terça-feira, 28 de julho de 2009

Lembra De Mim Cap7 ao 10

Capítulo 7
Eu tenho que estar karma.
Eu devo ter sido incrivelmente nobre em uma existência anterior. Eu devo ter salvado crianças de um prédio em chamas, ou dado a minha vida para salvar leprosos, ou inventado a roda ou alguma coisa assim. É a única explicação em que eu posso pensar de como eu fui parar em um sonho de vida.
Aqui estou eu, me aproximando do Thames Embankment, com o meu atraente marido, na sua Mercedes conversível.
Eu digo aproximando. Na verdade, nós estamos indo a 20 milhas por hora. Eric está sendo todo cuidadoso e dizendo que ele sabe o quanto deve ser difícil para mim, estar de volta num carro, e se eu me sinto traumatizada para ser honesta com ele. Mas, na verdade, eu estou bem. Eu não lembro nada do acidente. É como uma história que eu contei que aconteceu com alguma outra pessoa. Onde gentilmente você inclina a cabeça delicadamente e diz “Oh não, que horrível”, mas você já parou de escutar corretamente.
Eu continuo lançando os olhos para mim mesma maravilhada. Eu estou usando uma calça jeans justa, dois números menores do que eu costumava usar. E uma blusa da Miu-Miu, que é um daqueles nomes que eu só costumava conhecer atreves das revistas. Eric me trouxe uma bolsa de roupas para eu escolher alguma, e elas são todas muito chique e na moda, foi difícil eu ousar tocar nelas, quanto mais vesti-las.
No banco de trás estão todos os buquês e presentes que eu recebi no hospital, incluindo uma colossal cesta de frutas tropicais do Deller Carpets. Havia junto uma carta de alguém chamada Clare, dizendo que ela me enviaria o relatório da ultima reunião para eu ler no meu tempo livre, e que ela espera que eu esteja me sentindo melhor. E depois ela assinou como “Clare Abrahams, assistente de Lexi Smart”.
Assistente de Lexi Smart. Eu tenho minha própria assistente pessoal. E eu estou no conselho de diretores. Eu!

Meus cortes e queimaduras estão muito melhor, e o plástico grampeado foi tirado da minha cabeça. Meu cabelo recentemente lavado está lustroso e meus dentes são como os de uma estrela de cinema perfeita e tudo o mais. Eu não posso parar de sorrir toda vez que eu passo por uma superfície brilhante. Na verdade, eu não posso parar de sorrir, ponto final.
Talvez na minha vida anterior eu tenha sido Joana D’arc e tenha sido horrivelmente torturada até a morte. Ou eu era o cara do Titanic. Sim. Eu me afoguei em um cruel e congelado mar, e nunca me tornei Kate Winslet, esta é minha recompensa. Eu acho, as pessoas não só ganham uma vida perfeita sem nenhuma boa razão. Isso apenas não acontece.
“Está tudo bem, querida?” Eric coloca brevemente sua mão na minha. Seu cabelo cacheado está todo arrepiado com o vento e os seus caros óculos de sol estão cintilando com o brilho do Sol. Ele parece aquele tipo de cara que as pessoas da Mercedes PR gostariam que dirigisse seus automóveis.
“Sim” eu sorrio de volta “Eu estou ótima!”.
Eu sou a Cinderela. Não, eu estou melhor que a Cinderela, porque ela só arranjou um príncipe, não arranjou? Eu sou a Cinderela com um dente fabuloso e um shit-hot emprego.
Eric sinaliza a esquerda. “Bem, aqui estamos nós...” Ele sai da estrada para uma grande pilastra de entrada, passa pelo porteiro em uma “casinha” de vidro, entra em um espaçoso jardim e depois desliga o motor. “Venha e veja a sua casa”.

Você sabe como algumas coisas/propagandas são um total desapontamento quando você, verdadeiramente, as alcança. Como, você economiza por anos para ir a um restaurante caro e a garçonete é esnobe e a mesa é muito pequena e a sobremesa tem gosto de algo como Mr. Whippy.
Bem, minha casa nova é aproximadamente o oposto disso. Ela é melhor do que eu imaginei. Conforme eu caminho em volta, eu fico completamente admirada. É compacta. É luminosa. Tem vistas para o rio. Há um vasto sofá creme L-shaped (http://i126.photobucket.com/albums/p120/michelle_yby/WhiteLShapedSofa.jpg), e o coquetel bar mais legal feito de granito preto. O banheiro é um aposento todo de mámore folheado, grande o suficiente para cinco pessoas.
“Você se lembra de alguma dessas coisas?” Eric está me assistindo atentamente. “Está provocando alguma coisa?”
“Não. Mas é absolutamente impressionante!”
Nós devemos ter algumas festas legais aqui. Eu apenas posso ver Fi, Carolyn e Déb empoleiradas no coquetel bar, doses de tequila indo, música alta saindo do aparelho de som. Eu paro no sofá e corro minha mão ao longo do tecido felpudo. É tão imaculado e afofado, eu não acho que eu alguma vez ousarei sentar nele. Talvez eu apenas ficarei suspensa. Será ótimo para os meus músculos do bumbum.
“Esse é um sofá incrível!” Eu olho para Eric. “Deve ter custado um bocado.”
Ele assente com a cabeças. “Dez mil paus.”
Merda. Eu tiro minha mão de volta. Como um sofá pode custar isso tudo? Com o que ele é estofado, caviar? Eu me afasto devagar, graças a Deus eu não sentei nele. Lembrete pra mim: nunca tomar vinho tinto/ comer pizza / próximo do chique sofá creme de 10.000 dólares (nesse caso acho que é libras ;P).
“Eu realmente amei esse... er... esse encaixe para luz (luminária/lustre).”
Eric sorri. “Aquilo é o radiador.”
“Oh, certo.” Eu digo, confusa. “eu pensei que aquilo fosse o radiador.” Eu aponto para um radiador de ferro a moda antiga que foi pintado de preto e assentando na metade acima da parede oposta.

“Aquilo é peça de arte.” Eric me corrige. “É de Hector
James-John. Disintegration Falls (Quedas da Desintegração).
Eu caminho em direção a isso, levanto a cabeça, e olho para cima ao lado de Eric, com o que eu acho que é uma expressão inteligente de um apaixonado por artes.
Quedas da Desintegração. Radiador preto. Nope, nem idéia.
“É tão... estrutural.” Eu me arrisco, depois de uma pausa.
“Nós temos sorte por conseguir isso.” Eric diz, assentindo com a cabeça para a peça. “Nós tendemos a investir em peças de arte não-realista a cada todo oito meses. O loft pode aproveitar-se disso. E isso é um portfólio tanto quanto qualquer outra coisa.” Ele encolhe os ombros como se isso fosse evidente.
“Claro!” eu assinto, “Eu teria pensado que o portfólio... seria de aspecto... absolutamente...” Eu limpo minha garganta e me viro.
Mantenha sua boca fechada, Lexi. Você sabe porra nenhuma sobre arte moderna ou portfólios ou basicamente como é ser rico e você está entregando tudo.
Eu viro de volta da coisa arte-radiador e foco em uma tela gigante, que quase preenche a parede oposta. Há uma segunda tela no outro lado do aposento, perto da mesma de jantar, e eu noto uma no quarto. Eric claramente gosta de televisão.
Ele me nota olhando para isso. “Do que você gostaria?” Ele pega um controle remoto e o aperta em direção a tela. “Tente isso.” No próximo minuto, eu estou olhando para uma compacta chama de fogo estalando.
“Wow!” eu olho fixamente para isso em surpresa.
“Ou isso.” A imagem muda para brilhantes peixes tropicais coloridos que se entrelaçam através das algas-marinhas. “É a última tecnologia do sistema de home screen.” Ele diz orgulhosamente. “Isso é arte, é entretenimento, é comunicação. Você pode enviar email por essa coisa, você pode ouvir música, ler livros... Eu tenho uns mil trabalhos de literatura arquivados no sistema. Você pode até mesmo ter um bichinho virtual.”
“Um bichinho?” eu ainda estou olhando para tela, deslumbrada.

“Cada um de nós tem um”. Eric sorri. “Esse é o meu, Titan”.
Ele faz um movimento rápido com o controle remoto e aparece na tela a imagem de uma aranha maciça e listrada, rondando em uma caixa de vidro.
“Oh meu Deus” Eu volto para trás, me sentindo mal. Eu nunca fui boa com aranhas, e essa deve ter aproximadamente uns tem feet (é a medida de lá). Você pode ver os pêlos nas horríveis patas. Você pode ver a face.
“Você poderia mudar isso, por favor?”.
“Qual o problema?” Eric me olha surpreso. “Eu te mostrei Titan na primeira visita sua aqui. Você disse que você o achou adorável”.
Ótimo. Foi o nosso primeiro dia. Eu disse que eu gostava da aranha para ser educada, e agora eu estou assustada com isso.
“Você sabe o que?” Eu digo, tentando manter meu olhar desviado de Titan. “O acidente pode ter me dado uma aracnofobia”. Eu digo, tentando manter o som de conhecimento, como se eu tivesse ouvido isso de um médico ou alguma coisa.
“Talvez”. Eric franzi um pouco a testa, como se ele achasse alguns buracos nessa teoria. Na verdade ele deve.
“Então eu também tenho um bichinho?” Eu digo rapidamente, para distrai-lo. “O que é?”.
“Aqui está” Ele mostra a tela “Aqui está Arthur”.
Um gatinho branco e felpudo aparece na tela e eu choro encantada.
“Ele é muito fofo”. Eu o assisto brincando com uma bola de barbante, batendo ela e tombando em cima. “Ele cresce para um gato adulto?”.
“Não” Eric sorri. “Ele continua sendo um gatinho indefinidamente. Toda a sua vida, se você quiser. Eles têm a capacidade de vida de cem mil anos”.
“Oh, certo”, eu digo depois de uma pausa. Na verdade, isso é um capricho. Cem mil anos de vida para um gatinho virtual.

O telefone de Eric toca e ele atende, faz um movimento e a tela começa a mostrar o peixe de novo. “Querida, meu motorista está aqui. Eu vou ter que ir um pouco no escritório. Mas Rosalie está a caminho para te fazer companhia. Até Lá, se alguma coisa incomodar você, só me ligue, ou você pode me mandar um e-mail pelo sistema”. Ele me entrega um dispositivo branco com uma tela. “Aqui está o seu controle remoto. Ele controla a temperatura, a ventilação, luzes, portas, persianas... Tudo aqui é inteligente. Mas você não deve precisar usar isto. Está tudo ajustado”.
“Nós temos uma casa de controle remoto?” Eu quero dar risada.
“É tudo parte do loft-style living”. Ele faz um paralelo com as mãos e gesticula de novo, e eu inclino a cabeça, tentando não estragar o que eu tenho.
Eu assisto ele colocar a jaqueta. “Então... Como exatamente Rosalie se ajusta?”.
“Ela é esposa do meu sócio, Clive. Vocês duas passam um ótimo tempo juntas”.
“Ela sai comigo e as outras garotas do escritório?” Eu pergunto. “Como Fi e Carolyn? Nós todas saímos juntas?”.
“Quem?” Eric me olha inexpressivo. Talvez ele seja um desses caras que não se mantém à par da vida social da esposa.
“Esquece” Eu digo depressa. “Eu vou trabalhar isso tudo depois”.
“Gianna vai vir depois também. Nossa empregada. Qualquer problema, ela pode ajudar você”. Ele vai em frente, hesitante, e depois pega a minha mão. Sua pele é macia e imaculada, e eu posso apenas sentir o cheiro de uma loção para barba deslumbrante.
“Obrigada Eric” Eu ponho minha mão em cima da dele e a aperto. “Eu realmente aprecio isso”.
“Seja bem vinda de volta, querida”, ele diz um pouco rouco. Depois ele tira a mão dele e vai em direção à porta, e um segundo depois ela fecha atrás dele.

Eu estou sozinha. Sozinha em minha casa marital. Conforme eu olho de novo em volta para o enorme espaço , percebendo a mesa de centro Lucite, a poltrona de couro (http://www.chaise.com.br/imagens/big/chaise_lounge_01_30_68_32.jpg), os livros de arte... eu percebo que eu não consigo ver muitos sinais de mim. Não há nenhum jarro de cerâmica alegremente colorido ou luzes pisca-pisca (http://www.eventsintents.com.au/images/Fairy%20Lights.jpg) ou uma pilha de livros (livros de capa mole.)
Bem, Eric e eu provavelmente quisemos começar de novo, escolhendo coisas juntos. E nós provavelmente ganhamos um monte de presentes de casamento. Aqueles vasos de vidro azuis parecem custar uma fortuna.
Eu perambulo até a janela enorme e observo atentamente a rua abaixo. Não há barulho ou fumaça ou coisa alguma. Eu vi um homem carregar um pacote até um táxi lá embaixo e uma mulher debatendo-se com um cachorro em uma coleira. Eu tirei meu celular e comecei a escrever uma mensagem para Fi. Eu tenho que falar com ela sobre tudo isso. Vou dizer para ela vir por aqui mais tarde. Nós nos enrolaremos no sofá ela pode me colocar por dentro da minha vida, começando com Eric. Eu não posso deixar de sorrir com antecipação conforme pressiono os botões.

Oi! De volta em casa – me dê uma ligada! Não posso esperar p/ v vc! H Lxxxx

Eu mandei a mesma mensagem para Carolyn e Déb. Então ponho meu celular de lado e giro em volta do lustroso piso de madeira. Eu estive tentando manter um ar indiferente na frente do Eric, mas agora que eu estou sozinha posso sentir um feixe de exaltação estourando completamente. Eu nunca pensei que eu viveria em um lugar como esse, nunca.
Uma risada de repente borbulha dos meus lábios. Quero dizer. É loucura! Eu. Nesse lugar!
Eu giro de novo no chão, então começo a rodopiar, com os braços levantados, rindo loucamente. Eu, Lexi Smart, vivo aqui nesse palácio-da-arte-controloado-por-controle-remoto.
Desculpa, Lexi Gardiner.
Esse pensamento me faz dar risadinhas ainda mais.
Eu não sabia nem o meu próprio nome de casada quando eu acordei. E se fosse Pratt-Bottom? O que eu teria dito então? “Desculpe, Eric. Você parece um cara adorável, mas não há absolutamente nenhuma maneira na terra...”
Crash. O som de vidro quebrando interrompe meus pensamentos. De algum modo eu bati minha mão em um leopardo de vidro que estava saltando pelo ar em uma estante. Agora está deitado no chão em dois pedaços.
Eu quebrei um ornamento inestimável. E eu só estou na casa tem uns três minutos.
Merda.
Eu cuidadosamente me agacho e toco na maior parte quebrada. Há uma extremidade irregular horrível e algumas lascas de vidro no assoalho. Não há jeito de isso poder ser emendado. Estou ardendo em pânico. O que eu vou fazer? E se isso custar dez mil libras como o sofá? E se isso for alguma herança de família do Eric? O que eu estava pensando ao rodopiar?
Cautelosamente, eu pego a primeira parte, e então a segunda. Eu terei que varrer os cacos de vidro e então –
Um bip eletrônico me interrompe e minha cabeça se levanta em um solavanco.
A gigantesca tela oposta virou azul brilhante com uma mensagem em letras maiúsculas verdes.
OI, LEXI – COMO VOCÊ ESTÁ INDO?
Porra! Ele pode me ver. Ele está me assistindo. É o Big Brother!
Em terror eu salto em meus pés e empurro os dois pedaços de vidro pra debaixo de uma almofada no sofá.
“Oi!” eu digo para tela azul, meu coração martelando. “Eu não fiz queria fazer isso, foi um acidente...”
Há silêncio, a tela não está se movendo ou reagindo de maneira alguma.
“Eric?” Eu tento de novo.
Não há resposta.
Okay, talvez ele não possa me ver no fim das contas. Ele deve estar digitando isso do carro. Prudentemente eu me arrisco a me aproximar da tela e noto um teclado montado na parede e um minúsculo mouse prateado, discretamente enfiado ao lado. Eu clico em Resposta, e lentamente digito BEM, OBRIGADA!
Eu poderia ter deixado isso lá, eu poderia ter achado um jeito de consertar o leopardo...
ou repor isso de alguma forma...

Não. Vamos lá. Eu não posso por em prática meu novo casamento de qualidade mantendo segredos do meu marido. Eu tenho que ser brava e confessar. QUEBREI O LEOPARDO DE VIDRO POR CONTA DE UM ERRO. Eu digito. REALMENTE SINTO MUITO. ESPERO QUE NÃO SEJA INSUBSTITUÍVEL?
Eu aperto Enviar e ando conforme espero pela resposta, dizendo a mim mesma de novo e de novo pra não me preocupar. Quero dizer, eu não sei ao certo se isso é um ornamento inestimável, sei? Talvez nós tenhamos ganhado em uma rifa. Talvez seja meu e o Eric sempre tenha odiado.
Como eu poderia saber?
Como eu poderia saber qualquer coisa?
Eu me afundo no chão, de repente oprimida por quão pouco eu sei sobre a minha própria vida. Se eu soubesse que eu ficaria com amnésia, eu teria pelo menos escrito um bilhete pra mim mesma. Me dando alguns avisos. Cuidado com o leopardo de vidro, isso vale uma puta fortuna. P.S.: você gosta de aranhas.
Vem um bip da tela, eu prendo minha respiração e olho pra cima.
É CLARO QUE NÃO É INSUBSTITUÍVEL. NÃO SE PREOCUPE.
Eu sinto um alívio enorme. Está tudo bem.
OBRIGADA! Eu digito, sorrindo. NÃO VOU QUEBRAR MAIS NADA, PROMETO.
Eu não posso acreditar que eu exagerei desse jeito. Eu não posso acreditar que eu escondi os pedaços debaixo da almofada. Quantos anos eu tenho, cinco? Essa é minha própria casa. Eu sou uma mulher casada. Eu tenho que começar a me comportar como tal. Ainda sorrindo pra mim mesma, eu suspendo a almofada para retirar os pedaços – e congelo.
Porra.
A merda do vidro rasgou a droga do sofá creme. Eu devo ter feito isso conforme eu empurrava os pedaços pra debaixo. O tecido felpudo está todo esfarrapado.
O sofá de dez mil pau.
Eu automaticamente olho de relance para tela – então rapidamente desvio o olhar, vazia de medo. Eu não posso contar para o Eric que arruinei o sofá também. Não posso.
Okay. O que eu vou fazer é... é... Eu não contarei para ele hoje. Eu vou esperar por um momento melhor. Perturbada, eu rearrumo as almofadas para o rasgo não ficar visível.

Pronto. Bom como novo. Ninguém olha debaixo das almofadas, olha?
Eu pego os pedacinhos do leopardo de vidro e dirijo-me para dentro da cozinha, que é toda lustrosa com armários em cinza envernizado e chão emborrachado. Eu localizo um rolo de papel de cozinha, enrolo o leopardo, miro para jogá-lo na lixeira atrás da única porta moderna e arremesso os pedacinhos dentro. Okay. É isso. Eu não estou destruindo mais nada.
Uma campainha soa pelo apartamento e eu olho pra cima, meu espírito erguendo-se. Deve ser Rosalie. Minha nova melhor amiga. Eu mal posso esperar para conhecê-la. Rosalie mostra-se ser ainda mais magra do que ela parecia no dvd do casamento. Ela está vestida em uma calça capri preta, um caxemira rosa com decote em V, e imensos óculos Chanel colocando seu cabelo loiro pra trás. Assim que eu abro a porta ela dá um pequeno grito e deixa cair a bolsa Jo Malone que ela está segurando.
“Ah meu Deus, Lexi. Olhe para seu pobre rosto.”
“Ele está bem!” eu digo de maneira tranqüilizadora. “Honestamente, você devia ter me visto seis dias atrás. Eu tinho um grampo de plástico na minha cabeça.”
“Sua pobre coitada. Que pesadelo.” Ela recupera sua bolsa, então me beija em cada bochecha. “Eu teria vindo por aqui mais cedo, só que você sabe o quanto eu esperei para pegar um horário no Cheriton Spa.”
“Entre.” Eu gesticulo para cozinha. “Você gostaria de uma xícara de café?”
“Docinho...” ela olha confusa. “Eu não bebo café. Dr. André me proibiu. Você sabe disso.”
“Oh certo.” Eu paro. “A questão é... eu não lembro. Eu estou com amnésia.”
Rosalie me olha de relance, educadamente vaga. Ela não sabe. Eric não contou pra ela?
“Eu não me lembro de nada sobre os últimos três anos.” Eu tento de novo. “Eu bati minha cabeça e tudo foi eliminado da minha memória.”
“Ah Meu deus.” A mão de Rosalie vai para sua boca. “Eric continou dizendo coisas sobre amnésia e que você não me conheceria. Eu achei que ele estava brincando.”

Eu quero dar risadinhas da expressão horrorizada dela. “Não, ele não estava brincando. Pra mim você é... uma estranha.”
“Eu sou uma estranha?” ela soa magoada.
“Eric é um estranho também.” Eu complemento apressadamente. “Eu acordei e não sabia quem ele era. Eu ainda não sei, na verdade.”
Há um curto silêncio no qual eu posso ver Rosalie processando essa informação. Os olhos dela se arregalam e suas bochechas resfolegam-se (???) e ela morde seu lábio.
“Ah Meu Deus.” Ela diz finalmente. “Pesadelo.”
“Eu não conheço esse lugar.” Eu estico meus braços em volta.
“Eu não conheço minha própria casa. Eu não sei como minha vida é. Se você pudesse me ajudar, ou... me dizer umas poucas coisas...”
“Absolutamente! Vamos sentar.” Ela guia o caminho até a área da cozinha. Ela derruba a bolsa Jo Malone no balcão e senta na moderna mesa de café da manhã feita de aço – e eu sigo o processo, me perguntando se eu escolhi essa mesa, ou o Eric escolheu, ou nós dois escolhemos juntos.
Eu olho pra cima pra ver Rosalie me encarando. Imediatamente ela sorri – mas eu posso ver que ela está pirando.
“Eu sei.” Eu digo “É uma situação estranha.”
“Então, isso é permanente?"
“Aparentemente minha memória poderia voltar. Mas ninguém sabe se ela irá.Ou quando voltará, ou o quanto.”
“E afora isso, você está okay?”
“Eu estou bem, exceto por uma de minhas mãos que está um pouco devagar.” Eu levanto minha mão esquerda e mostro a ela. “Eu tenho exercícios de fisioterapia pra fazer.” Eu flexiono minha mão como o fisioterapeuta me ensinou, e Rosalie me assiste fascinada de horror.
“Pesadelo.” ela respira.
“Mas o problema real é... eu não sei nada sobre minha vida desde 2004. É apenas um grande buraco negro. Os médicos disseram que eu deveria tentar e conversar com os meus amigos e construir uma imagem, e talvez isso fosse provocar alguma coisa.”
“Claro.” Rosalie assente com a cabeça. "Deixe-me deixar você por dentro. O que você quer saber?” ela se inclina para frente esperançosamente.

“Bem...” eu penso por um momento. “Como nós duas nos conhecemos?”
“Foi há uns dois anos e meio atrás.” Rosalie assente firmemente. “Eu estava em um coquetel (foi a melhor tradução q eu achei pra drinks party), e Eric disse, ‘Essa é Lexi.’E eu disse ‘Oi!’ E foi assim que nos conhecemos.” Ela sorri.
“Certo.” Eu encolho os ombros apologeticamente. “Eu não lembro.”
“Nós estávamos no Trudy Swinson's? Você sabe, que costumava ter uma aeromoça, mas ela conheceu Adrian em um vôo para Nova York, e todo mundo diz que ela atingiu ele tão logo que ele sujou seu Amex preto (cartão de crédito).” Ela diminui, como se a enormidade da situação tivesse batendo nela pela primeira vez. “Então você não se lembra de fofoca alguma?”
“Bem... não...”
“Ah meu Deus.” Ela estoura rapidamente. “Eu tenho tanto pra te contar. Por onde eu devo começar? Okay. Então há eu.” Ela tira uma caneta de sua bolsa e começa a escrever. “e meu marido, Clive, e a ex mulher malvada dele, Davina. Espera até você ouvir sobre ela. E há Jenna e Pettey –“
“Nós passamos algum tempo com algum dos meus amigos?” eu interrompo ela. “Como Fi e Carolyn? Ou Déb? Você conhece elas?”
“Carolyn. Carolyn.” Ela dá pancadinhas com a caneta contra seus dentes, franzindo as sobrancelhas pensativamente. “É aquela adorável garota francesa da academia?”
Rosalie olha inexpressiva.
“Docinho, pra ser sincera, eu nunca ouvir você mencioná-las. Pelo que me consta, você nunca se socializou com os colegas do trabalho.
“O que?” eu encaro ela. “Mas.. essa é a nossa coisa! Nós nos reunimos e nos arrumamos e temos conquetéis...”
Rosalie ri. “Lexi, eu nunca nem vi você com um coquetel. Você e Eric são ambos tão sérios sobre vinho.”
Vinho? Isso não pode estar certo. Tudo que eu sei sobre vinho é que ele vem de Oddbins.
“Você parece confusa.” Rosalie diz preocupadamente. “Eu estou bombardeando você com informações demais. Esqueça a fofoca.”

Ela empurra para o lado sua folha de papel, no qual eu consigo ver que ela escreveu uma lista de nomes com “puta” e “querida” do lado deles. “O que você gostaria de fazer?”
“Talvez nós pudéssemos fazer apenas o que quer que seja que nós normalmente fazemos juntas?”
“Absolutamente!” Rosalie pondera por um momento, então seu rosto ilumina-se. “Nós devemos ir à academia.”
“ A academia.” Eu repito, tentando soar entusiasmada. “Claro. Então... eu vou muito à academia?”
“Docinho, você é viciada! Você corre todas as manhãs às 6h.”
Seis da manhã? Correndo?
Eu nunca corro. É doloroso e faz seus peitos pularem ao redor. Uma vez eu fiz uma longa corrida de uma milha com Fi e Carolyn, eu quase morri. Embora, pelo menos, eu fosse melhor que Fi, que desistiu de correr depois de dois minutos e caminhou o resto do trajeto, fumando um cigarro, e então se meteu em uma briga com os organizadores e foi banida de qualquer futuro Fundo de Pesquisas para o Câncer (Cancer Research fund-raisers).
“Mas não se preocupe, nós iremos fazer algo amável e tranqüilo hoje.” Rosalie diz de maneira tranqüilizadora. “Uma massagem, ou uma boa leve aula de alongamento. Só apanhe suas roupas de ginástica e nós iremos!”
“Okay.” Eu hesito. “Na verdade, isso é um pouco embaraçoso... mas eu não sei aonde minhas roupas estão. Todos os armários do nosso quarto estão cheios de ternos do Eric. Eu não consigo achar nada meu.”
Ela olha completamente abatida (okk, não achei tradução pra pole-axed). “Você não sabe onde suas roupas estão?” Lágrimas de repente brotam em seus enormes olhos azuis e ela abana seu rosto. “Me desculpa.” Ela engole. “mas apenas vai pra casa comigo como horrendo e assustador deve ser para você. Ter esquecido seu guarda-roupa inteiro.” Ela respira profundamente, se recompondo, então aperta minhas mãos. “Venha comigo, docinho. Eu mostrarei pra você.”

****

Então a razão pra eu não ter conseguido encontrar minhas roupas é que elas não estão em um guarda-roupa, elas estão em um outro quarto inteiro, atrás de uma porta oculta que parece um espelho. E a razão pra elas precisarem de um outro quarto inteiro é porque há uma puta quantidade delas.

Enquanto eu olho fixamente para as prateleiras eu me sinto fraca. Eu nunca vi tanta rouba, não fora de um shopping. Blusas brancas, calças pretas adaptadas, trajes sombreados de cogumelo (?) e taupe. Roupas de noite da Chiffony. Colantes enrolados nas suas próprias gavetas. Calcinhas de seda dobradas com a etiqueta da La Perla. Eu não posso ver nada que não seja de marcas novas e imaculadas. Não tem calças bufantes, nenhum suéter mole, nenhum pijama antigo confortável. Eu olho através de uma fileira de jaquetas, todas muito idênticas, alem dos botões. Eu não acredito que gastei tanto dinheiro com roupas e elas são de todas as versões de bege.
“O que você acha?” Rosalie está me assistindo, seus olhos brilhando.
“Incrível!”.
“Ann tem um ótimo olho” Ela acena sabiamente. “Ann, sua estilista pessoal”.
“Eu tenho uma estilista pessoal?”.
“Apenas para a principal época de cada estação...” Rosalie pega um vestido azul escuro com alças finas. “Olha, este é o vestido que você estava quando me conheceu. Eu me lembro estar pensando, ‘ah, esta é a garota está com o Eric’. Esta festa deu o que falar! E deixa eu te contar, Lexi, teve um monte de garotas desapontadas quando vocês casaram”.
Ela alcança um vestido de noite preto. “Este vestido você usou na minha noite do assassinato misterioso”. Ela olha novamente para mim “Com uma pequena pele nos ombros e pérolas... Você não lembra?”.
“Na verdade não”.
“E sobre Catherine Walker? Você deve lembrar daquilo... No seu Roland Mouret...” Rosalie está tirando vestido depois de vestido, nenhum perece nem remotamente familiar. Ela estende um pálido porta-roupa (?) e depois pára ofegante. “Seu vestido de casamento!” Lentamente, ela abre o zíper do porta-roupa e tira um vestido branco de seda que eu reconheço do DVD. “Não trás tudo de volta?”.
Eu olho fixamente o vestido, tentando o máximo que eu posso fazer minha memória voltar... Mas nada.

"Oh meu Deus” Rosalie de repente bate uma mão na boca. “Você e Eric devem ter uma renovação dos votos! Eu vou planejar para você! Nós podíamos ter um tema japonês, você poderia vestir um Kimono...”.
“Talvez!” Eu a corto. “São os primeiros dias. Eu vou... Pensar sobre isso”.
“Hum”.Rosalie olha desapontada quando ela põe o vestido de noiva de volta. Depois sua face se ilumina. “Tente os sapatos. Você tem que lembrar dos seus sapatos”.
Ela vai para o outro lado do quarto e se precipita para abrir a porta de um armário. E eu o fito incrédula. Eu nunca vi tantos sapatos. Todos em filas, a maioria deles de salto alto. O que eu estou fazendo com sapatos de salto?
“Isto é inacreditável” Eu viro para Rosalie “Eu não posso nem andar de salto, só Deus sabe porque eu os comprei”.
“Sim, você pode” Rosalie me olha perplexa. “É claro que você pode”.
“Não”. Eu agito minha cabeça. “Eu nunca fui capaz de usar salto. Eu caio muito, eu torço meu tornozelo, eu pareço estúpida...”.
“Docinho” os olhos de Rosalie estão arregalados. “Você vive no salto. Você os estava vestindo no nosso último almoço”. Ela tira um par de sapatos pretos com quatro dedos de salto. Uma coisa que eu nunca nem olharia em uma loja.

As solas são scuffed. O rótulo dentro está um pouco gasto. Alguém esteve usando ele.
Eu?
“Os Coloque” Diz Rosalie.
Cautelosamente eu tiro os meus e coloco os de salto. Quase na mesma hora eu caio e agarro Rosalie.
“Você vê? Eu não posso me equilibrar”.
“Lexi, você pode andar com isto”, Rosalie diz firmemente. “Eu vi você fazer isso”.
“Eu não posso”. Eu tento tira-los, mas Rosalie agarra meu braço.
“Não! Não desista, docinho. Está em você, você sabe que está! Você tem que... desbloqueá-lo!”.
Eu tento outro passo, mas meu tornozelo dobra como massinha de modelar.
“Isso não é bom” Eu exalo frustração. “Eu não devia fazer isso”.
“Sim, você fazia. Tente novamente! Encontre a zona!” O som de Rosalie soa como se ela estivesse me treinando para as olimpíadas. “Você pode fazer isso, Lexi”.
Eu cambaleio para o outro lado do quarto e me agarro na cortina.
“Eu nunca vou fazer isso”, eu digo desesperada.
“É claro que você vai. Só não pense nisso. Distraia você mesma. Eu sei! Nós vamos cantar uma música! ‘Land of hope and gloreeee...’ Vamos Lexi, cante”.
Relutantemente eu me junto a ela. Eu realmente espero que Eric não tenha a CCTV câmera nos filmando nesse momento.
“Agora ande!” Rosalie me dá um pequeno puxão. “Vai!”.
" 'Land of hope and gloreeee....'" Tentando manter minha mente focada na música, eu dou um passo para frente. E outro. E outro.
Oh meu Deus. Eu estou fazendo isso. Eu estou andando em sapatos de salto!
“Você vê?” Rosalie canta triunfante. “Eu disse pra você! Você é uma garota do salto”.
Eu vou até o outro lado do quarto, giro confiantemente, e ando de volta, um grande sorriso na minha face. Eu me sinto como uma modelo!
“Eu posso fazer isso! É fácil!”.
“Yay!” Rosalie levanta as mãos e me dá um high-five. Ela abre a gaveta, pega algumas roupas de ginástica, e as coloca em uma bolsa de carregar. “Vamos, vamos lá”.
Nós vamos para a academia no carro de Rosalie. É um suntuoso Ranger Rover com a placa ROS 1. Bolsas da moda estão espalhadas por todo o banco de trás.
“Então, o que você faz?” Eu digo quando ela faz seu caminho entre duas faixas do tráfego.
“Eu faço muito trabalho voluntário”. Ela inclina a cabeça seriamente.
“Wow”. Eu sinto um pouco envergonhada. Rosalie não me soou como um tipo de pessoa do trabalho voluntário, o que só mostra como eu sou preconceituosa. “Que tipo?”.
“Planejando eventos, principalmente”.
“Para uma caridade em particular?”.
“Não, mais para amigos. Você sabe, se eles precisam de ajuda com as flores ou favores na festa ou alguma coisa...”.
Rosalie está sorrindo para um motorista de caminhão. “Por favor, deixe-me entrar... Senhor Lorry motorista... Obrigada!”. Ela pula para a próxima faixa e manda um beijo para ele.
“Eu faço um extra para a companhia, também”. Ela adiciona.
“Eric é um docinho, ele sempre me envolve nos lançamentos, esse tipo de coisa. Oh merda, estrada em obra!”. Ela buzina, e liga o rádio mais alto.
“Então você gosta do Eric?” Eu tento soar casualmente, apesar de eu estar morrendo para ouvir o que ela pensa dele.
“Oh, ele é um marido perfeito. Absolutamente perfeito”. Ela inventa uma passagem. “O meu é um monstro”.
“Sério?” Eu olho fixo para ela.
“Saiba você, eu sou um monstro também”. Ela vira o rosto para mim, seus olhos azuis mortalmente sérios. “Nós somos muito voláteis. É uma relação de total amor e ódio. Aqui estamos nós!”. Ela se distancia de novo e entra em um minúsculo estacionamento, põe depois de um Porche, e desliga a ignição.

“Agora, não se preocupe”, ela diz quando ela me conduz rumo às portas duplas de vidro. “Eu sei que isso vai ser realmente difícil para você, então eu vou fazer tudo!”. Ela empurra para dentro de uma elegante recepção mobiliada com assentos de couro bronzeado e uma fonte.
“Oi, madames” A face da recepcionista cai quando ela me vê.
“Lexi! Pobre menina! Nós ouvimos sobre o acidente. Você está bem?”.
“Eu estou bem, obrigada”. Eu me aventuro a sorrir. “Muito obrigado pelas flores”.
“Pobre Lexi tem amnésia”, Diz Rosalie impressionantemente. “Ela não lembra deste lugar. Ela não lembra de nada”.
Ela olha em volta como que um meio de ilustrar.
“Por exemplo, ela não lembra dessas portas... Ou... Ou dessa planta” Ela aponta para uma grande samambaia em frente.
“Meu Deus!”.
“Eu sei” Rosalie está olhando solenemente. “É um pesadelo para ela”. Ela se vira para mim “Isso trás alguma memória, Lexi?”.
“Er... Na verdade não”.
Todo mundo na recepção está me encarando agora, ansioso. Eu me sinto como um membro da Amnésia Freak Circus.
“Vamos!” Rosalie segura firmemente o meu braço. “Nós vamos nos trocar. Você deve lembrar um pouco uma vez que estiver nas suas roupas de ginástica”.
O vestiário é o mais palaciano que eu já vi, todo de madeira lisa e chuveiros mosaicos e musica calma tocando nas caixas de som. Eu desapareço dentro de um cubículo e ponho um par de calças de ginástica. Depois eu ponho a blusa de malha.
Isso ficou um thong, eu me dou conta, para o meu horror. Meu bumbum vai parecer maciço. Eu não posso vestir isso.

Mas eu não tenho nada mais. Relutantemente eu o visto, depois eu saio do cubículo, meus olhos me entregando. Isso poderia ser realmente, realmente grosseiro. Eu conto até cinco, depois eu forço a mim mesma espiar.
Na verdade... Eu não pareço tão ruim. Eu removo minhas mãos completamente e fico me encarando. Eu pareço toda longa e magra e... Diferente. Experimentalmente eu flexiono meus braços, e um músculo bíceps que eu nunca vi antes aparece. Eu encaro espantada.
“Então!” Rosalie vem afobada para mim, vestida com calças de ginástica que uma blusa curta. “Este é o caminho...” Ela me conduz para um grande, arejado estúdio de ginástica, onde filas de mulheres bem-preparadas já estão na posição de yoga.
“Desculpa, nós estamos atrasadas”, ela diz de modo importante, olhando pela sala. “Mas Lexi está com amnésia. Ela não lembra de nada. Nada de vocês”.
Eu tenho a impressão de que Rosalie está me apresentando.
“Oi” Eu faço um gesto vago para a sala.
“Eu ouvi sobre o seu acidente, Lexi” A professora está vindo com um sorriso simpático. Ela é uma mulher magra com um cabelo loiro curto e uma faixa.
“Por favor, pegue leve hoje. Sente onde você quiser. Nós estamos começando alguns exercícios no tapete...”.
“Ok. Obrigada”.
“Nós estamos tentando engatilhar a memória dela” Rosalie dá um toque “Então todo mundo só tem que agir normalmente”.
Quando todos os outros levantaram seus braços, eu nervosamente pego um tapete e sento. Academia nunca foi exatamente o meu ponto preferido. Eu estou só seguindo o melhor que eu posso. Eu estendo minhas pernas na minha frente e alcanço meus dedos, embora não haja como, eu nunca vou poder...
Maldito inferno. Eu posso tocar meus dedos. Na verdade, eu posso pôr minha cabeça em nos meus joelhos. O que aconteceu comigo?

Incrédula eu sigo a próxima manobra, e eu a posso fazer também! Eu estou dobrada! Meu corpo está se movendo em cada posição como se pudesse lembrar tudo perfeitamente, mesmo eu não podendo.
“E agora, para aqueles que estão prontos para isso”, a professora está dizendo, “a posição de dança avançada...”.
Cautelosamente eu começo a puxar o meu tornozelo, e eles me obedecem! Eu estou deixando a minha perna esticada acima da minha cabeça! Eu me sinto gritando.
“Me olhem, todo mundo!”.
“Não exagere nisso, Lexi”. A professora olha alarmada. “Melhor pegar leve hoje. Eu deveria omitir espacatos essa semana”.
Não mesmo. Eu posso fazer espacato?
Logo depois no vestiário eu estou animada. Eu entro em frente ao espelho, secando meu cabelo, assistindo ele voltar de um úmido marrom claro para um castanho brilhante. “Eu não posso entender isso”, eu continuo dizendo para Rosalie. “Eu sempre fui uma merda em exercícios”.
“Docinho, você é natural!” Rosalie está espalhando uma loção para o corpo em si mesma”. “Você é a melhor na turma”.
Eu desligo o secador de cabelo, passo minhas mãos por meu cabelo seco, e começo minha reflexão. Pela milionésima vez, meu olhar está encarando meus dentes brancos brilhantes, e meus lábios cheios cor de rosa. Minha boca nunca havia sido como esta em 2004, eu sei que não.

“Rosalie” Eu falo mais baixo. “Eu posso te fazer uma... uma pergunta pessoal?”.
“É claro!” Rosalie sussurra de volta.
“Eu já fiz alguma coisa? Com o meu rosto? Tipo Botox? Ou...” Eu diminuo ainda mais minha voz, não posso acreditar que estou dizendo isso “Cirurgia?”.
“Docinho!” Rosalie olha revoltada. “Shh!”. Ela põe seu dedo em seus lábios.
“Mas...”.
“Shh! É claro que nós nunca fizemos nada! Tudo totalmente, cem por cento natural!”. Ela pisca.
O que essa piscadela significa?
“Rosalie, você tem que me contar o que eu fiz...” Eu arrasto os pés de repente, distraída da minha reflexão no espelho. Sem ter noção do que estou fazendo, eu estou pegando um grampo de cabelo de um pote na minha frente e colocando meu cabelo em autopilot. Em mais ou menos trinta segundos, eu construí o mais perfeito penteado.
Como eu fiz isso?
Quando eu examino minhas próprias mãos eu posso sentir uma brilhante histeria crescendo dentro de mim. O que mais eu posso fazer? Desfazer uma bomba? Assassinar alguém com um golpe das minhas mãos?
“O que é isso” Rosalie alcança o meu olhar.
“Eu só coloquei meu cabelo para cima”. Eu faço um gesto para o espelho. “Olhe. É inacreditável. Eu nunca fiz isso antes na minha vida”.
“Sim, você fez”. Ela olha confusa. “Você usa isso para trabalhar todos os dias”.
“Mas eu não me lembro. É como... É como... O corpo da super mulher em mim ou alguma coisa. Eu posso andar de salto, eu posso pôr meu cabelo para cima, eu posso fazer espacatos eu sou como a uberwomam. Não sou eu”.
“Docinho, esta é você”. Rosalie me abraça. “Você melhor do que costumava ser!”.

Nós almoçamos no Bar do Suco e batemos papo com duas garotas que parecem me conhecer, e depois Rosalie me levou para casa. Enquanto nós subimos no elevador eu de repente me sinto exausta.
“Então!” Rosalie diz quando nós entramos no apartamento. “Você quer olhar de novo suas roupas? Talvez roupa de banho!”.
“Na verdade, eu me sinto um pouco aniquilada”, eu digo me desculpando. “Você se incomoda se eu for descansar?”.
“É claro que não!” Ela dá um tapinha no meu braço. “Eu vou esperar aqui fora por você, para ter certeza de que você está bem...”.
“Não seja boba” Eu sorrio. “Eu vou ficar bem até Eric voltar para casa, de verdade. E... Obrigada Rosalie. Você tem sido muito gentil”.
“Querida” Ela me dá um abraço e pega sua bolsa “Eu vou te ligar. Se cuide!” Ela está na metade do caminho para porta quando alguma coisa me ocorre.
“Rosalie!” Eu chamo. “O que eu devo fazer para o jantar do Eric esta noite?”.
Ela dá a volta e me encara sem compreender. Eu suponho que a pergunta é completamente estranha, fora do comum.
“Eu só pensei que você deveria saber que tipo de coisa ele gosta”. Eu rio incomodada.
“Docinho...” Rosalie pisca várias vezes. “Docinho, você não faz o jantar. Gianna faz o jantar. Sua empregada? Ela vai estar fora fazendo compras agora, depois ela vai voltar, fazer o jantar, fazer sua cama...”.
“Tá bem. É claro!”. Eu inclino a cabeça precipitadamente, tentando parecer que eu sabia disso o tempo todo.

Mas maldito inferno. Isso é realmente uma vida diferente. Eu nunca havia tido nem uma faxineira antes, quanto mais uma empregada do tipo hotel cinco estrelas.
“Bem, eu imagino que eu vau para a cama, então”, Eu digo “Tchau”.
Rosalie me manda um beijo e fecha a porta atrás dela, e eu caio de cabeça na cama, que é toda creme e luxuosa madeira escura, com um maciço estofado de camurça. Eric havia insistido para que eu ficasse com o quarto principal, o que é muito gentil e nobre da parte dele. Cuidado você, o outro quarto é muito suntuoso também; na verdade, eu acho que ele tem seu próprio Jacuzzi, então ele não pode se queixar,
Eu tiro meu salto, vou para baixo do acolchoado, e me sinto instantaneamente relaxada. Essa é a cama mais confortável que eu já tive. Eu me remexo um pouco, mexendo nos lençóis macios e apertando as almofadas. Mmm, isso é bom. Eu só vou fechar meus olhos um pouquinho...
Eu acordo para uma luz turva e o som de uma lasca de louça.
“Querida?” Chega a voz de fora da porta “Você está acordada?”.
“Oh”. Eu luto para sentar em posição e esfrego meus olhos. “Er... olá”.
A porta se abre e Eric entra, segurando uma bandeja e uma bolsa de compras.
“Você esteve adormecida durante horas. Eu trouxe pra você uma ceia”. Ele vai rumo a cama, abaixa a bandeja e liga a luz. “É sopa de frango Thay”.
“Eu amo sopa de frango Thay!”. Eu digo deliciada. “Obrigada!”.
Eric sorri e me dá uma colher. “Rosalie me disse que vocês duas foram à academia hoje”.
“Sim. Foi ótimo”. Eu como uma colher se sopa e é absolutamente delicioso. Deus, eu estou voraz. “Eric, você não pode me dar um pedaço de pão, você pode?”. Eu levanto minha cabeça. “Só limpar isto?”.
“Pão?” Eric franzi a testa, olhando surpreso. “Querida, nós não temos pão em casa. Nós dois somos não-carboidratos”.
Oh, bem. Eu me esqueci da coisa do sem carboidrato.
“Sem problemas!” Eu sorrio para ele e pego mais um pouco de sopa. Eu posso ser sem carboidratos. Fácil.

“O que me trás ao meu pequeno presente”, Diz Eric “Ou, na verdade... dois presentes. Este é o primeiro”.
Ele atinge o interior da bolsa e mostra um laminado e encadernado livro, que ele estende para mim. A frente é coberta por uma foto colorida minha com Eric em nosso casamento, e o titulo diz: Eric e Lexi Gardiner: Manual de Casamento.
“Você lembra, o doutor sugeriu escrever todos os detalhes de nossa vida juntos?” Eric olha orgulhoso. “Bem, eu compactei esse livro para você. Qualquer questão que você tiver sobre nosso casamento e nossa vida juntos, a resposta estará aí”.
Eu abro a primeira página, e vejo sua página inicial.
Eric e Lexi
O melhor casamento para um mundo melhor
“Nós temos uma missão declarada?” Eu estou ligeiramente impressionada.
“Eu propus isso só agora” Eric encolhe os ombros modestamente. “O que você acha?”.
“É ótimo!” Eu folheio todo o livro. Tem páginas de cópias, espalhadas com títulos, fotografias, e até alguns diagramas desenhados à mão. Eu posso ver sessões de feriados, família, lavanderia, finais de semana...
“Eu organizei os registros por ordem alfabética”, Eric explica. “E os indiciei. Deve ser razoavelmente simples de entender”.
Eu viro a página para o índice e corro os olhos até o final da página.
Tomates (?) – pp. 5,23.
Pinças (?) – ver Churrasco.
Línguas (?) – página 24.
Línguas? Imediatamente eu começo a revirar as folhas para a página vinte e quatro.
“Não se ponha à prova e leia isso agora” Eric gentilmente fecha o manual. “Você precisa comer e dormir”.
Eu vou olhar para "línguas"mais tarde. Quando ele tiver ido. Eu termino o resto da sopa e me inclino de volta com um suspiro contente. “Muito obrigada, Eric. Isso foi perfeito”.
“Sem problemas, minha querida”. Eric tira a bandeja e a coloca na penteadeira. Quando ele o faz, percebe meus sapatos no chão. “Lexi!” Ele sorri para mim. “Sapatos vão para o seu camarim”.
“Oh”, eu digo “Desculpa”.
“Sem problemas. Tem muito para aprender”.

Ele volta para a cama e meche no interior do seu bolso. “E esse é meu outro presente...” Ele mostra um pequeno embrulho de jóias feito de couro.
Minha cabeça começa a palpitar de descrença quando eu olho fixo para aquilo. Meu marido está me dando um presente em uma caixinha de jóias. Como um adulto no cinema.
“Eu gostaria que você tivesse algo que realmente lembrasse de eu te dando”, Eric diz com um sorriso pesaroso, depois inclina a cabeça para a caixa. “Abra”.
Eu abro – e eu encontro um diamante único acorrentado a um fio de ouro.
“Gosta?”.
“É... É incrível!” Eu gaguejo. “Eu amei! Muito obrigada!”.
Eric estica os braços e afaga meu cabelo. “É bom ter você em casa, Lexi”.
“É bom estar em casa”, eu replico com fervor.
O que é quase verdade. Eu não posso dizer ainda que esse lugar é como uma casa, honestamente. Mas é realmente como um hotel cinco estrelas, o que é ainda melhor. Eu pego o diamante e o olho espantada. Enquanto isso Eric está brincando preguiçosamente com uma mecha do meu cabelo, uma expressão terna em sua face.
“Eric”, eu digo, um pouco tímida. “Quando nós nos conhecemos, o que você viu em mim? Por que você caiu de amores por mim?”.
Um pequeno sorriso tremeluza no rosto de Eric.
“Eu caí de amores por você, Lexi”, ele diz, “Porque você é dinâmica. Você é eficiente. Você é faminta por sucesso, como eu. As pessoas nos acham difíceis, mas nós não somos. Nós apenas somos intensamente competitivos”.
“Certo”, eu digo depois de uma pequena pausa.
Para ser honesta, eu nunca me vi como uma pessoa intensamente competitiva. Mas talvez eu seja em 2007.
“E eu caí de amores pela sua linda boca”. Eric toca meus lábios gentilmente. “E suas longas pernas. E o jeito que você balança sua mala”.
Ele me chamou de linda.

Eu estou ouvindo, encantada. Eu quero que ele continue para sempre. Ninguém nunca me disse nada como isso, em toda a minha vida.
“Eu vou te deixar agora”. Ele me beija na testa e pega a bandeja. “Você durma bem. Eu te vejo pela manhã”.
“Eu te vejo”, eu murmuro, “Boa noite Eric. E... Obrigada!”.
Ele fecha a porta e eu fico sozinha com o meu colar e o meu manual de casamento e o meu fulgor de euforia. Eu tenho um marido que é um sonho. Não, eu tenho um marido que é melhor do que um sonho. Ele comprou para mim sopa de frango e me deu um diamante e caiu de amores pelo jeito como eu balanço minha mala.
Eu devo ter sido Gandhi.
Passar o Fio Dental – pág. 79
Comida, veja também, Refeições Diárias, Cozinha; Comer Fora – pág. 20
Preliminares – pág. 21[⁄i]

Não mesmo. Ele colocou uma seção em preliminares?
Eu estive folheando pelo manual do casamento desde que acordei esta manhã – e é totalmente, absolutamente fixador. Eu sinto como se estivesse espiando na minha própria vida. Sem mencionar na de Eric. Eu sei tudo, desde onde ele compra as suas abotoadoras até o que ele acha do governo e o fato de que ele checa o seu saco escrotal por caroços todo o mesmo. (O que é um pouco mais do que eu tinha barganhado por. Ele tinha que mencionar o seu saco escrotal?)
É hora do café da manhã, e nós dois estamos sentados na cozinha. Eric está lendo o Financial Times [⁄i] e eu estava consultando o sumário para ver o que eu normalmente como. Mas Preliminares parece muito mais interessante que Comida. Discretamente eu virei para a página vinte um. Oh meu Deus. Ele realmente escreveu três parágrafos em Preliminares! Em Rotina Geral.
“...abrangente, movimentos regulares... normalmente sentido horário
...gentil estimulação da parte interna das coxas...[⁄i]”

Eu engasguei no meu café e Eric olhou para cima.

“Tudo bem querida?” Ele sorri. “O manual está ajudando? Você está achando tudo que precisa?”
“Sim!” Eu rapidamente passei para outra sessão, sentindo-me como uma criança que estava procurando por palavrões no dicionário. “Eu estava apenas achando o que eu geralmente como de café da manhã.”
“Giana deixou alguns ovos mexidos e bacon no forno.” Diz Eric. “E você normalmente toma um suco verde.”
Ele gesticula para uma jarra do que parece água do pântano lamacenta no balcão. “Isso é uma bebida de vitaminas e inibidor natural de apetite.”
Eu impeço um tremor. “Eu acho que eu passarei sem isso hoje.”
Eu pego um pouco de ovo e bacon do forno e tento suprimir meu desejo de três fatias de torrada silo para acompanhar.

“Giana deixou alguns ovos mexidos e bacon no forno.” Diz Eric. “E você normalmente toma um suco verde.”
Ele gesticula para uma jarra do que parece água do pântano lamacenta no balcão. “Isso é uma bebida de vitaminas e inibidor natural de apetite.”
Eu impeço um tremor. “Eu acho que eu passarei sem isso hoje.”
Eu pego um pouco de ovo e bacon do forno e tento suprimir meu desejo de três fatias de torrada silo para acompanhar.
“Seu carro novo deve se entregue mais tarde.” Eric toma um golinho de café. “A substituição do que foi danificado. Apesar de eu estar achando que você não irá querer dirigir com pressa.”
“Eu realmente não pensei sobre isso.” Eu digo sem ajuda.
“Bem, nós veremos. Você não pode ainda, de qualquer jeito, até você ter recapturado sua licença de motorista.” Ele limpa sua boca com um guardanapo de linho e se levanta. “Havia outra coisa, Lexi. Se você não se importa, eu gostaria de planejar um pequeno jantar para próxima semana. Só uns poucos amigos.”
“Um jantar?” Eu repito. Apreensiva. Eu nunca fui do tipo jantares-festas-lançamento. A menos que você conte massa no sofá na frente de Will & Grace como um jantar/festa.
“Não há nada com que se preocupar.” Ele coloca suas mãos gentilmente em meus ombros. “Giana fará o catering (fornecimento de comida e bebidas para um grande número de pessoas em festas.) Tudo o que você tem que fazer é parecer maravilhosa. Mas se você não estiver pronta pra isso, nós podemos esquecer a idéia.”
“É claro que eu estou pronta pra isso!” eu digo rapidamente. “Eu estou cansada de todo mundo me tratar como se eu fosse uma inválida. Eu me sinto ótima!”
“Bem, o que me traz a outro assunto. Trabalho.” Eric encolhe os ombros em sua jaqueta. “Obviamente você ainda não está pronta pra voltar em expediente inteiro, mas Simon estava pensando se você gostaria de ir ao escritório para uma visita. Simon Johnson,” ele esclarece. “Você se lembra dele?”
“Simon Johnson? O diretor-administrador?”

“Uh-huh.” Eric assente. “Ele ligou pra cá noite passada. Nós tivemos uma boa conversa. Cara legal.”
“Eu não achei que ele sequer tivesse ouvido falar de mim.” Eu digo em descrença.
“Lexi, você é um membro importante do corpo de diretores sênior.” Eric diz pacientemente. “É claro que ele ouviu falar de você.”
“Oh, certo. Claro.”
Eu mastigo meu bacon, tentando parecer indiferente – mas por dentro, eu quero dar vivas. Essa minha nova vida fica melhor e melhor. Eu sou um importante membro do corpo de diretores sênior! Simon Johnson sabe quem eu sou!
Eric está continuando. “Nós concordamos que seria útil para você visitar o escritório. Isso pode ajudar a trazer de volta sua memória – assim como dar confiança para seu departamento.”
“Eu acho que é uma ótima idéia.” Eu digo com entusiasmo. “Eu poderia conhecer outra vez o meu trabalho. Ver todas as garotas... Nós poderíamos almoçar.”
“Seu representante está substituindo você no momento.” Eric diz, consultando um bloco de anotação no balcão da cozinha. “Byron Foster. Só até o seu retorno, obviamente.”
“Byron é meu representante agora?” eu digo incredulamente. “Mas Byron costumava ser meu chefe!”
Tudo está de cabeça pra baixo. Tudo está irreconhecível. Eu não posso esperar pra ir ao escritório e ver o que está rolando.
Eric dá uma pancadinha em algo em seu blackberry, então o coloca de lado e pega sua pasta. “Tenha um bom dia, querida.”
“Você também... er... querido!” Eu me levando assim que ele vira o rosto pra mim -- e há um frisson repentino entre nós. Eric está em pé somente a polegadas longe de mim. Eu posso apenas sentir sua loção pós-barba e ver um cortezinho em seu pescoço onde ele mesmo se cortou se barbeando.
“Eu não li o manual inteiro ainda.“ Eu de repente me sinto estranha. “Eu normalmente... beijaria você como despedida nessa hora?”
“Você normalmente faria, sim.” Eric soa tenso também. “Mas, por favor, não se sinta –“
“Não! Eu quero! Eu quero dizer... nós deveríamos fazer tudo apenas como nós normalmente fazemos.”

Eu estou ficando um pouco rosa no rosto aqui.
“Então, eu beijaria você na bochecha, ou... ou nos lábios...”
“Os lábios.” Eric limpa sua garganta. “Isso seria o normal.”
“Certo.” Eu assinto com a cabeça. “Então... um...” eu agarro sua cintura, tentando parecer natural. “Como isso? Me diga se não for o jeito como eu normalmente faço isso...”
“Provavelmente só uma mão.” Eric diz depois de um momento pensando. “E é normalmente um pouco mais pra cima.”
“Okay!” eu desloco uma mão pra cima pro ombro dele e deixo cair a outra, sentindo como se eu estivesse dançando dança de salão. Então, continuando em posição o melhor que eu consigo, eu inclino meu rosto.
Eric tem um estranho nodulozinho no final da sua língua, eu de repente percebo. Okay... eu não irei olhar pra isso. Concentre-se no beijo. Ele inclina-se pra frente e sua boca roça brevemente contra a minha, e eu sinto... nada.
Eu estava esperando que nosso primeiro beijo provocasse todos os tipos de memórias ou sensações, talvez uma imagem repentina de Paris ou do nosso casamento, ou da nossa primeira música. Mas conforme ele se afasta, eu me sinto totalmente, 100 por cento em branco. Eu consigo ver a antecipação no rosto de Eric e rapidamente procuro por algo encorajador para dizer.
“Aquilo foi adorável! Muito...”
Minha voz vai morrendo, incapaz de pensar em uma outra única palavra além de rápido, que eu não tenho certeza se atinge o tom certo.
“Isso não trouxe de volta memória alguma?” Eric está estudando meu rosto.
“Bem... não,” eu digo apologeticamente. “Mas, eu quero dizer, isso não significa que não tenha sido realmente... quero dizer, isso foi... Eu me sinto completamente excitada!” As palavras saem antes que eu possa pará-las. Para que diabos eu disse isso? Eu não me sinto excitada.
“Sério?” Eric se ilumina e abaixa sua pasta.
Ah não. Não não Não. Nãããão.

Eu possivelmente não consigo fazer sexo com o Eric ainda. Número um, eu nem sequer conheço ele, malmente. Número dois, Eu não li o que acontece depois de estimulações gentis no interior das coxas.
“Não tão excitada.” Eu emendo apressadamente. “quero dizer, só o suficiente pra saber... pra perceber... quero dizer, obviamente nós temos um ótimo... quando nós vamos para o quarto... um... arena...”
Pára. De. Falar. Lexi. Agora.
“Enfim.” Eu sorrio o mais brilhantemente que eu consigo controlar. “Tenha um bom dia.”
“Você também.” Eric toca minha bochecha gentilmente, então se vira e avança para fora. Eu ouço a porta se fechar e afundo em uma cadeira. Essa foi por pouco. Eu pego o manual do casamento e rapidamente vou para sessão “F”. Eu preciso me informar sobre Preliminares.
Sem mencionar Boquete, eu percebo de repente. E Freqüência (Sexual).
Isso poderia me levar um tempo.


*******

Duas horas e três xícaras de café depois, eu fecho o manual e me inclino pra trás, minha cabeça explodindo com informações. Eu li isso do começo ao fim, e eu captei bem a imagem toda. Eu aprendi que eu e o Eric frequentemente passamos finais de semana em um “hotel boutique de luxo”. Eu aprendi que nós gostamos de assistir documentários de negócios e The West Wing. E nós temos diferentes visões em BrokeBack Moutain. O que eu também aprendi que era um filme sobre cowboys gays. (Cowboys gays?)
Eu aprendi que eu e Eric dividimos um amor por vinhos da região Bordeaux. Eu aprendi que eu sou “compulsiva” e “focada” e “trabalho 24-7 para ter o trabalho feito (?????).” Eu aprendi que eu “não tolero tolos com prazer”, “desprezo desperdiçadores de tempo”, e eu sou “alguém que aprecia as coisas finas da vida”. O que é meio que novidade pra mim.
Eu levanto e caminho até a janela, tentando digerir tudo que eu li. Quanto mais eu aprendo sobre a Lexi vinte-e-oito-anos-de-idade, mais eu sinto que ela é uma pessoa diferente de mim. Ela não só parece diferente. Ela é diferente. Ela é chefa. Ela veste roupas beges de grife e roupa de baixo La Perla. Ela sabe sobre vinho. Ela nunca come pão. Ela é uma adulta. É isso que ela é. Eu fito o espelho e meu rosto de vinte oito anos de idade me encara de volta.
Como na terra eu mudei de mim... pra ela?
Em impulso eu levanto e sigo para o quarto, então direto para dentro do quarto de roupas. Há de ter algumas pistas em algum lugar. Eu sento na minha elegante, minimalista penteadeira, e considero isso silenciosamente.
Quero dizer, olhe pra isso, pra começar. Minha penteadeira antiga era pintada de rosa e uma bagunça total – todos os lenços, colares embolados sobre o espelho e estojos de maquiagem por todo lugar. Mas isso é imaculado. Potes prateados em fileiras, uma única travessa contendo um par de brincos, e um espelho de mão art décor.

Eu abro uma gaveta ao acaso e encontro uma pilha de echarpes dobrados em ordem, sobre o qual está um DVD brilhante marcado Ambition – EPI em marcador hidrográfico. Eu pego isso, confusa – e então de repente percebo o que é. É aquele programa que Amy estava falando. Isso sou eu na televisão!
Ah, meu Deus. Eu tenho que ver isso. Primeiro porque eu estou morrendo pra saber como eu parecia. E segundo porque é outra peça do quebra-cabeça. Esse reality show é onde o Eric me viu pela primeira vez. Isso me deu a minha grande chance no trabalho. Eu provavelmente não tinha idéia na época do quão crucial isso iria ser.
Eu corro pela sala de estar, eventualmente oriento-me para localizar o aparelho de DVD atrás de um painel translúcido, e o empurro pela abertura.
Logo os títulos do programa estão rolando, em todas as telas fixadas por toda parte do flat. Eu avanço até meu rosto aparecer na tela, então aperto Play.
Eu estou preparada para me encolher com embaraço e me esquivar atrás do sofá. Mas na verdade... Eu não pareço tão mal! Meus dentes já tinham sido polidos ou encapados ou o que quer que seja -- embora minha boca pareça muito mais fina do que é agora (Eu definitivamente tive injeções de colágeno.) Meu cabelo castanho estava escovado e preso pra trás em um rabo de cavalo. Eu estava vestindo um terno preto e uma saia azul-clara, e eu pareço totalmente eficiente.
“Eu preciso ter sucesso.” Eu estou dizendo para um entrevistador off-camera. “Eu preciso ganhar isso.”
Caramba. Eu pareço tão séria. Eu não entendo isso. Por que eu de repente quero ganhar um reality show sobre negócios?
“Bom dia, Lexi.” Uma voz me faz praticamente pular fora da minha pele. Eu aperto Stop no controle remoto e me viro para ver uma mulher em torno de seus 50 anos. Ela tem cabelo escuro, listrado de cinza, preso pra trás; ela está vestindo um macacão floral; e ela está segurando um balde de plástico com coisa de limpeza.

Um Ipod está grampeado no bolso do macacão dela e dos fones em seus ouvidos eu apenas posso ouvir as melodias da ópera.
“Você está de pé!” ela diz em uma voz aguda. “Como você está se sentindo? Alguma melhora hoje?” Seu sotaque é difícil de localizar, um tipo de cokney ( habitante dos bairros pobres de Londres) misturado com italiano.
“Você é a Gianna?” eu pergunto cuidadosamente.
“O meu Lorde no paraíso.” Ela faz o sinal da cruz e beija seus dedos. “Eric me alertou.Você não está bem da cabeça. Pobre garota.”
“Eu estou bem, sério.” Eu digo apressadamente. “Eu apenas perdi um pouco da memória. Então eu tenho que aprender tudo sobre a minha vida de novo.”
“Bem, eu sou a Gianna.” Ela bate em seu peito.
"Ótimo! Er ... obrigado."
Eu fiquei fora do caminho enquanto Gianna se movimentava ao meu redor e começava a passar rapidamente um espanador de penas sobre a superfície de vidro da mesa de café, zumbindo (?) juntamente com o Ipod.
"Está assistindo seu programa de tv, não está?" diz ela, fixando o olhar de mim para a enorme tela.
"Ah. Er ... eu estava. Só para relembrar de mim mesma." Eu apressadamente desliguei.
Entretanto Gianna começou a polir uma exposição de porta-retratos.
Eu torci meus dedos desajeitadamente. Como eu posso ficar parada aqui, assistido outra mulher limpar a minha casa? Eu deveria oferecer ajuda?
"O que você gostaria que eu cozinhasse para o jantar esta noite?"
diz ela, começando a apalpar as almofadas do sofá.
"Oh," eu disse, olhando horrorizada. "Nada! De verdade!"
Eu sei que Eric e eu somos todos ricos e tudo, mas eu não posso
ficar pedindo pra alguém para preparar a minha ceia. É obsceno.
"Nada?" Ela faz uma pausa. "Você vai sair?"
"Não! ... Só pensei em cozinhar eu mesma esta noite. "
"Ah, sei", diz ela. "Bem, isso é com você." Ela fecha a cara,
pega uma almofada e bate com mais vigor. "Eu
Espero que tenha gostado da sopa na noite passada", ela acrescenta, sem olhar para mim.
"Estava deliciosa!" Digo precipitadamente. "Obrigado! Adoráveis ... sabores".
"Que bom", diz ela em uma voz forte. "Eu faço o meu melhor."
Oh Deus. Ela não ficou ofendida, ficou?
"Me diga o que você gostaria que eu comprasse pra você
cozinhar ", ela continua, batendo a almofada para baixo." Se
você estiver atrás de algo novo, ou diferente ... "
Merda. Ela está ofendida.
"Ou ... er ... bem." A minha voz fica arranhada com o nervoso.
"Realmente, pensamento bem... talvez você poderia fazer uma coisinha. Mas eu quero dizer, nada que exija muito esforço. Só um
sanduíche está bom. "
"Um sanduíche?" Ela levanta a cabeça incrédula. "Para
o seu jantar? "
"Ou ... o que quiser! Qualquer coisa que você aprecie cozinhar!"
Assim que disse isso notei que soou ridículo. Eu me afastei, peguei uma revista de propriedades que estava numa mesa do lado e abri em uma parte sobre fontes.
Como eu irei algum dia me acostumar a tudo isto? Como é que eu
me transformei em alguém com uma empregada doméstica, pelo amor de Deus?"Aiee! O sofá foi danificado!" O sotaque de Gianna
de repente soa muito mais italiano do que cockney. Ela arrancou os fones do seu iPod para fora de suas orelhas e gesticulou horrorizada para o tecido rasgado. "Olhe! Rasgos! Ontem pela manhã estava
perfeito. "Ela olha para mim defensivamente." eu estou dizendo – Eu deixei ele em bom estado, sem rasgos, sem marcas ... "
O sangue corre para minha cabeça. "Isso ... isso fui eu." Eu
balbuciei. "Eu fiz isso."
"Você?"
"Foi um erro," Eu hesitei. "Foi sem querer. Quebrei o leopardo de vidro e... " Estou respirando com dificuldade." Vou pedir outra capa de sofá, eu prometo.Mas, por favor, não conte ao Eric. Ele
não sabe. "
"Ele não sabe?" Gianna parece perplexa.
"Eu coloquei a almofada em cima dos rasgos." Eu engoli. "Para escondê-los."
Gianna me olhou durante alguns momentos incrédula. Eu a encarei de volta implorando,incapaz de respirar. Então seu rosto sério se transformou numa risada.Ela coloca a almofada de volta e deu batidinhas no meu braço.
"Eu vou costurá-lo. Minúsculos pontos. Ele nunca vai saber."
"Sério?" Eu sinto uma onda de alívio. "Oh, graças a Deus. Isso
seria maravilhoso. Eu ficaria muito grata por isso. "
Gianna me examinou perplexa com um olhar severo, ela cruzou seus braços em torno do seu vasto peito."Você tem certeza de que não aconteceu nada quando você bateu a cabeça?", diz ela afinal.
"Tipo ... um transplante de personalidade?"
"O que?" Eu dou um riso desconfiado. "Acho que não..."
O interfone toca. "Ah, é melhor eu cuidar disso". Eu corri para a porta e levantei o phone. "Alô?" "Alô?" vem uma voz gutural. "Entrega de Automóvel para os Gardiner. "
Meu novo carro está estacionado em um lugar à frente do prédio,
que de acordo com o porteiro é meu próprio estacionamento privado. É um Mercedes prata, o que posso dizer graças ao crachá (ou adesivo??)
a frente. E é um conversível. Fora isso, eu não poderia
dizer muito sobre o carro, exceto que eu imagino que ele custe uma fortuna.
"Assine aqui ... e aqui ..." O entregador segura uma prancheta.
"Ok". Eu rabisquei no papel.
"Aqui estão suas chaves ... todos os seus documentos. Alegre-se, meu bem."
O cara recupera sua caneta da minha mão e põe cabeça para fora dos
portões, deixando-me sozinha com o carro, um monte de papéis,
e um conjunto de chaves brilhantes. Eu balancei as chaves em meus dedos, sentindo um frisson, uma excitação.
Eu nunca fui ligada em carros.
Mas até então, nunca tinha estdo perto de um Mercedes brilhante e novinho em folha. Um Mercedes novinho e que é todo meu.
Talvez eu devesse dar uma olhada por dentro. Com um gesto instintivo eu pego a chave e pressiono o pequeno botão -
então dei um pulo quando o carro fez um barulho e todas as luzes piscaram.
Pois bem, obviamente eu tinha feito isso antes. Eu abri a porta,
deslizei para o banco do condutor, e inalei profundamente.
Wow. Isso é que é carro. Este nocauteia a porcaria do Renault do perdedor Dave. Ele tem o mais maravilhoso, intoxicante
aroma de couro novo. Os assentos são grandes e
confortáveis. O painel é folheado de madeira envernizada.
Cautelosamente eu coloco minhas mãos ao volante. Minas mãos parecem aderir naturalmente - na verdade, elas parecem pertencer àquele lugar. Eu realmente não quero tirá-las de lá.
Fiquei sentada ali por alguns instantes, vendo os portões de entrada subindo e descendo enquanto uma BMW sai.
O problema é… eu posso dirigir. Em algum momento eu devo ter passado no teste, mesmo que eu não lembre de tê-lo feito.
E esse é um carro tão irado. Seria uma vergonha não ter como andar nele.
Eu experimentei empurrar a chave no encaixe ao lado do volante – e coube! Eu girei para a frente, que nem eu sempre vi as outras pessoas fazerem, e aí um rugido, tipo protesto, saiu do motor. Merda. O que foi que eu fiz? Eu girei a chave novamente, com mais cuidado, e dessa vez não houve rugido, mas algumas luzes brilharam no painel.
E agora? Eu examino os controles com esperança de receber uma inspiração, mas nada acontece. Eu não faço a menor ideia de como fazer isso funcionar, essa é a verdade. Eu não tenho nenhuma lembrança de dirigir um carro na minha vida.
Mas, a questão é… Eu tinha feito isso. Era como andar de salto alto – uma coisa que estava presa dentro de mim. O que eu preciso é deixar meu corpo tomar conta. Se eu conseguir me distrair o suficiente, talvez eu consiga dirigir automaticamente.
Eu coloco minhas mãos firmemente no volante. Vamos lá. Pense em outras coisas. La la la. Não pense em dirigir. Deixe seu corpo fazer o que vier naturalmente. Talvez eu devesse cantar uma música – isso funcionou antes.
“land of hope and gloree”, eu comecei desafinada, “mother of the freeee…”
Oh meu Deus! Tá funcionando. Minhas mãos e pés se movimentam com sincronia. Eu não me atrevo a olhar para eles. Eu não me atrevo a registrar o que eles estão fazendo. Tudo o que sei é que liguei o motor e empurrei um dos pedais e aí teve uma especie de ronco e… eu consegui! Eu liguei o carro! Eu posso ouvir o motor tremendo, como se estivesse querendo ir em frente. OK, mantenha a calma. Respiro profundamente – mas no fundo eu já estou um pouco em pânico.

Estou sentada no controle de uma Mercedes e nem mesmo sei como foi que isso aconteceu.
Certo. Recomponha-se, Lexi.
Freio de mão. Sei o que é. E o bastão da marcha.
Cuidadosamente, eu solto os dois de uma vez e o carro se move para a frente.
.Precipitadamente pressiono meu pé em um dos pedais, para parar., e o carro estanca com um ruído sinistro de coisa moendo (???). Merda. Isto não soou bem. Eu libero o meu pé - e o carro rasteja para a frente outra vez. Eu não tenho certeza se quero fazer isso.
Tentando ficar calma, eu pressiono meu pé novamente, com força. Mas desta vez ele nem sequer pára, continua avançando firme. Empurrei novamente – e ele desenvolveu* (tem a expressão revs, que quer dizer RPM, revoluções por minuto, que no caso aqui o sentido é a desenvoltura do carro) como um carro de corrida.
“Merda!” Eu xingo apavorada. “Ok, simplesmente pare. Fique parado!” Eu manobro o volante novamente mas isso não faz amenor diferença. Eu não sei como controlar essa coisa. Estaomos indo lentamente em direção a carros esportes caríssimos estacionados no lado oposto e eu não sei como parar. Desesperada eu empurro os dois pés novamente, atingindo dois pedais de uma vez só causando um barulho de motor quebrado. Ai meu Deus, Ai meu Deus… Meu rosto esquentou; minhas mãos suavam. Eu nunca deveria ter entrado nesse carro. Se eu batesse ele, o Eric se divorciaria de mim e eu nem poderia culpá-lo por isso. “Pare!” eu choraminguei novamente. “Por favor!” De repente eu notei que um homem de cabelo preto e de jeans veio até o portão. Ele me vê deslizando em direção aos carros esporte e seu rosto se tansformou numa careta. “Pare!” ele gritou, sua voz falhando através do vidro. “Eu não consigo!” gritei de volta desesperada. “Guie!” ele imitou alguém dirigindo. O volante. É claro. Eu sou uma idiota. Eu puxo de volta para a direita, quase tirando os braços do lugar, e manejo o carro para outro curso. Só que agora estou indo de frente com uma parede. “Freie!” O cara estava correndo ao meu lado. “Freie, Lexi!”
“Mas eu não-”
“Pelo amor de Deus, freie!” ele grita.
O freio de mão, eu me lembrei de repente. Rápido. Eu puxei com as duas mãos e o carro parou bruscamente.
O motor continuava funcionando, mas pelo menos o carro estava parado. E mais importante: eu não tinha batido em nada.
Respirava rápido, resfolegada; minhas mãos ainda estavam agarradas ao freio. Eu nunca mais vou dirigir de novo. Nunca.



“Você está bem?” o cara estava na minha janela. Depois de alguns minutos consegui descolar minhas mãos do freio. Eu bati aleatoriamente em todos os botões da porta do carro até abrir a janela.
“O que aconteceu?” ele perguntou.
“Eu…entrei em pânico. Não consigo dirigir na verdade. Eu pensei que me lembraria como, mas tive um pequeno ataque de pânico.”
De repente, sem nenhum aviso, eu senti uma lágrima descendo meu rosto. “Desculpe.” Solucei. “Estou um pouco nervosa. Eu estou com amnesia, veja só…” Levantei a vista e o cara estava me encarando como se eu estivesse falando outro idioma. Ele tinha um rosto surpreendentemente bonito, que só agora eu tinha percebido. Maçãs do rosto bem definidas, olhos cinzas escuros, sombracelhas inclinadas reunidas na fronte, com um cabelo castanho desordenado. Ele estava usand uma camiseta cinza sobre o jeans e parecia um pouco mais velho do que eu, talvez na casa dos tinta. Ele parece totalmente emudecido. O que eu imagino não ser supreendente já que ele acabou de chegar num estacionamento, pensando nos seus afazeres e encontrou uma garota quase batendo o carro e dizendo que está com amnesia.
Talvez ele não acredite em mim, eu me assusto com o pensamento.
Talvez ele ache que sou uma motorista bêbada e que estou inventando desculpas.
“Eu sofri um acidente de carro há alguns dias”, explico rapidamente.
“É verdade. Atingi minha cabeça. Olha.” E aponto para os cortes no meu rosto.
“Eu sei que você sofreu um acidente”, ele disse pelo menos. Ele tinha uma voz muito distinta, seca e meio que intensa. Como se cada palavra que ele falasse fosse realmente muito importante. “Ouvi dizer.”
“Espere um minuto!” estalei a lingual, lembrando de repente. “Você me chamou pelo nome. A gente se conhece?”
O cara ficou chocado. Eu podia ver os seus olhos me estudando quase como se ele não estivesse acreditando em mim, enquanto ele procurava por algo.
“Você não se lembra de mim?” ele disse afinal.
“Hum, não. Eu disse encolhendo os ombros meio que me desculpando. “sinto muito, não estou sendo rude; Eu não lembro de ninguém que conheci os últimos três anos. Meus amigos… meu marido até. Ele é um estranho total pra mim Meu próprio marido. Você pode acreditar nisso? Eu sorri – mas o cara nem sorriu de volta nem expressou simpatia. Na verdade a expressão dele estava quase me deixando nervosa.
“Você que que eu estacione o carro pra você?”- ele disse bruscamente.
“Oh, sim! Por favor!” olhei de relance anciosamente para mna mão esquerda ainda no freio. “Eu posso larger isso? O carro não vai sair rodando?”
Um pequeno sorriso brotou naquele rosto. “ Não. Não vai sair rodando. Você pode soltar.”

Cuidadosamente soltei minha mão, que começava a inchar e sacudi pra diminuir a rigidez. “Muito obrigada”, eu disse, saindo do carro. “Este é meu carro novo. Se eu batesse , não quero nem imaginar…” Eu hesitei com a idéia. “Meu marido o deu para mim, para substiuir o outro. Você o conhece? Eric Gardiner?”
“Sim.” Ele disse após uma pausa. “eu conheço.”
Ele entra no carro, fecha a porta e sinaliza para que eu saia do caminho. Depois, como um especialista, ele transporta o carro de volta para a vaga no estacionamento.
“Obrigada” Eu disse assim que ele saiu do carro. Estou realmente grata.
Esperei que o cara fosse dizer “sem problemas” ou “ de nada”, mas ele parece perdido em pensamentos.
“O que eles dizem sobre a sua amninésia?” ele diz, subitamente olhando para cima. “Suas memórias sumiram para sempre?”
“Elas podem voltar a qualquer momento.” Eu explico. “Ou não. Ninguém sabe. Eu estou apenas tentando aprender sobre minha vida novamente. O Eric tem me ajudado bastante e me ensinado tudo sobre nosso casamento e tudo o mais. Ele tem sido o marido perfeito!” Eu sorri novamente na tentativa de aliviar o ambiente. “Então…onde você se encaixa nessa história?”
Não houve nenhuma resposta por conta do cara de cabelo escuro. Ele enfiou as mãos nos bolsos e ficou olhando para o céu.
Eu realmente não sei qual o problema dele. Mais uma vez ele abaixa a cabeça e fica me sondando, seu rosto demonstra uma bagunça de sentimentos, como se ele estivesse sentindo dor. Talvez ele estivesse. Talvez fosse uma dor de cabeça ou algo parecido.
“Eu tenho que ir”, ele disse.
“Ah, certo. Bem, obrigada novamente” eu disse educadamente. “E muito prazer em conhecê-lo. Quero dizer, eu sei que já nos conhecemos em minha vida anterior, mas… você sabe o que quero dizer! Eu estendi a mão para a pertar a dele – mas ele só olhou o gesto como se não fizesse nenhum sentido para ele.
“Tchau, Lexi” ele gira em torno do calcanhar.
“Tchau.” Eu falo em seguida, equanto ele segue seu caminho. Que cara esquisito. Ele nem sequer me disse seu nome.




Capítulo 9

Fi é uma das pessoas mais simples que eu conheço. Nos conhecemos aos seis anos, quando eu era a nova garota no playground da escola. Ela já era uma cabeça mais alta do que eu, seus cabelos escuros em cachos, sua voz crescente e confiante. Ela me disse que a corda que eu estava pulando era um lixo e enumerava em voz alta as vezes que eu errava. Daí, quando eu já estava quase chorando, ela me ofereceu a dela para eu pular. Esta Fi. Ela chateia as pessoas com sua forma rude, e ela sabe disso. Quando ela diz alguma coisa errada ela rola seus olhos e bate na boca. Mas no fundo ela é gentil e afetuosa. E ela é ótima em reuniões. Enquanto outras pessoas estão só enrolando, ela vai direto ao ponto, sem bobagens. Foi Fi quem me deu a idéia de concorrer a uma vaga na Deller Carpets. Ela já trabalhava lá há dois anos quando a Frenshaws, a empresa em que eu estava antes foi absorvida por uma companhia espanhola e deixou muitas de nós de lado. Abriu uma vaga no departamento de revestimentos e Fi sugeriu que que eu levasse meu curriculo e o mostrasse para Gavin, seu chefe… e foi isso. Eu fiquei com o emprego. Desde que trabalhamos juntas, Fi e eu ficamos mais próximas ainda. Almoçávamos juntas, íamos a cinema nos fins de semana, enviávamos mensagens de texto uma pra outra enquanto Gavin tentava dar um de seus “sermões” ( team Bollockings??? É mais ou menos como dndo uma esculhabação na galera) como ele os chamava. Sou íntma de Carolyn e Debs também – mas Fi é aquela pra quem eu ligo primeiro quando tenho notícias, aquele que eu lembro sempre que algo engraçado acontece.
Por isso é que é tão estranho que não tenhamos mais contato. Enviei varias mensagens de texto pra ela desde que deixei o hospital. Deixei duas mensagens na caixa postal.
Mandei alguns e-mails com piadas e até escrevi um cartão agradecendo as flores.
Mas não tive nenhuma palavra em resposta. Talvez ela estivesse apenas ocupada. Eu continuava dizendo a mim mesma. Talvez ela tenha estado em algum seminário, ou com trabalho em casa ou pego uma gripe. Tem um milhão de bons motivos.
De qualquer forma, vu no trabalho hoje, então vou vê-la. E a todo mundo.

Eu fiquei me observando no enorme espelho do meu camarim. A Lexi-2004 costumava aparecer no escritório usando calças pretas da Next, uma camisa bem barganhada no New Look (acho que é tipo um Mercado ou brechó) e um par de sapatos com saltos mastigados.
Não agora. Estou com a camisa desgastada mais limpa que já vi na vida, com punhos dobrados, carísima da Prada. Esotu usando um terno preto com saia lapis e presilha na cintura. Minhas pernas estão brilhando em meias-calça justas e lustrosas Charnos. Meus sapatos são evidentes e finos. Meu cabelo é seco e escovado e torcido acima formando um coque chique que é a minha assinatura. Eu pareço ilustração de livro infantil; Chefa. O Eric entrana sala e eu dou uma voltinha. “Como estou?”
“Ótima!” ele aprovou mas não pareceu surpreso com minha aparência . Acho que pra ele esse tipo de roupa é normal. Considerando que não posso sequer imaginar esse sentimento pois nunca usei nada igual.
“Tudo pronto?”
“Eu acho!”peguei minha bolsa – uma Bottega Veneta preta tipo sacola que eu encontrei no amário.
Tentei perguntar ao Eric sobre Fi ontem – mas ele mal parecia saber quem era ela, mesmo achando que era minha amiga mais antiga e estava no nosso casamento e tudo mais. A única amiga minha que ele parece conhecer é Rosalie, isso por que ela é casada com o Clive.
De qualquer forma, está tudo bem. Eu verei a Fi hoje, e deve ter aguma explicação, aí tudo volta para seu devido lugar. Espero que todos nós possamos ir tomar um drink na hora do almoço e ponha o papo em dia.
“Agora, não esqueça disso!” Eric abriu um armário no canto. Ele retira uma elegante pasta preta e me entrega. “Eu dei isto pra você quando nós nos casamos.”
“Wow, é Linda!” é feita de pelica suave e macia, e na parte da frente estão discretamente gravadas as iniciais: L.G.
“Eu sei que você ainda usa seu nome de solteira no trabalho”, diz Eric, “mas eu queria que você levasse um pedacinho de mim com você pro escritório todos os dias”.
Ele é tão romântico. É tão perfeito!
“Eu devo ir. O carro estará aqui pra pegar você em cinco minutos. Tenha um bom dia.” Ele me beijou e saiu.
Enquanto eu ouvia a porta fechando, peguei a pasta e fiquei olhando pra ela , imaginando o que eu colocaria dentro. Eu nuca usei uma pasta antes – eu sempre só enfiava tudo dentro da minha bolsa.
Eventualmente eu peguei um pacote de lenços e alguns Polos da minha bolsa e coloquei dentro da pasta. Coloquei uma caneta. Sentia como se estivesse arrumando a mochila pra o primeiro dia na escola.



Enquanto eu deslizava a caneta dentro do bolso de seda, meus dedos esbarraram em algo, tipo um cartão, e eu puxei. Não era cartão nenhum, era uma foto minha com Fi, debs e Carolyn. Antes que eu arrumasse meus cabelos. Quando meus dentes ainda eram tortos. Estávamos em um bar, todas usando tops cheios de brilho, bochechas rosadas e confetes e serpentina sobre nossas cabeças.Fi estava com o braço agarrado no meu pescoço e eu tinha uma sombrinha de coquetel nos dentes, e nós todas estávamos às gargalhadas. Eu não consegui conter uma risada quando vi.
Eu lembro muito bem daquela noite. Debs tinha chutado seu terrível namorado banqueiro, Mitchell, e nós tínhamos a missão de ajudá-la a esquecer. Na metade da noite quando Mitchell ligou para Debs, Carolyn atendeu e fingiu que era uma garota de programa russa cujos serviços custavam Mil libras e que achava que estava sendo contratada. Carolyn aprendeu russo na escola, por isso ela foi bastante convincente e Mitchell ficou chacoalhado de verdade, não importava o que ele alegaria depois. Todas nós estávamos ouvindo no viva-voz e eu achava que ia morrer de tanto rir.
Ainda sorrindo, deslizei a foto de volta para o bolso e fechei a pasta. Peguei tudo e dei uma checada no espelho. A chefa vai ao trabalho.
“Olá” eu disse para meu reflexo tentando adotar um tom de negócios. “Olá pessoal. Lexi Smart, diretora do departamento de revestimentos. Eu sou a chefe.
Oh, Deus! Não me sinto como uma chefe. Talvez eu diga mais severamente quando eu chegar lá.



Deller Carpets era a empresa que todo mundo se lembrava graças aos comerciais de TV dos anos oitenta. O primeiro mostrava uma mulher deitando em um tapete azul padronizado, fingindo que era tão macio e luxuoso que ela tinha que fazer sexo nele imediatamente com o vendedor nerd. Daí teve a sequencia onde ela casava com o vendedor nerd e tinha um corridor inteiro de tapete florido da Deller Carpets. E depois eles tiveram gêmeos que não conseguiam dormir a não ser que tivessem seus tapetes Deller Carpets rosa e azul embaixo de seus berços. Eram comerciais muito vagabundos, mas que fizeram a Deller Carpets um nome bastante conhecido. O que é parte do problema. A empresa tentou trocar de nome anos atrás, para Deller somente. Tinha uma nova logomarca, novo estatuto e tudo o mais. Só que ninguém tomou conhecimento disso. Você dizia que trabalhava na Deller e as pessoas fanziam as sombrancelhas e diziam, “Você quer dizer Deller Carpets?”
Era muito mais irônico por que tapetes era só uma pequena parte da empresa hoje em dia. Cerca de 10 anos atrás o departamento de mautenção começou a produzir limpadores de tapetes que eram vendidos pelo correio e ficaram incrivelmente populares.
Eles expandiram por todos os tipos de produto de limpeza e engenhocas, e hoje o negócio de pedidos pelo correio se tornou grande. Daí teve o mobiliário leve e os tecidos. Mas os pobres tapetes velhos caíram no esquecimento. O problema era que não era mais legal usar tapete.O grande lance é ardósia e laminado de madeira. Nós até vendemos laminado de Madeira – mas dificilmente alguém percebe que só conseguimos isso por que as pessoas acham que ainda somos chamados Deller Carpets. É como um grande círculo vicioso que leva tudo de volta ao sexo.

Eu sei que tapetes não são legais. E sei que tapetes padronizados são piores ainda. Mas secretamente, eu realmente os amo.Especialmente aqueles com design retrô tipo anos setenta. Eu tenho um velho livro padronizado em minha mesa, que eu sempre fico mexendo enquanto estou no meio de uma longa e tediosa conversa telefônica. E uma vez eu encontrei uma caixa inteira de selos antigos no depósito. Ninguém os queria, então eu os levei para de volta para o escritório e fixei-os na parede ao lado da minha mesa. Melhor dizendo, minha antiga mesa. Acho que dei uma subida agora. Enquanto me dirigia para o prédio familiar na Vitória Palace Road, eu senti uma pontada de ansiedade no meu estomago. Continua sendo o mesmo: um prédio alto, cinza claro com pilares de granito na entrada. Eu empurrei a porta de vidro da recepção – e parei surpresa. O saguão estava diferente. Realmente irado! Mudaram a mesa e agora tem divisórias de vidro onde costumava ser uma parede…e o revestimento tem efeito vinil azul metálico. Deve ser um lançamento.

“Lexi!” Uma mulher rechonchuda numa camisa pink e e calças pretas afuniladas apressa-se para mim. Ela está usando luzes e batom fuchsia, toda inflada, e se chama…Eu conheço ela…chefe dos recursos humanos…
“Dana”. Eu soltei o nome num alívio. “Oi!”

“Lexi.”Ela estende a mão para me cumprimentar. “ Bem vinda de volta! Coitadinha! Ficamos todos tão preocupados quando soubemos o que aconteceu…”
“Estou bem, obrigada. Muito melhor.” Eu a segui pelo chão de vinil brilhante, peguei um cartão-passe e fomos pela entrada de segurança. Tudo estava novo também. Nós não costumávamos usar barreiras, apenas um guarda chamado Reg.
“Que bom! Então me acompanhe…” ela disse me mostrando o caminho. “Eu pensei que poderíamos conversar rapidamente no meu escritório, atualizar você sobre a reunião de orçamento, e aí você vai querer ver seu departamento!”
“Ótimo. Boa idéia.”
Meu departamento. Eu costumava ter só uma mesa e um grampeador. Subimos no elevador até o segundo andar e Dana me indicou um asento em seu escritório.
“Sente-se.”. ela puxou uma cadeira luxuosa e sentou-se à mesa. “Então agora, obviamente, precisamos falar sobre sua…condição.” Ela baixou sua voz discretamente, como se pensasse que eu tinha uma doença embaraçosa. “Você está com amnésia.”
“Isso mesmo. Tirando isso, eu estou muitíssimo bem.”
“Ótimo!”ela rabiscou algo em seu bolco de rascunhos. “E essa amnesia é permanente ou temporária?”
“Bem… os medicos disseram que eu posso começar a me lembrar a qualquer momento.”
“Maravilha!” seu rosto acendeu. “Obviamente, do nosso ponto de vista seria ótimo se você pudesse se lembrar tudo sobre o vigésimo primeiro.Que é o assunto da nossa conferência de vendas.” Ela acrescentou com um olhar de expectativa.
“Certo.” Eu disse após uma pausa. “darei o meu melhor.”
“Não se pode fazer melhor do que isso.” Ela soltou um sorriso e afastou sua cadeira para trás. “Agora vamos lá dar um olô para Simon e os outros. Você se lembra do Simon Johnson, o MD?
“Claro!”
Como é que eu poderia não me lembrar do diretor de toda a companhia?
Eu lembro do discurso dele durante a festa de Natal. Lembro dele aparecendo no nosso escritório e perguntando nossos nomes enquanto, Gavin, nosso chefe na época, ficava seguindo ele pra todo lado como um lacaio. E agora eu vou a reuniões com ele!
Tentando esconder meu nervosa, segui Dana pelo corredor e até no elevador novamente para o oitavo andar. Ela me conduz vivamente para a sala de reuniões, bate na porta pesada e empurra para abri-la.
“ Desculpe interrompê-los! È que a Lexi deu um pulo aqui para nos visitar.”
“Lexi! Nossa super estrela!” Simon Johnson se levanta de seu lugar na cabeceira da mesa. Ele tem uma alta e larga postura de ex-soldado do exercito e cabelos castanhos ralos. Ele veio, me cumprimentou com se fossemos velhos amigos e beijou minha bochecha. “Como está se sentindo querida?”
Simon Johnson acabou de me beijar. O director de toda a empresa me beijou.
“Er… bem, obrigada!” tentei manter minha postura. “Muito melhor.”
Lancei um olhar pela sala, vendo um monte de outros poderosos da companhia em seus ternos. Byron, que costumava ser meu chefe imediato, estava sentado no outro lado da mesa de reuniões. Ele estava pálido e magricela com com cabelos pretos, usando uma de suas marcas registradas, com letras impressas de forma obsoleta. Ele me dá um riso apertado e eu abro um largo sorriso de volta, aliviada de reconhecer mais uma pessoa.
“Você teve um baita golpe na cabeça, nós entendemos,” Simon Johnson disse com sua voz de orador da escola.
“isso mesmo”.
“bem, apresse-se!” ele exclamou com uma urgência debochada. “Byron está cuidando de tudo pra você muito bem.” Apontou para Byron. “Mas o quanto você confia nele para cuidar do orçamento de seu departamento…”
Eu não sei.” Levantei as sombancelhas. “Deveria estar preocupada?”
Teve uma risada geral ao redor da mesa e eu percebi Byron me atirando adagas com os olhos.
Honestamente. Eu estava apenas fazendo uma piada.
“Falando sério, Lexi, eu gostaria de falar com você sobre nossas recentes… discursões.” Simon Johnson me deu um olhar cheio de significados. “Nós iremos jantar quando você voltar apropriadamente.
“absolutamente.”lancei em seu mesmo tom confidencial, embora não fizesse a mínima idéia sobre o que ele estava falando.
“Simon”. Dana tomou a frente, abaixando o tom de voz quase a um sussurro. “Os medicos não sabem se a amnesia de Lexi é permanente ou temporária. Portanto ela deverá ter algum problema em se lembrar…”
"Provavelmente uma vantagem, neste negócio", diz um careca do lado oposto, e outra risada acontece ao redor da
mesa.
“Lexi, eu tenho toda a confiança em você.” Simon Johnson foi firme. Ele se virou para um cara ruivo que estava sentado próximo a nós.
“Daniel, vocês dois ainda não se conhecem, não mesmo? Daniel é nosso novo encarregado das finanças. Daniel talvez você tenha visto Lexi na televisão?”

“Isso mesmo!” eu podia ver o reconhecimento na cara de todos quando apertamos as mãos. “Então você é o pequeno gênio de quem eu ouvi falar.”
Pequeno gênio?
“Er…eu acho que não” Falo um pouco incerta enquanto eles soltam uma risada.
“Não seja modesta!” Simon sorri calorosamente para mim e retorna para Daniel. “Esta jovem teve uma carreira meteórica nesta empresa. Subiu de gerente de vendas junior para diretora de departameto dentro de dezoito meses. Como eu disse várias vezes para a própria Lexi, seria uma grande aposta dar a ela esse trabalho – mas nunca me arrependi um só momento de ter corrido o risco. Ela é uma líder nata. Ela é inspiradora. Ela se dedica vinte e quarto horas por dia, tem estratégias excitantes e visionárias para o futuro. Ela é um membro muito, muito talentoso da empresa.”
Enquanto terminava, Simons sorria de forma radiante para mim; e o cara careca e mais uns dois também.
Eu estava totalmente chocada. Fiquei bege; minhas pernas cambalearam. Ninguém nunca falou sobre mim dessa forma. Nunca, em toda a minha vida.
“Bem… obrigada!” gaguejei afinal.
“Lexi”. Simon me apontou uma cadeira vazia. “Podemos deixá-la tentada a participar da reunião de orçamento?”
“Er…” lancei um olhar para Dana pedindo ajuda.
“Ela não vai demorar conosco hoje, Simon,.” Dana falou. “Nós vamos dar um pulo no departamento de revestimentos agora.”
“Claro.” Ele concordou. “Bem, você estará pedendo algo muito agradável.Todo mundo ama reuniões de orçamento”. piscou os olhos com bom humor.
“Você não percebeu que só fiz isso para evitar a reunião?” falei mostrando o curativo na minha cabeça e uma nova gargalhada geral aconteceu.
“Te vejo logo, Lexi.” Simon disse. “Se cuide.”
Assim que Dana e eu deixamos a sala de reuniões, fiquei iluminada com tanta excitação. Simplesmente eu não pude acreditar no que acabou de acontecer.
Eu brinquei com Simon Johnson. Eu sou um pequeno Gênio! Eu tenho visões estratégicas do futuro! Eu só espero que eu tenha elas por escrito em algum lugar.
“Então, você se lembra onde fica o departamento de revestimentos?” Dana perguntou enquanto descíamos o elevador novamente. “Sei que todos estão ansiosos para vê-la.”
“Eu também!” digo com confiança crescente. Colocamos as cabeças fora do elevador e o celular de Dana deu um pequeno toque.
“Oh, Céus! Ela exclama olhando pro aparelho. “Eu vou ter que atender. Você quer ir andando pro seu escritório e eu encontro você lá?”
“Claro!” Fui descendo o corredor. Parecia o mesmo que eu sempre percorri, com o mesmo tapete marrom e avisos de incêndio e plantas de plástico. O departamento de revestimentos era logo ao lado, à esquerda. À direita ficava o escritório de Gavin. Quer dizer meu escritório.
Meu próprio escritório privado.
Fiquei parada do lado de fora da porta por um momento, me preparando psicologicamente para entrar. Eu ainda não conseguia acreditar muito que era meu escritório. Meu emprego. Vamos lá. Não tem motivo pra sentir medo. Eu posso fazer esse trabalho, Simon disse que sim. Assim que alcançei a maçaneta, eu vi uma menina de cerca de vinte e poucos precipitando-se para fora do escritório principal. Suas mãos estavam sobre os lábios. “Oh!” ela disse. “Lexi, você está de volta!”
“Sim.” espreitei sem reconhecê-la. “Você tem que me perdoar. Eu tive um acidente e minha memória se foi…”
“Yeah, ouvi falar.” Ela olhou nervosa. “Sou Clare. Sua assistente?”
“Oh, Oi! Prazer em conhecê-la! Então eu fico aqui?” Empurrei minha cabeça pra porta do Gavin.
“Isso mesmo. Posso te trazer uma xícara de café?”
“Sim, por favor!” Tentei esconder meu prazer. “Isso seria ótimo.”
Eu tenho uma assistente que me traz cafezinho. Eu tinha conseguido mesmo, de verdade. Entrei no escritório e deixei a porta fechada atrás de mim fazendo um barulho.
Wow. Eu tinha esquecido o tanto que essa sala era grande. Ela tinha uma mesa enorme e uma planta e um sofa…e tudo. Coloquei minha pasta em cima da mesa e fui até a janela. Eu tinha até vista! De outro prédio alto, eu admito – mas ainda assim, era minha! Eu sou a chefe! Não consigo evitar sorrir eufórica enquanto pulo e me balanço no sofá. Fiquei quicando algumas vezes, até que bateram na porta e eu parei bruscamente.
Merda. Se alguém entrasse agora e me visse…Recuperando o fôlego, me apressei para a mesa, peguei um pedaço de papel e comecei a examiná-lo com um olhar severo e eficiente.
“Entre!”
“Lexi!” Dana entra apressada. “Você está se sentindo em casa novamente? Clare me disse que você nem sequer a reconheceu! Isso vai ser delicado pra você, não vai? Eu não tinha pensado muito…” Ela sacudiu a cabeça, franzindo o cenho. “Então você não se lembra de nada?”
“Bem… não,” admiti. “Mas tenho certeza que tudo vai voltar mais cedo ou mais tarde.”
“Vamos esperar que esteja certa!” Ela continuava parecendo ansiosa. “Agora vamos ao departamento, reapresentar a você todo mundo…”
Nós saímos – e eu derepente olhei Fi saindo do escritório do departamento, numa saia preta curta com botas e um top verde sem mangas. Ela parecia diferente do jeito que eu me lembrava, com novas mechas vermelhas no cabelo e um rosto fino, de alguma forma. Mas era ela. Ela estava até usando a mesma pulseira de tartaruga que ela usava sempre.
“Fi!” chamei com excitação, quase derrubando minha bolsa. “Oh, meu Deus! Sou eu, Lexi! Oi! Estou de volta!
Fi visivelmente arranca. Ela dá uma virada e por alguns minuto me olha como se eu fosse uma lunática. Acredito que fui um pouco exagerada na excitação. Mas eu só estava muito alegre de vê-la.
“Hi, Lexi,” ela disse por fim olhando pro meu rosto. “Como você está?”
“Estou bem!” falei, com as palavras saindo ansiosas. “Como você vai? Você parece ótima! Adorei seu cabelo novo!” Todo mundo me encarando agora.
“Pois é – me forcei a soar de forma mais composta – talvez possamos colocar os assuntos em dia depois? Com as outras?”
“Uh – yeah.” Fi concordou sem me olhar nos olhos.
Por que ela estava tão desligada? Que havia de errado? Meu peito ficou apertado com essa frieza.
Talvez por isso ela nunca respondeu nenhuma as minhas mensagens. Nó tivemos alguma discussão grande. E as outras devem ter ficado do lado dela. E au simplesmente não me lembro…
“Depois de você, Lexi!” Dana me introduz no escritório amplamente aberto. Quinze rostosolhavam para nós e eu tentei não ofegar. Isso era tão estranho.
Eu podia ver Carolyn, e Debs, e Melanie e vários outros que eu conhecia. Todos pareciam conhecidos… mas três anos antes. Os cabelos e maquiagens e roupas, tudo estava diferente. Debs estava com braços super tonificados e estava bronzeada com se tivesse acabado de voltar de ferias exóticas. Carolyn usando novos óculos sem armação e seu cabelo estava ainda mais curto do que era antes…
Lá estava minha mesa. Uma loira oxigenada com tranças no cabelo estava sentada lá, parecendo que estava totalmente em casa.
“Todos vocês sabem que Lexi esteve doente após seu acidente,” Dana anunciou pela sala. “Estamos felizes que ela está aqui pra nos fazer uma visita hoje. Ela sofreu alguns efeitos colaterais por causa disso, inclusive amnesia. Mas tenho certeza que todos vocês vão ajudá-la a se lembrar de tudo por aqui e lhe darão calorosas boas vindas.” Ela virou pra mim e murmurou, “Lexi, você gostaria de falar algumas palavras de incentivo pro departamento?”
“Palavras de incentivo?” eu repeti insegura.
“Alguma coisa inspiradora.” Dana sorriu. “ Levantar as tropas.” O cellular dela tocou novamente. “Desculpe. Com licença.” Ela se apressou para o corredor e me deixou sozinha, encarando o departamento inteiro.
Vamos lá. Simon Johnson disse que sou uma lider nata. Eu posso fazer isso.
“Um… Olá, pessoal!” dei um pequeno aceno pra todo mundo na sala, que ninguém respondeu. “Eu só queria dizer que estarei de volta em breve e… um… continuem o bom trabalho.” Procurei desajeitadamente por algo motivacional. “Qual o melhor departamento da empresa? Nós somos! Quem detona? O Revestimentos!*” Dei um pequeno soco no ar, como uma lider de torcida. “F! L! O! R!” *(o nome do departamento é Flooring que quer dizer revestimentos, mas acho que nesse trecho tem deixar em ingles mesmo senão o texto perde o sentido)
“Deveria ter um outro O aí,” uma garota que eu não reconheci interrompeu. Ela está de pé com seus braços cruzados, parecendo nem um pouco impressionada.
“O quê?” Eu parei, sem ar.
“ Tem dois O em flooring.” Ela virou os olhos. Duas garotas perto dela escondiam uma risadinha com as mãos, enquanto Carolyn e Debs estavam só me olhando boquiabertas.
“Certo”, eu disse frustrada. “De qualquer forma… Muito bem, pessoal, todos vocês têm feito um excelente trabalho.”
“Então você está voltando agora, Lexi?” perguntou a garota de vermelho.
“Não exatamente-”
“É que eu só preciso que meu formulário de despesas seja assinado, urgentemente.”
“Eu também.” Umas seis pessoas disseram.
“Você falou com Simon sobre nossas metas?” Melanie veio à frente, com um olhar severo. “Só que elas são impraticáveis do jeito que estão…”
“O que aconteceu com os novos computadores?”
“Você leu meu e-mail?”
“Nós já separamos os pedidos da Thorne Group?”

De repente todo mundo na sala começava a me rodear com um monte de perguntas. Eu dificilmente poderia acompanhar qualquer um deles, muito menos saber o que eles queriam dizer.
“Eu não sei!” disse desesperadamente. “Sinto muito. Eu não me lembro… vejo vocês depois!”
Mal respirando, eu atravessei o corredor, voltei para minha sala e bati a porta.
Merda. O que foi tudo isso?
Teve uma batida na porta. “Olá?” eu chamo, com minha voz soando estrangulada.
“Oi!” Clare disse, entrando com uma pilha enorme de cartas e documentos. “Desculpe incomodá-la, Lexi, mas enquanto está aqui, você poderia dar só uma olhadinha nisso? Você precisa dar um retorno ao Tony Dukes da Biltons e autorizar o pagamento do Sixpack e assinar essas renúncias, e um homem chamado Jeremy Northpool ligou várias vezes, dizendo que ele espera que você pode retomar discussões...”
Ela estava segurando uma caneta. Esperando que eu entrasse em ação.
“Eu não posso autorizar nada.” Disse em pânico. “Não posso assinar nada. Nunca ouvi falar de Tony Dukes. Não lembro nada dessas coisas!”
“Oh!” A pilha de papéis de Claire cai ligeiramente, enquanto ela me examina, com os olhos bem abertos. “Bem...quem vai dirigir o departamento? Byron?”
“Não! Quer dizer... eu. É meu trabalho. Vou fazê-lo. Só preciso de um pouco de tempo... Olha, deixe isso tudo comigo.” Tentei me recompor. “Vou dar uma lida. Talvez tudo me volte à cabeça.”
“Okay,” Claire disse claramente aliviada. Ela largou a pilha de papéis na mesa. “Vou já trazer seu café.”
Minha cabeça girava. Sentei-me à mesa e peguei a primeira carta. Era sobre alguam reclamação já em curso. "Como você já está ciente ... esperamos sua resposta imediata ..." Mudei para o próximo documento. Era uma previsão de orçamento mensal para todos os departamentos da empresa. Tinha seis
gráficos e um Post-it em que alguém rascunhou: "Poderia obter suas opiniões, Lexi?"
“Seu café...” Claire passou pela porta.
“Ah, sim,”Eu disse, falando num tom tipo chefe. “Obrigada, Claire.” Enquanto ela colocava a xícara na mesa eu examinava os gráficos. “Muito interessante. Vou formular uma resposta para isso depois...”
No minuto em que ela foi embora eu baixei minha cabeça na mesa em desespero. O que eu vou fazer? Esse trabalho era realmente difícil. Quer dizer, realmente, muito difícil.
Como no mundo é que fui fazer isso? Como eu vou saber o que dizer e que decisões tomar? Houve ainda uma outra batida na porta e eu rapidamente me coloquei na posição correta, pegando alguns papéis aleatoriamente.
“Está tudo certo. Lexi?” Era Byron, segurando uma garrafa de água e um feixe de papéis.Ele se inclina contra a porta, seus punhos de ossos salientes aparecendo através de sua camisa branca. Ao redor deles tinha um relógio de alta tecnologia com um tamanho diferente, que deve ter custado uma nota, mas que parecia ridículo.
“Certo! Ótimo! Pensei que você estava na reunião de orçamentos.”
“Demos uma pausa para o almoço.”
Ele tem esse tom sarcástico, falando arrastado, como se achasse que você era um idiota total. Pra falar a verdade, eu nunca fui com a cara do Byron. Agora seu olhar estava nos papéis em cima da minha mesa. “Estou vendo que já está de volta.”
“Não realmente.” Eu sorri, mas ele ao correspondeu.
“Você já decidiu o que fazer sobre Tony Dukes? Por que essa conta veio para mim ontem”
“Bem...” hesitei. “Na verdade. Não estou muito... Eu não...” Eu engoli, sentindo meu rosto corar. “O que acontece é que eu tive amnésia desde meu acidente e...”
Perdi a calma, torcendo meus dedos em nós.
Subtamente Byron fez uma cara de compreensão. "Jesus",
ele diz após me observar por um momento. "Você não sabe quem é
Tony Dukes, não é mesmo? "
Fiz uma busca frenética no meu cerebro.Tony Dukes. Tony Dukes— mas nada.
“Eu… um… bem…não. Mas se você puder me lembrar…” Byron me ignorou. Ele fica circulando pela sala, batendo
sua garrafa da água contra a palma da mão, sua testa com vincos, num olhar de severa avaliação.
“Deixe-me entender isso direito,” ele disse devagar. “Você não se lembra de absolutamente nada?”
Todos os meus instintos se arrepiaram. Ele estava como um gato se acotovelando com um rato, descobrindo exatamente o quão fraca é a sua presa. . .
Ele quer meu emprego.
Assim que me toquei disso, me senti como uma idiota por não ter pensado melhor no que disse antes. Claro que ele quer. Eu passei por cima dele. Por baixo de toda essa educação e aparência agradável, ele deve ter detestado perder sua posição pra mim.
“Eu não lembro de NADA.” Falei rápido como se essa simples idéia fosse ridícula. “Só… os três ultimos anos que ficaram um pouco em branco.”
“Os últimos três anos?” Byron arremessa para trás sua cabeça
e dá uma gargalhada incrédulo. “Me desculpe, Lexi, mas você sabe tão bem quanto eu, que neste negócio três anos é um vida inteira.”
“Bem, vou pegar tudo rapidinho outra vez,” disse tentando ser forte. “E os médicos falaram que eu posso me lembrar de tudo a qualquer momento.”
“Ou é presumível que você também não consiga.” Ele adotou uma expressão simpática e preocupada. “Deve ser uma grande preocupação pra você, Lexi. Que sua cabeça possa ficar em branco pra sempre.”
Encontrei seu olhar duro como aço, na mesma intensidade do meu.
Boa tentativa. Mas você não vai e assustar assim tão fácil.
“Tenho certeza de que vou voltar ao normal muito em breve.” Eu disse buscamente.
“Voltando ao trabalho, correndo pelo departamento… Eu estava tendo uma excelente conversa com Simon Johnson antes,” despistei na medida.
“Uh-huh.” Ele bateu na garrafa de água pensativo. “Então… o que você decidiu sobre Tony Dukes?”
Porra. Ele me derrotou. Não tinha nada que eu pudesse falar sobre Tony Dukes e ele sabia disso. Embaralhei os papéis na minha mesa, tentando ganhar tempo.
“Talvez…você pudesse decidir isso?” Eu disse por fim.
“Ficaria feliz de fazê-lo.” Ele me deu sorriso condescendente. “Eu cuidarei de tudo. E você só tem que cuidar de si mesma. Fique melhor, use o tempo que precisar. Não se preocupe com nada!”
“Bem… obrigada.” Forcei um tom agradável. “Eu gostei disso, Byron.”
“Então!” Dana apareceu na porta. “Vocês dois estão estão tendo uma boa conversa? Recuperando o atraso, Lexi?”
“Absolutamente.” Sorri, meus dentes rangeram. “Byron está sendo de grande ajuda.”
“Qualquer coisa que eu puder fazer para ajudar…” ele espalhou seus braços num gesto auto-depreciativo. “Estou bem aqui. Memória intacta.”
“Super!” Dana dá uma olhada em seu relógio. “Agora, Lexi, eu tenho que sair para almoçar, mas posso acompanhar você, se sairmos agora…”
“Não se preocupe, Dana,” eu disse rapidamente. “Ficarei aqui um pouco mais para dar uma lida em alguns papéis.”
Eu não iria deixar esse prédio sem falar com Fi. De jeito nenhum.
“OK.” Ela sorriu. “Bem, adorei ver você, Lexi, e vamos falar por telefone sobre quando você quer retornar apropriadamente.” Ela faz um gesto com o celular embaixo do queixo e eu a imito.
“Nos falamos em breve!”
Os dois foram embora, e eu ouvi Byron falando, “Dana, posso dar uma palavrinha com você? Precisamos discutir essa situação. Com o maior respeito pela Lexi…”
A porta do meu escritório fechou e eu fui na ponta dos pés até lá. Abri um pouquinho e coloquei meu ouvido pra fora.
“Está claro que ela não está em condições de liderar esse departamento…”
Dava pra ouvir a voz de Byron enquanto ele e Dana viravam a esquina para os elevadores.
Imbecil. Ele nem sequer se incomodou de esperar até sair da minha area de visão. Voltei para minha sala, joguei-me de volta na mesa e enterrei a cabeça em minhas mãos. Toda a minha euforia tinha ido embora. Eu não tinha nenhuma idéia de como consegui este cargo.
Eu levantei um papel aleatoriamente do monte que estava em minha frente e olhei para ele.
Era algo sobre premiação de seguros. Como é que eu sei de tudo isso, pra começar? Quando foi que eu aprendi? Eu me sentia como se tivesse escalado o Monte Everest até o topo sem sequer saber o que era um gancho.
Num grande suspiro, abaixei a folha de papel. Preciso falar com alguém. Fi. Levantei o telefone e disquei 352, o ramal dela, a menos que tivesse mudado o sistema.
“Departamento de Revestimentos, Fiona Roper falando.”
“Fi, sou eu!” eu disse. “Lexi. Ouça, podemos conversar?”
“Claro,” ela disse num tom formal. “Você quer que eu vá até aí agora? Ou devo marcar uma hora com a Claire?”
Meu coração afundou. Ela parecia tão… distante.
“Eu só quero dizer que a gente poderia bater papo! A menos que você esteja ocupada…”
“Na verdade eu estava de saída pra o almoço.”
“Bem, eu irei também!” disse ansiosa. “Como nos velhos tempos! Eu poderia morrer por um chocolate quente. O Morellis ainda faz aqueles paninis maravilhosos?”
“Lexi…”
“Fi. Eu realmente preciso conversar com você, okay? Apertei o telefone. “Eu… eu não me lembro de nada. E isso está me assustando um pouco. Toda essa situação…” Tentei sorrir.
“Espere um pouco, sairei em um momento…”
Coloquei o fone no gancho e peguei um pedaço de papel. Hesitei, depois escrevi, “Por favor agilize tudo isso Byron. Meus agradecimentos, Lexi.”
Eu sei que estou me jogando nas mãos dele. Mas agora tudo o que me importa é ver meus amigos.
Peguei minha bolsa e minha pasta, me apressei para fora do escritório, passei pela mesa de Claire e fui para a sala principal do departamento.
“Oi, Lexi,” disse uma garota. “Você quer alguma coisa?”
“Não, tudo bem, obrigada, eu só vim encontar Fi para o almoço…” eu sai. Não consegui localizar Fi em parte alguma do escritório. Ou Carolyn. Ou Debs.
A garota me olhou surpresa. “Eu acho que elas já saíram pro almoço. Você quase as alcança…”
“Ah, certo.” Tentei esconder meu desconforto. “Obrigada. Acho que elas ficaram de me encontar no saguão.”
Eu virei e andei o mais rápido que podia com meus sapatos pelo corredor – bem a tempo de ver Debs desaparecendo pelo elevador.
“Espere!” Eu gritei começando a correr. “Estou aqui! Debs!”
Mas as portas do elevador já tinham se fechado.
Ela me ouviu. Eu sei que ouviu.


Meus pensamentos estavam girando selvagens na minha cabeça enquanto abri a porta e corri escadaria abaixo. Elas sabiam que eu estava vindo. Elas estavam me evitando? Que porra aconteceu nesses últmos três anos? Nós éramos amigas. Tudo bem, eu sou a chefe delas agora... mas é possível ser amiga do chefe, não é?
Não é?
Cheguei ao andar téreo quase caindo pelo saguão. A primeira coisa que vi foi Carolyn e Debs saindo pelas portas de vidro, com Fi bem na frente delas.
“Oi!” Eu chamei quase desesperadamente. “Esperem!’
Me atirei pelas portas de vidro e finalmente as alcancei bem na frente das escadas do edifício.
“Oh, Olá, Lexi!” Fi dá uma minúscula bufada, que sei que significa que ela está tentando não rir.
Eu imagino que devia estar parecendo um pouco incongruente, correndo esse caminho todo com o rosto vermelho dentro de um terno preto.
“Eu pensei que nós íamos almoçar juntas!” Eu disse, ofegante. “Te falei que estava vindo!”
Houve um silêncio. Ninguém olhava nos meus olhos. Debs virava o seu longo pingente de prata; seu cabelo loiro balançando com a brisa. Carolyn tirou seus óculos e ficou polindo-os na sua camisa branca
“O que está acontecendo?” Tentei soar relaxada mas pude ouvir um pouco de mágoa na minha voz. “Fi, por que você não respondeu nenhuma das minhas mensagens? Tem algum tipo de problema?”
Nenhuma delas falou. Eu quase conseguia ver bolhas de pensamentos viajando entre elas. Mas eu não conseguia mais lê-las. Eu estava fora do circuito.
“Ei, vocês.” Tentei um sorriso. “Por favor. Vocês tem que me ajudar. Eu estou com amnesia. Eu não me lembro. Nós tivemos… uma discursão ou algo parecido?
“Não.” Fi encolheu os ombros.
“Então, eu não entendo isso.” Olhei para todos os rostos suplicando.
“A última lembrança que tenho é de que nós éramos as melhores companheiras! Saímos numa sexta à noite. Nós tomamos coquetéis de banana, Perdedor Dave me deu o cano, cantamos no Karaokê… se lembram?”
Fi arfou e levantou as sombrancelhas para Carolyn. “Isso foi há muito tempo atrás.”
“E o que aconteceu desde então?”
“Olha.”Fi dá um suspiro. “Vamos esquecer isso. Você teve o acidente, tá doente, nós não queremos aborrecer você.”
“Isso mesmo. Vamos todas comer um sanduíche juntas.” Debs olhou para Fi enquanto pensava no que dizer “ Para animá-la.”
“Não seja condescendente comigo!” Minha voz ficou mais afiada do que eu pretendia. “Esqueça o acidente! Não estou inválida! Estou bem. Mas eu preciso que vocês me digam a verdade.”Olhei para o grupo em desespero. “Se não tivemos nenhuma discursão, o que há de errado? O que aconteceu?
“Lexi, nada aconteceu.” Fi parecia embaraçada. “É que… nós realmente não passamos mais tempo juntas. Não somos mais companheiras.”
“Por que não?” Meu coração batia forte, mas eu tentava ficar calma. “isso é por que sou sua chefe agora?”
“Não é por que você é a chefe. Isso não importaria se você fosse-” Fi parou. Meteu as mãos nos bolsos e não me olhava nos olhos.cê ficou Pra ser honesta é por que você ficou um pouco…”
“O que?” Fiquei olhando de uma para a outra confusa. “Me fala!”
Fi encolheu os ombros. “Uma vaca nojenta.”
“Tipo mais ou menos chefe-chata-do-inferno.” Carolyn balbuciou.
O ar pareceu ficar sólido nos meus pulmões. Chefe-chata-do-inferno? Eu?


“Eu… eu não entendo,” eu murmurei afinal. “Eu não sou uma boa chefe?
“Oh, você é ótima.” A voz de Carolyn pingava sarcasmo. “Você nos penaliza se estamos atrasadas. Toma tempo de nossas horas de almoço. Controla nossos gastos. Oh, é uma diversão só no departamento!”
Minhas bochechas latejavam como se ela tivesse me batido.
“Mas eu nunca…eu não sou desse jeito-”
Carolyn me cortou. “Sim. É sim.”
“Lexi, você pediu por isso.” Fi rolava seus olhos como ela sempre fazia quando estava desconfortável. “É por isso que nós não saímos mais juntas. Você faz suas coisas e nós fazemos as nossas”
“Eu não posso ser uma cadela,” tentei mais uma vez, minha voz trêmula. “Nao posso ser. Sou sua amiga! Lexi! Nós nos divertimos juntas, a gente sai pra dançar juntas, a gente fica bêbada…”as lágrimas espetavam meus olhos. Eu olhava em volta aqueles rostos que eu conhecia tão bem – e ainda meio que não conhecia – tentando desesperadamente acender um acorde de reconhecimento.
“Eu sou eu! Lexi, dente torto, lembram de mim?”
Fi e Carolyn trocaram olhares.
“Lexi…” Fi disse quase gentilmente. “Você é nossa chefe..Fazemos o que você manda. Mas não almoçamos juntas. E não saímos juntas também.” Ela pendura sua bolsa nos ombros e então suspira. “Olha vem com a gente hoje se você quiser…”
“Não.” Eu disse, sentindo dor. “Tudo bem, obrigada.” Fui embora com as pernas bambas.

Estava dormente com o choque.
Durante o caminho pra casa, fiquei sentada no taxi num tipo de transe. De alguma forma eu imaginava conversar com Gianna sobre os preparativos para o jantar que iríamos oferecer e ouvir a minha mãe quando ela começar a reclamar sobre suas últimas corridas ao conselho municipal. Agora está no início da noite e eu estou na banheira. Mas durante todo o tempo meus pensamentos circulavam em torno do mesmo assunto. Eu sou a chefe-chata-do-inferno. Todas as minhas amigas me odeiam. Que merda foi essa que aconteceu?
Toda vez que eu me lembro da voz fatal de Carolyn, eu me encolho. Só Deus sabe o que eu fiz a ela – mas ela obviamente não quer saber de mim.
Eu tinha realmente me tornado uma chata esnobe no últimos três anos? Mas como? Por que?
A água aumentou sua temperatura e isso pelo menos me fez sair. Me enxuguei rapidamente, tentando me energizar. Eu não posso continuar obcecada com isso. Já eram seis horas e daqui ha uma hora eu iria receber pessoas para jantar em minha casa.
Pelo menos eu não teria que cozinhar. Quando eu cheguei em casa Gianna estava ocupada na cozinha com suas duas sobrinhas – todas cantando opera juntamente com o som que saía dos seus fones.
Havia bandejas de sushi e canapes em todas as prateleiras da geladeira e o mais incrível cheiro de carne assando. Tentei me juntar a elas – sou muito boa fazendo pão de alho – mas elas me afastaram de lá. Então decidi que estaria a salvo na banheira. Me enrolei numa toalha limpa e caminhei silenciosamente pro meu quarto – daí fui duas vezes até o meu camarim atrás de roupas. Jeez Louise. Eu sei por que pessoas ricas são magras: é só de ficar andando de um lado para o outro em sua casas enormes o tempo todo. No meu flat em Balham eu podia alcançar o guarda-roupa da minha cama. E a TV. E a torradeira.
Escolhi um mini vestido preto, uma langerie pequenina e sandálias de cetim pretas de tiras. Não tem nada no meu guarda-roupa de 2007 que seja comprido ou grande. Nada de suéteres peludos, nada de sapatos grosseiros. Tudo estreito e feito sob medida pra combinar comigo.
Enquanto vou andando de volta pro meu quarto deixo minha toalha cair no chão.
“Oi, Lexi!”
“Aargh!”Dou um pulo de susto.A grande tela na base da cama mostrava uma imagem enorme do Eric. Coloquei minhas mãos nos seios e me abaixei atrás da cadeira.
Eu estava nua. E ele podia me ver.
Ele era meu marido, eu lembrava a mim mesma fervorosamente. Ele já viu tudo isso antes – está tudo bem.
Isso não parecia bem.
“Eric, você pode me ver? Eu perguntei com uma voz alta e esganiçada.
“Não agora.” Ele riu. “Coloque a configuração para Câmera”.
“Oh!Okay!” disse aliviada. “Me dê só um segundo...”
Fui vestir uma bata e rapidamente comecei a recolher um monte de roupas que eu tinha espalhado pelo quarto. Se tinha uma coisa que eu aprendi rapidamente foi que o Eric não suporta coisas espalhadas pelo chão. Ou nas cadeiras. Ou nenhum tipo de bagunça.Enfiei todas elas embaixo do edredon o mais rápido possível,joguei uma almofada em cima e alisei o monte o melhor que pude.
“Pronto!”Fui até a tela e virei o discador para câmera.
“Vá para trás.” Eric me dá instruções e eu me afastei da tela. “Agora posso ver você! Então tenho só mais uma reunião, daí estarei a caminho de casa. Está tudo pronto para o jantar?”
“Acho que sim!”
“Excelente!” Sua boca enorme se espalha formando uma covinha. “E como foi no trabalho?”
“Foi ótimo!” de algum jeito consegui um tom animado. “Eu vi Simon Johnson e todos do meu departamento, e minhas amigas…”
Freiei, subitamente me senti queimando de humilhação. Eu poderia ainda descrevê-las como amigas?
“Maravilha.” Eu não tinha certeza de que Eric sequer tinha ouvido. “Agora você realmente deveria se aprontar. Vejo você mais tarde, querida!”
“Espere!” chamei num impulso. “Eric.”
Este era meu marido. Eu podia até não conhecer ele – mas ele me conhecia. Ele me amava. Se tinha alguém a quem eu poderia confiar meus problemas, com quem me assegurar de algo, era ele.

xxxxxx

“Manda ver.” Eric acenou com a cabeça examinando com um movimento lento e contraído.
“Hoje,Fi disse…” eu mal poderia me obrigar a repetir as palavras. “Ela disse que eu era uma chata esnobe. Isso é verdade?
“Claro que não é verdade.”
“Sério?”senti uma ponta de esperança. “Então eu não sou uma horrivel chefe-chata-do-inferno?”
“Querida, não tem o menor jeito de você ser horrivel. Ou uma chefe-chata-do-inferno.”
“Eric parecia tão certo, que eu relaxei aliviada. Tinha que ter alguma explicação. Talvez alguns limites tivessem sido ultrapassados – deveria ser algum mal-entendido. Tudo ficaria bem -
“Eu diria que você era… difícil,” ele acrescentou.
Meu sorriso de alívio congelou no meu rosto. Difícil? Eu não gostei muito de como isso soou.
“Você quer dizer difícil de um jeito bom?” tentei parecer casual. “Tipo, difícil, mas ainda simpática e bacana?”
“Amorzinho, você é centrada. Você está conduzindo. Você dirige seu departamento duramente. Você é uma grande chefe.” Ele sorriu. “Agora, tenho que ir. Vejo você mais tarde.”
A tela ficou escura e eu fiquei olhando pra ela, totalmente insegura. Na verdade estava mais alarmada do que antes.
Difícil. Isso não é só uma outra maneira de dizer “chefe-chata-do-inferno”?
Qualquer que fosse a verdade, não posso deixar isso me atingir. Tenho que manter tudo em perspectiva. Uma hora depois e meu ânimo estava um pouco melhor. Coloquei meu novo colar de diamantes.Pulverizei em mim uma boa quantidade de um perfume caro. Sorrateiramente bebi uma taça de vinho, o que fez tudo parecer muito melhor.
Talvez as coisas não fossem tão perfeitas quanto imaginei.talvez eu tenha falhado com minhas amigas; talvez Byron esteja atrás do meu emprego; Talvez eu não tenha uma pista sequer de quem seja Tony Dukes. Mas podia ajeitar tudo isso. Podia aprender meu trabalho. Podia reestabelecer ligações com Fi e as outras. Poderia pesquisar Tony Dukes no google.
O Ponto é, ainda sou a garota mais sortuda do mundo. Eu tenho um marido lindo, um casamento maravilhoso e um apartamento incrível. Quer dizer, olhe só em volta! Hoje o lugar está ainda mais de deixar o queixo caído do que sempre está. O florista chegou e partiu – e lá estavam os arranjos de lírios e rosas por toda parte. A mesa de jantar foi extendida e nela tinha prataria e cristais brilhantes e uma peça de centro como em casamentos. Tinha até cartões que marcavam o lugar de cada pessoa escritos à mão!
Eric disse que era um “jantar casual”. Só Deus sabe o que nós fazemos quando é formal. Talvez tenha 10 mordomos com luvas brancas ou algo parecido.
Cuidadosamente eu apliquei meu baton Lancome e apaguei os borrões. Quando terminei eu não podia deixar de me encarar no espelho. Meu cabelo estava alto e meu vestido caía perfeitamente e tinha diamantes em minhas orelhas e meu pescoço. Eu parecia uma garota elegante dos comerciais. Como se a qualquer momento fosse aparecer um título na tela bem abaixo de mim.
Ferrero Rocher. Pelas coisas finas da vida.
British Gas. Mantendo você aquecido em seu apartamento da moda que custa milhões.
Me afastei um pouco e automaticamente a iluminação mudou do espeho para uma luz ambiente. A “iluminação inteligente” neste quarto parecia mágica: descobria onde você estava através de sensores e se ajustava de acordo. Eu meio que tentava enganar a luz correndo pelo quarto e gritando: “Ha! Você não é tão inteligente agora, é?”
Quando Eric estava fora, é claro.


“Querida!” Eu pulei, e virei para vê-lo parado na porta, em seu terno. “Você está maravilhosa!”
“Obrigada.” Eu corei de satisfação e mexi o cabelo.
“Um coisinha só. Pasta no corredor, boa idéia? Seu sorriso não vacilou, mas pude ouvir incômodo em sua voz.
Merda. Eu devo ter deixado lá. Eu estava tão preocupada quando cheguei em casa que nem pensei.
“vou tirar de lá,” disse apressadamente. “Desculpe.”
“Tudo bem.” Ele assentiu. “Mas primeiro prove isso.” Ele me deu uma taça de vinho tinto. “É um Chateu Branaire Ducru. Nós trouxemos da nossa última viagem à França. Gostaria da sua opinião.”
“Certo.” Tentei parecer confiante. “Absolutamente.”
Ah, não. O que vou dizer? Cautelosamente eu dei um gole e espalhei o liquido pela minha boca, procurando em meu cérebro algo sobre vinhos que eu pudesse dizer. Forte. Amadeirado. Um bom clássico.
Cheguei a pensar no assunto. Mas era tudo besteira, não era?
Ok, Vou dizer que é um clássico divinamente encorpado, com notas de morango. Não, cassis. Engoli tudo que estava na boca e acenei para o Eric com conhecimento.
“Sabe, eu acho que é um clas…”
“É horrível, não é?” Eric me cortou. “Tem gosto de rolha. Totalmente estragado.”
“Estragado?.”
“Oh! Er… sim!” Refiz minha postura. “Passou bastante da validade.Urggh!” Fiz uma cara ruim. “Revoltante!”
Essa foi por pouco. Coloquei o copo de lado na mesa e ajustei a iluminação inteligente novamente.
“Eric,” Eu disse tentando não demonstrar minha aflição. "Será que podemos ter uma iluminação que permanece a mesma durante toda a noite? Não sei se é possível - ”
“Tudo é possível.” Ele falou como se estivesse ofendido. “Temos opções infintas. Exatamente isso é que é o loft-style living* ” (gente não vou traduzir isso por que não fica legal,mas ele usa muito essa expressão e se refere ao estilo de vida que essas casas inteligentes e cheias de tecnologia proporcionam e que é o que a empresa dele vende.) Ele me passa um controle remoto. “Aqui. Você pode anular o sistema com isso. Escolha um humor para o ambiente. Eu vou selecionar um vinho.
Eu me dirigi até a sala de estar, encontrei iluminação no controle remoto e fui experimentando os tipos de luz.
Luz do dia é muito luminosa. Cinema é muito escura. Relax é nublada. Eu rolei muito mais pra baixo. Leitura ... Disco ...
Ei. Temos uma iluminação disco? Pressionei o controle - e ri alto enquanto a sala de repente ficou cheia de luzes multicoloridas pulsando.Agora vamos tentar estroboscópio. Em seguida a
sala ficou piscando em preto e branco e eu alegremente comecei a dançar imitando um robô ao redor da mesa de café. Isso era como na boate.
Por que Eric nunca me disse que nós tínhamos isso antes? Talvez tivéssemos gelo seco também, e um globo de espelho.
“Jesus Cristo, Lexi, o que você está fazendo?” A voz de Eric penetra o quarto pulsante. “Você colocou a porra do apartamento inteiro com luz de estroboscópio! Gianna quase cortou o braço fora!”
“Oh, não! Desculpe.” Me sentindo culpada procurei desajeitadamente o controle e apertei até voltamos para a iluminação disco.
“Você nunca me disse que tínhamos iluminação disco e estroboscópica! Isso é fantástico!”
“Nunca as usamos.” O rosto de Eric era um turbilhão de cores. “Agora, encontre alguma coisa sensível, pelo amos de Deus!” Ele se virou e desapareceu.
Como é que pode se ter iluminação disco e nunca usá-la? Que disperdício! Eu tenho que ter Fi e as outras aqui pra uma festa. Nós tomarámos vinho e beliscaríamos algo, e liberaríamos espaço com o vlume lá em cima – e aí me coração apertou quando me lembrei. Isso não iria acontecer tão cedo. Ou talvez nunca.
Me sentindo no prejuízo, mudei para iluminação de recepção de area única, que era tão boa quanto qualquer uma outra. Larguei o controle remoto, andei até a janela e fiquei encarando a rua embaixo, de repente determinada. Eu não vou desistir. Elas são minhas amigas. Vou descobrir o que está acontecendo. E aí vou fazer as pazes com elas.
Meu plano para o jantar era memorizar o rosto de cada convidado e seu nome usando técnicas de visualização. Mas o esquema todo foi por água abaixo quando três parceiros de Golf do Eric chegaram juntos, com ternos idênticos, rostos idênticos e esposas ainda mais idênticas. Os nomes deles eram como Greg e Mick, Suki e Pooky e eles imediatamente começaram a conversar sobre um feriado onde aparentemente tínhamos ido esquiar.
Eu beberiquei meu drink e sorri o tempo todo, aí mais ou menos uns dez outros convidados chegaram de uma vez só e eu não tive a menor idéia de quem era quem, com excessão de Rosalie, que se apressou em me apresentar seu marido, Clive (que não tinha nada de monstro em sua aparência, era só um cara afetado num terno), e saiu mais uma vez depressa.
Depois de um tempo meus ouvidos estavam latejando e eu me sentia tonta. Gianna estava servindo bebidas e sua sobrinha servindo canapés e tudo parecia sob controle. Então dei ma desculpa para o cara careca que estava me contando sobre a guitarra elétrica de Mick Jagger, que ele tinha acabado de comprar em um leilão de caridade, e saí de fininho para o terraço.
Depois de pegar uma boa dose de ar fresco, minha cabeça continuava girando.
O crepúsculo azul-cinzento descia e as lâmpadas da rua começavam a acender. Enquanto eu admirava Londres eu não me sentia real. Era como se alguém estivesse atuando num papel de uma garota de vestido parada numa elegante sacada com uma taça de champagne nas mãos.
“Querida! Aqui está você!”
Me virei para ver Eric empurrando para que a porta deslizasse.
“Oi!” respondi. “Só estava tomando um ar fresco.”
“Deixe-me apresentar você Jon, meu arquiteto.” Eric indicou um homem de cabelos pretos, jeans preto e uma jaqueta de linho escura.
“Olá,” Eu começei automaticamente, e parei. “Ei, nós já nos conhecemos!” exclamei, aliviada de ver um rosto conhecido. “Não já? Você é o cara do carro.”
Uma expressão estranha tremulou pelo rosto do homem. Quase como desapontamento. Então ele assentiu.
“Isso mesmo. Sou o cara do carro.”
“Jon é nosso espírito criativo. Eric disse, dando-lhe tapinhas nas costas. “Ele é o talento. Eu posso ter jeito com as finanças, mas este é o homem que faz a coisa acontecer.” – ele pausa momentaneamente – “Loft-style living.” E assim que diz essas palavras ele faz aquele gesto mãos-paralelas-arrumando-tijolos de novo.
“Ótimo!” Eu tentei parecer entusiasmada.. Eu sei que é o negócio do Eric e tudo mais, mas a frase “loft-style living” está realmente começando a me incomodar.
“Obrigada novamente pelo outro dia.” Sorri educadamente para Jon. “Você realmente salvou minha vida!” Virei para Eric. “Eu não te contei, mas eu tentei dirigir o carro e estive perto de atingir o muro. Jon me ajudou.”
“O prazer foi todo meu.” Jon tomou um gole de sua bebida. “Então, você ainda não se lembra de nada?”
“Nada.” Balancei minha cabeça.
“Deve ser estranho pra você.”
“É… mas estou começando a me acostumar. E Eric tem sido de muita ajuda. Ele fez pra mim um livro pra me ajudar a lembrar. Tipo um manual do casamento. Com sessões e tudo mais.”
“Um manual?” Jon repetiu e seu nariz começou contrair-se comvulsivamente. “Você está falando sério. Um manual.”
“Sim, um manual.” Encarei ele com suspeita.
“Ah, lá está o Graham.” Eric nem sequer estava ouvindo a nossa conversa. “Tenho que dar uma palavrinha com ele. Com licença.” Ele voltou para dentro, me deixando com Jon, o arquiteto, sozinha.
Eu não sei qual era a desse cara. Quer dizer, eu nem conhecia ele, mas ele me causa amargura.
“O que há de errado com um manual de casamento?” Ouvi a mim mesma perguntando.
“Não. Nada. Nada de errado.” Ele balançou sua cabeça gravemente. “É um ato muito sensível. Por que de outra forma você pode não saber quando vocês devem se beijar.”
“Exatamente! Eric colocou uma sessão inteira sobre - ” brequei.
A boca de Jon tremia como se ele estivesse tentando não rir.

Ele achava que isso era engraçado? “O manual cobre todas as areas.” Disse rapidamente. “E tem sido de grande ajuda para nós dois. Você sabe, isto é muito difícil para o Eric também, ter uma esposa que não lembra de nada sobre ele. Ou talvez você não tenha percebido isso?”
Teve um silêncio. Todo o humor derreteu em seu rosto.
“Acredite.” Ele disse afinal. “Eu sei disso.” Ele secou seu copo e ficou encarando o fundo por alguns momentos. Ele olhou para cima e parecia que ia começar a falar – daí, enquanto as portas deslizavam, ele mudou de idéia.
“Lexi!” Rosalie veio para perto de nós, com uma taça na mão. “Canapés maravilhosos!”
“Oh, bem…obrigada!” Eu disse, embaraçada por receber elogios por algo que eu não tive absolutamente nada a ver. “Ainda nem experimentei. Eles estão gostosos?”
Rosalie pareceu perplexa. “Não tenho a menor idéia, docinho. Mas eles parecem maravilhosos. E Eric disse que o jantar já vai ser servido.”
“Oh, Deus,” disse culpada. “Eu simplesmente deixei ele com isso. É melhor nós entrarmos. Vocês já se conhecem?” Perguntei enquanto entrávamos.
“Claro,” Jon falou.
“Jon e eu somos velhos amigos,” Rosalie disse suavemente. “Não somos querido?”
“Até logo.” Jon acenou, pegou seu ritmo e desapareceu pela porta de vidro.
“Homem horrível.” Rosalie fez uma careta quando ele saiu.
“Horrível?” repeti surpresa. “Eric parece gostar dele.”
“Oh, Eric gosta dele,” ela disse com desdém. “E Clive acha que ele é o cara. Ele é visionário e ganha prêmios, blá blá blá…” Ela vira a cabeça. “Mas ele é o homem mais rude que eu já conheci. Quando pedi a ele que fizesse uma doação para o meu projeto de caridade ano passado, ele se recusou. Na verdade, ele sorriu.”
“Ele sorriu?” perguntei chocada. “Isso é terrível! O que era o projeto de caridade?”
“Foi chamado de Uma Maçã por dia,” ela disse orgulhosa. “Eu mesma desenvolvi toda a idéia. Que era de uma vez por ano nós doaríamos uma maçã para cada estudante nesta cidade. Tantos adoráveis nutrientes! Não tão simples e brilhante?
“Er… grande idéia.” Disse cautelosamente. “Então, funcionou?”
“Olha, começou bem,” Rosalie disse um tanto zangada. “Nós doamos milhares de maçãs e tínhamos camisetas especiais e uma van com a logomarca da campanha. Foi tão divertido! Até o conselho municipal começar a nos mandar cartas idiotas sobre frutas sendo abandonadas nas ruas e causando pragas domésticas.”
“Oh, meu Deus” Mordi meus lábios. A verdade era, agora eu queria sorrir.
“Você sabe que esse é o problema com o trabalho de caridade,” ela disse de cara fechada, aumentando a voz. “Os burocratas locais não querem que você ajude.”

Nós atravessamos a porta e eu encarei a multidão. Vinte rostos que não reconhecia estavam rindo e conversando e exclamando um ao outro. Eu podia ver jóias cintilando e ouvir o barulho das gargalhadas dos homens.
“Agora não se preocupe.” Rosalie colocou a mão em meu braço. “Eric e eu temos um plano. Todo mundo vai se levantar e se apresentar pra você durante o jantar.” Suas sombrancelhas levantaram. “Docinho, você parece apavorada!”
“Não!” Tentei um sorriso. “Não apavorada!”
Isso era mentira. Eu estava totalmente apavorada. Enquanto me dirigia para meu lugar na longa mesa de jantar de vidro, acenando e sorrindo para pessoas que me cumprimentavam, eu senti como se estivesse em um sonho esquisito. Estas pessoas estão alegando que são minhas amigas. Todos me conhecem. E eu nunca vi nenhum deles antes.
“Lexi, querida.” Uma mulher misteriosa me chama de lado assim que me aproximo de minha cadeira. “Posso dar uma palavrinha?” ela abaixa a voz quase a um susurro. “Eu estava com você nos dias quinze e vinte e um, okay?”
“Você estava?” Eu disse esquecida.
“Sim. Se o Christian perguntar. Christian, meu marido?” Ela apontou para o careca da guitarra do Mick Jagger, que estava sentado do lado oposto.
“Oh, certo.” Digeri isso por um momento. “Nós stávamos realmente juntas?”
“É claro!” ela disse depois de uma breve pausa. “É claro que nós estávamos, querida!” ela apertou inha mão e largou.
“Senhoras e senhores.” Eric está de pé na outra extremidade da mesa reluzente, e todo o bate-papo pára bruscamente enquanto todos tomam seus lugares. “Bem vindos à nossa casa. Lexi e eu estamos muito contentes de vocês terem vindo.”
Todos os olhares se pousaram em mim, e eu retribuí com um sorriso envergonhado.
“Como vocês sabem, Lexi está sofrendo os efeitos colaterais de seu acidente recente, o que significa que sua memória não está tão quente.” Eric dá um sorriso cheio de lamento. O homem do lado oposto sorri mas é repreendido pela esposa. “Então o que eu proponho a cada um de vocês é que se reapresentem para Lexi. Ficando de pé, dizendo o nome e falando de alguma coisa que aconteceu que possa estabelecer uma ligação entre vocês.”
“Os médicos acham que isso pode despertar a memória de Lexi?” pergunta um cara à minha direita com um olhar sério.
“Ninguém sabe,” Eric disse gravemente. “Mas temos que tentar. Então... quem quer começar?”
“Eu! Eu começo! Rosalie disse pulando. “Lexi, você já sabe que sou sua melhor amiga, Rosalie. E nosso incidente memorável foi aquela vez que nó duas fomos nos depilar e a garota meio que se deixou levar...” Ela caiu no riso. “Sua cara...”
“O que aconteceu?” pergutou uma garota de preto.
“Não vou contar isso em público!” Rosalie olhou ofendida. “Mas honestamente é totalmente memorável.”Ela deu uma volta pela mesa e sentou.

“Certo,” Eric disse soando como se tivesse sido surpreendido. “Quem é o próximo? Charlie?”
“Eu sou Charlie Mancroft.” Um homem rouco proximo à Rosalie se levantou e acenou com a cabeça. “Acredito que nosso momento memorável seria quando todos nós fomos para Wentworth para aquele encontro empresarial. O Montgomery fez um birdie (pontuação no golfe) no décimo-oitavo buraco. Um jogo maravilhoso.” Ele me olhava com expectativa.
“Claro!” Eu não tinha a menor idéia sobre o que ele estava falando.
Golfe? Ou sinuca, talvez. “Er… obrigada.”
Ele sentou e uma garota magra proxima a ele ficou de pé.
“Oi, Lexi.” Ela deu um pequeno aceno. “Eu sou Natalie. E meu evento memorável com você seria o dia do seu casamento.”
“Verdade?” Eu disse, surpresa e tocada. “Wow.”
“Foi um dia tão feliz!” ela mordeu o lábio. E você estava tão bonita que eu pensei, ‘É assim que quero estar no dia do meu casamento.’ Na verdade eu pensava que Matthew iria propor casamento nesse dia, mas… não aconteceu”. Seu sorriso endureceu.
“Jesus, Natalie,” balbuciuou um cara do outro lado da mesa. “Não vai começar com isso de novo!”
“Não! Tudo bem!” Ela exclamou alegremente. “Nós estamos noivos agora! Só levou três anos!” Ela exibiu seu anel de diamantes pra mim. “Vou ter um vestido igualzinho ao seu! Exatamente o mesmo Vera Wang (estilista americana), em branco - ”
“Muito bem, Natalie!” Eric chamou atenção para o centro da conversa. “Eu acho que devemos seguir em frente. Jon? Sua vez.”
Do outro lado da mesa, Jon fica de pé.
“Oi,” Ele disse com sua voz seca. “Sou o Jon. Nos conhecemos antes.” Ele se perde no silêncio.
“Então, Jon?” Provoca Eric. “Qual seu evento memorável envolvendo Lexi?”
Jon me examinou com seus olhos escuros e intensos e me peguei imaginando o que ele teria pra dizer.
Ele coçou seu pescoço, franziu o cenho e tomou um gole de vinho,como se estivesse pensando muito. Por fim ele estendeu os braços.
“Nada me veio à mente.”
“Nada?” Senti como se tivesse levado uma picada.
“Qualquer coisa!” Eric disse encorajando-o. “Só algum momento especial que vocês dois tenham partilhado…”
“Eu não consigo lembrar de nada,” ele disse afinal. “Nada que eu possa descrever.”
“Tem que ter alguma coisa, Jon,” Uma garota da lado oposto diz ansiosamente. “Isso pode engatilhar sua memória!”
“Eu duvido.” Ele deu um meio sorriso breve.
“Bem, tá certo,” disse Eric parecendo um pouco impaciente. “Não tem importância. Vamos prosseguir.”
Com o tempo todos na mesa se levantaram e contaram suas anedotas, eu já tinha esquecido de quem era a primeira pessoa. Mas era um começo, eu achava. Gianna e sua assistente serviam carpaccio de atum, salada de rúcula e pêra cozidas, e eu conversava com alguém chamado Ralph sobre seu acordo de divórcio. Daí os pratos foram retirados e Gianna passava em volta da mesa tomando os pedidos de café.
“Eu vou fazer o café,” eu disse dando um pulo. “Você já fez muita coisa esta noite Gianna. Descanse em pouco.”
Eu estava ficando cada vez mais incomodada vendo ela e a sobrinha correndo em volta da mesa segurando pratos pesados. E de um jeito que ninguém nem sequer olha para elas enquanto elas trazem a comida. E que horrível a maneira que aquele homem Charlie gritava a ela quando ele queria mais uma água. Era tão rude.
“Lexi!” Eric disse com uma risada. “Isto dificilmente será necessário.”
“Eu quero,” disse teimosamente. “Gianna, sente-se. Coma um pãozinho ou outra coisa. Eu posso facilmente fazer algumas xícaras de café. Verdade. Eu insisto.”
Gianna ficou perplexa. “Eu vou arrumar sua cama,” ela disse então e se retirou para o quarto, com sua sobrinha atrás.
Isto não era extamente o que eu tinha em mente quando disse descansar. Mas, tanto faz.
“Pronto.” Sorri para todos na mesa. “Agora, quem gostaria de um café? Levante a mão...” comecei contar as mãos. “E alguém quer chá de hortelã?”
“Vou te ajudar,” Jon disse de repente, empurrando sua cadeira para trás.
“Oh,” digo, tomada de surpresa. “Bem... okay. Obrigada”.
Me dirigi à cozinha, enchi a chaleira e coloquei pra ferver. Aí comecei a olhar a cristaleira à procura de xícaras. Talvez nós tivéssemos algumas xícaras de café especiais para jantares. Consultei brevemente o manual de casamento, mas não consegui encontrar nada. Entretanto Jon estava apenas passeando pela cozinha, seu rosto transtornado enquanto pensava em algum sonho distante, não ajudando em nada.
“Você está bem?” perguntei finalmente, com um pouco de irritação. “Eu suponho que você não sabe onde estão as xícaras de café, sabe?”
Jon parecia que nem sequer tinha ouvido a pergunta.
“Alô?” Acenei para ele. “Você não deveria estar ajudando?”
Finalmente ele parou e se voltou para mim com uma expressão estranha.
“Eu não sei como te dizer isso,” falou. “Então vou falar de um vez.” Ele tomou um fôlego – aí ele pareceu mudar de idéia e se fechar novamente, estudando meu rosto. “Você realmente não se lembra? Isto não é um tipo de jogo que você está fazendo comigo?”
“Lembrar de quê?” eu perguntei, totalmente irritada.
"Okay, okay." Ele virou e recomeçou a passear de novo, pressionando as mãos nos seus cabelos pretos, deixando-os arrepiados em cima. Por fim ele me encarou novamente.
“O negócio é o seguinte: eu amo você.”
“O quê?” olhei pra ele confusa.
“E você me ama,” ele continuou, sem me dar tempo pra dizer algo mais. “Somos amantes.”
“Docinho!” A porta abriu de repente e Rosalie apareceu. “Mais dois pedidos de chá de hortelã e um descafeinado para Clive.”
“Está saindo!” minha voz saiu estrangulada. Rosalie desapareceu e a porta da cozinha se fechou. Teve um silêncio entre nós, o mais doloroso silêncio que eu já vi. Eu não podia me mexer ou falar. Meus olhos se moviam ridiculamente para o manual de casamento que ainda estava sobre o balcão. Jon seguiu meu olhar.
“É só um palpite,” ele disse com sua voz seca em tom confidencial, “Mas acho que eu não estou no manual.”
Okay. Eu tenho que me agarrar em algo.
“Eu… não entendo,” eu disse tentando me recompor. “O que você quer dizer com amantes? Você está tentando me dizer que nós temos um caso?”
“Nós estamos saindo há oito meses.” Seu olhar misterioso fixo em mim. “Você estava planejando deixar Eric pra ficar comigo.”
Não consegui evitar uma gargalhada. Coloquei minha mão na boca. “Desculpe. Eu não quiz ser grossa, mas… deixar Eric? Por você?
Antes que Jon pudesse reagir, a porta abriu de novo.
“Oi, Lexi!” Um homem de cara vermelha entrou. Posso pegar mais um pouco de água gelada?”
“Aqui!” Empurrei duas garrafas em seus braços. A porta fechou novamente e Jon enfiou as mãos nos bolsos.
“Você ia contar para o Eric que não dava mais pra viver com ele,” ele disse, falando rápido. “Você ia deixá-lo. Nós tínhamos planos.” Ele deu m tempo e expirou. “Aí você sofreu o acidente.”

Seu rosto estava mortalmente sério. Ele realmente falava sério.
“Mas… isso é ridículo!”
Por um instante Jon me olhou como se eu tivesse dado um soco nele. “Ridículo?”
“Sim, ridículo! Eu não sou do tipo infiel. Além do mais, eu tenho um ótimo casamento, um marido fantástico, sou feliz - ”
“Você não é feliz com Eric.” Jon me interrompeu. “Acredite.”
“Claro que sou feliz com Eric!” eu digo atônita. “Ele é adorável! É perfeito!”
“Perfeito?” Jon parecia que estava tentando evitar a si mesmo de ir mais adiante. “Lexi, ele não é perfeito.”
“Bem, ele está perto disso.” Repliquei rapidamente. Quem esse cara pensa que é pra interromper meu jantar dizendo que é meu amante? “Ouça Jon… quem quer que você seja. Eu não acredito em você. Eu nunca teria um caso, okay? Eu tenho o casamento dos meus sonhos. Eu tenho uma vida de sonho!”
“Vida de sonho?” Jon exuga a testa como se estivesse tentando entender seus pensamentos. “É isso que você pensa?”
Alguma coisa nesse cara está me contagiando.
“Claro!” Balancei meus braços pela cozinha. “Olhe só este lugar! Olhe só para o Eric! Tudo é fantástico! Porque eu iria jogar tudo isso fora por causa - ” Eu parei buscamente enquanto a porta da cozinha abria.
“Querida.” Eric sorriu para mim da porta. “Como estão indo esses cafés?”
“Estão... saindo,” Digo, atrapalhada. “Desculpe, querido.” Eu me afastei para esconder o sangue subindo pelas minhas bochechas e começei a mexer fazendo bagunça na máquina de café.
Eu só queria que esse homem fosse embora.
“Eric, eu receio que eu tenha que ir,” Jon disse atrás de mim, como se estivesse lendo meus pensamentos. “Obrigada pela ótima noite.”
“Jon! Meu amigo” Eu pude ouvir Eric dando tapinhas nas costas de Jon. “Nós deveríamos nos encontrar amanhã, para falarmos sobre a reunião de planejamento.”
“Vamos fazer isso.” Jon responde. “Adeus, Lexi, Bom te conhecer novamente.”
“Adeus, Jon.” De alguma forma eu me forcei a dar um sorriso receptivo. “Foi adorável te ver.” Ele veio ao meu encontro e me beijou levemente no rosto.
“Você não sabe nada sobre sua vida,” ele murmurou no meu ouvido, aí saiu da cozinha sem nem olhar para trás.

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