a Londres.”
Oh, pelo amor de Deus. Eu sei que ela realmente não queria vir hoje.
Toda esta visita surgiu na sequência de um comentário. Tudo o que eu disse no telefone foi que eu me sentia um pouco esquisita por estar rodeada de estranhos, e a próxima coisa que aconteceu foi a mamãe ficando toda na defensiva e dizendo que ela estava, naturalmente, planejando me visitar.
E acabamos fazendo esse arranjo.
Para o meu horror vejo um cão colocando as suas patas na mesa de café de vidro, enquanto o outro estava no sofá mordendo uma almofada.
Jesus. Se o sofá que vale dez mil libras e, então a almofada deve provavelmente valer cerca de umas mil libras.
"Mãe ... você poderia por favor tirar esse cachorro do sofá?"
"Rafael não irá fazer mal nenhum!" A mamã diz, olhando magoada.
Ela deixa Agnes, que pula para se juntar a Rafael e o outro, qualquer que seja seu nome.
Tinha três cães endiabrados brincando alegremente em cima do sofá do Eric. Era melhor que ele não ligasse as câmeras.

"Você tem Coca diet por aqui?" Amy apareceu tranquilamente atrás da mamãe, com as mãos em seus bolsos.
"Na cozinha, penso eu," eu digo distraidamente, segurando
a minha mão. "Aqui, cães! Fora do sofá!"
Todos os três cachorros me ignoraram.
"Venham cá, meus queridos!" A mamãe tira alguns biscoitos para cães dos bolsos do seu cardigan, e os cães magicamente
param da mastigar os estofados. Um senta-se aos seus pés e os outros dois alinham-se ao lado dela, descansando a cabeça em sua saia desbotada.
"Taí", diz mamã. "Nenhum dano feito."
Eu olhei para a almofada destroçada que Rafael acaba de largar. Realmente não vale a pena dizer nada.
"Não tem Coca Diet". Amy reaparece saindo da cozinha,
desembrulhando um pirulito Chupa Chups, suas pernas intermináveis em um jeans skinny branco enfiado em botas. "Você tem Sprite?"
"Talvez tenha ..." Olho para ela, subitamente distraída.
"Você não deveria estar na escola?"
"Não." Amy coloca o pirulito em sua boca com um sorriso desafiante.
"Porque não?" olho dela para a mamãe, sentindo uma súbita
tensão no ar.
Ninguém respondeu imediatamente. A mamãe está ajustando sua tiara em seus cabelos, seus olhos distantes, como se posicionar
isso fosse simplesmente sua prioridade absoluta.
"Amy está tendo alguns pequenos problemas", diz ela afinal. "Não está, Rafael?"
"Eu fui suspensa da escola." Com um ar orgulhoso,
Amy se dirige a uma cadeira, senta-se, e coloca os pés e cima da mesa do café.
"Suspensa? Porquê?"
Há um silêncio. A mamãe não parece ter-me ouvido.
"Mãe, porquê?"
"Eu acredito que Amy tenha aprontado mais um de seus velhos truques de novo," Mamãe fala com um pouco de desgosto.
"Velhos truques?"
Os únicos truques que consigo me lembrar era quando Amy fazia truques com cartas de baralho de um kit de mágica que ela ganhou de presente de Natal uma vez. Eu até posso vê-la agora, no seu pijama rosa e chinelos de coelhos em frente à lareira, pdedindo que escolhessemos uma carta, enquanto todos nós fingíamos não perceber que ela tinha uma escondida em sua manga.
Eu sinto uma pancada de nostalgia. Ela era uma coisinha tão doce.
"O que você fez, Ame?"
" Não foi nada! Eles totalmente exageraram". Amy
tira seu pirulito de sua boca e suspira com exagerada
paciência. "Tudo que eu fiz foi levar uma vidente na escola."
"Uma vidente?"
"Bem". Amy olha nos meus olhos com um sorriso falso. "Uma mulher que eu conheci no clube. Não sei exatamente que tipo de vidente ela é. Mas todo mundo acreditou em nós. Eu cobrei de cada um dez libras e ela disse a todas as garotas que elas iriam encontrar um garoto amanhã. Todo mundo ficou feliz. Até que algum professor descobriu ".
“Dez libras cada um?” Olhei pra ela sem acreditar. “Nem imagino o porquê de você ter sido suspensa.”
“Já estou no meu aviso final,” diz ela com orgulho.
“Por que? Amy o que mais você aprontou?
“Nada demais! Só... durante as férias eu recolhi dinheiro para a professora de matemática, Sra. Winters, que estava no hospital.” Amy ri. “Eu disse que ela já estava saindo e todos deram um monte de doações. Levantei cerca de quinhentas libras” Ela diz sorrindo. “Foi tão legal!”

“Querida isso é extorquir dinheiro sob falsos propósitos.”
Mamãe torcia suas esferas de âmbar obcessivamente com uma mão, enquanto brincava com um dos cachorros com a outra. “A Sra. Winters ficou muito chateada.”
“Eu dei a ela alguns chocolates, não dei?” "Retruca Amy, nem um pouco arrependida."E mesmo assim, eu não estava mentindo. Você pode morrer numa lipoaspiração".
Estava tentando encontrar algo a dizer, mas estava muito abismada.
Como é que a minha irmã se transformou de uma doce e inocente Amy em ... isto?
"Eu preciso de um hidratante labial", diz Amy, balançando as pernas dela fora do sofá. "Posso pegar algum em sua penteadeira?"
"Um, claro." Logo que ela estava fora da sala me dirigi à
mamãe. "O que está acontecendo? Há quanto tempo Amy tem se metido em problemas? "
"Ah ... nos dois últimos anos." A mamãe não olhava para mim e em vez disso enfeitava o cão em seu colo. "Ela é uma boa, doce menina, realmente, não é Agnes? Ela está apenas sendo mal conduzida. Algumas meninas mais velhas a incentivaram a roubar;mas realmente não foi culpa dela. "
"Roubar?" Eu repito horrorizada.
"Sim. Bem". A mamãe parecia magoada. "Foi um infeliz
incidente. Ela pegou um casaco de um aluno bolsista e pregou
seu próprio nome com fita nas costas. Mas ela realmente está muito
arrependida".
"... Mas porquê?"
"Querida, ninguém sabe. Ela encarou a morte do seu pai muito mal e, desde então ... tem sido uma coisa depois da outra".
Eu não sei o que dizer a esse ponto. Talvez todos os adolescentes que perdem seus pais saiam um pouco dos trilhos.
"Isso me lembrou uma coisa. Eu tenho algo para você, Lexi".
A mamãe procura em sua bolsa de lona e tira de dentro um DVD numa caixa de plástico. "Esta é a última mensagem de seu pai.
Ele fez uma gravação de despedida antes da operação, só pra garantir. Foi passado no funeral. Se você não se lembra disso, provavelmente você pode assisti-lo. " Ela o segurou com dois dedos como se estivesse contaminado.
Tomo o DVD e olho para ela. A última mensagem sobrevivente do meu pai. Eu ainda não posso acreditar que ele está morto há três anos.
"Isso vai ser como vê-lo novamente." Eu fico virando o disco nas
mãos. "Que incrível que ele fez uma gravação."
"Sim. Bem". A mamãe fica com o olhar contraído novamente. "Você
conhece o seu pai. Sempre tinha que ser o centro das atenções."
"Mamãe! É justo o suficiente ser o centro das atenções em seu próprio funeral."
Novamente mamãe parece não ter ouvido. Isso é o que ela sempre faz para disfarçar quando alguém começa a falar de um tema que ela
não gosta. Ela simplesmente abstrai de toda a conversa e muda de assunto. Bastante segura, num momento posterior, ela olha
para cima e diz: "Talvez você possa ajudar a Amy, querida. Você poderia arranjar-lhe um estágio em seu escritório."
"Um estágio?" Eu franzi o cenho com dúvidas. "Mãe, eu não estou
certa sobre isso."
O meu trabalho está numa situação bastante complicada neste momento sem Amy fuçando ao redor do local.
"Apenas uma semana ou duas. Você diz que você falou com a pessoa certa sobre isso, e que está tudo arranjado-"
"Talvez eu faça isso." Eu a cortei precipitadamente. "Mas tudo está diferente agora. Eu ainda nem estou de volta ao trabalho. Eu preciso reaprender meu trabalho-"
"Você fez tão bem em sua carreira", diz mamãe persuasivamente.
Yup, eu fiz muito bem. Fui de gerente de vendas júnior à chefe-chata-do-inferno, em um salto sem escalas.
Há um silêncio por alguns instantes, fora o barulho de cães pulando na cozinha. Eu fico apavorada de pensar no que eles estavam fazendo.
"Mãe, eu estava me perguntando sobre isso", eu disse. "Estou tentando juntar todas as peças da minha vida ... e isso não faz sentido. Por que eu fui a esse programa de TV? Porque é que me tornei tão difícil e ambiciosa do dia para a noite? Eu não consigo entender.
"Não tenho a menor idéia." A mamãe pareceu preocupada, buscando em sua bolsa por alguma coisa. "Avanço natural na carreira."
"Mas não era natural." Eu me inclinei para frente, tentando obter sua
atenção. "Eu nunca fui uma poderosa mulher de negócios – você sabe disso. Por que eu mudei de repente? "
”Querida, isso tudo foi há muito tempo atrás, eu realmente não lembro... Você não tem sido uma boa garota? Você não é a garota mais bonita nesse mundo?" Ela estava arrumando um dos cães, de repente eu percebi.Ela não ia mesmo me ouvir. Típico.

Eu vejo Amy voltando do quarto, ainda chupando seu pirulito.
"Amy, Lexi estava exatamente falando sobre você fazer um estágio em seu escritório! "mamãe diz radiante. "Você gostaria? "
"Talvez," eu acrescentei rapidamente. "Quando eu já estiver de volta ao trabalho por um tempo.
"Yeah. Eu acho".
Ela nem sequer pareceu agradecida.
"Mas gostaria de estabelecer algumas regras", eu disse. "Você
não pode enganar meus colegas. Ou roubar deles. "
"Eu não roubo!" Amy olha irritada. "Foi só um casaco, e ainda confundiram tudo. Jesus. "
"Meu coração, não foi apenas o casaco, foi?" diz a mamãe, depois de uma pausa. "Teve a maquiagem, também."
"Todo mundo só pensa o pior de mim. Toda vez que alguma coisa
falta, eu sou o bode expiatório. " Os olhos de Amy brilhavam
em seu rosto pálido. Ela encolheu seus ombros finos e de repente
sinto-me mal. Ela tem razão. Eu não deveria julgar sem conhecer os fatos.
"Lamento", eu disse acanhada. "Eu tenho certeza que você não rouba".
"Tanto faz." Desviou seu rosto. "Basta me culpar por tudo, igual a todo mundo."
"Não. Não vou". Eu fui até onde ela estava de pé, próxima à janela. "Amy, eu realmente quero pedir desculpas. Sei que as coisas devem ter sido difíceis para você desde papai morreu. Vem cá." Eu levantei meus braços para abraçá-la.
"Me deixe”, diz ela quase selvagem.
"Mas Amy-"
"Vai embora!" Ela vira de costas urgentemente, elevando seus braços para me empurrar.
"Mas você é minha irmãzinha!" Eu fui adiante e dei-lhe um abraço apertado - então me afastei quase imediatamente, esfregando
minhas costelas. "OW! Que diabos... Você está toda encaroçada!"

"Não, eu não estou", diz Amy depois de uma fração de segundo.
"Sim, você está!" Eu espiei sua jaqueta jeans volumosa. "O que na Terra você tem nos bolsos?"
"Latas de comida", diz Amy sem problemas. "Atum e milho doce."
"Milho doce?" encarei ela, perplexa.
"Não outra vez." A mamãe fecha seus olhos. "Amy, o que você está pegando da Lexi?"
“Dá um tempo!” amy grita. “Não estou pegando nada!” ela jogou a mão para cima numa atitude defensiva e dois batons Chanel voaram da manga de sua jaqueta, seguida de um pó compacto. Eles caíram no chão fazendo barulho enquanto todas nós olhávamos para eles.
“Eles são meus?” eu disse por fim.
“Não.” Amy disse agressivamente, mas seu rosto corou.
“Sim, eles são!”
“Como se você pelo menos notasse.” Ela encolheu os ombros mal-humorada. “Você tem milhares de batons malditos.”
“Oh, Amy” mamãe disse lamentando. “Esvazie seus bolsos.”
Mirando mamãe com um olhar assassino, Amy começou a tirar tudo dos bolsos, deixando cair em cima da mesa de café um monte de bobagens. Dois hidratantes lacrados. Uma vela Jo Malone, um monte de maquiagem. Um kit de perfume Christian Dior. Eu observei em silêncio, com olhos arregalados a cada retirada sua.
“Agora tire sua camiseta,” mamãe ordenou, como se fosse um oficial da imigração.
“Isso é tão injusto.” Amy mumurou. Ela lutou com a camiseta por alguns minutos e então meu queixo caiu. Ela tinha por baixo um vestido fino Armani que eu reconhecia do meu armário, todo enrolado por dentro do seu jeans. Ela tinha cerca de cinco soutiens da La Perla presos em seu corpo e enfiados neles como que por encanto mais uma puseira e duas bolsas de noite.
“Você pegou um vestido?” dei uma risadinha surpresa. “E soutiens?”
“Certo. Você quer seu vestido de volta. Está bem.” Ela se livrou de tudo e jogou em cima da mesa. “Satisfeita?” Ela me olhou analisando a expressão em meu rosto. “Não é minha culpa. Mamãe não me dá dinheiro para comprar roupas.”

”Amy, isso é tolice!” mamãe exclamou afiada. “Você está cheia de roupas!”
“Elas estão fora de moda!” ela gritou de volta pra a mamãe, de um jeito que sugeria que elas já tinham tido essa discussão antes.
“Nós não vivemos numa maldita linha do tempo da moda como você! Quando você vai se dar conta de que estamos no século vinte e um?” ela apontou pro vestido da mamãe. “Isto é trágico!”
“Amy, pare com isso!” eu disse bruscamente. “Esse não é o ponto aqui, esses soutiens nem mesmo servem em você!”
“Dá pra vender no e-bay,” ela replicou criticando. “Soutiens luxuosos com preços exagerados, é isso.”
Ela enfiou sua camiseta de volta, se jogou no chão e começou a digitar algo no seu telefone.
Estou totalmente perplexa com tudo isso. "Amy", eu disse, finalmente,
"Talvez devêssemos conversar um pouco. Mamãe, você poderia ir e fazer café ou alguma coisa?"
A mamãe olha totalmente confusa, e parece agradecida por poder ir para a cozinha. Quando ela saiu me sentei no chão, onde Amy estava inferiorizando a si mesma. Seus ombros estavam tensos de raiva e não olhava para cima.
Tudo bem. Eu tenho de ter compreensão e simpatia. Eu que a grande diferença de idade causava um fosso entre mim e Amy. Eu sei que nem sequer podia lembrar de um bom pedaço de sua vida. Mas poderíamos ter uma conversa franca de relacionamento de irmãs?
“Amy, ouça,” eu disse em meu melhor tom irmã-mais-velha-compreensiva-mas-ainda-muito-legal. “Você não pode roubar, okay? Você não pode extorquir dinheiro das pessoas.”
“Sai fora,” Amy disse sem levantar a cabeça.
“Você vai se meter em problemas. Você vai ser chutada da escola!”
“Sai,”Amy disse coloquialmente. “Fora. Sai fora, sai fora, sai fora...”
“Olha!” disse, tentando manter minha paciência. “Eu sei que as coisas podem ser difíceis. E você provavelmente está solitária ficando com a mamãe e os cachorros em casa. Mas se você quiser conversar sobre algo, se você estiver com algum problema, eu estarei ao seu lado. Só precisa me ligar, ou mandar mensagem, a qualquer momento. Nós poderíamos sair para um café, ou ver um filme juntas...” continuei.
Amy ainda estava digitando com uma mão. Com a outra ela levantou o polegar e o indicador e fez para mim o sinal de “perdedor”.(um L de Looser.)
“Ah, sai fora você!” exclamei furiosa e abracei meus joelhos. Pequena vaca estúpida. Se a mamãe pensa que vou ficar com ela em algum tipo de estágio no meu escritório, deve estar brincando.
Ficamos sentadas num silêncio irritante. Depois avancei para o DVD do Papai com a mensagem do funeral, que tinha deslizado para o chão e coloque-o pra tocar. A enorme tela em frente acende-se e, após alguns momentos o rosto do meu pai aparece.
Eu encarei na tela, apertada. Papai estava sentado em uma poltrona,
vestindo uma bata vermelha de plush (plush é aquele tecido macio que parece um veludo meio atoalhado). Eu não reconhecia o quarto – mas até então, eu nunca cheguei a ver muito das casas do papai. Seu rosto estava desolado, da maneira como eu me lembrava dele depois que ele ficou doente. Era como se ele estivesse lentamente se esvaindo. Mas seus olhos verdes estavam brilhantes e tinha um cigarro na sua mão.
"Olá", diz ele, sua voz rouca. "Sou eu. Bem, vocês sabem disso. "Ele ri um pouco e, em seguida, rompe numa tosse, que ele alivia dando mais um trago em seu cigarro, como se estivesse bebendo um copo d’água. "Todos nós sabemos que esta operação tem cinquenta por cento de chance de sobrevivência. É tudo minha própria culpa por sodomizar tanto o meu corpo. Então eu pensei fazer uma pequena mensagem para vocês, minha família, apenas por precaução."
Ele dá uma pausa e toma um profundo gole em seu cálice de uísque. Sua mão está tremendo quando ele coloca o cálice de volta, eu notei.
Será que ele sabia que ia morrer? De repente há um caroço duro em minha garganta. Eu olhei para Amy. Ela deixou de lado o telefone e estava assistindo, também, hipnotizada.
"Vivam uma vida boa," Papai está dizendo para a câmera. "Sejam
felizes. Sejam boas umas para as outras. Barbara, deixe de viver a sua vida através desses malditos cães. Eles não são humanos. Eles nunca amarão você ou lhe darão apoio ou irão para a cama com
você. A menos que você esteja muito desesperada."
Eu botei minha mão sobre a minha boca. "Ele não disse isso!"
"Ele disse." Amy bufou num pequeno riso. "A mamãe caminhou para fora da sala." "Vocês só têm uma vida, meus amores. Não desperdicem-na." Ele olha para a câmera com os olhos verdes brilhantes, e de repente me lembro de quando eu era muito mais nova, e ele ia me pegar na escola em um carro esporte. Eu ficava apontando ele para todas as pessoas: aquele homem ali é meu pai! Todas as crianças suspiravam com o carro e todas as mães lançavam olhares sorrateiros para ele, em sua jaqueta linho elegante e seu bronzeado espanhol.
"Eu sei que eu fodi tudo aqui e ali," Papai estava dizendo. "Eu
sei que não tenho sido o melhor homem de família. Mas com a mão
coração, eu fiz o meu melhor. Um brinde, minhas queridas. Vejo vocês, do outro lado." Ele levanta seu copo para a câmara e bebe. Então a tela fica em branco.
O DVD desliga, mas nem eu nem Amy, nos movemos. Enquanto olhava a tela em branco eu me sentia ainda mais desolada do que antes.
Meu pai estava morto. Ele está morto há três anos. Eu nunca poderei
falar com ele novamente. Eu nunca mais poderei dar-lhe um presente de aniversário. Eu nunca poderei pedir-lhe um conselho. Não que você pudesse pedir conselho do meu pai em nada, exceto no caso de você querer comprar lingerie sexy para uma amante, mas mesmo assim. Eu olhei para Amy, que encontrou o meu olhar com os ombros um pouco encolhidos.
"Isso foi realmente uma bela mensagem", eu digo, determinada a não ser sentimental ou chorar ou nada. "Papai fez bem."
"Yeah". Amy assentiu. "Ele fez."
A frieza entre nós pareceu ter derretido. Amy pega em sua bolsa uma ínfima caixa de maquiagem com a palavra Babe gravada com diamantes em alto relevo na tampa. Ela tira um lápis labial e delineia os lábios habilmente, olhando em um minúsculo espelho. Eu nunca tinha visto ela se maquiando antes, exceto em jogos tipo ‘vista a garota’.
Amy não é mais uma criança, eu percebo enquanto a observo. Ela está à beira de se tornar uma adulta. Sei que as coisas não estão tão bem entre nós hoje - mas talvez no passado ela tenha sido minha amiga. Minha confidente, até.
"Ei, Amy," Eu digo num tom baixo, cauteloso. "Nós conversávamos
muito antes do acidente? Só nós duas, eu quero dizer. Sobre ...
coisas. "Eu olhei rapidamente em direção a cozinha para me certificar de que mamãe não podia ouvir.
"Um pouco". Ela encolhe os ombros. "Que coisas?"
"Eu estava apenas pensando." Eu mantive minha voz natural. "Sem nenhum interesse, alguma vez eu mencionei alguém chamado .. . Jon?"
"Jon?" Amy pausa, com o batom na mão. "Você quer dizer aquele com quem você transou?"
"O quê?" A minha voz pulou fora como um foguete. "Tem certeza?"
Oh meu Deus. É verdade.
"Yeah". Amy parece surpresa com a minha reação. "Você me disse
na Véspera de Ano Novo. Você estava muito bêbada."
"O que mais eu te contei?" Meu coração bate selvagem."Diga-me tudo o que você possa se lembrar."
"Você me contou tudo!" Seus olhos acesos. "Todos os detalhes sórdidos. Foi a sua primeira vez, e ele perdeu o preservativo, e que você estava congelamento no campo da escola..."
"Campo da escola?" encarei Amy, minha mente tentando encontrar algum sentido nisso. "Quer dizer que você está falando sobre...James?"
"Ah, é!" Ela estala sua língua concordando. "Era isso que eu queria dizer. James. A cara da banda de quando você estava na escola. Por que? Sobre quem você estava falando? "Ela finaliza
seu batom e me observa com novo interesse. "Quem é Jon?"
"Ele não é ninguém", eu disse precipitadamente. "Apenas um cara.... Não é nada. "

• • •
Viu só - não há nenhuma prova. Se eu estava realmente tendo um caso eu teria de ter deixado um rasto. Um bilhete, ou uma fotografia, ou um registro no diário. Amy poderia saber, ou algo parecido ...
O ponto é, eu sou feliz casada com Eric. Essa é a verdade.
Muito mais tarde nesta noite, mamãe e Amy foram embora há um tempo atrás, depois que finalmente conseguiu persuadir um dos cães saltitantes a sair da varanda e tirar o outro da banheira de hidromassagem do Eric, onde ele estava tendo uma luta com uma das toalhas.
E agora estou no carro com Eric, correndo rumo à obra. Ele tinha
uma reunião com Ava, sua design de interiores, e sugeriu que eu fosse junto para ver a apresentação do seu último projeto em desenvolvimento,o Blue 42.
Todos os edifícios construídos pelo Eric são chamados de "Blue" e, depois, algum número. É a marca registrada da empresa. Acontece que ter uma marca é uma parte crucial na venda do loft-style living, é o mesmo que ter a música certa tocando quando você entra, bem como os talheres certos dispostos na mesa. Aparentemente Ava é um gênio na escolha dos talheres.
Eu aprendi sobre Ava no manual de casamento. Ela tem quarenta e oito anos, divorciada, trabalhou em Los Angeles por vinte anos,
tem escrito uma série de livros com nomes de coisas como Franja
e Garfo, e cria todas as apresentações das construções para a empresa do Eric.
"Ei, Eric," Eu digo enquanto nos dirigíamos ao local. "Eu estava olhando o meu extrato bancário hoje. Parece que eu pago uma quantidade regular de dinheiro para alguma coisa chamada Unito. Liguei para o banco, e eles disseram que é uma conta no exterior".
"Uh-huh." Eric assentiu como se ele não estivesse interessado.
Eu esperava que ele dissesse mais alguma outra coisa, mas ele liga o rádio.
"Você não sabe nada sobre isso?" Digo por cima do som do notíciario.
"Não." Ele encolhe os ombros. "Não é uma má idéia, porém, colocar parte do seu dinheiro no exterior".
"Certo". Eu estava insatisfeita com a sua resposta, eu quase
sinto como se eu quisesse começar uma briga por isso. Mas eu não sei por que.
"Eu só preciso abastecer." Eric balança para fora da estrada para dentro de um posto de gasolina. "Eu não demoro ..."
"Ei," eu disse assim que ele abre a porta. "Poderia me trazer algumas batatinhas fritas da loja? Salgadas e avinagradas caso tenham".
"Batatinhas fritas"? Ele vira e me olha como se eu tivesse pedido heroína.
"Sim, batatinhas fritas."
"Querida". Eric olha perplexo. "Você não come isso. Está tudo no manual. Nossa nutricionista recomendou uma dieta de proteínas, sem carboidratos."
"Bem, eu sei.... Mas todo mundo se permite um pouco de prazer de vez em quando, não é? E eu realmente estou com vontade de comer batatinhas fritas".
Por um momento Eric parece perdido procurando uma resposta.
"Os médicos advertiram-me que você poderia ser irracional, e se
tornar estranha, com atitudes fora do normal", diz ele, quase pra si mesmo.
"Não é irracional comer um pacote de batatas fritas!" Eu protesto.
"Elas não são veneno".
"Meu coração... eu estou pensando em você." Eric adota um tom amoroso. "Eu sei como você trabalhou arduamente na redução de dois tamanhos em seu manequim. Temos investido muito em seu pessoal trainer. Se você quer jogar fora tudo isso por um saco de batatas fritas, a escolha é sua. Você ainda quer as batatinhas?"
"Sim", eu disse, um pouco mais desafiadoramente do que eu pretendia.
Eu vejo um flash de aborrecimento passar pelo rosto de Eric, que ele
consegue converter em um sorriso.
"Sem problemas." Ele fecha a porta do carro com uma batida pesada. Poucos minutos depois, vejo-o caminhar de volta animadamente vindo da garagem, segurando um pacote de batatas fritas.
"Aqui está." Ele joga no meu colo e liga o motor.

"Obrigado!" Eu sorri agradecida, mas eu não estou certa de que ele notou.
Assim que ele retoma o caminho, eu tento abrir o pacote - mas a minha mão esquerda ainda está desajeitada por causa do acidente e eu não consigo segurar bem o plástico. Por fim coloquei o pacote entre meus dentes, puxei o máximo possível com a minha mão direita... e todo o pacote explodiu.
Merda. Tinha batatas em todos os lugares. Pelos bancos, pela marcha, e no Eric.
"Jesus!" Ele treme sua cabeça aborrecido. "Estão no meu cabelo?"
"Desculpe," eu murmurei, escovando seu casaco. "Eu sinto muito, muito mesmo... "
O fedor de sal e vinagre encheu o carro. Mmm. Esse é um bom cheiro.
"Eu vou ter de ter o carro lavado e limpo por dentro". O nariz de Eric de contrai em desgosto. E meu casaco está coberto de gordura."
"Lamento, Eric," Eu digo mais uma vez, humildemente, escovando as últimas migalhas em seu ombro. "Eu vou pagar a limpeza a seco," eu sentei de volta, e peguei uma enorme batata que aterrisou no meu colo, e coloquei na boca.
"Você está comendo isso?" Eric fala como se essa fosse a gota d´água.
"Só aterrisou no meu colo", eu protesto. "Está limpa!"
Nós continuamos algum tempo em silêncio. Sorrateiramente eu comi mais algumas batatinhas, tentando mastigá-las o mais discretamente possível.
"Não é sua culpa", diz Eric, olhando em frente para a estrada.
"Você teve uma batida na cabeça. Eu não posso esperar normalidade
Ainda."
"Sinto-me perfeitamente normal", eu disse.
"Claro que você sente". Ele dá um tapinha em minha mão condescendentemente e eu enrijeci. Ok, eu poderia não estar totalmente recuperada. Mas eu sei que comer um pacote de batatas fritas não faz de você um doente mental. Eu estou prestes a dizer isso ao Eric, quando ele sinaliza e vira para um par de portões elétricos que estavam abertos para nós. Entramos em um pátio superficial e Eric desliga o motor.

"Aqui estamos." Eu posso ouvir o orgulho rachando em sua voz.
Ele gesticula para fora da janela. "Este é o nosso último bebê."
Eu olhei pra cima, totalmente extasiada, esquecendo tudo sobre as batatas fritas. Diante de nós estava um edifício branco novo em folha. Com varandas arredondadas, um toldo, e uma escada de granito preto que levava até um formidável par de portas com molduras prateadas.
"Você construiu isto?" Eu digo enfim.
"Não pessoalmente." Eric dá uma gargalhada. "Vamos lá". Ele abre sua porta, tira os últimos resquícios de batata em suas calças, e eu o sigo, ainda intimidada. Um porteiro uniformizado abre as portas para nós.
O saguão é todo em mármore pálido e pilares brancos. Este lugar é
um palácio.
"É impressionante. É tão glamuroso!" Eu percebo minúsculos detalhes em todos os lugares, como as bordas embutidas e o teto pintado como o céu.
"A cobertura tem o seu próprio elevador." Com um aceno para o
porteiro, Eric me guia para a parte de trás do lobby e há um
belo trabalho de marchetaria alinhada ao elevador. "Há uma piscina no porão, uma academia, e um cinema para os residentes. Embora, obviamente a maioria dos apartamentos tenha os seus próprios cinemas e academias privativos também", acrescenta.
Dou um olhar cortante para ver se ele está de brincadeira - mas não creio que esteja. Cinema e academia privativos? Em um apartamento?
"E aqui estamos nós..." O elevador abre com o mais ínfimo dos toques e entramos em um saguão circular e espelhado. Eric pressiona suavemente sobre um dos espelhos, que se transforma em uma porta. Ela abre e eu fico boquiaberta.

Eu estou olhando para a sala mais enorme que já vi. Não, espaçosa. Possui janelas que vão do chão até o teto, uma lareira em uma parede na entrada - e em outra parede há uma gigantesca chapa de aço que embaixo tem uma cascata com fluxos intermináveis de água.
"Isso é água de verdade?" Digo estupidamente. "Dentro de uma casa?"
Eric dá uma gargalhada.
"Nossos clientes gostam de afirmação. É divertido, não?" Ele escolhe
um controle remoto e aponta para a cachoeira - e de uma só vez a água está imersa em luz azul. "Há dez shows de iluminação pré-programados. Ava?" Ele levanta a voz, e um pouco mais tarde uma mulher magra e loira, com óculos sem armação, calças cinza, e uma camisa branca aparece em uma porta recuada próxima à cachoeira.
"Olá pessoal!" diz ela, com um sotaque mediterrâneo. "Lexi!
Você está de pé e bem!" Ela agarra a minha mão com as suas. "Eu ouvi tudo sobre o acidente. Pobrezinha."
"Estou bem, realmente." Eu sorrio. "Apenas remendando a minha vida de volta."Eu gesticulo ao redor da sala." Este lugar é
incrível! Toda essa água... "
"A água é o tema do show do apartamento", diz Eric.
"Temos seguido os princípios do feng shui bem de perto, não é, Ava? Isso é muito importante para alguns da nossa rede de ultra-super. "
"Ultra-o quê?" Digo, confusa.
"Os muito ricos", Eric traduz. "O nosso público-alvo."
"Feng Shui é vital para os ultra-super." Ava assente sinceramente.
"Eric, Acabei de receber a entrega dos peixes para a suíte master.
Eles são maravilhosos!" Ela acrescenta a mim, "Cada peixe vale cerca de trezentas libras. Nós os encomendamos especialmente".
Ultra-super qualquer coisa. Peixes encomendados. É um mundo diferente.
Perdida em palavras, olho em volta de novo o maciço apartamento:
o cocktail bar arredondado e a área de assentos submersos e as esculturas de vidro penduradas do teto. Eu não tinha nenhuma idéia de quanto este lugar custava. Eu nem queria saber.
"Aqui está você." Ava me entrega uma maquete complexa feita de papel e madeira minúsculos palitos. "Este é todo o edifício. Você notará que eu acrescentei espelhos nas varandas arredondadas
projetando as bordas das almofadas espalhadas", ela acrescenta."Muito art deco misturado com Gaultier. "(Jean Paul Gaultier – estilista de moda)
"Er ... excelente!" Eu vasculho meu cérebro por algo a dizer
sobre art deco se misturando com Gaultier, e não acho nada. "Então, como você pensou em tudo isso? "Eu aponto a cachoeira, que agora está banhada em luz laranja. "Tipo, como é que você inventa todas essas coisas isto?"
"Ah, isso não é comigo." Ava abala a cabeça enfaticamente.
"Minha área é mobiliário leve, tecidos, detalhes sensuais. O grande conceito da coisa é tudo criação do Jon."
Eu sinto um minúsculo balanço por dentro.
"Jon?" Eu inclino a minha cabeça, adotando a expressão mais vaga possível, como se Jon fosse uma palavra que não me era familiar, de alguma língua obscura estrangeira.
"Jon Blythe," Eric me ajuda prontamente. "O arquiteto.
Você o conheceu no jantar, lembra? Na verdade,
você não estava me perguntando sobre ele ontem a noite? "
"Estava?" Digo após uma pausa ínfima. "Eu. ..
realmente não lembro. " Eu começo a virar o modelo nos meus dedos, tentando ignorar o leve rubor que subia até o meu pescoço.
Isto é ridículo. Estou me comportando como um esposa adúltera culpada.
"Jon, aí está você!" Ava o chamou. "Estávamos falando sobre você!"
Ele está aqui? Minhas mãos trincam involuntariamente em torno do
modelo. Não quero vê-lo. Eu não quero que ele me veja.
Tenho de dar uma desculpa e sair - Mas é tarde demais. Aqui está ele, atravessando o chão, vestindo jeans e uma camisa Navy* (*listrada de vermelho, azul e branco) com decote em V e consultando alguns papeis.
Ok, fique calma. Tudo está bem. Você está feliz casada
e não tem qualquer evidência de qualquer aventura secreta, caso ou ligação com este homem.
"Olá, Eric, Lexi". Ele acena educadamente assim que se aproxima -
então olha em minhas mãos. Eu olho para baixo e sinto um solavanco como alarme.
O modelo foi totalmente esmagado. O telhado foi quebrado e
uma das varandas se deslocou.
"Lexi!" Eric acabou notando. "Como na terra isso aconteceu?"
"Jon". A sobrancelha de Ava desmorona de angústia. "Seu modelo!"
"Eu sinto muito!" Digo, atrapalhada. "Não sei como é que isso
aconteceu. Eu estava apenas segurando, e de algum modo... "
"Não se preocupe." Jon encolhe os ombros. "É só me levou um mês para fazer ".

"Um mês?" Eu repito, horrorizada. "Olha, se você me der algumas fitas adesivas vou corrigi-lo. "Estava dando tapinhas no telhado esmagado, desesperadamente tentando colocá-lo de volta ao lugar.
"Talvez um pouco menos de um mês", disse Jon, assistindo-me.
"Talvez umas duas horas."
"Oh". Eu parei de tentar. "Bem, mesmo assim, eu sinto muito."
Jon me atingiu com uma breve olhada. "Você pode me compensar por isso".
Compensar? O que ele quer dizer? Sem entender muito porque eu deslizei meu braço envolta do Eric. Eu preciso de alguma tranquilidade. Eu preciso de um apoio. Eu preciso de um marido forte ao meu lado.
"Pois é, o apartamento é muito impressionante, Jon". Eu adotei um tom brando, do tipo esposa-de-empresário, movendo um braço em torno do espaço. "Meus parabéns."
"Muito obrigado. Eu estou satisfeito com isso", ele responde no mesmo tom brando. "Como vai a memória?"
"Do mesmo jeito que antes."
"Você não lembra de nada novo?"
"Não. Nada."
"Isso é uma pena."
"Yeah".
Estou tentando ficar natural - mas há uma crescente atmosfera elétrica entre nós quando encaramos um ao outro. Minha respiração vai ficando ligeiramente curta. Eu até dou uma olhada em Eric, convencida de que ele deve ter notado alguma coisa - mas ele nem sequer percebeu. Ele não pode sentir? Ele não pode ver?

"Eric, temos de falar sobre o projeto Bayswater", Ava diz, remexendo sua bolsa de couro macio.
"Eu fui ver o site ontem, e fiz algumas anotações-"
"Lexi, por que você não dá uma volta para olhar o apartamento enquanto Ava e eu conversamos?" Eric interrompe, se soltando do meu braço. "Jon vai te mostrar."
"Oh". enrijeci. "Não, não se preocupe."
"Terei prazer em mostrar a você." A voz de Jon estava seca e meio que entediada. "Se você estiver interessada."
"Realmente, não há necessidade..."
"Querida, Jon desenhou todo o edifício", diz Eric em tom reprovador.
"É uma grande oportunidade para você descobrir a visão da empresa."
"Vem por aqui e eu vou explicar o conceito inicial". Jon
gesticula em direção ao outro lado da sala.
Eu não ia conseguir sair dessa.
"Isso seria ótimo," eu digo afinal.
Ótimo. Se ele quer conversar, eu vou conversar. Jon me acompanhou pela sala e paramos próximos a queda d´água da cascata.
Como alguém poderia viver com a toda essa água caindo pela
a parede desse jeito?”
"Então," Eu digo educadamente. "Como você consegue pensar em todas estas idéias? Todas estas "afirmações" ou o que sejam."
Jon franze a testa pensativamente e o meu coração afunda. Espero que ele não comece a falar um monte de coisas pretensiosas sobre
seu gênio artístico. Estou realmente não estou no humor pra isso.
"Eu só me pergunto, o que um punheteiro* gostaria?" (*a palavra é wanker, que na Inglaterra é um termo pejorativo, que significa marturbador como uma xingação)- ele diz por último. "E aí coloco no projeto."
Não posso deixar de dar uma risada com o choque dessa resposta. "Bem, se eu fosse um punheteiro, eu iria adorar isso."
"Aqui está." Ele dá um passo mais perto e reduz o seu tom de
voz sob o som da água. "Então você realmente não conseguiu recordar coisa alguma?"
"Não. Nadinha de nada."
"Ok". Ele suspira drasticamente. "Temos que nos encontrar. Temos que conversar. Tem um lugar onde nós costumávamos ir, a Old Canal House em Islington." Em uma voz mais alta ele acrescenta," Você pode notar os tetos altos, Lexi. Eles são uma marca característica de todos os nossos desenvolvimentos." Ele me lança um olhar para captar minha expressão.
"O que?"
"Você está louco?" Eu sussurrei,olhando para ter certeza de que Eric
não podia ouvir. "Eu não vou me encontrar com você! Para sua informação, eu não encontrei um único elemento de provasse que você e eu estamos tendo um caso. Nenhum. “Que grande sensação de espaço!" eu adicionei em pleno volume.
"Provas?" Jon me olha como se ele não compreendesse. "Tipo o quê?"
"Tipo ... sei lá. Um bilhete de amor."
"Nós não escrevemos bilhetes de amor."
"Ou bugingangas."
"Bugingangas?" Jon olha como se quisesse rir. "Nós
não gostamos muito de bugingangas também".
"Bem, então não pode ter sido realmente um caso de amor!"
Eu repliquei. "Já procurei na minha penteadeira - nada. Procurei na minha agenda - nada. Eu perguntei a minha irmã – ela nunca ouviu falar de você."
"Lexi". Ele pausa, como se pensasse a melhor forma de explicar a situação para mim. "É um caso secreto. Isso significa um caso que você mantém em segredo."
"Então você não têm qualquer prova. Eu sabia."

Dei a volta e fui na direção da lareira, Jon me seguiu proximamente.
"Você quer provas?" Ouço ele balbuciando num tom incrédulo. "Que tipo ... que você tem uma marca e forma de morango em sua nádega esquerda?"
"Eu não-" Eu giro em triunfo, então paro bruscamente quando Eric olha para nós através da sala. "Não sei como você conseguiu esta maravilhosa utilização de luz!" Eu acenei para Eric, que acenou de volta e continuou sua conversa.
"Eu sei que você não tem uma marca de nascença em sua nádega."
Jon rola seus olhos. "Sei que você não tem nenhuma marca de nascença. Só um sinal em seu braço."
Fui brevemente silenciada. Ele tem razão. Mas e daí?
"Isso poderia ser um palpite de sorte." Eu dobrei meus braços.
"Eu sei. Mas não é." Ele olha para mim de forma constante. "Lexi, eu não estou inventando isso. Nós temos um caso. Nós amamos um ao
outro. Profundamente e apaixonadamente."
"Veja". Eu passei as mãos no meu cabelo. "Isto é... loucura!
Eu nunca teria um caso. Nem com você nem com ninguém.
Eu nunca fui infiel com ninguém na minha vida-"
"Fizemos sexo neste chão quatro semanas atrás", ele me cortou. "Bem ali." Ele apontou para uma enorme branca e macia pele de carneiro.
Eu olhei para aquilo sem fala.
"Vocês ficou por cima", ele acrescenta.
"Pare com isso!" Atrapalhada, eu ando em volta com passos largos pra bem longe daquele espaço, onde uma escada moderna de acrílico levava ao mezanino.
"Vamos dar uma olhada no complexo de salas molhadas", Jon fala
alto enquanto me segue para cima. "Eu acho que você vai gostar..."
"Não, eu não vou," disparei sobre o meu ombro. "Me deixe em paz."
Estamos ambos chegando ao topo da escada e viramos para olhar sobre o corrimão de aço. Vejo Eric no andar abaixo, e mais além, as luzes de Londres através da janela maciça.
Eu tenho de dar o braço a torcer, é um apartamento surpreendente.
Ao meu lado, Jon farejava o ar.
"Hey", diz ele. "Você andou comendo batata frita sabor sal e vinagre?"
"Talvez." Dou-lhe um olhar desconfiado.
Jon abriu bem os olhos. "Estou impressionado. Como você conseguiu passar sorrateiramente pelo fascista alimentar?"
"Ele não é um fascista alimentar", eu disse, sentindo imediatamente
necessidade de defender Eric. "Ele só se preocupa com alimentação...".
"Ele é um Hitler. Se ele pudesse aprisionar cada pão de forma num campo de concentação, ele faria".
"Pare com isso."
"Ele tocaria fogo em todos. Salgadinhos rolariam em primeiro lugar. Depois croissants."
"Pare." Minha boca retorceu com um desejo de dar risinhos e eu me afastei.
Esse cara é mais engraçado do que eu achei à primeira vista. E ele é meio que sexy, íntimo, com seus cabelos escuros enrolados.
Mas até aí, muitas coisas são engraçadas e sexy. Amigos são
engraçados e sexy. Isso não significa que estou tendo um caso com eles.
"O que você quer?" por fim virei para encarar Jon, desarmada."O que você espera que eu faça?"
"O que eu quero?" Ele pausa, suas sobrancelhas se juntavam enquanto ele avaliava seu próprio pensamento. "Eu quero que você diga ao seu marido que você não o ama, que venha pra casa comigo, e que comecemos uma vida nova juntos."
Ele estava falando sério. Eu quase queria rir.
"Você quer que eu vá viver com você", eu disse, como se estivesse esclarecendo um acordo. "Neste momento. Assim do nada."
"Em, por exemplo, cinco minutos." Ele dá uma olhadela no seu relógio. "Tenho umas coisas para fazer primeiro."
"Você é um psicopata total." Eu sacudi a cabeça.
"Não sou um psicopata", diz ele pacientemente. "Eu amo você. Você me ama. De verdade. Você tem a minha palavra sobre isso."
"Eu não tenho de ter a sua palavra sobre qualquer coisa!" Eu de repente me ressenti com sua confiança. "Sou casada, ok? Tenho um marido a quem eu amo, a quem eu prometi amar para sempre. Aqui está a prova! "Eu exibi minha aliança de casamento pra ele."Esta é a prova!"
"Você o ama?" Jon ignora o anel. "Você sente amor por ele? Bem lá no fundo?" Ele bate em seu peito.
Eu quero dizer com raiva "Sim, eu estou desesperadamente apaixonada pelo Eric" e calar ele de uma vez para o próprio bem. Mas, por algum motivo ridículo eu não poderia mentir o bastante.
"Talvez não seja tão profundo ainda... mas eu tenho certeza que será", Digo, desafiante mais do que eu pretendia. "Eric é um cara fantastico. Tudo é maravilhoso entre nós."
"Uh-huh." Jon assentiu educadamente. "Você não fizeram sexo desde o acidente, fizeram?"
Encarei-o desconfiada.
"Vocês fizeram?" Há um brilho em seus olhos.
"Eu... nós..." Eu hesitei. "Talvez nós fizemos, talvez
não! Eu não tenho o hábito de discutir a minha vida privada
com você."
"Sim, você tem." Há uma súbita ironia em seu rosto."Você tem esse hábito. Esse é o ponto." Para minha surpresa ele avança para
uma das minhas mãos. Ele a segura por um momento, olhando para
ela. Então, muito lentamente, ele começa um longo traçado em minha pele com o seu polegar.
Eu não consigo sequer me mover. Minha pele se arrepia; seu
polegar está deixando um rastro com uma deliciosa sensação por onde quer que ele passe. Eu posso sentir minúsculas pontadas atrás do meu pescoço.
"Então o que você achou?" a voz crescente de Eric o anuncia lá de baixo, e eu salto longe, puxando rapidamente minha mão de volta.
O que eu estava pensando?
"É ótimo, querido!" Eu respondo por cima do corrimão, minha voz alta fora do normal."Vamos ficar só mais uns segundos..." Eu voltei, fora da visão do piso inferior, e aceno para Jon me seguir. "Olha, pra mim basta", eu disse, rápido em um tom baixo. "Me deixe em paz. Eu não conheço você. Eu não te amo. As coisas estão suficientemente difíceis para mim neste momento. Eu só quero ter a minha vida, com o meu marido. Tudo bem?"
Eu me movimento em direção à escada.
"Não! Não está bem!" Jon agarra e fica segurando meu braço. "Lexi, você não sabe de toda a história. Você está infeliz com o Eric.
Ele não te ama, ele não te compreende -"
"Claro que o Eric me ama!" Agora eu estou realmente nervosa. "Ele
sentou ao meu lado no hospital noite e dia, ele me trouxe incríveis rosas taupe*... "(*taupe é uma cor que poderia ser traduzida como castanho acinzentado)
"Você pensa que eu não quis ficar ao seu lado dia e noite no hospital?" os olhos de Jon escurecem. "Lexi, isso quase me matou.
"Deixe-me ir." Eu tento puxar meu braço, mas Jon segura firme.
"Você não pode jogar tudo fora." Ele analisa meu rosto desesperadamente. "Está aí. Está tudo aí, em algum lugar, eu
sei que está-"
"Você está errado!" Com um enorme esforço eu puxo meu braço para
fora de seu alcance. "Não está!" Eu avanço as escadas abaixo sem olhar para trás, direto para os braços do Eric.
"Olá!" Ele ri. "Você parece em uma corrida. Está tudo bem?"
"Eu... Não me sinto muito bem." Eu ponho a mão a sobrancelha. "Fiquei com dor de cabeça. Será que podemos ir agora?"
"Claro que podemos, querida". Ele aperta meus ombros e olha até o do mezanino. "Você disse tchau para o Jon?"
"Sim. Apenas vamos..."
À medida que chegávamos à porta eu me apego ao seu casaco caro, com a sensação de que ele aliviaria minhas apreensões. Este é o meu
marido. É por ele que eu estou apaixonada. Esta é a realidade.


Capítulo 12

Okay, eu preciso da minha memória de volta. Estou cheia dessa amnesia. Estou cheia das pessoas me dizendo que sabem mais da minha vida do que eu. É minha memória. Pertence a mim.
Olhei nos meus olhos, refletidos a uma polegada de distância, no espelho da porta do guarda-roupa. Este é um novo hábito que adquiri, ficar parada em frente ao espelho bem pertinho de modo que consiga ver dentro dos meus olhos. É reconfortante. Me faz sentir como se estivesse olhando para a velha eu.
"Se lembre, idiota," Eu ordeno a mim mesma numa voz baixa e feroz. "Se-lem-bre."
Voltei a encarar meus olhos como se eles soubessem tudo, mas não me contassem. Eu suspirei, e encostei minha cabeça contra o vidro frustrada.
Nos dias seguintes, desde o que voltamos da apresentação do apartamento, eu não fazia nada, a não ser mergulhar nos últimos três anos. Eu tinha olhado álbuns de fotos, assisti filmes que eu sabia que tinha "assistido", escutei músicas que sabia que a velha Lexi tinha ouvido uma centena de vezes, mas nada funcionou. Qualquer que fosse o arquivo mental em que minhas memórias perdidas estivessem trancadas, era bem difícil de acessar. Não ia abrir voando só porque eu ouvi uma música chamada "You're Beautiful" do James... de tal ou algum outro.
Estúpido cérebro secreto. Quer dizer, quem é que está no comando aqui? Eu ou ele?
Ontem fui ver aquele neurologista, Neil. Ele balançava a cabeça
agradavelmente enquanto eu botava tudo para fora, e rabiscou um monte de anotações. Então ele disse que era tudo fascinante e que poderia escrever um artigo científico sobre mim. Quando o pressionei, ele acrescentou que talvez iria ajudar se eu escrevesse um cronograma, e que eu poderia ir ver um terapeuta e se eu quisesse.
Mas eu não preciso de terapia. Eu preciso de minha memória.
O espelho ficou embaçado com minha respiração. Eu pressionei minha testa mais forte ainda contra o espelho, como se as respostas estivessem todas no interior dele me olhando, como se eu pudesse alcançá-las se me concentrasse o suficiente...
"Lexi? Eu vou sair." Eric entra no quarto, segurando um DVD, fora de sua caixa. "Querida, você deixou isto sobre o tapete. Seria a localização ideal para um DVD?"
Tomei o disco dele. Era o DVD do primeiro episódio de Ambição que eu comecei a assistir no outro dia.
"Lamento, Eric," digo rapidamente, levando o DVD. "Eu não sei como isso foi parar lá."
Isso era mentira. Ele foi parar lá quando Eric saiu, e eu tinha cerca de cinquenta DVDs espalhados por todo o tapete, juntamente com
revistas e álbuns de fotos e embalagens de doces. Se ele tivesse visto isso,teria tido um ataque cardíaco.
"Seu táxi estará aqui às dez", diz Eric. "Tenho que ir."
"Ótimo!" Eu beijei ele, como fazia agora, todas as manhãs. Isso estava realmente começando a ficar bastante natural. "Tenha um bom dia!"
"Você também." Ele apertou meu ombro. "Espero que corra tudo bem".
"Vai sim", eu digo com toda a confiança.

Eu vou voltar ao trabalho, hoje, o dia todo. Não para assumir o departamento - obviamente eu não estou pronta pra isso. Mas para começar a reaprender meu trabalho, recuperar o atraso de tudo o que perdi. Já se passaram cinco semanas desde o acidente. Eu não posso mais simplesmente ficar sentada em casa. Eu tenho que fazer alguma coisa. Tenho que ter a minha vida de volta. E meus amigos.
Sobre a cama, tudo pronto: são três sacolas de presentes brilhantes com algumas lembrançinhas dentro para Fi, Debs e Carolyn, que eu vou distribuir hoje. Passei um tempão escolhendo os presentes perfeitos; na verdade, cada vez que eu lembro deles tenho vontade de abraçar a mim mesma com prazer.
Zumbindo, eu me diriji a sala de estar e inseri o DVD de Ambição. Eu nunca realmente assisti ao resto do programa. Talvez ele me ajude a voltar ao meu jeito profissional. Eu adiantei rapidamente a introdução, até chegar a uma imagem minha em uma limusine com dois caras de terno, e aí apertei o play.
"Lexi e a sua equipe não vão pegar leve esta noite," narra uma voz masculina. A câmera me focaliza e eu seguro minha respiração com ansiedade.
"Nós vamos ganhar esta tarefa!" Eu estou dizendo, em um tom de voz acentuado para os rapazes, batendo a parte de trás de uma mão sobre a palma da outra. "Mesmo que tenhamos que trabalhar contra o relógio, mas vamos ganhar. Okay? Sem desculpas."
Meu queixo caiu lentamente. Essa mulher de negócios feroz e assustadora sou eu? Eu nunca falei desse jeito em toda minha vida.
"Como sempre, Lexi está levando sua equipe para a missão", diz a voz. "Mas será que a Cobra foi longe demais desta vez?"
Eu não entendi muito bem sobre o que ele estava falando. Que Cobra?
A imagem agora muda para um dos rapazes que estava na limusine.
Ele estava sentado em uma cadeira de escritório, um céu noturno visível através da janela de vidro atrás dele.
"Ela não é humana", ele comentava baixo. "Não existem tantas horas assim na porra do dia. Estamos todos fazendo o nosso melhor, você sabe, mas ela por acaso se importa?"
Enquanto ele falava, uma imagem de mim indo apressada para um depósito que aparecia na tela. Eu senti um súbito desânimo.
Ele estava falando de mim? Agora, com uma imagem completa,
começava uma discussão entre o mesmo cara e eu. Estávamos de pé em uma rua de Londres e ele estava tentando se defender, mas
eu não deixava nem ele falar.
"Você está demitido!" Eu disse severamente, afinal, a minha voz foi tão mordaz que me assustei. "Você está demitido da minha equipe!"
"E a Cobra ataca!" a narração continua. "Vamos ver esse momento de novo!"
Espera aí. Ele está dizendo - A Cobra sou eu?
Com uma música ameaçadora, repetiram a cena em câmera lenta, com um zoom direto em meu rosto.
"Você está demitidooooo!" Estou disse afiada. "Você está demitiiiiidoooo da minha equipe."
Assisti aquilo, tonta de horror. Que porra eles tinham feito? Eles manipularam a minha voz. Estou parecendo uma serpente.
"E Lexi com todo seu veneno está no topo esta semana!" diz a narração. "Enquanto isso, no outro time..."
Um grupo diferente de pessoas de ternos aparece na tela
e começa a discutir sobre a negociação de preços. Mas eu estava muito traumatizada para me mover.
Porque - Como -
Porque ninguém me contou? Porque ninguém me avisou sobre isso? No piloto automático, peguei meu telefone e disquei o número do Eric.
"Olá, Lexi".
"Eric, eu assisti o DVD daquele reality show!" Meu voz estava agitada. "Eles me chamavam de A Cobra! Eu era uma cadela total com todo mundo! Você nunca me disse nada sobre isso!"
"Meu coração, foi um grande show", diz Eric calmamente. "Você se saiu muito bem."
"Mas eles ficaram me chamando depois de serpente".
"E daí?"
"Daí que eu não quero ser uma serpente!" Eu sei que quase pareci
histérica, mas eu não conseguia evitar. "Ninguém gosta de cobras! Eu pareço mais como um. . . um esquilo. Ou um koala."
Koalas são macios e peludos. E um pouco desastrados.
"Um Koala? Lexi!" Eric dá uma gargalhada. "Querida, você é uma cobra. Você tem timing. Você tem ataque. Isso é o que faz de você
uma grande executiva."
"Mas eu não quero ser-" Eu interrompo quando ouço uma buzina. "O meu táxi está aqui. É melhor eu ir."
Eu fui até o quarto para pegar minhas três sacolas brilhantes de presentes, tentando retomar o meu otimismo anterior, tentando ser animada sobre o dia novamente. Mas, subitamente toda a minha confiança tinha evaporado.
Eu sou uma serpente. Não é de admirar que todos me odeiam.

Enquanto o meu táxi segue direto para a Victoria Palace Road,
Eu estava rígida sobre a o banco de trás, agarrada às minhas sacolas de presentes, tendo uma rápida conversa comigo mesma. Em primeiro lugar, todos sabem que a TV edita as coisas. Ninguém realmente pensa que eu sou uma serpente. Além do mais, esse programa foi exibido há anos atrás, provavelmente todo mundo já esqueceu dele.
Oh Deus. O problema de conversar com você mesma é,que no fundo você sabe que é tudo besteira.
O táxi me deixou fora do edifício e eu tomei um grande fôlego, dei uma puxada no meu terno Armani bege claro. Então, com ansiedade, segui meu caminho até o terceiro andar. Assim que ponho os pés pra fora do elevador a primeira coisa que eu vejo é Fi, Carolyn e Debs paradas próximas a máquina de café. Fi está gesticulando para o seu cabelo e falando com animação enquanto Carolyn se intromete, mas
como eu apareci imediatamente a conversa parou, como se
alguém tivesse puxado a tomada do rádio.
"Olá, meninas!" Olhei para elas da forma mais calorosa, com o sorriso mais acolhedor que eu possuia. "Eu estou de volta!"
"Olá, Lexi". Teve uma resposta muda geral e Fi meio que cumprimentou encolhendo os ombros. Okay, não foi um sorriso - mas pelo menos, era uma reação.
"Você está muito bonita, Fi! Esse top é demais". Eu aponto para a camisa creme dela e ela segue o meu olhar com surpresa. "E Debs, você está fabulosa também. E Carolyn! Seu cabelo parece tão moderno, com esse corte curto assim... e essas botas são fantásticas!"
"Essas?" Carolyn bufou com risos e chutou uma bota de camurça marrom contra a outra. "Eu tenho elas há anos."
"Bem, ainda assim... elas são realmente impressionantes!"

Eu estava tagarelando nervosa, falando um monte de coisas sem sentido. Não admira que todas elas pareciam desinteressadas. Fi com os braços cruzados e Debs parecendo que ia soltar risinhos.
"Bem, de qualquer forma ..." Eu forcei-me a abrandar um pouco. "Eu trouxe a todas uma coisinha. Fi, este é para você, e Debs..."
Enquanto eu entregava as sacolas de repente elas me pareceram ridiculamente brilhosas e óbvias.
"Pra que é isso?" Debs disse sem nenhuma expressão.
"Bem, você sabe! Apenas para... hum..." Eu vacilei ligeiramente.
"Vocês são minhas amigas, e ... Vão em frente. Abram!"
Após se olharem sem muita certeza, todas as três começaram a rasgar os papéis de embrulho.
"Gucci?" Fi disse, sem acreditar enquanto puxava uma caixa de jóias verde. "Lexi, não posso aceitar-"
"Sim, você pode! Por favor. Basta abri-lo, você verá ..."
Silenciosamente, fi abre o encaixe e dá de cara com um relógio com pulseira de ouro.
"Você lembra?" Digo ansiosamente. "Nós sempre costumávamos olhar para ele, nas vitrines das lojas. Todo fim de semana. E Agora você realmente tem um!"
"Na verdade..." Fi suspirou, parecendo desconfortável."Lexi, eu comprei um desses há dois anos atrás."
Ela levanta a manga de sua camisa e está usando exatamente o mesmo relógio, apenas um pouco mais envelhecido e menos brilhante.
"Ah", eu disse, meu coração afundou. "Oh, certo. Pois bem, não importa. Eu posso levá-lo de volta, ou trocá-lo, nós podemos pegar outra coisa... "
"Lexi, eu não posso usar isso", Carolyn balança e devolve o perfume que eu comprei pra ela, juntamente com o estojo de couro em que ele veio. "Esse cheiro me dá enjôo."
"Mas este é o seu favorito," eu digo confusa.
"Era", ela corrige. "Antes de eu ficar grávida."
"Você está grávida?" Olhei para ela, comovida. "Oh meu Deus! Carolyn, parabéns! Isso é tão maravilhoso! Estou tão feliz por você. Matt vai ser o melhor pai do mundo-"
"Não é filho do Matt". Ela me cortou categoricamente.
"Não é?" Digo estupidamente. "Mas o quê... Você dois terminaram?"
Eles não podem ter terminado. É impossível. Todo mundo acreditava que Carolyn e Matt ficariam juntos para sempre.
"Eu não quero falar sobre isso, okay?" Carolyn diz quase
em um sussurro. Para o meu horror vi seus olhos ficarem avermelhados por trás dos óculos e ela respirava pesado. "Vejo você depois." Ela empurrou todo o embrulho de papel e fita em mim, e então com passadas largas, voltou ao escritório.
"Ótimo, Lexi", diz Fi sarcasticamente. "Justo quando nós pensamos que ela finalmente superou o Matt."
"Eu não sabia!" Digo, horrorizada. "Eu não tinha idéia. Eu sinto tanto..." Eu enxuguei meu rosto, sentindo calor e agitação". “Debs,abra seu presente."
Para Debs eu comprei uma cruz cravejada com minúsculos diamantes. Ela é tão louca por jóias, e não dá pra errar com um crucifixo. Ela tem que amar o presente!
Em silêncio Debs puxa para fora da embalagem.
"Sei que é bastante extravagante", eu digo nervosa. "Mas eu
queria dar algo verdadeiramente especial-"
"Isso é uma cruz!" Debs entrega a caixa de volta pra mim, seu
nariz contorcendo como se cheirasse algo rançoso. "Eu não posso usar isso! Eu sou judia."
"Você é judia?" Minha boca aberta trava. "Desde quando?"
"Desde que eu fiquei noiva do Jacob", diz ela, como se
fosse óbvio. "Fui convertida".
"Uau!" Digo alegremente. "Vocês estão noivos?" E, obviamente,
Agora eu não posso deixar de ver o anel de platina na mão esquerda, com um diamante bem no centro. Debs usa tantos anéis, que eu não tinha notado esse. "Quando será o casamento? "Minhas palavras derramavam entusiasmo."Onde ele acontecerá?"
"No próximo mês." Ela olha distante. "Em Wiltshire."
"No próximo mês! Oh meu Deus, Debs! Mas eu não recebi-"
Eu caí bruscamente em uma espécie de silêncio quente e surdo.
Eu estava prestes a dizer "Mas eu não recebi um convite."
Eu não recebi convite porque não fui convidada.
"Quero dizer... hum...parabéns!" De alguma forma eu mantive um
sorriso brilhante engessado no meu rosto. "Eu espero que tudo seja radiante.E não se preocupe, eu posso facilmente trocar a cruz... e
o relógio... e o perfume". Com dedos trêmulos eu comecei a enfiar todos os papéis de embrulho rasgados dentro de uma das sacolas.
"Yeah", diz Fi em uma estranha voz. "Bem, nos vemos por aí, Lexi".
"Bye". Debs ainda não pôde olhar-me nos olhos. Ambas foram embora e eu fiquei assistindo, o meu queixo enrijeceu de vontade de chorar.
Ótimo trabalho, Lexi. Você não ganhou suas amigas de volta -
você só fodeu tudo ainda mais.
"Um presente para mim?" Byron com seu tom sarcástico apareceu atrás de mim e me virei para vê-lo andando pelo corredor, com um
café na mão. "Que delicadeza a sua, Lexi!"
Deus, ele me dá arrepios. Ele é que é a cobra.
"Olá, Byron", eu disse da maneira mais enérgica que me foi possível. "Bom ver você."
Reuni todas as minhas forças, levantei o meu queixo e joguei para trás umas mechas de cabelo que estavam no meu rosto. Eu não posso desabar.
"É muita coragem sua voltar, Lexi", declara Byron enquanto descemos o corredor. "Muito admirável".
"Na verdade não!" Disse o mais confiante que pude. "Eu estava ansiosa por isso. "
"Bem, qualquer dúvida, você sabe onde estou. Embora hoje eu estarei com James Garrison a maior parte do dia. Você se lembra do James Garrison?"
Maldito maldito maldito.Porque é que ele sempre escolhe as pessoas das quais eu nunca ouvi falar?
"Lembre-me", eu digo com relutância.
"Ele é o manda-chuva do nosso distribuidor, Southeys? Eles distribuem nossos estoques ao redor do país? Tipo, tapetes, assoalhos, as coisas que nós vendemos? Eles os transportam por aí em caminhões?" Seu tom é educado, mas ele está debochando.
"Sim, eu me lembro da Southeys", eu disse cortando ele. "Obrigada.
Por que você está indo vê-los?"
"Bem", declara Byron depois de uma pausa. "A verdade é, eles estão perdendo o jeito. Estamos num momento decisivo. Se eles não puderem melhorar os seus sistemas, vamos ter de procurar outro distribuidor."
"Certo". Assenti como uma chefe da forma que me foi possível. "Bem, me mantenha informada." Nós chegamos em meu gabinete e eu abri a porta.
"Vêjo você mais tarde, Byron".
Eu fechei a porta, joguei minhas sacolas de presente sobre o sofá, abri o armário de arquivos, e retirei uma gaveta inteira cheia de pastas.
Tentando não me sentir assustada, eu sentei na mesa e abri
o primeiro, que continha atas das reuniões do departamento.
Três anos. Eu posso me atualizar sobre três anos. Não é tanto tempo assim.

***
Vinte minutos depois, o meu cérebro já estava doendo. Eu não
lia algo tão sério ou pesado pelo que me parecia meses - e isto era tão denso quanto melaço. Discussões de orçamento. Contratos a serem renovados. As avaliações de performances. Eu senti como eu estivesse de volta à faculdade, fazendo cerca de seis semestres de uma vez só.
Eu comecei a pôr numa folha de papel: ‘Perguntas a fazer’, e eram tantas que rapidamente já tinha passado para o outro lado.
"O que você está fazendo?" A porta foi aberta e silenciosamente
Byron estava me olhando. Ele não sabe bater?
"Muito bem", eu disse defensivamente. "Bem na hora. Tenho apenas umas duas minúsculas perguntas..."
"Manda ver." Ele se encosta contra o encaixe da porta.
"Certo. Em primeiro lugar, o que é QAS?"
"Esse é o nosso novo software de contabilidade. Todos tiveram treinamento nele."
"Bem, eu posso fazer o treinamento também," digo animada, e rabisco em minha folha. "E o que é o Serviços.com?"
"É o nosso fornecedor de serviços para clientes online."
"O quê?" Eu enruguei a sobrancelha, confusa. "Mas o que aconteceu com o departamento de serviços ao cliente?"
"Ficou redundante anos atrás", declara Byron, soando entediado. "A empresa foi reestruturada e vários departamentos tornaram-se desnecessários."
"Certo". assenti, na tentativa de absorver tudo isso, e olhei para minha folha novamente. "Então, sobre a BD Brooks? O que é?"
"Eles são nossa agência de publicidade", declara Byron com exagerada paciência. "Eles fazem propagandas para nós, no rádio
e na TV-"
"Eu sei o que é uma agência de publicidade!" Eu disparei, mais fervorosa do que eu pretendia. "Então, o que aconteceu com a Pinkham Smith? Nós tínhamos uma ótima relação com eles-"
"Eles não existem mais." Byron rola seus olhos. "Eles foram à falência. Jesus, Lexi, você não sabe de coisa alguma, não é?"
Abro a minha boca para replicar mas eu não posso. Ele tem razão. Era como se todo o cenário que eu conhecia tivesse sido arrastado por um tipo de furacão. Tudo foi reconstruído e eu não reconheço mais nada dele.
"Você é nunca vai pegar tudo isso de novo." Byron me inspecionava com pena.
"Sim, eu vou!"
"Lexi, enfrente isso. Você está mentalmente doente. Você não deveria ficar expondo sua mente a esse tipo de tensão-"
"Eu não sou doente mental!" Eu exclamei furiosamente, e fiquei de pé. Empurrei Byron com força porta a fora, e Clare me olhou alarmada, desligando o seu telefone celular.
"Olá, Lexi. Será que você quer alguma coisa? Uma xícara de café?"
Ela olha aterrorizada, como se eu estivesse prestes a morder sua cabeça ou incendiá-la ou algo parecido. Okay, agora é a minha chance de mostrar que eu não sou uma chefe-chata-do-inferno. Eu sou eu.
"Olá, Clare!" Eu digo no meu mais amigável e caloroso tom, e me encosto no canto da sua mesa. "Está tudo bem?"
"Um ... sim." Seus olhos são vastos e cuidadosos.
"Eu estava me perguntando se você gostaria que eu pegasse um café pra você?"
"Você?" Ela estranhou, como se suspeitasse de um truque. "Pegar um café pra mim?"
"Sim! Porque não?" Eu respondi sorrindo, e ela se encolheu.
"Er... tudo bem". Ela desliza para fora da sua cadeira, seus olhos fixados em mim, como se ela pensasse que eu realmente sou uma cobra. "Eu vou pegar um."
"Espere!" Disse quase desesperadamente. "Você sabe, Claire, eu gostaria de conhecer melhor você. Talvez um dia pudéssemos almoçar juntas... passear... fazer compras..."
Claire olha ainda mais perplexa do que antes.
"Um ... yeah. Okay, Lexi", ela murmura, e se afasta rapidamente pelo corredor. Eu me viro e vejo Byron ainda no pórtico, fazendo piadinha.
"O que foi?" Eu pressiono.
"Você realmente está uma pessoa diferente, não está?" Ele levanta suas sobrancelhas admirado.
"Talvez eu queira apenas ser amigável com o meu pessoal e de tratá-los com respeito", eu disse desafiante. " Algo errado com isso?"
"Não!" Byron elevou suas mãos. "Lexi, essa é uma ótima idéia."
Ele corre seus olhos sobre mim, ainda com seu sorriso sarcástico nos lábios, depois clica sua língua, como se lembrasse de alguma coisa.
"Isso me lembra. Antes de cair fora, há uma coisa que eu deixei para você lidar como diretora do departamento. Eu achei que seria mais correto."
Até que enfim. Ele estava me tratando como chefe.
"Ah, sim?" Eu levantei o meu queixo. "O que é?"
"Nós recebemos um e-mail lá de cima falando sobre pessoas abusando do horário de almoço." Ele enfia a mão em seu bolso e tira um pedaço de papel. "SJ quer que todos os diretores dêem às suas equipes uma reprimenda severa*(*Bollock é um palavrão na Inglaterra, então a tradução mais correta no contexto seria “dar uma comida de rabo” na equipe). Hoje, de preferência". Byron aumenta suas sobrancelhas inocentemente. "Eu posso deixar isso com você?"
***
Filho da mãe. Filho da mãe.
Passei pelo meu escritório, dei um gole no meu café, com meu estômago revirando nervosamente. Eu nunca dei um sermão em ninguém antes.
Repreender todo o departamento. Repreender ao mesmo tempo em que tento provar que eu sou realmente amigável, e não uma chefe-chata-do-inferno.
Olhei uma vez mais, o e-mail impresso enviado por Natasha, a assistente pessoal de Simon Johnson.
Caros colegas. Chegou ao conhecimento de Simon de alguns dos membros da equipe estão regularmente ultrapassando o limite do horário de almoço bem além do normal. Isto é inaceitável. Ele ficaria grato se vocês pudessem deixar isso bem claro para suas equipes ASAP, e aplicar uma política mais rigorosa de controle.
Obrigado.
Natasha
Tudo bem. O ponto é que, o e-mail realmente não fala "dê uma reprimenda severa no seu departamento. "Eu não preciso ser agressiva nem nada parecido. Eu posso deixar tudo claro e ainda ser agradável.
Talvez eu possa ser engraçada e amigável! Eu vou começar, "Ei, pessoal! Suas horas de almoço estão longas o suficiente?" Eu rolo meus olhos para mostrar que estou sendo irônica e todo mundo vai rir, e alguém vai dizer, "Tem algum problema, Lexi?" E eu vou sorrir com arrependimento e dizer, "Não sou eu, são os engomados lá de cima. Portanto, vamos apenas tentar estar de volta no tempo certo, sim?" E algumas pessoas concordarão e dirão "bastante justo". E isso vai sair tudo muito bem.
Sim. Isso parece bom. Tomando uma grande fôlego, eu pego o papel e guardo em meu bolso, então saio do meu escritório em direção a sala do departamento de revestimento.
Lá havia barulho de conversas e de pessoas ao telefone e alguns teclando uns com os outros. Por cerca de um minuto ninguém sequer me notou.Depois Fi olha para cima e dá uma cotovelada em Carolyn, que por sua vez cutuca uma menina que eu não reconheço, para encerrar sua conversa telefônica. Ao redor da sala, pessoas procuram atualizar suas telas desligando recepções de áudio e vídeo e as cadeiras giram para suas posições, gradualmente até que todo o escritório tinha ficado paralisado.
"Olá, pessoal!" Eu disse, meu rosto pinicava. "Eu...hum...Ei, pessoal! Como vão vocês?" Ninguém respondeu, ou sequer tomou conhecimento de que eu estava falando.Eles estavam apenas me encarando com a mesma expressão muda de simpatize-com-isso.
"Enfim!" Eu tento parecer brilhante e alegre. "Eu só queria dizer... Suas horas de almoço estão longas o suficiente? "
"O que?" A menina na minha antiga mesa olhou vago. "Temos permissão de ter mais tempo?"
"Não!" Digo precipitada. "... Eu quero dizer que elas estão muito longas!"
"Eu acho que estão boas." Ela encolhe os ombros. "A hora só dá para algumas compras."
"Yeah", concorda outra menina. "Só dá pra você ir até a King's Road e voltar."
Ok, eu realmente não estou conseguindo atingir o meu ponto aqui. E
agora duas meninas no canto começaram a falar novamente.
"Ouçam, todos! Por favor!" Minha voz está se torna estridente.
"Tenho de lhes dizer uma coisa. Sobre as horas de almoço. Algumas
as pessoas na empresa um...Quer dizer, não necessariamente
nenhum de vocês-"
"Lexi", diz Carolyn claramente. "Sobre que diabos você está falando?" Fi e Debs explodiram em risos e minha face ficou em chamas.
"Olhe, gente," Tento manter minha compostura. "Isso é sério."
"Sééééééério," alguém repetiu, e houve risadas desrespeitosas por toda sala. "É sssséééeéérioooo".
"Muito engraçado!" Eu tento sorrir. "Mas ouçam, seriamente..."
"Seriameeeennteee..."
Agora, quase todos na sala parecem estar assobiando ou rindo ou ambos. Todos os rostos estão vivos; todos desfrutando a piada, exceto eu. De repente um avião de papel voa passado pela minha orelha e aterrizando no chão. Eu salto em choque e todo o escritório estoura com ataques de riso.
"Certo, bem, olhem, só não levem tempo demais durante o almoço, ok?" Eu digo desesperadamente. Ninguém me escuta. Outro avião de papel bate no meu nariz, seguido por uma borracha. Apesar de tudo, lágrimas brotaram nos meus olhos.
"Seja como for, vejo vocês depois!" Eu manejei. "Obrigado por...
por estarem fazendo o trabalho duro. "Com risos me seguindo eu me virei e fui tropeçando para fora do escritório. Aturdida, eu me dirigi ao banheiro feminino, passando por Dana no caminho.
"Indo ao toalete, Lexi?" ela diz surpresa, enquanto eu empurro a mim mesma para dentro. "Você sabe, você tem uma chave para o lavabo executivo! É muito mais agradável!"
"Estou bem aqui". Eu forcei um sorriso. "De verdade."
Eu entrei direto para o último cubículo, bati a porta pra fechar,
e desabei minha cabeça em minhas mãos, sentindo a tensão sugando meu corpo. Essa foi de todas a mais humilhante experiência da minha vida. Exceto pelo episódio do maiô branco.
Por que eu fui querer ser chefe? Por quê? Tudo o que acontece é você perder os seus amigos e têm de dar às pessoas reprimendas severas e todos dão vaias em você. E para quê? Um sofá em seu escritório? Um cartão de visitas elegante?
Por fim, cansadamente, levantei a minha cabeça, e eu me vi prestando atenção na parte de trás da porta cubículo, que estava toda riscada como sempre. Nós sempre utilizávamos essa porta como um tipo de quadro de mensagens, para expressar algo, ou fazer piadas ou apenas conversas bobas. Ela fica completamente lotada, então alguém esfrega e limpa, aí começamos tudo de novo. O pessoal da limpeza, nunca disse nada, e nenhum dos executivos nunca vinham aqui – então era bem seguro. Eu estava correndo meus olhos pelas mensagens, sorrindo de alguma história difamatória sobre Simon Johnson, quando uma nova mensagem em marcador azul capturou meu olhar. Era a letra de Debs que dizia: "A Cobra está de volta."
E, por baixo, em preto quase apagado: "Não se preocupe, eu cuspi no café dela."
• • •
Só tinha uma coisa a fazer. E isso era ficar realmente muito, muito, muito bêbada. Uma hora depois, e eu estava caída no bar do Hotel Bathgate, virando a esquina do trabalho, acabando meu terceiro Mojito. E o mundo já me parecia um pouco borrado - mas por mim tudo bem. Do jeito que eu me encontrava, quanto mais borrado melhor pra mim. Enquanto eu conseguir manter meu equilíbrio, continuarei sentada na banqueta desse bar.
"Olá". Eu levantei minha mão para chamar a atenção do barman.
"Eu gostaria de um outro, por favor."
O barman levanta suas sobrancelhas surpreso e, em seguida, diz, "Claro."
Eu o assisto ressentidamente enquanto ele retira o hortelã.
Será que ele não vai me perguntar por que eu quero outro? Ele não vai me oferecer algum tipo de sabedoria de barman experiente?
Ele coloca o coquetel em um porta-copo e acrescenta uma taça de
amendoim, que eu empurrei para o lado com desprezo. Eu não quero nada que dilua o álcool. Eu quero ele direto na minha corrente sanguínea.
"Posso pegar mais alguma coisa pra você? Um lanche, talvez?"
Ele apontou para o pequeno menu, mas ignorei-o e dei um gole profundo no Mojito. Estava gelado e com sabor forte de limão e perfeito.
"Eu pareço uma cadela para você?" Eu digo enquanto olho para cima. "Honestamente?"
"Não." O barman sorri.
"Bem, eu sou, aparentemente". Tomo outro gole de Mojito.
"Isso é o que todos os meus amigos dizem".
"Que amigos!"
"Eles costumavam ser." Eu coloquei o meu coquetel no balcão e o encarei mal-humorada. "Não sei onde a minha vida deu errado."
Eu já estava soando enrolada, mesmo para os meus próprios ouvidos.
"Isso é o que todos eles dizem." Um cara sentado no final do bar levanta a vista de seu ‘Evening Standard’* (*deve ser um jornal). Ele tinha um sotaque americano e um cabelo escuro, com entradas. "Ninguém sabe onde deu errado."
"Não, mas eu realmente não sei." Eu levantei um dedo impressivamente. "Sofri um acidente de carro... e boom! Quando acordei e estava aprisionada no corpo de uma cadela."
"Para mim parece que você está aprisionada no corpo de uma gata*."(*a palavra usada é babe, no sentido de mulher atraente, mas preferi usar gata pra fazer o trocadilho com cadela)
O cara americano moveu-se lentamente para a próxima banqueta, com um sorriso em seu rosto. "Eu não trocaria esse corpo por nenhum outro."
Eu olhei para ele confusa por um momento - até que entendi.
"Ah! Você está flertando comigo! Desculpe. Mas eu já sou casada.
Com um cara. Meu marido." Eu levantei a minha mão esquerda, localizei minha aliança de casamento depois de alguns instantes, aponto para ela. "Vê só. Casada." Penso atentamente por um momento. "Também, talvez eu tenha um amante."
O barman respira abafado. Eu observo com suspeita,mas seu rosto está sério. Tomo outro gole da minha bebida e sinto o álcool chutando, dançando em torno da minha cabeça. Meus ouvidos estão zumbindo e a sala está a começando a se mover.
O que é uma coisa boa. Salas devem se mover.
"Você sabe, eu não estou bebendo para esquecer", eu disse puxando assunto com o barman. "Eu já esqueci tudo." Isso de repente me pareceu tão engraçado, que eu começo a gargalhar incontrolavelmente. "Eu levei uma pancada na cabeça e me esqueci tudo. "Estava agarrando minha barriga; lágrimas saindo dos meus olhos. "Eu esqueci até mesmo que tinha um marido. Mas eu tenho!"
"Uh-huh." O barman troca de olhares com o cara americano.
"E eles disseram que não existe uma cura. Mas você sabe, os médicos podem estar errados, não podem?" Faço um apelo para o resto do bar. Várias pessoas pareciam estar ouvindo agora, e alguns deles acenaram com a cabeça.
"Os médicos estão sempre errados", afirma o cara americano enfaticamente. "Eles são todos uns idiotas".
"Exatamente!" Eu giro para ele. "Você está tão certo! Okay". Eu
tomo um gole profundo do meu Mojito e, em seguida, me volto para o barman.
"Posso pedir-lhe um pequeno favor? Você pode pegar aquela coqueteleira e me bater na cabeça com ela? Disseram que não iria funcionar, mas como é que eles sabem?"
O barman sorriu, como se ele achasse que eu estava só brincando.
"Ótimo". Eu suspiro impacientemente. "Eu vou ter de fazê-lo eu mesma."
Antes ele que ele pudesse me parar, eu peguei a coqueteleira e
acertei a minha própria testa. "OW!" Eu larguei a coqueteleira e agarrei minha cabeça. "Ouch! Isso dói!"
"Você viu isso?" Eu pude ouvir alguém por trás exclamando atrás de mim. "Ela é maluca!"
"A senhora está bem?" O barman olha alarmado.
"Eu posso chamar-lhe um -"
"Espere!" Eu levantei a mão. Por alguns momentos eu estou pronta,
completamente parada, esperando que meu cérebro se inunde em minhas memórias. Então eu caí em decepção. "Não funcionou. Nem mesmo uma. Sádica."
"É melhor lhe dar um café preto forte," Eu ouvi o americano dizendo baixinho ao barman.
Maldição. Eu não quero um café. Eu ia dizer isso a ele, quando o meu telefone emite um aviso sonoro. Depois de uma pequena luta com o
zipper da minha bolsa, tiro meu telefone e é uma mensagem do Eric.
‘Oi, estou indo pra casa. E’
"Essa é do meu marido," Eu informei o barman enquanto guardava o telefone. "Você sabe, ele consegue dirigir uma lancha."
"Ótimo", diz o barman educadamente.
"Yeah. É mesmo". assenti enfaticamente, umas sete vezes. "Ele é
ótimo. É perfeito, o casamento perfeito... "Eu considero por um momento. "Exceto, porque nós não temos feito sexo."
"Você não tiveram relações sexuais?" O americano ecoou espantado.
"Nós tínhamos feito sexo." Tomo um lento gole do Mojito e me inclino em direção a ele de forma confidencial. "Eu só não me lembro disso."
"Que bom, não?" Ele começa a rir. "Explodiu sua mente, né?"
Explodiu minha mente. Suas palavras entraram na minha cabeça como um grande neon piscando. Explodiu minha mente.
"Você sabe o que?" Eu digo devagar. "Você não pode entender,
mas isso é muito ass ... sigficat ... significativo. "
Não tenho certeza se a palavra saiu muito bem. Mas eu sei
o que quero dizer. Se eu fizer sexo, talvez isso vá explodir minha mente.
Talvez isso é só o que eu preciso! Talvez Amy estivesse certa o tempo todo, é a cura natural para a amnésia.
"É isso que vou fazer." Eu abaixei o meu copo com força.
"Eu vou fazer sexo com o meu marido!"
"Vai fundo, garota!" afirma o americano, rindo. "Divirta-se."
• • •
Eu vou fazer sexo com Eric. Esta é a minha missão. Enquanto eu ia para casa em um táxi, estava bastante animada. Assim que eu chegar, pularei nele.E nós vamos fazer um sexo maravilhoso e minha mente vai explodir e de repente tudo ficará claro.
O único porém é que eu não estou com o manual aqui comigo. E não consigo me lembrar totalmente da seqüência e preferências nas preliminares.
Eu fechei os olhos, a tentar ignorar a tontura na minha cabeça e recordar exatamente o que Eric escreveu. Alguma coisa era no sentido horário. E outra coisa era com "suaves e, em seguida, urgentes carícias com a língua. "Coxas? Peito? Eu deveria ter memorizado aquilo. Ou ter escrito em um Post-it; que eu poderia pendurar sobre a cabeceira.
Ok, eu acho que já sei. Primeiro nádegas, então interior das coxas,
daí o saco escrotal...
"Como é?" diz o taxista.
Opa. Eu não realizei que estava falando em voz alta.
"Nada!" Digo precipitadamente.
Os lóbulos da orelha entravam em algum lugar, eu lembrei de repente.
Talvez era lá que a língua urgente tinha que acariciar.De qualquer maneira, isso não importa. O que eu me lembrar eu vou fazer. Quero dizer, não é possível que nós somos um tipo de casal antigo e entediado que faz tudo exatamente do mesmo jeito toda vez, será?
Será?
Eu sinto um minúsculo escrúpulo, que tento ignorar. Isto vai ser ótimo. Além disso, estou com uma fantástica lingerie. Sedosa e combinando,e tudo mais. Eu nem sequer possuo mais nada surrado ou remendado.
Nós paramos, em frente ao prédio, e eu paguei o taxista. Enquanto subia no elevador eu tirava da boca os chicletes que vinha mastigando pra aliviar o cheiro de bebida e desabotoei um pouco minha camisa. Exagerei. Dava pra ver meu sutiã.

Eu desabotoei mais uma vez, entrei no apartamento, e chamei: "Eric!"
Não houve nenhuma resposta, assim eu segui em direção a seu escritório. Estava bem bêbada, para dizer a verdade. Estava tropeçando sobre meus saltos e as paredes ficavam indo para trás e para frente no meu campo de visão.
Seria melhor se não tentássemos fazer isso em pé.
Eu cheguei à porta do escritório e procurei por alguns instantes
pelo Eric, que estava trabalhando em seu computador. Na tela eu podia ver o folheto para o Blue 42, seu novo edifício.
A festa de lançamento seria em alguns dias, e ele tem gasto todo seu
tempo preparando sua apresentação.
Ok, o que ele deveria fazer agora era sentir a carga de vibração sexual na sala, se virar e me ver. Mas ele não fez isso.
"Eric," eu digo na minha mais rouca e sensual voz – mas ainda assim ele não se moveu. De repente eu percebi que ele estava com fones nos ouvidos.
"Eric!" Eu gritei, e, finalmente, ele se virou. Ele puxou o seu
fone e sorriu.
"Olá. Teve um bom dia?"
"Eric... me possua." Eu passei as mãos pelos meus cabelos. "Vamos transar. Exploda minha mente."
Ele me observa por alguns segundos. "Querida, você andou bebendo?"
"Eu posso ter tomado uns dois coquetéis. Ou três." acenei com a cabeça e, em seguida, me agarrei na porta pra manter a postura."O ponto é que, eles me fizeram perceber o que eu quero. O que eu preciso. Sexo".
"Oooo-Kay." Eric levanta suas sobrancelhas. "Talvez você
devesse ficar sóbria primeiro, comer alguma coisa. Gianna fez um
ótimo ensopado de mariscos - "
"Eu não quero marisco ensopado!" Eu sinto como se estivesse batendo o pé."Temos de fazer isso! É a única maneira de eu me lembrar!"
O que há de errado com ele? Eu estava esperando que ele pulasse em mim, mas em vez disso ele estava esfregando sua testa com as costas do seu punho.
"Lexi, não quero te apressar a nada. Esta é uma grande decisão. O médico do hospital disse que só deveríamos ir até um estágio onde você se sentisse confortável-"
"Bem, eu estou muito à vontade para fazê-lo agora mesmo." Eu desbotoo mais dois botões, expondo o meu sutiã da La Perla. Deus, os meus seios parecem ótimos neles.
Quer dizer, eles tinham que estar, por sessenta libras.
"Vamos lá". Eu levanto meu queixo de maneira desafiadora. "Eu sou sua esposa."
Vejo a mente do Eric trabalhando enquanto ele me encara.
"Bem... okay!" Ele fecha o seu documento e desliga o computador e, em seguida, ele vem, coloca os braços em torno de mim e começa a me beijar. E é... bom. Ele é. É... agradável.
Sua boca é muito suave. Reparei nisso antes. É um pouco estranha para um homem. Quer dizer, não é exatamente wwsexy, mas -

"Você está confortável, Lexi?" a voz suspirante de Eric estava na minha orelha.
"Sim!" Eu sussurro de volta.
"Devemos ir para o quarto?"
"Ok!"
Eric me guia para sair do escritório, e eu o segui, tropeçando um pouquinho nos saltos. Tudo parecia um pouco formal curiosamente, como se ele estivesse me introduzindo a uma entrevista para um emprego.
No quarto, nós retomamos os beijos. Eric parecia realmente afim, mas eu não tinha a menor idéia do que deveria fazer a seguir. Eu
vislumbrei o manual do casamento sobre as almofadas e me perguntei se eu poderia rapidamente puxá-lo e abrir na parte das preliminares com o meu dedo do pé.
Só que o Eric poderia perceber.
Agora ele está me puxando para baixo, sobre a cama. Tenho de ser recíproca. Mas com o quê? Uni-duni-tê - Não. Pára com isso.
Eu vou começar com... peito. Desabotoei a camisa. Carícias em movimentos. No sentido horário.
Ele realmente tem um bom peito. Eu devo reconhecer. Firme e
musculoso, por conta da hora que ele gasta na academia todos os dias.
"Sente-se confortável se eu tocar em seu peito?" ele murmura enquanto começa a abrir o meu Sutiã.
"Eu acho que sim," Eu sussurro de volta.
Por que é que ele está me apertando? É como se ele estivesse comprando frutas. Ele vai me causar um hematoma a qualquer minuto.
De qualquer maneira, pare de ser implicante. Está tudo ótimo. Eu tenho um marido fabuloso com um corpo incrível e nós estamos na cama e -
Ouch. Isso é o meu mamilo.
"Lamento", sussurra Eric. "Ouça, querida, você fica confortável se eu tocar seu abdômen?"
"Er... eu acho!"
Porque é que ele tem que pedir? Por que eu não estaria confortável com ele tocando no meu peito ou abdômem? Isso não faz sentido.
E, para ser absolutamente sincera, não sei se confortável é a palavra certa. Isto tudo é um pouco surreal. Nós estamos nos movimentando e ficando ofegantes e fazendo tudo como em um livro, mas sinto como se não estivesse chegando a lugar algum.
A respiração quente de Eric estava em meu pescoço. Acho que é hora de eu fazer alguma outra coisa. Nádegas, talvez, ou. . . Oh, certo. Pelo jeito que as mãos do Eric estão se movendo, parece que estamos indo direto para a parte interna das coxas.
"Você é quente", ele estava dizendo, a sua voz urgente. "Jesus, você é quente. Isto é tão quente."
Eu não acredito nisto! Ele fala ‘quente’ o tempo todo também! Ele deveria muito fazer sexo com a Debs.
Ah. Não. É óbvio que ele não deveria fazer sexo com Debs.
Apague esse pensamento.
De repente eu percebi que estou tipo três passos atrás de toda essa coisa de preliminares, sem falar dessa história de transar conversando.Mas Eric nem parecia ter notado.
"Lexi, querida?" ele murmurou com sua respiração na minha orelha.
"Sim?" Eu sussurro de volta, querendo saber se ele está prestes a dizer “eu te amo. "
"Você ficaria confortável se eu colocasse em meu pênis em sua- "
Uurk!


Antes que eu pudesse deter a mim mesma, eu já o tinha empurrado e me afastado.
Oops. Não era minha intenção empurrá-lo tão forte.
"O que há de errado?" Eric senta-se alarmado. "Lexi! O que aconteceu?
Você está bem? Você teve um flashback?"
"Não." Eu mordi meu lábio. "Lamento. De repente me senti um pouco... hum..."
"Eu sabia. Eu sabia que estávamos precipitando as coisas." Eric suspirou e segurou minhas mãos. "Lexi, converse comigo. Porque você não estava confortável? Foi por causa de algum ... reaparecimento de alguma memória traumática? "
Oh Deus. Ele parece tão sério. Tenho que mentir.
Não. Eu não posso mentir. Casamentos só funcionam se você for totalmente honesto.
"Não foi por causa de uma memória traumática", eu disse afinal,
cuidadosamente procurando através dele pelo edredom. "Foi porque você disse 'pênis'."
"Pênis?" Eric pareceu absolutamente desconcertado. "O que há de errado com pênis?”
"É que... você sabe. Não é muito sexy. Usado como palavra."
Eric inclina-se contra a cabeceira, suas sobrancelhas se unem num olhar severo.
"Acho que 'pênis' é sexy", diz ele, finalmente.
"Oh, certo!" Eu retorno rápido. "Bem, eu quero dizer, obviamente
é muito sexy..."
Como ele pode achar a palavra "pênis" sexy?
"De qualquer maneira, não foi apenas isso." Eu apressadamente mudei de assunto. "Foi a forma como você ficou me perguntando a cada dois segundos se eu estava confortável. Isso fez as coisas ficarem um pouco...formal. Você não acha?"
"Estou apenas tentando ser compreensivo", diz Eric com esforço. "Esta é uma situação bem estranha para nós dois." Ele se vira e começa a colocar sua camisa com gestos desordenados.
"Eu sei!" Digo rapidamente. "E eu aprecio essa sua compreensão,de verdade." Eu coloquei a mão em seu ombro." Mas talvez possamos relaxar. Sermos mais ... espontâneos? "
Eric silencia por um instante, como se estivesse pesando o que eu disse.
"Então... eu deveria dormir aqui esta noite?" ele diz que afinal.
"Ah!" Apesar de tudo eu recuo. O que há de errado comigo? Eric é meu marido. Há um momento atrás tudo o que eu queria era fazer sexo com ele. Mas, ainda assim, a idéia de ele dormindo aqui comigo toda a noite me parece... íntimo demais.
"Talvez pudéssemos deixar assim por um tempo. Sinto muito, é só..."
"Tudo bem. Eu compreendo". Sem encontrar meus olhos se levanta. "Eu acho que vou tomar um ducha."
"Ok".
Deixada sozinha, me joguei contra as almofadas. Ótimo. Eu não fiz sexo. Não me lembrei de nada. A minha missão falhou totalmente.
Acho que "pênis" é sexy.
Eu dei um súbito gorgolejo e coloquei minha mão sobre a boca, caso ele pudesse me ouvir. Ao lado da cama o telefone começou a tocar,
mas de primeira não quis me mexer – com certeza era para Eric.
Então eu percebi que ele estava no chuveiro. Eu me estiquei e peguei o fone desenvolvido e patenteado pela Bang & Olufsen.
"Alô?"
"Olá," vem uma voz seca e familiar. "É o Jon".
"Jon?" Eu me sinto pálida e quente. Eric não estava por perto,
mas mesmo assim, eu entrei no banheiro da suíte juntamente com o telefone e, em seguida, fechei a porta na chave.
"Você está louco?" Eu soltei num tom baixo e furioso."Pra que você está ligando para cá? É muito arriscado! E se o Eric atendesse?"
"Eu estava esperando que o Eric atendesse". Jon soa um pouco perplexo. "Eu preciso falar com ele."
"Oh". Me detive quando me dei conta subitamente. Eu sou tão estúpida. "Ah... certo. "Tentei remediar a situação, usando um tom de voz formal de esposa. "Claro, Jon. Eu vou trazê-lo-"
Jon me interrompe. "Mas eu preciso falar com você muito mais. Temos que nos encontrar. Precisamos conversar."
"Nós não podemos! Você tem que parar com isso. Toda essa... coisa de conversar. No telefone. Principalmente não no telefone."
"Lexi, você está bêbada?" Jon diz.
"Não." Eu analiso minha reação preciptada. "Certo...talvez um pouco".
Há uma boa fungada do outro lado do telefone. Ele está rindo?
"Eu amo você", diz ele.
"Você não me conhece."
"Eu amo a menina que.... você era".
"Você ama a Cobra?" Eu retorqui drasticamente. "Ama a cadela do inferno? Pois bem, você deve ser louco. "
"Você não é uma cadela do inferno". Ele está definitivamente rindo de mim.
"Parece que todo mundo pensa que eu sou. Era. Não importa."
"Vocês estava infeliz. E você cometeu alguns grandes erros.Mas você não era uma cadela."
Por baixo de minha névoa de alcool, eu estou absorvendo cada palavra. Era como se ele estivesse acariciando algumas partes de mim que precisavam de tratamento. Eu queria ouvir mais.

"O que..." Eu engoli. "Que tipo de erros?"
"Eu vou te dizer quando nos encontrarmos. Iremos falar sobre tudo.
Lexi, eu senti tanto sua falta."
De repente o seu íntimo tom familiar estava me dando um mal-estar.
Aqui estou eu, no meu próprio banheiro, sussurrando a um cara que eu não conheço. O que estou fazendo aqui dentro?
"Pare... Pare com isso!" Eu interrompi. "Eu preciso... pensar."
Eu me dirijo para o outro lado da sala, passando minha mão pelos meus cabelos, tentando forçar alguns pensamentos racionais em minha cabeça tonta. Nós poderíamos nos encontrar, e apenas conversar...
Não. Não. Eu não posso começar a ver alguém pelas costas do Eric.
Quero que o meu casamento funcione.
"Eric e eu acabamos de fazer sexo!" Digo desafiante.Eu nem sei com certeza o porquê de eu ter dito isso.
Há um silêncio do outro lado da linha e me pergunto se Jon ficou tão ofendido que desligou. Pois bem, se ele ficou,ótimo.
"E o seu ponto seria?" Sua voz volta à linha.
"Você sabe. Isso muda tudo, sem dúvida."
"Eu não estou entendendo. Você pensa que eu vou deixar de estar apaixonado por você só por que você fez sexo com o Eric?"
"Eu... Não sei. Talvez."
"Ou você acha que ter relações sexuais com Eric de alguma maneira prova que você o ama?" Ele é implacável.
"Eu não sei!" E digo mais uma vez, confusa. Eu não deveria sequer estar tendo esta conversa. Eu deveria estar saindo do banheiro, segurando o telefone pra cima, chamando,"Querido? É o Jon para você."
Mas alguma coisa me segurava aqui, com o fone grudado na minha orelha.
"Eu pensei que poderia desencadear a minha memória", eu disse, finalmente,sentada ao lado da banheira. "Eu só estava pensando, talvez minha memória esteja toda lá, fechada à chave, e se eu pelo menos conseguisse... Isso é tão frustrante..."
"Nem me diga", diz Jon ironicamente, e de repente eu imagino
ele de pé em sua camiseta cinza e jeans, esmagando seu rosto pra cima do jeito que ele faz, segurando o telefone com uma mão, e a outra mão por trás de sua cabeça com o cotovelo dobrado, mostrando de relance a sua axila -
A imagem era tão vívida que eu pisquei.
"E então, como foi? O sexo". Seu tom mudou, estava mais fácil.
"Foi..." Eu limpei minha garganta. "Você sabe. Sexo. Você como é sexo.”
"Eu realmente sei sobre sexo", ele concorda. "Sei também sobre sexo com Eric. Ele é perito... atensioso... Ele tem muita imaginação... "
"Pare! Você está fazendo todas essas qualidades parecerem ruins -"
"Nós temos que nos encontrar", Jon me corta. "É sério."
"Nós não podemos". Eu sinto um profundo tremor dentro de mim. Como se eu estivesse prestes a pular em um abismo. Como se tivesse que deter a mim mesma.
“Eu sinto tanto sua falta." Sua voz ficou baixa, mais suave. "Lexi,
você não tem idéia de quanto sinto saudade, não estar com você está me dilacerando-"
Minha mão está úmida ao redor do telefone. Eu não posso mais escutá-lo. Está me confundindo; Está me agitando. Porque se fosse verdade, se tudo que ele estava dizendo fosse verdade -
"Olha, eu tenho que ir", eu disse, com pressa. "Eu vou chamar o Eric pra você." Minhas pernas cambaleavam, eu destranquei a porta do banheiro e saí segurando o telefone longe de mim como se ele estivesse contaminado.
"Lexi, espera." Eu posso ouvir a sua voz vindo do telefone, mas ignorei.
"Eric!" chamei alegremente assim que me aproximei da porta e ele
apareceu, vestido com uma toalha. "Querido? É o Jon para você. Jon o arquiteto."



Capítulo 13

Eu tentei. Eu realmente tenho tentado. Eu fiz tudo que eu pude pensar pra mostrar pro departamento que eu não sou um cadela.
Eu coloquei um cartaz pedindo sugestões para um passeio divertido para o departamento, mas ninguém sugeriu nada.
Eu coloquei flores sobre o peitoril da janela, mas ninguém sequer mencionou nada. Hoje, eu trouxe, uma cesta lotada de muffins de mirtilo, baunilha e de chocolate e coloquei sobre a máquina de xerox, juntamente um recado dizendo De Lexi – Sirvam-se!
Eu dei uma volta no escritório alguns minutos atrás e notei que ninguém pegou um muffin sequer. Mas não importa, ainda é muito cedo. Eu vou dar mais dez minutos e depois eu verifico novamente.
Virei uma página do arquivo que eu estava lendo e, em seguida,
cliquei sobre o documento na tela. Estou trabalhando em arquivos de papel e computador ao mesmo tempo, na tentativa de cruzar todas as referências. Sem querer dei um enorme bocejo e encostei minha cabeça sobre mesa. Eu estava cansada. Quer dizer, eu estava exausta.
Eu tenho vindo todos os dias às sete da manhã, apenas para conseguir entender um pouco mais dessa montanha de papéis. Meus olhos estavam vermelhos por causa dessas leituras intermináveis.
Cheguei perto de não voltar aqui novamente. Depois do dia em que Eric e eu “meio que” fizemos sexo, eu acordei com o rosto pálido, a mais absurda dor de cabeça e absolutamente nenhuma vontade de ir para trabalhar de novo, nunca mais. Eu cambaleei para a cozinha, fiz uma xícara de chá com três colheres de açúcar e, em seguida, sentei e escrevi em uma folha de papel, desfigurando de dor a cada movimento:
OPÇÕES
1. Desista.
2. Não desista.
Encarei aquilo por horas. Depois, finalmente, coloquei uma linha em Desista.
O problema de desistir é que você nunca saberá. Você nunca
saberá se você poderia ter feito o trabalho. E eu já estou cheia de
não saber sobre minha vida. Por isso, aqui estou eu, no meu escritório, lendo um debate sobre tendências e custos de carpetes de fibra, desde 2005. Só pra garantir no caso de ter alguma coisa importante.
Não. Qual é! Isso não pode ser importante. Eu fechei o arquivo, me levantei, agitei as minhas pernas e, em seguida, andei até minha porta. Eu a abri de vez e dei uma espiadinha esperançosa para a sala principal. Eu só consegui ver de relance a cesta através da janela. Ainda estava intacta.
Me senti totalmente arrasada. O que há de errado? Porque ninguém pega nada? Talvez eu apenas devesse deixar absolutamente claro que esses muffins são para todos. Eu saí da minha sala e entrei no escritório principal.
"Olá pessoal!" Digo alegremente. "Eu só queria dizer, que esses
muffins eu trouxe para todos vocês. Peguei-os bem fresquinhos na padaria esta manhã. Então... vão em frente! Sirvam-se!"
Ninguém respondeu. Ninguém sequer atentou para a minha presença.
Será que eu subitamente me tornei invisível?
"Então, era isso." Eu forçei-me a sorrir. "Aproveitem!" Eu dou a volta e saio andando.
Eu fiz a minha parte. Se eles quiserem os muffins, tudo bem. Se não, paciência. Fim de papo. Eu realmente não me importo com nenhuma das opções. Eu sentei de volta em minha mesa, abri um relatório financeiro recente, e comecei a correr meu dedo pelas colunas relevantes. Após alguns momentos eu me inclinei de volta, esfregando meus olhos com os meus punhos. Estes números estão apenas confirmando o que eu já sabia: o desempenho do departamento é terrível.

As vendas subiram no último ano um pouco, mas ainda estão muito,
muito abaixo. Estaremos realmente em problemas se nós não conseguirmos virar a situação. Eu mencionei isso outro dia para o Byron e ele nem sequer pareceu incomodado. Como ele pode ser tão blasé*? (*palavra francesa que significa indiferente)
Eu fiz um lembrete num Post-it - "Discutir as vendas com Byron".
Então eu coloco a minha caneta para baixo.
Por que eles não querem que os meus muffins?
Eu estava realmente otimista quando eu os comprei esta manhã.
Eu imaginei todo mundo com o rosto iluminado com a visão, e
as pessoas dizendo "Que atitude legal, Lexi. Obrigado!" Mas
agora eu estou desapontada. Eles devem me odiar totalmente. Quer dizer, você teria que detestar alguém pra recusar um muffin, não teria? E estes são realmente de primeira qualidade. Eles são grandes e frescos e os de mirtilo têm até cobertura gelada de limão em cima.
Uma minúscula e sensata voz na minha cabeça estava me dizendo para deixar isso de lado. Esqueça esse assunto. É apenas uma cesta de muffins, pelo amor de Deus.
Mas eu não posso. Eu não posso simplesmente ficar sentada aqui. Num impulso eu levantei novamente e fui para o escritório principal. Lá estava a cesta, ainda intocada. Todo mundo estava digitando algo ou falando no telefone, ignorando tanto a mim quanto aos muffins.
"Então!" Eu tento parecer relaxada. "Ninguém quer um muffin?
Eles são muito bons!"
"Muffin?" Fi diz afinal, sua sobrancelha franziu. "Não vejo nenhum muffin." Ela olha ao redor do escritório como se estivesse confusa.
"Alguém viu algum muffin?"
Todos encolheram os ombros, como se igualmente não estivessem entendendo nada.

"Você quer dizer um muffin Inglês?" Carolyn enruga a testa. "Ou um muffin francês?"
"Eles fazem muffins na Starbucks. Eu poderia mandar buscar se você quiser", diz Debs, mal escondendo seu risinho.
Ha-ha. Realmente engraçado.
"Muito bem!" Eu digo, tentando esconder a minha dor. "Se vocês querem ser infantis a esse ponto, então tudo bem. Esqueçam. Eu estava apenas tentando ser simpática."
Respirando com dificuldade, eu espreitei novamente. Eu pude ouvir as risadinhas baixas e as gargalhadas pelas minhas costas, mas tentei bloquear meus ouvidos. Tenho que manter a minha dignidade; tenho de ter calma e jeito de chefe. Eu não devo voltar. Eu não devo reagir.
Oh Deus. Não consigo evitar. Mágoa e cólera estão crescendo através de mim como um vulcão. Como eles podem ser tão ruins?
"Na verdade, isto não está bem." Eu marcho de volta para o escritório, meu rosto em chamas. "Olha, eu gastei muito tempo e esforço para trazer esses muffins, porque pensei que seria bom dar a vocês um tratamento legal, e agora vocês estão fingindo que não podem vê-los..."
"Lamento, Lexi". Fi aparece com uma desculpa vaga. "Eu honestamente não sei do que você está falando."
Carolyn bufa com risinhos – e algo dentro de mim expressa minha raiva.
"Eu estou falando sobre isso!" Eu peguei um muffin de chocolate e balancei na cara de Fi, e ela se encolheu. "É um muffin! É uma droga de muffin! Pois bem, ta legal! Se vocês não vão comê-los, então eu vou!" Eu enfiei o muffin na minha boca e comecei a mastigar furiosamente e, em seguida, dei outra mordida. Enormes migalhas estavam caindo em todo o piso, mas eu não me importava. "Na verdade, eu vou comer todos eles!" acrescento. "Porque não?" eu peguei um muffin de mirtilo com cobertura gelada de limão e enfiei na minha boca também. "Mmm, Yum!"

"Lexi?" Eu me viro e meus órgãos internos se encolhem. Simon Johnson e Byron estavam de pé na porta do escritório.
Byron parecia que iria estourar de prazer. Simon estava considerando se eu não era um gorila louco arremessando sua comida em torno do jardim zoológico.
"S-Simon!" Eu gaguejei surpresa com migalhas de muffim. "Um...oi! Como você está?"
"Eu só queria dar uma palavrinha rápida, se você não estiver... ocupada?" Simon levanta suas sobrancelhas.
"Claro que não!" Eu aliso meu cabelo para baixo, desesperadamente
tentando engolir direito. "Venha para o meu gabinete."
Assim que eu passei pela porta de vidro notei meu reflexo desfigurado e vi meus olhos, vermelhos de cansaço. Meu cabelo parecia todo bagunçado também. Talvez eu devesse tê-lo colocado para cima. Ah bem, não há nada que eu possa fazer sobre isso agora.
"Então, Lexi", diz Simon enquanto eu fechava a porta e meu deixava meu muffin meio-comido sobre a mesa. "Eu tive uma boa reunião com Byron sobre junho de 2007. Tenho certeza que ele está colocando você por dentro dos desenvolvimentos."
"Claro." Eu assenti, tentando parecer que eu sabia sobre o que ele estava se referindo. Mas "junho de 2007" não significava absolutamente nada para mim. Alguma coisa aconteceu na época?
"Estou programando uma decisão final para a reunião de segunda-feira. Eu não vou adiantar mais nada neste momento. É óbvio que a discrição é crucial." Simon se afasta, de repente sua testa fica enrugada.
"Eu sei que você tem reservas, Lexi. Todos nós temos. Mas, realmente, não há mais opções."
Sobre o quê ele estava falando? O quê?
“Bem, Simon, eu tenho certeza de que poderemos trabalhar nisso,” blefei, desesperadamente na esperança de que ele não me pedisse maiores explicações.
“Boa garota, Lexi. Sabia que você iria compreender.” Ele levantou sua voz novamente, soando mais animado. “Eu vou ver James Garrison mais tarde, o novo cara da Southeys. O que você pensa sobre isso?”
Graças a Deus. Até que enfim alguma coisa da qual eu ouvi falar.
"Ah, sim," eu digo animadamente. "Bem, infelizmente eu juntei informações e a Southeys não é boa o suficiente, Simon. Teremos de procurar um outro distribuidor."
"Preciso discordar de você, Lexi!" Byron, me cortou com um riso.
"A Southeys acaba de nos oferecer a melhor taxa e pacote de serviços." Ele se volta a Simon. "Eu estive com eles um dia inteiro na semana passada, juntamente com Keith dos mobiliários leves. James Garrison transformou o lugar. Ficamos impressionados."
Meu rosto estava queimando. Filho da mãe.
"Lexi, não está de acordo com Byron?" Simon volta para mim surpreso. "Você já se reuniu com James Garrison?"
"Eu...um... não, ainda não." Eu engoli. "Eu estou... Eu tenho certeza de que você está certo, Byron".
Ele tinha me tirado completamente do eixo. De propósito.
Houve uma pausa horrível. Vejo o quanto Simon está desapontado e perplexo em relação a mim. "Certo", diz ele, finalmente.
"Bom, tenho que sair. Bom vê-la, Lexi".
"Bye, Simon." Eu o acompanho para fora do meu escritório, tentando o meu melhor para parecer confiante do tipo-gestora-superior.
"Não vejo a hora de voltar a acompanhar tudo novamente. Talvez nós possamos almoçar qualquer hora dessas... "
"Ei, Lexi", declara Byron de repente, apontando para minha bunda. "Há algo em sua saia." Eu tateei atrás e me encontrei descolando um post-it que estava pregado em mim. Olho para ele – e o chão pareceu se mover sob meus pés como areia movediça.
Alguém tinha escrito, com caneta hidrográfica pink: Eu tenho fantasias com Simon Johnson.
Não posso olhar para Simon Johnson. A minha cabeça estava prestes a explodir. Byron sorria debochado. "Há um outro". Ele
se movimenta subitamente e eu de maneira dormente puxei um segundo Post-it: Simon, transe comigo!
"Apenas uma brincadeira idiota!" Eu amassei os post-its desesperadamente. "O pessoal está um pouco... divertido -"
Simon Johnson não parecia animado.
"Certo", diz ele depois de uma pausa. "Bem, te vejo depois, Lexi".
Ele deu a volta e seguiu pelo corredor com Byron. Depois de um momento eu ouvi Byron dizendo, “Simon, agora você está vendo? Ela está absolutamente...”
Eu fiquei parada ali, assistindo eles irem embora, ainda tremendo chocada. É isto. Minha carreira está arruinada antes mesmo de eu ter a chance de tentar. Aturdida, voltei para meu escritório e desabei em minha cadeira. Eu não consigo realizar este trabalho. Eu estava exausta. Byron me tirou do eixo. Ninguém queria meus muffins.
Nesse último pensamento eu senti uma enorme mágoa - e então de repente eu não pude evitar, uma lágrima estava correndo no meu
rosto. Eu enterrei meu rosto nos meus braços e logo eu estava soluçando convulsivamente. Eu pensei que ia ser ótimo. Pensei que
ser chefe seria divertido e emocionante. Eu nunca percebi... Eu
Nunca pensei...
"Olá". Uma voz penetra meus pensamentos e levantei minha cabeça para ver Fi parada bem na porta.
"Ah. Olá". Eu limpei meus olhos asperamente. "Desculpe. Eu estava apenas..."
"Você está bem?” diz ela acanhada.
"Eu estou bem. Bem mesmo." Eu procurei na gaveta da minha mesa por um lenço para assoar meu nariz. "Posso fazer alguma coisa por você?"
"Sinto muito sobre os Post-its". Ela mordeu seu lábio. "Nós nunca pensamos que Simon iria aparecer. Foi apenas uma brincadeira."
"Está tudo certo." A minha voz é imperfeita. "Você não iriam saber."
"O que ele disse?"
"Ele não estava impressionado." Eu suspiro. "Mas ele não anda muito impressionado comigo mesmo, portanto, qual é a diferença?" Eu arranquei um pedaço de muffin de chocolate, enfiei na minha boca, e me senti imediatamente melhor. Durante cerca de um minutinho.
Fi apenas me encarava.
"Eu pensei que você não comesse mais carboidratos", diz ela por
último.
"Yeah, certo. Como se eu pudesse viver sem chocolate." Peguei um outro pedaço maciço do muffin e dei uma mordida. "As mulheres precisam de chocolate. É um fato científico."
Há um silêncio, e eu olho para ver se Fi ainda me observava com insegurança. "É tão estranho", diz ela. "Você fala como se fosse a velha Lexi".
"Eu sou a velha Lexi". Sinto-me cansada de repente de ter que
explicar tudo de novo. "Fi... imagine se você acordasse amanhã
e subitamente estava em 2010. E você tem que se encaixar em uma nova vida e ser uma nova pessoa. Bem, isso é o que está acontecendo comigo." Eu cortei um outro pedaço de muffin e olhei para ele por alguns instantes e, em seguida, coloquei-o novamente embaixo. "E eu não reconheço essa nova pessoa. Não sei por que razão ela é do jeito que é. E isso é tipo... é difícil."
Houve um longo silêncio. Estava olhando fixamente a mesa, com a respiração difícil, eu esmigalhava um muffin em pequenos pedaços. Eu não ousava olhar para cima, temendo que Fi falasse algo mais sarcástico ou gargalhasse de mim e eu rompesse em lágrimas novamente.
"Lexi, eu sinto muito." Quando ela falou, sua voz era tão calma,que eu mal podia ouvi-la."Eu não... nós não percebemos. Quer dizer, você não parece nada diferente."
"Eu sei". Dou-lhe um sorriso arrependido. "Eu pareço com uma Barbie morena." Eu levantei uma mecha do meu cabelo castanho e deixe-a cair. "Quando me vi no espelho do hospital, eu quase morri de choque. Eu não me reconheci."
"Olhe..." Ela estava mordendo seu lábio e torcendo suas pulseiras.
"Lamento muito. Sobre os muffins, e os post-its e...tudo mais. Por que você não almoça com a gente hoje?" Ela vem em direção à mesa com uma súbita ânsia. "Vamos começar de novo."
"Isso seria agradável." Dou-lhe um sorriso grato. "Mas eu não posso
hoje. Vou encontrar o perdedor Dave para o almoço."
"Perdedor Dave?" Ela soa tão chocada, eu não posso evitar sorrir. "Por que você vai se encontrar com ele? Lexi, você não está pensando em -"
"Não! Claro que não! Eu estou apenas tentando descobrir o que aconteceu na minha vida, durante os últimos três anos. Colocar os pedaços juntos." Eu hesitei, de repente percebendo que provavelmente Fi tinha as respostas para todas as minhas perguntas. "Fi, você sabe como é que tudo terminou entre mim e perdedor Dave?"
“Não faço a menor idéia.” Fi encolhe os ombros. “Você nunca nos contou como vocês terminaram. Você nos deixou de fora de tudo. Inclusive eu. Era como se... tudo o que você se importasse fosse sua carreira. Até o momento em que paramos de tentar.”
Pude ver uma luz de mágoa em seu rosto.
“Sinto muito, Fi,” disse embaraçada. “Eu não tive intenção de deixar vocês de fora. Pelo menos eu acho que não.” Era surreal, se desculpar por algo que você nem sequer sabe se aconteceu. Como se eu fosse um lobisomem ou algo parecido.
“Não se preocupe. Não era você. Quer dizer, era você mas não era VOCÊ.” Fi saiu dos trilhos. Ela parecia muito confusa também.
“É melhor eu ir.” Olhei meu relógio e me apressei. “Talvez Perdedor Dave possa ter algumas respostas.”
“Ei, Lexi,” Fi chamou, parecendo envergonhada. “Você esqueceu um.” Ela empurrou seu polegar na minha camisa. Eu alcancei atrás e puxei ainda mais um post-it. Estava escrito: Simon Johnson, eu ia.
“Eu não iria mesmo,” eu disse amassando ele.
“Não mesmo?” Fi sorria zombando malvadamente. “Pois eu ia.”
“Não, você não iria!” não pude evitar sorrir da expressão dela.
“Eu acho que ele está bem enxuto.”
“Ele é um ancião! Ele provavelmente nem faz mais nada.” Encontrei seus olhos e de repente estávamos gargalhando inevitavelmente, como nos velhos tempos. Eu larguei minha jaqueta e sentei no braço do sofá, agarrando minha barriga sem conseguir parar. Era como se todas as minhas cargas de tensão e estresse tivessem sumido; tudo estava indo embora com a risada.
“Deus, como senti sua falta.” Fi disse afinal, ainda engolindo.
“Eu senti a sua também.” Tomei um grande fôlego, tentando reunir meus pensamentos. “Fi, de verdade. Me desculpe pelo que quer que eu tenha sido... ou o que quer que tenha feito -”
“Não seja boba.” Fi me interrompeu delicadamente porém firme, me entregando miha jaqueta. “Vá e encontre o perdedor Dave.”
• • •
Perdedor Dave tinha feito realmente bem a si mesmo, ele deu uma reviravolta. Quer dizer, mudou tudo mesmo. Ele agora trabalhava para a Auto Repair Workshop na sua matriz, e tinha um papel bastante importante em algumas vendas. Assim que ele saiu do elevador, ele estava todo vestido com estilo em um terno de risca de giz, com um cabelo bem mais comprido do que aquele corte raspado a máquina que ele costumava usar, e óculos sem armação. Eu não pude evitar dar um salto do meu assento no hall de entrada e exclamar,"Perdedor Dave! Olhe só para você!"
Imediatamente ele se desfigurou, e olhou ao redor do lobby cautelosamente. "Ninguém me chama mais de perdedor Dave", ele solta numa voz baixa. "Eu sou David, ok?"
"Oh, certo. Desculpe... er... David. Butch Não?" Eu não resisto a acrescentar, e ele me dispara um olhar furioso.
Sua barriga tinha desaparecido também, notei quando ele se inclinou contra a mesa para falar com a recepcionista no saguão. Ele deve
estar malhando adequadamente hoje em dia, ao contrário de antes quando ele levantava cinco vezes um peso de mão, em seguida abria uma cerveja e voltava ao futebol.
Agora eu olho para trás, eu não posso acreditar como eu o agüentava.Com calções desleixados amontoados em seu apartamento. Piadas grosseiras e anti-feministas. Completamente paranóico com a idéia de que eu estava desesperada para colocá-lo numa armadilha para casar, ter três filhos e toda penosa rotina doméstica.
Eu quero dizer. Quem dera ele tivesse tanta sorte.
"Você está muito bem, Lexi". Enquanto ele se vira da mesa da recepção, ele me olha de cima a baixo. "Já faz um tempo. Vi você na TV, é claro. Naquele programa Ambição. Tipo de programa que eu quis participar uma vez." Ele me atirou um olhar piedoso. "Mas eu já superei esse nível agora. Eu estou no ramo de gerenciamento de projetos. Podemos ir?"
Sinto muito, eu simplesmente não consigo levar o perdedor Dave seriamente como um executivo de gerenciamento de projetos. Nós saímos do escritório em direção ao que perdedor Dave chamava de um "bom local para se comer," e durante o tempo todo ele estava ao telefone, falando em voz alta sobre “acordos” e "maquinário", seus olhos constantemente deslizando em direção mim.
"Uau," eu disse assim que ele colocou o seu telefone a distância. "Você realmente é do alto escalão agora".
"Ganhei um Ford Focus." Ele casualmente aponta seus benefícios." Um cartão Amex empresarial. E posso usar o chalé de esqui da companhia."
"Isso é ótimo!" estávamos chegando ao restaurante agora, que era um lugar pequeno de comida italiana. Nós sentamos e eu me inclinei para frente, descansando meu queixo em minhas mãos. Perdedor Dave parecia um pouco nervoso, brincando com o menu de plástico e interminavelmente verificando seu telefone.
"David", eu comecei. "Eu não sei se você recebeu a mensagem
sobre por que eu queria encontrar você? "
"Minha secretária me disse que queria falar sobre os velhos tempos?", diz ele com cautela.
"Yeah. A questão é, eu tive um acidente de carro. E eu estou tentando juntar partes da minha vida, saber o que aconteceu, falar sobre o nosso rompimento... "
Perdedor Dave suspirou. "Docinho, é realmente uma boa ideia, trazer tudo isso a tona novamente? Nós dois dissemos tudo que tínhamos a dizer na época".
"Trazer tudo o quê a tona?"
"Você sabe ..." Ele olha em volta e encontra o olhar de um garçom próximo. "Seria possível ser atendido aqui? Algum vinho? O vinho tinto da casa, por favor."
"Mas eu não sei! Não tenho a menor idéia do que aconteceu!" Eu
avancei mais longe, tentando obter a sua atenção. "Eu estou com amnésia. Sua secretária não explicou? Não me lembro de nada."
Perdedor Dave se vira muito lentamente para trás e olha para mim, como se suspeitasse de uma piada.
"Você está com amnésia?"
"Sim! Eu estive no hospital e tudo."
"Caraca." Ele balança a cabeça enquanto o garçom chega e ele aprecia a degustação de forma incoerente."Então você não lembra de nada?"
"Nada a partir dos últimos três anos. E o que eu quero
saber é, por que foi que nos separamos? Aconteceu alguma coisa... ou nos distanciamos... ou o quê? "
Perdedor Dave não respondeu imediatamente. Ele estava me olhando através de sua taça. "Então, tem alguma coisa que você realmente se lembre?"
"A última coisa é a noite antes do funeral do meu pai. Fui numa boate, e eu estava realmente puta da vida com você porque você não apareceu...e, depois, eu caí sobre uns degraus na chuva e isso é tudo o que eu me lembro."
"Ta, tá". Ele estava acenando cuidadosamente. "Eu lembro daquela noite. Bem, na verdade... foi por isso que nós terminamos."
"Porquê?" Digo, perplexa.
"Porque eu dei o cano em você. Você me chutou. Pronto". Ele toma um gole de vinho, visivelmente relaxado.
"Sério?" Digo, espantada. "Eu chutei você?"
"Na manhã seguinte. Você já estava de saco cheio, então foi isso. Estávamos terminados".
Franzi o cenho tentando imaginar a cena. "Então, nós tivemos uma grande briga?"
"Não diria que foi uma briga", diz perdedor Dave após um momento considerando. "Foi mais como uma discussão madura. Concordamos que o mais certo era terminar tudo e você disse que poderia estar cometendo o maio erro da sua vida, mas que você não poderia evitar sua natureza ciumenta e possessiva."
"Sério?" Digo um pouco desconfiada.
"Yeah. Eu me ofereci para ir junto com você ao funeral do seu pai,
pra mostrar apoio, mas você me dispensou, dizendo que não podia
suportar me ver." Ele dá mais um gole no vinho." Eu acho que não guardamos nenhum rancor. Eu disse, 'Lexi, vou sempre ter carinho por você. O que quer que você queira, eu quero '. Dei a você um rosa e um beijo de despedida. Então eu fui embora. Foi muito bonito."
Eu coloquei o meu copo para baixo e observei ele. Seu olhar estava tão aberto e inocente como costumava ser quando ele trapaceava clientes oferecendo prêmio extra no seguro total em seus carros.
"Então foi exatamente isso o que aconteceu?" Eu digo.
"Palavra por palavra." Ele pega o menu. "Gosta de pão de alho?”
Será que era a minha imaginação ou ele pareceu muito mais contente quando ouviu que eu estava com amnésia?
"Perdedor Dave... foi realmente isso o que aconteceu?" Dou-lhe
meu olhar mais severo e penetrante.
"É claro", diz ele, em um tom ofendido. "E deixe de me chamar de perdedor Dave".
"Desculpe." Eu suspiro, e começo a desembrulhar uma baguete. Talvez ele estivesse dizendo a verdade. Ou uma versão perdedor-Dave, pelo menos. Talvez eu tenha chutado ele. Eu fiquei sem dúvida p. da vida com ele.
"Então... alguma outra coisa aconteceu naquela época?" Eu parti a baguete em dois e comecei a mordicar. "Existe alguma coisa
você pode lembrar? Tipo, por que eu fiquei de repente tão obcecada pela minha carreira? Por que eu deixei minhas amigas de lado? O que estava passando em minha cabeça?"
"Me investigue." Perdedor Dave examina o menu especial."Você gostaria de dividir uma lasanha?"
"É tudo apenas tão... Confuso." Eu esfreguei minha sobrancelha. "Eu sinto como se tivesse presa no meio de um mapa, com uma dessas grandes setas apontando para mim. 'Você está aqui'. E o que eu
gostaria de saber era, como foi que eu vim parar aqui?"
Pelo menos perdedor Dave levantou seus olhos do menu especial.
"O que você quer é um GPS", diz ele, como o Dalai Lama fazendo um pronunciamento no topo de uma montanha.
"É isso aí! Exatamente!" Eu me inclinei pra frente ansiosamente. "Eu me sinto perdida. E se eu pudesse apenas rastrear o caminho, se eu pudesse navegar de volta de algum jeito... "
Perdedor Dave assentiu com a cabeça sabiamente. "Eu posso fazer uma coisa por você."
"O que?" Eu digo, sem entender.
"Eu posso te conseguir um GPS." Ele mexe em seu nariz. "Estamos diversificando o ramo da Auto Repair".
Por um momento, pensei que eu poderia explodir de frustração.
"Eu não preciso de um GPS literalmente!" Eu quase gritei. "É uma
metáfora! Me-tá-fo-ra! "
"Certo, certo. Sim, claro." Perdedor Dave assente, a sua sobrancelha enrugada como se ele estivesse digerindo minhas palavras e refletindo sobre elas. "Isso é um sistema recém construído?"
Eu não acredito nisso. Será que eu realmente saía com esse cara?
"Sim, isso mesmo," Eu digo finalmente. "A Honda os fabrica. Vamos pedir o pão de alho".
• • •

Quando eu cheguei mais tarde em casa, eu estava planejando perguntar ao Eric o que ele sabia sobre o meu rompimento com perdedor Dave. Tínhamos de ter falado sobre todas as nossas antigas relações, certamente. Mas quando eu entrei no apartamento, eu senti de imediato que este não era o momento. Ele andava rápido com passos largos, ao telefone, parecendo estressado.
"Vamos, Lexi". Ele põe a mão brevemente ao longo do telefone. "Vamos nos atrasar."
"Pra quê?"
"Pra quê?" repetiu Eric, me olhando como se eu estivesse perguntando a ele o que é a gravidade. "Para o lançamento!"
Merda. Era a festa de lançamento do Blue 42 esta noite. Eu sabia que era hoje, eu apenas tinha esquecido.
"Claro," eu digo precipitada. "Vou só me arrumar rápido."
"Seu cabelo não deveria estar para cima?” Eric lança um olhar crítico sobre mim. "Parece anti-profissional".
"Ah. Er... certo. Sim".
Totalmente atrapalhada, eu me troquei para um terno de alfaiataria em seda preta, calcei meus sapatos pretos mais altos e, rapidamente, enfiei meu cabelo num coque. Eu coloquei acessórios com diamantes e, em seguida, virei para inspecionar a mim mesma.
Aargh. Eu pareço tão tediosa. Igual a um vendedor de seguros ou algo parecido. Eu preciso de... outra coisa. Não tenho mais nenhum broche? Ou qualquer flor de seda ou lenços ou fivelas de cabelo brilhantes? Qualquer coisa divertida? Eu procuro um pouco pelas minha gavetas, mas não consigo encontrar nada, a não ser uma simples fita de cabelo bege acolchoada. Ótimo. Isso é uma verdadeira declaração de estilo.
"Pronta?" Eric entra. "Você parece bem. Vamos!"
Jeez Louise. Eu nunca vi ele tão tenso e agitado antes.
Durante todo o caminho, ele falava ao telefone, e quando, finalmente, ele o põe de lado, ele fica batendo os dedos nele, olhando para fora da janela do carro.
"Eu tenho certeza que tudo vai sair realmente bem", eu disse encorajando-o.
"Tem que sair", diz ele, sem se virar em minha direção. "Isto é o nosso grande impulso para as vendas. Estará cheio de ultra-super. Cheio de jornalistas. Isto é o que transformará o Blue 42 no assunto da cidade.”
À medida que chegávamos aos portões de entrada, não pude evitar ficar ofegante.
Tochas flamejantes guiavam o caminho para as portas de entrada. Lasers varriam o céu noturno. Havia um tapete vermelho estendido para os convidados passarem e até mesmo uns dois fotógrafos esperando. Parecia uma premiação de cinema.
"Eric, isso é incrível." Impulsivamente apertei sua mão. "Vai ser um triunfo."
"Esperamos que sim." Pela primeira vez Eric se volta para me dar um
rápido, apertado sorriso. O motorista abre a minha porta, e eu peguei
a minha bolsa para sair.
"Ah, Lexi". Eric sentiu algo em seu bolso. "Antes que me esqueça. Eu tenho tentado te entregar isso." Ele põe em minhas mãos um pedaço de papel.
"O que é isto?" Sorri enquanto eu o desdobrava. Então meu sorriso, tipo, derreteu na hora. Era uma fatura. No topo estava o nome do Eric, mas ele tinha cruzado e escrito "Atribuído a Lexi Gardiner."
Eu li aquelas palavras sem acreditar. Chelsea Bridge Objetos de Vidro. Leopardo de Vidro Soprado Grande: Quantidade 1. Valor a pagar: £3.200.(três mil e duzentas libras, que equivale a mais ou menos 9.650,00 reais).
"Eu solicitei uma substituição", Eric disse. "Você pode acertar a qualquer momento. Um cheque seria bom, ou apenas fazer uma transferência para a minha conta bancária... "
Ele está me cobrando?
"Você quer que eu pague pelo leopardo?" Fiz um pouco de força pra
rir, só para ver se ele estava de brincadeira. "Com meu próprio dinheiro?"
"Bem, você o quebrou." Eric soou surpreso. "Tem algum problema?"
"Não! Isso é ... tudo bem." Eu engoli. "Eu vou te fazer um cheque. Assim que chegar em casa."
"Sem pressa." Eric sorri, e em faz um gesto para o motorista, enquanto segurava a porta. "É melhor irmos andando."
Está tudo bem, eu disse para mim mesma firmemente. É justo ele me cobrar. É evidente que é desse modo que funciona o nosso casamento.
Esta não é a maneira de como um casamento DEVERIA funcionar.
Não. Pare com isso. Está bem. É adorável.
Eu ponho o papel na minha bolsa e dou o sorriso mais brilhante que eu pude ao motorista, então sai e segui Eric, ao longo do tapete vermelho.

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