terça-feira, 28 de julho de 2009

Lembra De Mim Cap14 e 15

Capítulo 14

Caraca! – Isto é realmente uma festa chamativa. O edifício inteiro estava vibrante com iluminação e música tocando.
A cobertura parecia ainda mais espetacular do que antes, com flores por todo o lado, e garçons num traje preto moderno segurando bandejas com champanhe e embalagens com presentes prontas para que as pessoas pudessem pegar. Ava e Jon, e algumas outras pessoas que eu não reconheci, estavam reunidos próximos à janela, e Eric caminhava diretamente para eles.
"Pessoal", diz ele. "Nós fizemos os informativos do perfil do empreendimento para os convidados? Sarah, você tem a lista de imprensa? Tudo sob controle?"
"Eles estão aqui". Uma garota em um vestido transpassado chegava apressada, quase tropeçando em seus sapatos de salto agulha.
"Os Van Gogens chegaram cedo. E eles trouxeram amigos. E há mais um monte de gente atrás deles!"
"Boa sorte, rapazes." Eric incentivava sua equipe inteira. "Vamos vender este prédio".
Em seguida um casal usando casacos de aparência cara entrou, e Eric se joga numa aproximação ofensiva mas cheia de charme, conduzindo-os a cumprimentar Ava, entregando-lhes champanhe e levando-os para apreciar a vista do local. Mais pessoas estavam chegando, e logo havia uma pequena multidão conversando e sorrindo sobre o folder do empreendimento e observando a cachoeira.
Jon estava cerca de dez metros de distância, à minha esquerda, vestindo um terno escuro, franzindo o cenho enquanto ele falava com os Van Gogens. Eu não tinha falado com ele ainda. Não fazia a menor idéia se ele tinha me notado.
Às vezes eu olhava para ele e, em seguida, rapidamente desviava o olhar enquanto meu estômago palpitava.

Era como se eu tivesse treze anos novamente, e ele fosse o meu paquera. Tudo o que eu estava ciente nesta sala cheia de gente era ele. Onde ele estava, o que estava fazendo, com quem estava falando. Eu lancei um outro olhar sobre ele e desta vez ele encontrou os meus olhos. Com as bochechas flamejando, eu me afastei, balançando meu vinho. Ótimo, Lexi. Não dava pra ser mais óbvia.
Deliberadamente, eu girei na mesma hora pra que ele saísse do meu campo de visão. Eu estava vendo todos chegarem, quase em um transe, quando Eric aparece ao meu lado.
"Lexi, querida". Ele tinha um sorriso fixo e desaprovador. "Você parece acanhada, ficando aqui sozinha. Venha comigo."
Antes que eu pudesse pará-lo, ele estava me levando firmemente em direção ao Jon, que conversava com outro jovem casal que parecia rico. A mulher estava num terno com Dior impresso na calça, com cabelos tingidos de vermelho e lábios severamente delineados com exagero. Ela expõe seu sorriso de porcelana para mim, e seu marido grisalho grunhe algo, com sua mão apertada possessivamente em seu ombro.
"Deixe-me apresentar a minha esposa, Lexi". Eric sorria para eles. "Uma das maiores fãs do"-ele pausa, e eu fico tensa, esperando pelo -"loft-style living!"
Se eu ouvir mais uma vez essa frase que eu vou atirar em mim mesma. "Olá, Lexi". Jon encontra meu olhar brevemente assim que Eric sai novamente. "Como você está?"
"Estou bem, obrigado, Jon". Eu tento soar calma, assim como se ele fosse qualquer outra pessoa na festa; como se eu não tivesse me fixado nele desde que cheguei. Me volto à mulher de Dior. "Então... o que você achou do apartamento?" O casal trocou olhares duvidosos.

"Temos uma preocupação", diz o homem, um europeu com um sotaque que não consigo identificar de onde vinha. "O espaço. Não estamos certos de que seja grande o suficiente."
Eu fiquei perplexa. Este lugar era como um maldito hangar de aeronaves. Como poderia não ser grande o suficiente?
"Achamos que cinco mil metros quadrados é um tamanho generoso",
Jon diz. "No entanto, vocês podem derrubar duas ou mesmo três
unidades em conjunto, se precisarem de um espaço maior."
"Nosso outro problema é o design", diz o homem.
"O design?" repete Jon educadamente. "Tem alguma coisa errada
com a concepção?"
"Na nossa casa temos toques de ouro", diz o homem. "Pinturas em ouro. Lâmpadas de ouro. Ouro..." Ele parecia estar ficando sem paciência.
"Tapetes", coloca a mulher, pronunciando o “SSSSS” fortemente. (no original é “RRRR”, já que a palavra é carpets). “Tapetessss de ouro.”
O homem bate no folder. "Aqui eu vejo um monte de prata. Tudo cromado".
"Entendi". Jon assentiu, impassivo. "Bem, obviamente, o apartamento pode ser personalizado para o seu próprio gosto pessoal. Poderíamos, por exemplo, ter a lareira banhada a ouro".
"Uma lareira banhada a ouro?" diz a mulher sem muita certeza. "Isso não seria... Demais?"
"E existe isso de ouro demais?" Jon responde agradavelmente. "Poderíamos ainda acrescentar acessórios de iluminação de ouro sólido. E Lexi poderia ajudá-los com o tapete de ouro. Não poderia, Lexi?"
"Claro." acenei com a cabeça, rezando desesperadamente para que eu não caísse de repente na risada.
"Sim. Pois bem, nós vamos pensar sobre isso." O casal se move, falando em alguma língua estrangeira que eu não reconheço. Jon toma rapidamente a sua bebida.
"Não é suficientemente grande. Jesus Cristo. Dez das nossas unidades de Ridgeway cabem neste espaço."
"O que é Ridgeway?"
"Nosso projeto de habitação com preços acessíveis". Ele vê o meu olhar nublado. "Nós só recebemos permissão para construir um lugar como este se nós projetarmos algumas unidades acessíveis."

"Ah, certo" eu digo surpresa. "Eric nunca chegou a mencionar habitações acessíveis."
Um brilho de diversão passou sobre a face de Jon. "Eu diria que
seu coração não está totalmente neste aspecto do trabalho", diz ele, enquanto Eric sobe em um pequeno pódio em frente a lareira. A iluminação ambiente diminui, um foco recai sobre Eric, e, progressivamente, o zumbido dos convidados ficam distantes.
"Bem-vindos!" diz ele, a sua voz tomando conta do lugar. "Bem-vindos ao Blue 42, o último na série Blue dedicada ao projeto...".Eu seguro minha respiração. Por favor não diga, por favor, não diga- ..."Loft-style living!" Suas mãos fazem aquele gesto e todos os membros de sua equipe aplaudem vigorosamente.
Jon me lança um olhar e dá um passo atrás para longe da multidão. Depois de um momento eu me afasto, também, com os meus olhos fixos firmemente à frente. Meu corpo inteiro está rachando de apreensão. E... excitação.
"Então, você não lembrou de nada ainda?" diz ele, em um
tom baixo casual.
"Não."
Atrás de Eric, uma enorme tela é ligada com imagens dos apartamentos em todos os ângulos. Uma música dinâmica enche o ar e a sala torna-se ainda mais escura. Eu tenho que dar a mão à palmatória ao Eric – esta era uma apresentação fantástica.
"Você sabe, a primeira vez que nos encontramos foi num lançamento de apartamento como este." A voz de Jon é tão baixa, que mal posso ouvi-lo com a música. "No minuto que você falou, eu soube."
"Soube o quê?"
"Soube que gostava de você."
Fiquei silenciosa por alguns instantes, sentindo pontadas de curiosidade.
"O que eu falei?" Eu sussurro de volta.
"Você disse: 'Se ele disser a frase loft-style living mais uma vez, eu vou atirar em mim mesma'."
"Não." encarei ele e, em seguida, gaguejei com risos. Um homem
volta-se para nós com um olhar severo, e como se em sintonia, Jon
e eu nos afastamos mais alguns passos, até que ficarmos sob as sombras.
"Você não devia estar se escondendo aqui", eu disse. "Este é o seu momento. O seu apartamento".
"Yeah, bem", diz ele secamente. "Eu vou deixar Eric assumir a glória.
Ele tem boa receptividade a isso."
Por alguns momentos nós assistimos Eric na tela com um capacete,
andando rapidamente ao longo de um terreno.
"Você não faz o menor sentido," eu digo calmamente. "Se você pensa que esses apartamentos são para punheteiros ricos, porque você os cria?”
"É uma boa pergunta." Jon toma um gole da sua bebida.
"A verdade é que eu deveria seguir em frente. Mas eu gosto de Eric. Ele acreditou em mim, ele me deu minha primeira chance, ele dirige uma grande empresa..."
"Você gosta do Eric?" Eu agitei minha cabeça em descrença. "Claro que você gosta. É por isso que você fica me dizendo para deixá-lo."
"Eu gosto. Ele é um grande cara. Ele é honesto, ele é leal..." Por um
tempo Jon ficou silencioso ao meu lado, seus olhos cintilando na luz escura. "Eu não quero foder a vida do Eric", diz ele finalmente.
"Isto não estava nos meus planos."
"Então, porquê ..."
"Ele não entende você". Jon olha diretamente a mim.
"Ele não tem qualquer idéia de quem você é."
"E você tem, eu suponho?" Eu retorqui, assim que as luzes acenderam e os aplausos ecoavam em volta da sala. Instintivamente dou um passo de distância de Jon, e que ambos assistíamos Eric subindo ao pódio mais uma vez, brilhando com uma aura de sucesso e dinheiro no estilo-estou-no-topo-do-mundo.
"Então, você ainda não encontrou Mont Blanc?" Jon diz,
aplaudindo vigorosamente, com seu ânimo mais leve.
"Que Mont Blanc?" Dou-lhe um olhar desconfiado.
"Você vai descobrir."
"Diga-me."
"Não, não." Ele balança sua cabeça, pressionando a boca junto
como se tentasse não rir. "Eu não poderia estragar a surpresa".
"Diga-me!"
"Jon! Aqui está você. Emergência!" os dois ficamos surpresos quando Ava apareceu atrás de nós. Ela estava vestida em um terno negro, segurando um saco de lona, e parecia atrapalhada.
"As rochas ornamentais para o aquário do quarto principal só agora que chegaram da Itália. Mas eu tenho que fazer alguns ajustes no cenário da cozinha -alguns idiotas fodidos estavam mexendo nele - então você poderia fazer isso?" Ela enfia o saco de lona nos braços de Jon. "Basta arrumar as pedras no tanque. Deve dar tempo até antes da apresentação terminar."

"Não tem problema." Jon agarrou o saco em seus braços e, em seguida, dá uma olhada para mim, seus olhos opacos e impenetráveis. "Lexi, quer vir comigo e ajudar?"
Minha garganta se apertou tanto, que quase não pude respirar. Isto era um convite. Um desafio. Não. Eu tenho que dizer não.
"Um ... sim." Eu engoli. "Claro." Sentia-me tonta enquanto seguia Jon através da multidão, subindo as escadas para o nível do mezanino, e para o quarto. Ninguém nem mesmo nos notou. Toda a atenção estava na apresentação.
Nós entramos no quarto principal e Jon fecha a porta.
"Então", diz ele.
"Veja". A minha voz é acentuada, nervosa. "Eu não posso levar isso adiante! Todos esses sussurros, deslizando pelos cantos, tentando...
sabotar o meu casamento. Estou feliz com Eric!"
"Não." Ele sacode sua cabeça. "Você não ficará com ele um ano." Ele soa tão seguro de si mesmo, que fico irritada.
"Sim, eu ficarei," atirei de volta. "Espero estar com ele daqui a cinquenta anos!"
"Você vai tentar o seu melhor, você vai tentar moldar a si mesma... mas o seu espírito é demasiado livre para ele. Por fim você não será mais capaz de suportar." Ele expirou, colocando suas mãos para fora de sua malha. "Eu assisti isso acontecer uma vez. Eu não quero ver novamente."
"Obrigada pelo aviso," eu pressionei. "Bem, quando isso acontecer, eu te ligo, que tal? Nós deveríamos arrumar as rochas. "Eu inclinei minha cabeça em direção ao saco, mas Jon me ignorou. Ele o colocou no chão e veio em direção a mim, seus olhos intensos e questionadores. "Você realmente, realmente não lembra de nada?"
"Não", eu disse quase cansadamente. "Pela milionésima vez, eu não me lembro de nada."

Ele estava apenas há algumas polegadas de distância de mim agora, estudando o meu rosto, procurando alguma coisa.
"Todo o tempo que passamos juntos, todas as coisas que dissemos, tem de haver algo que acione a sua memória." Ele pressiona brevemente sua sobrancelha, franzindo o cenho. "Girassóis significam alguma coisa para você?"
Apesar de tudo rastreio meu cérebro. Girassóis. Girassóis. Eu não fiz uma vez...
Não, não lembro.
"Nada", eu digo por fim. "Quer dizer, eu gosto de girassóis,
mas... "
"E.E. Cummings*? Mostarda com fritas?" (*Edward Estlin Cummings, poeta americano)
"Eu não sei sobre o que você está falando", eu digo inutilmente."Nada disto significa nada para mim."
Ele estava tão perto que podia sentir sua respiração suave na minha pele. Os olhos dele não deixavam os meus.
"Será que isso significa alguma coisa para você?" Ele moveu suas
mãos até o meu rosto, acariciando minhas bochechas, esfregando minha pele com seus polegares.
"Não." Eu engoli.
"E isso?" Ele se inclinou e roçou um beijo contra o meu pescoço.
"Pare," eu digo fragilmente, mas eu mal posso colocar as palavras para fora. E, além disso, não pretendia dizê-las. Minha respiração estava ficando mais e mais curta. Eu esqueci sobre todo o resto. Eu queria beijá-lo. Eu queria beijá-lo de uma forma que eu não queria beijar Eric.
E então aconteceu – sua boca estava na minha e o meu corpo inteiro me dizia que esta era a coisa certa a fazer. Ele cheirava da maneira certa. Seu gosto era o certo. Ele me fazia sentir do jeito certo. Eu podia sentir seus braços se apertando à minha volta, a grossura de sua barba começando a crescer. Meus olhos estão fechados, eu estava perdendo o juízo, isso era tão certo.
"Jon?" a voz de Ava veio através da porta e foi como se alguém me eletrocutasse. Eu voei pra longe do Jon, tropecei com minhas pernas bambas, xinguei sob a minha respiração, "Porra!"
"Shh!" Ele olha atordoado também. "Fique calma. Oi, Ava. Que foi?"
Rochas. Sim. Isso era o que nós supostamente devíamos estar fazendo. Eu peguei o saco e comecei a puxar as rochas, joguei-as no aquário tão rapidamente quanto eu pude, respingando tudo. Os pobres peixes estavam nadando como loucos, mas eu não tinha escolha.
“Tudo bem?” Ava meteu a cabeça na porta. “Eu estava quase trazendo os convidados aqui para o tour…”
“Sem problemas,” Jon disse tranquilizador. “Está quase pronto.”
Assim que Ava desapareceu, ele fechou a porta e voltou para mim.
“Lexi.” Ele segura meu rosto como se quisesse me devorar, ou me abraçar, ou talvez os dois. “Se você apenas soubesse, o quanto isso tem sido uma tortura…”
“Pare com isso!” eu me afastei, minha mente girando como um caleidoscópio. “Eu sou casada! Nós não podemos – você não pode simplesmente -” eu ofeguei e coloquei a mão na boca. “oh, merda. Merda!”
Eu não estava mais olhando para o Jon. Eu olhava para o aquário.
“O que foi?” Jon me encarou, sem compreender nada, aí seguiu meu olhar. “Oh. Oops.”
O aquário estava calmo. Todos os peixes tropicais estavam nadando pacificamente junto às rochas. Exceto um azul listrado, que estava boiando em cima.
“Eu matei um peixe!” soltei um riso nervoso horrorizado. “Eu o acertei na cabeça com um das pedras”.
“Então você conseguiu,” Jon disse, indo observar o tanque. “Boa pontaria.”
“Mas isso custa trezentas libras! O que eu vou fazer? Os convidados estarão aqui a qualquer momento!”
“Isso é muito ruim para o feng shui.” Jon zomba. “Ok, eu vou sair e atrasar Ava. Você joga ele na descarga.” Ele avança para minha mão e a segura por um momento. “Nós ainda não terminamos.” Ele beija as pontas dos meus dedos – então sai da suite me deixando sozinha com o aquário. Com uma careta, eu enfiei a mão na água morna e peguei o peixe pela beira de sua barbatana.
“Eu sinto muito de verdade,” disse numa voz baixa. Tentando capturar a água que pingava com minha outra mão, corri direto para o banheiro de alta tecnologia. Joguei o peixe no vaso sanitário branco brilhante e procurei pela descarga. Não tinha nenhuma. Devia ser uma privada inteligente.
“Desce,” eu disse alto, balançando meus braços para ativar algum sensor. “Desce!”
Nada aconteceu.
“Desce!” disse, ainda mais desesperada. “Vamos lá, desce!”
Mas a privada estava totalmente morta. O peixe continuava boiando, parecendo ainda mais azulado contra a porcelana branca.
Isso não podia estar acontecendo. Se alguma coisa deixaria um cliente fora de um apartamento de alto luxo, era um peixe morto na privada. Puxei meu telefone do bolso e busquei em meus contatos até encontrar J. Devia ser ele. Pressionei a tecla de chamada rápida, e logo em seguida ele atendeu.
“Aqui é o Jon.”
“O peixe está na privada!” eu exclamei. “Mas eu não consigo dar a descarga!”
“Os sensores devem mandá-lo embora automaticamente.”
“Eu sei! Mas eles não estão mandando nada embora! Tem um peixe azul morto olhando pra mim! O que eu vou fazer?”
“Está bem. Vá até o painel próximo à cama. Você pode desativar o despositivo e dar a descarga de lá. Oi, Eric! Como você está indo? ”
O telefone desligou abruptamente. Me apressei para a cama e localizei a tampa do painel embutido na parede. Um teclado digital assustador piscava para mim e eu não pude evitar um pequeno gemido. Como é que alguém poderia viver numa casa mais complicada que a NASA? Por que uma casa tem que ser inteligente, de qualquer maneira? Por que ela não pode ser legal e burra?
Meus dedos procuravam desajeitadamente, apertei menu, depois desativar dispositivo, daí opções. Eu acompanhei a lista até embaixo. Temperatura…iluminação… Cadê o banheiro? Onde fica descarga? Será que eu pelo menos estou no painel certo?

De repente eu notei um outro painel do outro lado da cama. Talvez fosse aquele. Me apressei sobre ele, abri e comecei a bater nas teclas. Em um minuto eu vou ter que tirar o peixe idiota pra fora da água com minhas próprias mãos.
Um som me fez dar um pulo. Era um alarme. Um tipo de sirene distante. O que na terra…
E parei de tatear e olhei mais cuidadosamente pro painel que eu estava cravando os dedos. Umas palavras piscavam para mim em vermelho. Alerta de pânico – espaço seguro. Um súbito movimento vindo da janela atraiu minha atenção e eu olhei uma grade de metal descendo por cima do vidro.
Que é –
Freneticamente eu batia no painel de novo, mas ele respondia piscando a frase Não autorizado, e retornava ao alerta de pânico – espaço seguro.
Ah…meu Deus. O que foi que eu fiz?

Me precipitei para a porta do quarto e olhei para o espaço abaixo.
Eu não acredito nisso. Era uma desordem.
A sirene estava ainda mais alta lá fora. Grades de metal desciam de toda parte, sobre as janelas, os quadros, a cachoeira. Todos os convidados ricos estavam se apertando uns aos outros no meio do espaço, como se fossem reféns separados de um gordo que estava preso próximo a cachoeira.
“Isso é um assalto? Eles têm armas? Uma mulher num terno branco estava exclamando histericamente, retorcendo as mãos. “George, engula meus anéis!”
“É um helicóptero!” um homem grisalho inclinava seus ouvidos. “Ouçam! Eles estão no telhado! Somos alvos !”
Eu olhava para a cena, meu coração martelando, congelado em pânico.
“Está vindo da suite master!” grita alguém da equipe de Eric, que estava consultando um painel perto da lareira. “Alguém acionou o alarme de pânico. A polícia está a caminho.
Eu tinha arruinado a festa. Eric ia me matar… E aí, sem nenhum aviso, o barulho parou. O súbito silêncio era como o sol se abrindo.
“Senhoras e senhores,” uma voz vinha das escadas, e minha cabeça rodava. Era Jon. Ele segurava um controle remoto, e olhava brevemente para mim em cima antes de enfrentar a multidão.
“Nós esperamos que vocês tenham apreciado nossa demonstração do sistema de segurança . Asseguraramos que nós não estamos sob nenhum ataque de ladrões.” Ele pausa , e algumas pessoas sorriam nervosamente. Ao redor da sala as grades já estavam começando a se retraírem. “No entanto”, jon continuou, “como todos vocês sabem, em Londres hoje, segurança é uma consideração primordial . Muitos desenvolvimentos falam sobre segurança, mas nós queríamos que vocês vissem em primeira mão. Este é o sistema MI5 quality – e ele está aqui para sua própria proteção.”
Minhas pernas estavam tão fracas com o alívio, que mal estavam me segurando em pé. Ele salvou minha vida.
Enquanto ele continuou falando, eu cambaleei de volta para a suíte e encontrei o peixe azul ainda flutuando na privada. Eu contei até três - aí mergulhei minha mão, peguei o peixe, e, com um
calafrio, enfiei aquilo na minha bolsa. Eu lavei minhas mãos, e depois saí para ver Eric retomando a partir de Jon.
"Após esta aventura vocês verão ainda mais claramente que nós da Blue Desenvolvimentos entendemos você e as suas preocupações melhor ainda do que senhores", ele estava dizendo.
"Você não são nossos clientes... você são nossos parceiros em um perfeito estilo de vida." Ele levanta o seu copo. "Aproveite o seu passeio turístico."
Enquanto ele caminhava para o lado, uma aliviada conversinha e risadas se espalharam. Vi a mulher de terno branco agarrando três anéis de diamante maciço de volta do seu marido e enfiando-os novamente nos seus dedos.
Eu esperei alguns minutos e, em seguida, sem nenhuma obstrução desci as escadas. Eu peguei uma taça de champanhe de um garçom que ia passando e tomei um profundo gole. Eu nunca mais tocarei em qualquer painel novamente, nunca. Ou peixes. Ou privadas.
"Docinho!" a voz de Rosalie me fez pular. Ela estava usando um vestido curtíssimo bordado em turquesa, e sapatos altos com penas. "Oh meu Deus. Isso não foi genial? Isso vai dar algumas notas de jornal amanhã. Todo mundo está falando sobre o mais efetivo e patenteado sistema de segurança. Você sabia que isso custa trezentas libras? Apenas o sistema!"
Trezentas libras, e nem sequer a descarga funciona.
"Sim", eu disse. "Ótimo!"


"Lexi". Rosalie estava me dando um olhar pensativo.
"Docinho... eu posso dar uma palavrinha? Sobre Jon. Eu vi você
falar com ele antes."
Sinto-me de repente apreensiva. Será que ela viu alguma coisa?
"Oh, certo!" Eu tentei um tom descuidado. "Sim, bem, ele é o arquiteto do Eric, por isso ficamos conversando sobre o projeto, como ele...".
"Lexi". Ela leva-me pelo braço e me arrasta pra distante do burburinho. "Eu sei que você teve o seu galo na cabeça
e tudo." Ela se inclina para a frente. "Mas não se lembra nada sobre Jon? Do seu passado?"
"Hmm ... realmente não".
Rosalie me puxa ainda mais perto. "Queridinha, eu vou deixar você um pouco chocada", diz ela, em uma baixa, sussurrante voz. " Há um tempo atrás você me disse algo em segredo. De amiga para amiga. Eu não disse uma palavra ao Eric... "
Estou completamente atenta, os meus dedos congelados ao redor da haste da minha taça de champanhe. Será que Rosalie sabia?
"Eu sei que isto poderá parecer realmente difícil de acreditar, mas alguma coisa se estava acontecendo entre você e Jon, pelas costas do Eric."
“Você está brincando!” meu rosto queimava. “Tipo... o quê, exatamente?”
“Bem, eu receio ter que dizer...” Rosalie olha ao redor da sala e chega mais perto. “Jon fica perseguindo você. Eu só pensei que deveria avisá-la no caso de ele tentar novamente.” Por um momento eu fiquei abobalhada demais pra responder. Me perseguindo?
“Oo qque você quer dizer?” eu gaguejei afinal.
“O que você acha? Ele tentou isso com todas nós”. Seu nariz retorceu depreciativamente.

“Você está dizendo…” eu não conseguia processar isso. “Você quer dizer que ele deu em cima de você também?”
“Oh meu Deus, sim.” Ela rolou seus olhos. “Ele me disse que Clive não me entendia. O que é verdade,” ela adiciona depois de um rápido pensamento. “Que Clive era um estúpido total. Mas isso não significava que eu iria correndo me tornar um entalhe no suporte da cama dele, não é? E ele foi atrás da Margot também,” ela complementou, acenando alegremente para uma mulher de verde do outro lado das ala. “Tão descarado. Ele disse que conhecia ela melhor que o próprio marido e que ela merecia mais, e que ele podia dizer que ela era uma mulher sensual… todo tipo de coisas ridículas!” ela faz um barulho com a língua em desprezo. “A teoria de Margot é que ele tem como alvo mulheres casadas e diz a elas o que quer que elas queiram ouvir. Ele provavelmente sente algum tipo de prazer esquisito nisso -” ela se interrompe enquanto vê meu rosto congelado. “Docinho! Não se preocupe. Ele é como uma mosca irritante, você só tem que mantê-lo afastado. Mas ele tem persistido bastante com você. Você é, tipo, um grande desafio. Você sabe, sendo esposa do Eric e tudo mais?” ela tent aver através de mim. “Você não se lembra de nada disso?”
Ava passou por nós com alguns convidados e rosalie sorri para eles, mas não pude me mover.
“Não,” disse afinal. “Não lembro de nada disso. Então… o que devo fazer?”
“Continue dizendo a ele que deixe você em paz. Isto era embaraçoso. Você não queria afundar seu relacionamento com Eric, você não queria balançar o barco, você foi muito digna, docinho. Eu teria jogado uma bebida sobre cabeça dele!” ela de repente se focou sobre o meu ombro. “Querida, eu preciso ir depressa falar com Clive sobre os planos para o nosso jantar. Ele reservou a mesa completamente errada, é um absoluto pesadelo…” ela para e olha para mim novamente, subitamente ansiosa. “Você está bem? So achei que deveria avisá-la.”
“Não.” Eu falei. “Estou grata por isso.”
“Quer dizer, eu sei que você nunca cairia nessa besteira.” Ela aperta meu braço.
“Claro que não!” de algum jeito consegui dar um sorriso. “É claro que eu nunca cairia!”

Rosalie circulava pela festa, mas meus pés estão enraizados
ao chão. Eu nunca me senti tão humilhada na minha vida, fui tão crédula, tão vaidosa.
Eu acreditei que tudo. Eu caí na sua lábia.
Nós estamos tendo um caso secreto.... Eu conheço você melhor que o Eric.
É tudo conversa fiada. Ele aproveitou da minha perda de memória.
Ele tinha me lisonjeado, virado minha cabeça. E tudo que ele queria era me levar pra cama como um. . . um troféu. Me senti queimando, mortificada.
Eu sabia que eu nunca teria um caso! Não sou do tipo infiel. Não sou mesmo. Tenho um marido que decente que me ama. E eu permiti que minha mente fosse influenciada. Eu quase arruinei tudo.
Pois bem, não mais. Sei quais são as minhas prioridades. Tomo
alguns goles profundos de champanhe. Então eu deixei a minha cabeça erguida, passei através da multidão até que eu encontrei Eric, e escorreguei meus braços através dos dele.
"Querido. A festa está indo maravilhosamente. Você é brilhante."
"Acho que nós podemos nos retirar." Ele parecia mais descontraído do que ele esteve em toda a noite. "Escapamos por pouco com esse alarme. Só confiaria no Jon para salvar o dia. Ei, lá está ele! Jon!"
Eu agarrei o braço do Eric ainda mais fortemente enquanto Jon caminhava em nossa direção. Eu nem sequer consigo olhar para ele. Eric dá tapinhas em suas costas e lhe entrega uma taça de champanhe de uma bandeja próxima. "Este brinde é a você", ele exclama. "Ao Jon!"
"Ao Jon," Eu repito firmemente, tomando o menor gole possível de champanhe. Eu iria apenas fingir que ele não existia.
Eu vou apagá-lo.
Um sinal vindo da minha bolsa perturba meus pensamentos, e eu puxei meu celular para ver uma nova mensagem.
De Jon.
Eu não acredito nisso. Ele está me enviando mensagens na frente de Eric? Eu rapidamente pressionei Exibir e a mensagem apareceu.
Old Canal House, em Islington, qualquer noite a partir das 6.
Há tanto para falar.
Eu te amo.
J
PS: Delete esta mensagem.
PPS: O que você fez com o peixe?
Meu rosto estava queimando em fúria. As palavras de Rosalie badalavam na minha cabeça. Você apenas tem que dar um fora nele.
"É uma mensagem de Amy!" Eu digo a Eric, a minha voz estridente. "Eu vou apenas responder rapidamente... "
Sem olhar para Jon, eu começo a teclar, os meus dedos
carregados de adrenalina.
Yeah. Certo. Eu suponho que você achou que seria engraçado, se aproveitar da garota que perdeu a memória. Pois bem, eu sei o seu
estúpido jogo, ok? Eu sou uma mulher casada. Deixe-me em paz.
Eu enviei o texto e guardei meu telefone. Um pouco depois, Jon franziu o cenho olhando em seu relógio e disse casualmente, "Esta é a hora certa? Acho que estou adiantado." Ele pega seu telefone celular e tenta enxergar no visor como se verificasse a hora, mas pude ver seu polegar em movimento sobre as teclas e eu o vi lendo a mensagem e olhei seu rosto atordoado em choque.
Ahã. Peguei ele.
Após alguns momentos, ele pareceu se recuperar. "Estou seis minutos atrasado", diz ele, tocando no telefone. "Eu vou só mudar o relógio..."
Não sei porque ele se incomodava em dar uma desculpa. Eric não estava mesmo nem prestando atenção. Três segundos depois o meu
telefone emite um aviso sonoro novamente e eu puxei-o para fora.
"Outro texto de Amy," Eu digo depreciativamente. "Ela é um saco." Eu lancei um olhar sobre Jon enquanto eu apertei meu dedo em Excluir, e seus olhos aumentaram com consternação. Huh. Agora que eu sei a verdade, é evidente que ele coloca a mesma coisa para todas.
"Será que é uma boa idéia?" diz ele rapidamente. "Excluir uma mensagem sem sequer lê-la?"
"Eu realmente não estou interessada." Encolhi os ombros.
"Mas se você não lê-la, você não saberá o que ela diz... "
"Assim como eu disse" atirei nele um sorriso doce-"Não estou interessada."
Eu pressionei deletar, desliguei o meu telefone, e soltei-o em
minha bolsa.
"Então!" Eric vira de volta para nós, brilhante e entusiasmado. "Os
Clarksons querem repetir uma exibição amanhã. Acho que temos uma outra venda. Foram seis unidades, apenas esta noite."
"Bom trabalho, meu querido, estou tão orgulhosa de você!" Eu exclamei, colocando um braço em torno dele em um gesto extravagante. "Eu te amo ainda mais agora que no dia do nosso casamento."
Eric franziu o cenho, confuso. "Mas você não se lembra do dia do nosso casamento. Então, você não sabe o quanto você me amava".
Pelo amor de Deus. Ele tinha de ser tão literal?
Eu tento controlar minha impaciência. "Bem, qualquer que fosse o tanto que eu te amava na época...Eu te amo mais agora. Muito mais." Eu coloquei minha taça de champanhe para baixo, e com um olhar desafiante para Jon, puxei Eric para beijá-lo. O mais longo, mais sugado, olhe-o-quanto-eu-amo-meu-marido-e-por-acaso-nós-temos-beijos-sensuais-ótimos.
Em um ponto Eric tenta se encolher, mas eu aperto ainda mais, mantendo seu rosto no meu. Por fim, quando achei que poderia sufocar, eu libertei-o, limpei minha boca com as costas da minha mão, e olhei ao redor da sala vazia.
Jon tinha sumido.


Capítulo 15

O meu casamento. Esta é a minha prioridade. A partir de agora eu vou passar a me concentrar na minha relação com o Eric, e nada mais.
Eu ainda estava um pouco abalada na manhã seguinte, enquanto ia
para a cozinha para o café da manhã e tirava a jarra de suco verde de dentro da geladeira. Eu devia estar louca na noite passada. Eu tenho o marido dos sonhos, entregue a mim de bandeja. Por que eu arriscaria isso? Por que eu beijaria um cara num quarto escondido, qualquer que fosse a sua história?
Eu derramei um pouco de suco verde em um copo e mexi ele em espiral até parecer borra, que é o que eu faço toda manhã. (Eu não consigo beber aquela coisa que parece alga. Mas nem posso decepcionar Eric, que pensa que o suco verde é quase tão maravilhoso quanto o loft-style living.) Então eu pego um ovo cozido da panela e me sirvo uma xícara de chá do bule que Gianna fez anteriormente. Eu estou realmente entrando nessa de sem carboidratos para começar o dia. Eu como ovos cozidos, bacon, ou omelete de claras toda manhã, sem falhar.
E, então, às vezes um bagel* (*um pãozinho que parece um donuts) a caminho do trabalho. Se eu estiver faminta.

Enquanto me sento, a cozinha parece calma e tranquila. Mas eu ainda estou nervosa. E se eu tivesse ido mais adiante com Jon?
E se Eric tivesse descoberto? Eu poderia ter destruído tudo.
Eu só tinha esse casamento há poucas semanas - e já o estava arriscando. Eu preciso valorizar isso. Como uma planta yucca* (*planta da família dos lírios que alivia e nutre o couro cabeludo).

"Bom dia!" Eric entra levemente na cozinha em uma camiseta azul, parecendo animado. Não estou surpresa. Na noite passada o lançamento foi o melhor que eles já tiveram, aparentemente. "Dormiu bem?"
"Ótima, obrigada!"
Nós não estávamos compartilhando o quarto ainda, nem tínhamos tentado ter relações sexuais novamente. Mas se eu vou cuidar do meu casamento, talvez nós devêssemos ter mais contato físico. Eu me levantei para pegar a pimenta e esbarrei deliberadamente no Eric.
"Você parece ótimo, esta manhã." Eu sorri para ele.
"Você também!"
Eu corro minha mão na linha do rosto. Os olhos de Eric encontram os meus questionando, e ele põe uma mão sobre a minha. Olhei rapidamente o relógio. Não dava tempo, graças a Deus.
Não. Eu não pensei isso.


Eu preciso ser positiva. Sexo com Eric vai ser ótimo, eu
sei que vai. Talvez só precisemos fazer no escuro. E não
falar um com o outro.
"Como você está... se sentindo?" Eric diz com um sorriso um pouco enigmático.
"Estou me sentindo bem! Com um pouco de pressa, porém". Eu lhe dou um sorriso instantâneo, me mexo, e dou um gole no chá antes que ele pudesse sugerir um rapidinha contra o forno. Graças a Deus, ele parece ter recebido a mensagem. Ele se serve uma xícara de chá e, em seguida, pega o seu BlackBerry, que estava emitindo um som.
"Ah!" diz ele, soando satisfeito. "Acabei de ganhar uma caixa de '88 Lafite Rothschild no leilão."
"Uau!" Digo com entusiasmo. "Muito bem, querido!"
"Mil e cem libras", prossegue ele. "Um pequeno roubo".
Mil e cem libras?
"... Para quantas garrafas?" Eu pergunto.
"Uma caixa." Ele une as sobrancelhas como se fosse óbvio. "Doze".
Não podia falar. Mil e cem libras por doze garrafas de
vinho? Me desculpe, mas isso é apenas ... errado. Será que ele tem idéia de quanto é mil e cem libras? Eu poderia comprar uma centena de garrafas de vinho com isso. E eles ainda seriam dos elegantes. E ainda sobraria dinheiro.
"Lexi, você está bem?"
"Eu estou bem." falei. "Só estava pensado...que grande negócio!" Com um gole final de chá, coloco meu casaco e pego a minha pasta. "Tchau, querido".
"Tchau, meu coração". Eric se aproxima e nos damos um longo beijo de despedida. Isto realmente está começando a ficar bastante natural. Eu envolvo os ombros no meu casaco e estou à porta quando alguma coisa me atinge.
"Ei, Eric," Eu disse o mais casualmente possível. "O que é...Mont Blanc?"
"Mont Blanc"? Eric se vira, seu rosto pesquisando o meu sem acreditar.
"Está brincando. Você se lembrou do Mont Blanc?"
Tudo bem. Eu realmente cai nessa. Eu não posso dizer "Não, foi que Jon me disse."
"Não me lembro, exatamente," eu improviso. "Mas o nome
"Mont Blanc" voltou para mim, e pareceu importante. Será que significa alguma coisa ... especial? "
"Você vai descobrir, querida". Vejo o prazer reprimido no rosto de Eric. "Tudo isso vai voltar para você. Eu não vou dizer
mais por enquanto. Isso tem que ser um bom sinal!"
"Talvez!" Eu tento combinar com sua excitação. "Bem... vejo você depois!" Eu saí da cozinha, rastreando meu cérebro.
Mont Blanc. Esqui? Aquelas elegantes canetas-tinteiro? Uma grande montanha nevada?
Eu não tenho absolutamente nenhuma idéia.
Eu saí do metrô*(*a palavra original é Tube, que em Londres é como o metrô é chamado)em Victoria, comprei um bagel, e mordiscava enquanto eu caminhava. Mas, assim que eu cheguei perto do escritório, de repente fiquei sem fome. Eu tinha uma desagradável agitação no meu estômago.
Aquele tipo de afogamento, sensação de eu-não-quero-ir-pra-escola.
Fi podia ser minha amiga novamente, mas ninguém mais era. E eu me confundi toda na frente de Simon Johnson, e eu ainda não me sinto no comando de nada... Assim que o edifício aparece eu paro, completamente apavorada.
Vamos lá, eu digo firmemente a mim mesma. Isso vai ser divertido.
Não, não será.
Pois bem, está bem, não será divertido. Mas eu não tenho outra escolha.

Invoquei toda a minha força de vontade, eu atirei o resto do bagel em uma lixeira e segui meu caminho através da porta de vidro principal. Eu segui reto até o meu escritório sem dar de cara com ninguém, me sentei, e puxei a minha pilha de papéis para mim. Enquanto fazia isso, notei o post-it que eu tinha escrito ontem: Discutir as vendas com Byron. Talvez eu deva fazer isso agora. Eu levantei o telefone para discar sua extensão, mas coloquei-o novamente no gancho quando bateram na porta.
"Olá?"
"Olá, Lexi?" Debs entra na sala. Ela estava usando um cardigan com bordado turquesa e saia jeans, segurando um envelope.
"Ah", eu disse apreensivamente. Olá, Debs".
"Como você está?" Ela soa acanhada.
"Eu...estou bem." A porta abre e revela Fi e Carolyn, ambas parecendo nada à vontade também. "Olá!" Eu exclamei em surpresa. "Está tudo bem?"
"Eu contei a elas aquilo que você me disse", diz Fi. "Na noite passada nós saímos para uma bebida, e eu contei."
"Nós não fazíamos idéia", diz Debs, olhando preocupada. "Nós não lhe demos uma chance. Nós apenas presumimos que você ainda era..." Ela fica procurando uma palavra.
"Um pesadelo poderoso-maluco”, Carolyn completa, sem demonstrar sentimentos.
"A gente se sentiu mal." Debs mordeu seu lábio enquanto olhava para as outras. "Não foi?"
"Não se preocupe." Eu forcei um sorriso. Mas, de repente, no que dizia respeito à elas três, me senti mais solitária do que nunca. Estas
foram minhas companheiras; fomos sempre um quarteto. Mas agora elas tinham três anos de baladas e conversas e gargalhadas e eu fiquei de fora. Elas formaram um trio e eu sou a estranha.

"Portanto, eu só queria te dar isso." Debs avançou em direção a mesa, sua face corada, e me entrega o envelope.
Eu o abri e puxei um cartão branco rígido e gravado.
Um convite de casamento.
"Espero que você possa ir." Debs enfiou suas mãos em seus bolsos. "Você e Eric."
Eu sinto uma rápida sensação de humilhação. Sua linguagem corporal era óbvia. A última coisa que ela queria era que nós fossemos ao seu casamento.
"Olha, Debs, você não tem que me convidar. É realmente muita gentileza sua..." Estava tentando colocar o cartão de volta no envelope, o meu rosto queimando. "Mas eu sei que você realmente não-"
"Sim, eu faço questão." Ela coloca a mão na minha, me interrompe, e
eu olho para cima. Seus olhos estavam do mesmo jeito que sempre foram - de um azul profundo com longos cílios com rímel. "Você foi uma das minhas melhores amigas, Lexi. Sei que as coisas mudaram. Mas... você deveria estar lá."
"Bem...obrigado," Eu murmurei afinal. "Eu amaria ir." Eu virei o convite, correndo o dedo pelas letras gravadas.
"Como você fez para sua mãe concordar em convidar alguém com tal atraso?"
"Ela quase me matou", Debs afirma sem rodeios, e eu não pude deixar de rir.
"Ela ameaçou cortar sua mesada?"
"Sim!" Debs exclama, e desta vez todas nós caímos na gargalhada. A mãe de Debs ameaçava cortar sua mesada desde que eu a conhecia – sendo que ela já tinha parado de dar mesada pra Debs há cerca de dez anos atrás.
"Nós compramos alguns muffins, também," diz Fi. "Pra nos desculpar por ontem..." Ela pára enquanto alguém bate na porta. Simon Johnson estava de pé, na entrada.
"Simon!" Eu entrei em estado de choque. "Eu não vi você aí!"
"Lexi". Ele sorri. "Disponível para um rápido bate-papo?"
"Vamos indo", diz Fi precipitada, e apressa as outras para fora.
"Obrigada por essa... er... informação, Lexi. Muito útil."
"Tchau, Fi!" Eu sorri para ela agradecidamente.
"Não vou ocupar seu tempo", afirma Simon, fechando a porta enquanto elas saíam. "Apenas queria lhe dar o esboço final para a reunião de segunda-feira. Obviamente mantenha isso guardado a sete chaves. Dentro deste departamento, só você e Byron têm essa informação." Ele vem em direção a mesa, segurando uma pasta.
"Claro que sim." assenti de maneira profissional. "Obrigado".
Assim que peguei a pasta dele, eu vi junho'07 digitado discretamente no canto superior direito e senti uma pontada como um mau presságio. Eu ainda não tinha idéia do que significava junho'07. Eu tinha pesquisado em todos os meus arquivos ontem à tarde, mas não tinha encontrado nada. Nenhum arquivo no computador, nem papelada, nada. Eu sei que deveria ter perguntado ao Byron. Mas eu fui muito orgulhosa. Eu queria descobrir por mim mesma.
"Estava ansiosa por isso!" Eu dei um tapinha na pasta, esperando parecer convincente.
"Bom. Será segunda-feira, meio-dia em ponto, na sala de reuniões. Uns dois diretores não executivos têm de se retirar rapidamente."
"Vejo você lá", eu digo com um sorriso confiante. "Obrigado, Simon."
No minuto que Simon deixou a sala, eu sentei e abri a pasta. A primeira página estava intitulada RESUMO, e eu corri meus olhos pelo texto. Junho'07... grande reestruturação... realinhamento no mercado... repensar no geral...
Depois de alguns segundos eu afundei em minha cadeira, sentindo-me sobrecarregada. Não é de admirar que este seja um grande segredo. Toda a companhia sofreria mudanças. Estamos adquirindo uma tecnologia interna para a empresa... estamos fazendo uma fusão de vários departamentos. . . Eu movi meus olhos mais para baixo.
. . . no contexto do seu desempenho de vendas atual ... planos de
dissolver...
O quê?
Eu li as palavras novamente. E de novo.
Minha coluna ficou fria. Eu estava congelada em minha cadeira lendo e relendo as linhas sem parar. Isto não podia… não podia significar o que eu achava que significava…
Com um aumento repentino de adrenalina eu pulei da cadeira e andei com pressa para a porta e desci o corredor. Lá estava Simon, próximo aos elevadores conversando com Byron.
“Simon!” estava engolindo ar em pânico. “Seria possível eu dar uma palavrinha rápida?”
“Lexi.” Assim que ele viu pude perceber uma ruga de irritação em suas sobrancelhas.
“Oi.” Olhei em volta, checando se não havia ninguém por perto para ouvir. “Eu só queria… hmm… esclarecer algumas coisas. Estes planos de dissolver a sessão de revestimentos.” Eu bati na pasta. “Isto não significa… você não tem realmente a intenção…
“Ela está finalmente entendendo.” Byron cruzou os braços, sacudindo a cabeça com tanta animação que eu quis dar um soco nele. Ele sabia sobre isso?
Simon suspira. “Lexi, nós estamos nisso há muito tempo, como você sabe. É um mercado duro lá fora. Você efetuou maravilhas com a sua força de vendas - que todos nós apreciamos. E você, você mesma será recompensada. Mas o departamento é insustentável."
"Mas você não pode se livrar dos revestimentos! Deller Carpets tem tudo a ver com isso! Foi assim que a empresa começou!”
"Mantenha o tom baixo!" Simon diz severamente sotto voce* (expressão italiana que significa Fale baixo!), lançando um olhar ao redor do andar. Toda a amabilidade tinha desaparecido de sua aprência. "Lexi, eu não posso aturar esse nível de perturbação. É altamente anti-profissional".
"Mas—"
“Não há nada pra se preocupar. Você e Byron terão ambos novos cargos na administração superior. Está tudo sendo resolvido muito cuidadosamente. Eu não tenho tempo para isso.” O elevador chega e ele entra.
“Mas, Simon “ digo desesperadamente. “Você não pode smplesmente demitir todo o departamento.”
Tarde demais. As portas do elevador se fecharam.
"Não chamamos demitir", a voz cínica de Byron vem por trás de mim. "Chamamos de tornar-se redundante. Atualize seus termos."
"Como você pode apenas ficar parado diante disso?" Eu girei em torno dele, indignada. "E como é que eu não sabia nada sobre isto?"
"Ah, eu não disse a você?" Byron estalou sua língua, simulando auto-censura. "Lamento, Lexi. É difícil saber onde e quando você começou a esquecer... vamos ver. Tudo ".
"Onde estão os arquivos? Porque é que não vi isso antes?"
"Eu talvez possa ter pego emprestado". Ele dá de ombros e segue em direção a seu escritório. "Ciao".

"Não! Aguarde!" me obriguei a ir atrás dele e fechei a porta. "Eu não entendo. Porque eles estão cortando o departamento?"
"Você já viu nossas vendas recentemente?" Byron rolou seus olhos.
"Elas subiram!" Repliquei antes que eu pudesse me impedir, já sabendo que essa era a direção errada.
"Em três por cento?" Byron diz zombeteiramente. "Lexi, tapetes são coisa do passado. Nós não temos conseguido entrar no mercado de outros revestimentos. Nós só temos uns dois contratos para acompanhar. Encare isso. A festa acabou.”
"Mas não podemos simplesmente perder o departamento. Aqueles designs de tapetes originais são clássicos! E o que dizer... dos tapetes personalizados*?" (*gente achei melhor usar essa expressão, pois a palavra original é rugs que quer dizer tapetes também, só que são tapetes de modelos e tamanhos variados que só cobrem um pedaço do chão e carpets quer dizer tapetes mas como um tipo de revestimento,ok?)
Byron incredulamente me olha por um momento, então explode em riso.
"Você é hilária, você sabe porque?"
"O que?"
"Você não sabe que está repetindo a si mesma? Você disse tudo isso na primeira reunião sobre a crise. "Poderíamos fazer dos revestimentos, tapetes personalizados!" ele me imita numa voz estridente. "Desista."
"Mas todos eles perderão seus empregos! Toda a equipe!"
"Pois é. Uma pena". Ele senta-se em sua mesa e me mostra a porta. "Eu tenho trabalho a fazer!"
"Você é um filho da p.", disse, a minha voz tremendo, eu saí a passos largos de seu escritório e batendo a porta, ainda agarrando a pasta, respirando cada vez mais com dificuldade até que eu pensei que eu poderia desmaiar de falta de ar. Eu tenho que ler toda esta informação, eu tenho que pensar.
"Lexi!" minha cabeça moveu abruptamente para cima e instintivamente eu aperto a pasta mais perto de meu peito. Fi está de pé na porta do escritório principal do departamento, sinalizando para mim. "Venha cá! Pegue um muffin".
Por um momento eu só olhei para ela sem fala.
"Vamos lá!" Ela ri. "Simon Johnson já deve ter ido agora,
não?"
"Urn... sim," eu digo roucamente. "Ele já foi."
"Pois bem, venha, então! Estamos todos esperando!"
Eu não pude recusar. Tenho que parecer normal, tenho que parecer simpática, embora eu esteja em um estado de derretimento...
Fi agarra meu braço e, enquanto eu a sigo para o escritório principal,
Sinto um choque poderosíssimo. Um banner foi estendido entre os fechos de duas janelas, onde se lia Bem-vinda novamente,Lexi!!! Um prato de muffins frescos estavam sobre o armário de arquivos, juntamente com uma cesta de presentes da Aveda.
"Nós nunca lhe demos boas vindas apropriadas", diz Fi,
seu rosto ligeiramente corado. "E nós só queriamos dizer que estamos satisfeitos que você esteja okay após o acidente. "Ela se dirige ao pessoal da sala. "Para aqueles de vocês que não conheceram Lexi antes quando... Gostaria apenas de dizer que penso que este acidente fez as coisas mudarem. Eu sei que ela vai ser a mais fantástica chefe e todos nós devemos segui-la da maneira certa. Isto é para você, Lexi".
Ela levanta sua caneca de café e toda a sala aplaude.

"Obrigado, pessoal," Eu administrei, o meu rosto ficando vermelho. "Vocês são...todos ótimos."
Eles estão prestes a perder os seus empregos. Eles não têm nem idéia.
E eles me compraram uma cesta de presentes e muffins.
"Tome um café." Fi traz mais uma caneca. "Deixe-me segurar essa pasta para você... "
"Não!" ofeguei, agarrando-a mais apertado. "É... bastante confidencial..."
"É sobre nosso bônus, não é?" Debs diz com um sorriso, e
depois, me dá uma acotovelada. "Certifique-se que eles sejam todos bons e bem grandes, Lexi! Eu quero uma bolsa nova!"
De alguma forma eu dei um sorriso mórbido. Eu estou em um sonho ruim.
• • •
Assim que eu finalmente deixei o trabalho as seis e meia, o pesadelo ainda não tinha acabado. Eu tenho o fim de semana para construir uma defesa para o Departamento de revestimentos de alguma forma. E eu quase nem sei qual é mesmo o problema, imagine a resposta. No que eu pressiono o botão do elevador para o térreo, Byron entra, vestido em seu sobretudo.
"Levando trabalho pra casa?" Ele aumenta suas sobrancelhas quando vê minha pasta recheada.
"Tenho que salvar o departamento," eu digo brevemente. "Eu vou o final de semana inteiro até eu encontrar uma solução."
"Você deve estar brincando." Byron balança sua cabeça incredulamente. "Lexi, você não leu a proposta? Isso que está acontecendo vai ser muito melhor para você e para mim. Eles estão criando uma nova equipe estratégica, vamos ter mais poder, mais alcance... "
"Não é esse o ponto!" Eu grito queimando de fúria, "O que vai ser de todos os nossos amigos que não terão nada?"
"Snif, snif, me deixe limpar minhas lágrimas que estou com o coração sangrando", Byron debocha. "Eles vão encontrar empregos." Ele hesita, me olhando de perto."Você sabe, você nunca se incomodou com isso antes."
Demorou um ou dois segundos para que eu assimilasse suas palavras. "O que você quer dizer?"
"Antes de você sofrer esse acidente de carro, você era totalmente a favor de se livrar do departamento de revestimentos. Uma vez que você viu o seu novo pacote. Mais poder para nós, mais dinheiro... o que há para não amar?"
A frieza me causou arrepios.
"Eu não acredito em você". A minha voz é brusca. "Eu não acredito em você. Eu nunca teria vendido os meus amigos."
Byron só olha para mim com pena.
"Sim, você teria. Você não é uma santa, Lexi. Porque você deveria ser?" As portas se abriram e ele saiu do elevador.
Eu cheguei à Loja de departamentos Langridge, e me dirigi ao departamento de compras com atendimento personalizado como se estivesse aturdida. Eu tinha um horário marcado às sete horas com minha consultora de estilo, Ann. De acordo com o manual, eu me encontrava com ela a cada três meses e ela escolhia algumas peças novas para montarmos o meu visual da estação.
"Lexi! Como você está?" Uma voz cumprimenta-me assim que eu me aproximo da recepção. Ann era muito delicada, com cabelos escuros e curtíssimos, com calças cigarretes bem sequinhas pretas, e um perfume muito perceptível que vira meu estômago instantaneamente. "Eu fiquei tão arrasada quando ouvi sobre o seu acidente!"
"Estou bem, obrigada. Com tudo já recuperado." Eu tentei um sorriso.
Eu deveria ter cancelado este compromisso. Não sei o que eu estou fazendo aqui.
"Bom! Agora, tenho algumas peças para fabulosas para você dar uma olhada." Ann me guiou para um provador e me apresentou uma arara de roupas com estampas florais. "Você verá alguns novos modelos e estilos aqui, mas creio que poderia prová-los..."
Sobre o que ela estava falando, novos modelos e estilos?
Eram todos um monte de ternos de cores neutras. Já tenho um armário lotado de peças iguais a estas.
Ann me mostrou um casaco após o outro, falando sobre bolsos e comprimentos, mas eu não conseguia ouvir uma palavra. Alguma coisa estava buzinando na minha cabeça como um inseto aprisionado; e estava ficando alto e mais alto...
"Você tem alguma coisa diferente?" Eu a interrompi abruptamente.
"Você tem alguma coisa... viva?"
"Viva"? Ann repete sem muita certeza. Ela hesita e, em seguida, ela avança para um outro casaco bege. "Este está muito charmoso..."
Eu saio do provador em direção ao salão principal da loja, sentindo como se eu precisasse respirar fundo para conseguir ar. O sangue corria apressando em meus ouvidos. Eu me sentia um pouco transtornada, para ser honesta.
"Isto". Eu peguei um mini vestido roxo com detalhes brilhantes sobre ele. "Isso é ótimo. Eu poderia ir pra balada com um desses."
Ann olhou como se fosse passar mal.
"Lexi", diz ela afinal. "Isto... não é o que eu chamaria de o seu estilo."
"Bem, eu chamaria." Desafiantemente peguei uma mini saia prata. "E
isto."
Isso seria exatamente o que eu escolheria no New Look, só que esta era um milhão de vezes mais cara, obviamente.
"Lexi". Ann colocava seus dedos na ponte do seu nariz e respira algumas vezes. "Eu sou sua estilista. Sei aquilo que mais lhe convém. Você tem um visual muito funcional, atraente e profissional e nós passamos muito tempo para aperfeiçoar essa imagem-"
"É tedioso. É ridículo". Eu tirei dos braços dela um vestido bege sem mangas e segurei-o para cima. "Eu não sou essa pessoa, simplesmente não sou."
"Lexi, você é."
"Eu não sou! Eu preciso de diversão. Eu preciso de cor."
"Você vive de bege e preto perfeitamente bem durante vários anos." O rosto de Ann ficou rigoroso. "Lexi, você me disse especificamente no nosso primeiro encontro que aquilo que você necessitava era de um guarda-roupa com looks de trabalho em cores neutras montados em capas."
"Isso foi antes, está bem?" Estava tentando segurar a minha agitação, mas era como se todos os eventos do dia estivessem borbulhando fazendo surgir uma angústia. "Talvez as coisas tenham mudado. Talvez eu tenha mudado."
"Isto". Ann surge com um outro terno bege, com minúsculas pregas. "Isto é você."
"Não é."
"É."


"Essa não sou eu! Não sou! Eu não sou essa pessoa! Eu não quero ser ela!" Lágrimas estavam queimando meus olhos. Eu começo a dar puxões nos prendedores do meu coque, de repente desesperada para acabar com esta situação. "Não estou o tipo de pessoa que usa ternos beges! Eu não sou o tipo de pessoa que usa seus cabelos em um rolo todos os dias. Eu não sou o tipo de pessoa que paga mil libras por vinho.
Eu não sou o tipo de pessoa que... que vende seus amigos...''
Estava engolindo meus soluços agora. Meu coque não chegou a se soltar,então mechas de cabelo ficaram bagunçadas fora do lugar como um espantalho. Meu rosto estava todo molhado com lágrimas. Eu limpei meus olhos com as costas da minha mão, e Ann afasta o vestido bege de perto de mim com horror.
"Não se joga lágrimas sobre um Armani!" ela solta.
"Pegue". Eu o entreguei de volta para ela. "Você pode ficar com ele."
E, sem dizer mais nada, fui embora.
Eu fui para o café no piso térreo, pedi um chocolate quente, e bebi ao mesmo tempo em que desfazia o resto do meu coque. Então pedi outro, juntamente com um sonho.
Depois de um tempo, todos os carboidratos se instalaram no meu estômago como uma quentinha e confortável almofada, e aí me sinto melhor. Tem de haver um jeito, tem de existir. Eu vou trabalhar todo o fim de semana, vou encontrar a solução, eu vou salvar o departamento.
Um som vindo do meu bolso interrompe meus pensamentos. Eu puxei o meu telefone e vi que era uma mensagem de Eric.
Como que você está? Trabalhando até tarde?
Enquanto eu encarava aquelas palavras fiquei de repente tocada. Surpreendentemente tocada, na verdade. Eric se preocupa comigo. Ele está pensando em mim.
A caminho de casa agora, eu digito de volta. Eu senti sua falta hoje!
Isso não era exatamente verdadeiro, mas tinha que soar como se fosse.
Eu senti a sua também! respondeu instantaneamente.
Eu sabia que havia um motivo no casamento. E é isso. Alguém que se preocupe com você quando tudo está uma merda. Alguém para te alegrar. Só enviar uma mensagem para o Eric me fez sentir um milhão de vezes mais aquecida que o chocolate quente fez. Estou compondo uma resposta na minha cabeça quando o telefone emite um som novamente.
Ta fim de uma Mont Blanc? :):)
Novamente com essa hitória de Mont Blanc. O que é isso? Um coquetel,
talvez?
Pois bem, é obviamente muito especial para Eric. E não há só uma maneira de eu descobrir.
Ótimo! Eu digito de volta. Mal posso esperar!
Então eu peguei minha bolsa, saí da Langridges, e deslizei em um táxi.
Levava apenas cerca de vinte minutos para chegar em casa, durante esse tempo eu reli três arquivos, cada um mais deprimente do que o último. As vendas de tapetes nunca foram piores em toda a história da empresa, enquanto todos os outros departamentos estavam crescendo. Por fim eu fechei os arquivos e olhava pela janela do taxi, minha mente trabalhando o tempo inteiro. Se eu pudesse apenas criar um pacote de resgate... Sei que a marca Deller Carpet ainda tem valor -
"Amor?" O taxista me tira de minha abstração. "Chegamos".
"Oh, certo. Obrigado." Procurava desajeitadamente pela minha bolsa quando meu telefone emite um outro sinal.
Estou pronto!
Pronto? Isso fica cada vez mais misterioso.
Acabei de chegar! Vejo você em um minuto!
Eu animadamente digitei de volta, e entreguei o dinheiro para o taxista.
Assim que eu entrei no apartamento, as luzes estavam fracas, de um jeito que reconheci como sedutor. A música estava tocando tão discretamente que mal podíamos ouvi-la; diferente daquela vez que estava totalmente silencioso.
"Olá!" chamo cautelosamente, pendurando o meu casaco.
"Olá!" a distante voz de Erick parece vir do quarto.
Do meu quarto.
Pois bem ... Eu acho que, oficialmente, o nosso quarto.
Eu verifiquei o meu reflexo no espelho e apressadamente dei um jeito no meu cabelo desarrumado com um pente. Então eu me dirigi para o outro lado da sala e fui para o quarto. A porta estava apenas
entreaberta; eu não podia ver no interior. Fiquei parada lá por um momento, querendo saber do que na terra aquilo se tratava. Então eu empurrei a porta aberta. E, diante daquela visão eu quase
gritei em voz alta.
Isto é o Mont Blanc? Isto é o Mont Blanc?
Eric estava deitado sobre a cama. Totalmente nu. Exceto pelo enorme monte de creme de chantilly em sua região genital.
"Olá, querida". Ele levanta suas sobrancelhas refletindo cumplicidade e, em seguida, lança um olhar para baixo. "Mergulhe nele!"
Nele?
Mergulhar?
Mergulhar nele?
Fiquei paralisada de horror enquanto contemplava aquela montanha cremosa, lambuzada. Cada célula do meu corpo estava me dizendo que eu não queria mergulhar ali.
Mas eu não podia simplesmente virar e fugir, podia? Eu não posso rejeitá-lo. Este é o meu marido. Isto é obviamente... o que fazemos.
Oh Deus, oh Deus ...
Cautelosamente eu fui em frente em direção ao edifício cremoso.
Sem nem ter idéia do que eu estava fazendo, eu estendi um dedo e passei no topo do monte e, em seguida, coloquei-o na minha boca com um pouco daquela meleca.
"É... é docinho!" A minha voz estava tremida de tão nervosa.
"Com poucas calorias." Eric sorri de volta pra mim.
Não. Não. Eu sinto muito. Isso simplesmente... Isto não vai acontecer. Nunca na vida, jamais. Tenho de dar uma desculpa.
"Eu me sinto tonta!" As palavras saem do nada. Eu coloquei minha mão nos meus olhos e me afastei da cama. "Oh meu Deus. Estou tendo uma recordação".
"Uma recordação?" Eric senta-se, alerta.
"Sim, eu tive uma súbita lembrança... Do casamento", eu improviso.
"Foi apenas uma breve imagem, de você e eu, mas foi realmente vívida, me pegou de surpresa... "
"Sente-se, querida!" Eric franziu o cenho ansiosamente. "Tenha calma. Talvez mais algumas lembranças retornem."
Ele pareceu tão esperançoso, e eu me sentia terrível tendo que mentir. Mas era melhor do que dizer a verdade sem dúvida.
"Eu poderia ir me deitar calmamente no outro quarto, se você não se importar." Eu segui rapidamente em direção a porta, minhas mãos nos meus olhos me protegendo daquela visão da montanha de creme. "Lamento, Eric, depois que você teve tanto... trabalho..."
"Querida, está tudo bem! Eu vou junto com -" Eric tenta se levantar da cama.
"Não!" Eu cortei ele um pouco estridente demais. "Você só...se resolva com isso. Eu vou ficar bem."
Antes ele pudesse dizer mais alguma coisa, eu me apressei para fora e me joguei sobre o grande sofá creme. A minha cabeça estava girando, quer fosse pelo choque do Mont Blanc ou pelo dia todo... Eu não tinha como saber. Tudo que eu sabia era, eu sentia vontade de me enrolar embaixo de um edredom e fingir que o mundo não existia. Eu não posso dar conta dessa minha vida. Nada dela.

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