terça-feira, 28 de julho de 2009

Lembra De Mim Cap16 e 17

Capítulo 16

Não consigo sequer olhar para Eric sem ver chantilly.
Ontem à noite sonhei que ele era feito de chantilly. Não foi um grande sonho.
Felizmente nós mal temos nos visto neste fim de semana. Eric está fazendo entretenimento empresarial e eu tenho tentado desesperadamente chegar a um plano para salvar o departamento. Li todos os contratos dos três últimos anos. Eu tinha observado as informações do nosso fornecedor. Eu tinha analisado o feedback (retorno) dos clientes.
Para ser honesta, a situação estava uma merda. Nós até tivemos um
pequeno triunfo no ano passado, quando eu tinha negociado um bom
acordo com uma nova empresa de software. Eu acho que foi isso o que impressionou Simon Johnson. Mas isso só mascarou nossa verdadeira posição.
Não apenas os pedidos eram demasiado baixos, mas parecia que ninguém mais sequer se interessava por tapetes como revestimento. Nós temos apenas uma fração do orçamento de publicidade e marketing que outros departamentos tinham. Não estamos executando nenhuma promoção especial.
Na reunião semanal dos diretores, o departamento de revestimentos sempre aparece por último na ordem do dia. É como se fosse a gata borralheira da empresa.
Mas tudo isso vai mudar, se tiver alguma coisa que eu possa fazer.
Durante o fim de semana eu tinha criado um relançamento total. Ele precisaria de um pouco de dinheiro e de fé e de uns bons enfeites com custo baixo - mas eu estou certa de que nós podemos alavancar as vendas. A gata borralheira foi ao baile, não foi? E eu vou ser a fada madrinha. Eu tenho de ser a fada madrinha. Não posso deixar todos os meus amigos perderem seus empregos.
Oh Deus. O meu estômago revirava mais uma vez de tanto nervoso. Estava sentada no táxi a caminho do trabalho, o meu cabelo firmemente para cima, minha pasta de apresentação no meu colo. A reunião será em uma hora. Todos os outros diretores estão à espera da votação para desativar o departamento de revestimentos. Eu vou ter de argumentar muito bem. Ou então...
Não. Eu não posso pensar em "ou então". Tenho de ser bem sucedida nisso, eu só tenho que... Meu telefone toca e eu quase pelei pra fora do assento, de tão nervosa que eu estava.
"Alô?"
"Lexi?" Ouço uma pequena voz. "É Amy. Você está livre?"
"Amy!" Eu digo espantada. "Oi! Na verdade, eu estou a caminho de-“
"Estou em apuros." Ela me corta. "Você tem que vir. Por favor."
"Apuros"? Digo, alarmada. "Que tipo de apuros?"
"Por favor venha." Sua voz estava totalmente tremida.
"Eu estou em Notting Hill*". (*Bairro muito conhecido em Londres)
"Notting Hill? Por que você não está na escola?"
"Espere aí." O som estava abafado, e eu só pude ouvir Amy dizendo, "Eu estou falando com a minha irmã mais velha, ok? Ela está vindo."
Então ela está de volta na linha. "Por favor, Lexi. Por favor venha. Eu me meti numa pequena confusão."
Eu nunca ouvi Amy desse jeito. Ela soava desesperada.

"O que você fez?" Minha mente corria, tentando imaginar em que tipo de problemas ela poderia ter se metido. Drogas? Pegou empréstimo com agiotas?
"Estou na esquina da Ladbroke Grove e Kensington Gardens. Em quanto tempo você vai chegar?"
"Amy..." Eu agarrei minha cabeça. "Eu não posso ir agora! Eu tenho uma reunião, que é realmente importante. Você não pode ligar para a mamãe?"
"Não!" a voz de Amy sobe em pânico. "Lexi, você disse. Você disse que eu poderia ligar, sempre que eu quisesse, que você era minha irmã mais velha, que você estaria sempre ao meu lado."
"Mas eu não quis dizer... Eu tenho essa apresentação ..." Eu perdi o rumo, de repente consciente do modo como isso soava patético. "Olha, qualquer outra vez..."
"Muito bem". Sua voz é subitamente minúsculo. Ela soa como se tivsse dez anos de idade. "Vá a sua reunião. Não se preocupe."
Fico encharcada de culpa, misturada com frustração. Por que ela não poderia ter ligado ontem a noite? Por que escolheu o único minuto em que eu tenho que estar em outro lugar?
"Amy, só me diga, o que aconteceu?"
"Não importa. Vá ao seu compromisso. Desculpe eu ter incomodado
você."
"Pare! Apenas deixe-me pensar um segundo." Olhei cegamente pra fora da janela, desorientada com o stress, a indecisão. Faltavam quarenta e cinco minutos, até a reunião. Eu não tinha tempo, eu simplesmente não tinha.
Eu talvez possa, se eu for diretamente pra lá agora. São apenas dez minutos até Notting Hill.
Mas não posso correr o risco de me atrasar para a reunião, eu simplesmente não posso – E então de repente, contra barulhento som da ligação, pude ouvir uma voz de homem. Agora ele estava gritando.
Olhei para o telefone, uma sensação desagradável de frieza. Não posso deixar a minha irmãzinha em apuros. E se ela estivesse com alguma gangue de rua? E se ela estava prestes a ser espancada?
"Amy, segure firme", eu disse abruptamente. "Estou chegando". Eu bati no vidro do motorista e disse. "Temos que fazer um rápido desvio até Notting Hill. O mais rápido que você puder, por favor."
Assim que tomamos o caminho até Ladbroke Grove, o táxi roncando com o esforço extremo, eu me inclinava para frente, espiando desesperadamente para fora da janela, tentando achar Amy... e então, de repente, vejo um carro da polícia. Na esquina de Kensington Gardens.
Meu coração congela. Eu cheguei tarde demais. Ela tinha sido baleada. Ela tinha sido esfaqueada.
Fraca com o terror, eu entreguei o dinheiro ao motorista e saído táxi. Havia uma multidão em frente ao carro da polícia, bloqueando minha opinião, todos eles assistindo e gesticulando agitadamente alguma coisa e comentando uns com os outros. Malditos futriqueiros.
"Com licença." Minha voz não estava funcionando muito para afastar a multidão. "É minha irmã, eu tenho que passar". De alguma forma eu dei um jeito de sair empurrando e me espremendo com dificuldade entre os agasalhos encapuzados e jaquetas jeans, para que eu pudesse ver...
E lá estava Amy. Sem tiros ou facadas. Sentada numa mureta,
usando o chapéu de um policial, olhando totalmente alegre.
"Lexi!" Amy se volta para o policial de pé ao lado dela.
"Ali está ela. Eu não disse que ela viria."
"O que está acontecendo?" Exijo, tremendo de alívio. "Eu
pensei que você estivesse em apuros!"
"Ela é sua irmã?" O policial perguntou intimidante. Ele era atarracado e tinha o cabelo cor de areia, com grandes antebraços sardentos, e
estava fazendo anotações sobre uma prancheta.
"Er... sim." Meu coração afundava. Ela pegou alguma coisa de uma loja ou algo parecido? O que há de errado?"
"Eu receio que esta mocinha esteja em apuros. Ela tem explorado
turistas. Tem um monte de gente zangada aqui." Ele aponta para
a multidão. "Isso não tem nada a ver com você, tem?"
"Não! Claro que não! Nem sequer sei do que você está falando!"
"Tour com Celebridades." Ele me entregou um folheto informativo, sua sobrancelha levantou. "Assim chamados".
Eu li sem acreditar o folheto, que era amarelo fluorescente
e obviamente tinha sido montado em algum lixo de editor de texto. Celebridades Disfarçadas em passeio turístico por Londres.
Muitas estrelas Hollywood se instalaram em Londres. Você pode vê-las num único passeio. Dê uma olhada em:
• Madonna estendendo sua roupa lavada
• Gwyneth em seu jardim
• Elton John relaxando em casa
Impressione seus amigos com todas as fofocas privilegiadas de bastidores!
Dez libras por pessoa, incluindo souvenir de todos eles.
Nota importante:
Se você desafiar as estrelas, eles podem negar as suas identidades.
Não se deixe enganar! Isso faz parte do seu disfarce secreto!
Eu li aquilo aturdida. "Isto é sério?" O policial assente.
"Sua irmã tem guiado pessoas ao redor de Londres, dizendo-lhes que eles estão vendo celebridades".
"E o que eles estão vendo?"
"Bem, pessoas como ela." Ele aponta do outro lado da rua, onde uma mulher magra de cabelo louro estava em pé sobre sua enorme casa branca com reboco de cimento e areia, de jeans e um top estilo camponesa, segurando uma menininha de cerca de dois anos em seu quadril.
"Eu não sou a maldita Gwyneth Paltrow!" ela gritava raivosamente a um par de turistas usando capas de chuva da Burberry. "E não, eu não posso lhe dar um autógrafo."
Na verdade, ela parecia um pouco com a Gwyneth Paltrow. Ela tinha o mesmo cabelo longo louro e reto e um mesmo tipo de
rosto. Só um pouco mais velha e mais abatida.
"Você está com ela?" A falsa Gwyneth de repente fixa os olhos em mim e se aproxima. "Eu quero fazer uma queixa oficial. Tem pessoas tirando fotos da minha casa todas as semanas, se metendo na minha vida - Pela última vez, o nome dela não é Apple porcaria nenhuma!" Ela se dirige a uma jovem japonesa que ficava chamando "Apple! Apple!" para a menininha, tentando tirar uma foto.
A mulher estava furiosa. E eu não a culpo.

"Quanto mais eu digo a essas pessoas que eu não sou Gwyneth Paltrow, mais eles acham que eu sou ela," ela estava dizendo para o policial. “Eu não posso continuar. Eu vou ter de me mudar!"
"Você deveria se sentir lisonjeada!" Amy diz despreocupadamente. "Eles acham que você é uma estrela do cinema ganhadora de um Oscar!"
"Você deveria ser colocada na prisão!" rosna a pseudo-Gwyneth. Ela
parecia querer acertar Amy na cabeça.
Para ser honesta, eu iria querer fazer a mesma coisa.
"Eu vou ter de repreender oficialmente sua irmã."
O policial vira para mim com jeito de oficial e antes de acompanhar a pseudo-Gwyneth de volta para casa diz "Eu posso libertar
ela sob sua guarda, mas só quando você tiver preenchido estes
formulários e agendado uma visita à delegacia."
"Muito bem", eu digo, e disparo um olhar assassino para Amy. "Seja como for."
"Cai fora!" Pseudo-Gwyneth não estava lutando com um cara jovem meio nerd que estava atrás dela esperando lhe entregar um CD. "Não, eu não posso entregar isso pro Chris Martin! Eu nem sequer gosto do maldito Coldplay!"

Amy sugava suas bochechas como se ela estivesse tentando não rir.
Yeah. Isto é tão engraçado. Estamos todos nos divertindo muito. Eu
não tenho que estar em nenhum outro lugar realmente importante, nem nada.
Eu preenchi de todos os formulários o mais rápido possível, carimbando um furioso ponto final depois da minha assinatura.
"Será que podemos ir agora?"
"Tudo bem. Tente manter ela na linha," o policial acrescenta, entregando-me de volta uma segunda via do formulário e um folheto intitulado "Seu Guia de Repreensão Policial."
Manter ela na linha? Por que eu é que devo mantê-la sob rédeas?
"Claro." Eu dou um sorriso apertado e enfio os documentos na minha bolsa. "Farei o meu melhor. Vamos indo, Amy." Eu olhei no meu relógio e sentir um espasmo de pânico. Já eram dez para as doze.
"Rápido. Temos de encontrar um táxi."
"Mas eu quero ir para Portobello-"
"Temos de encontrar a porra de um táxi!" Eu gritei. "Eu tenho que conseguir chegar a minha reunião!" seus olhos ficaram enormes e ela começa obedientemente procurar na rua. Por fim eu acenei para um e empurrei Amy para dentro.
"Victoria Palace Road, por favor. O mais rápido que puder."
Não tinha a menor condição de eu chegar pro início da reunião. Mas eu ainda podia chegar lá. Ainda podia apresentar minha peça. Eu ainda podia fazê-lo.
"Lexi... Obrigada", diz Amy, em uma voz baixinha.
"Está bem". Assim que o táxi deu a volta para Ladbroke Grove meus olhos estavam colados à estrada, desesperadamente disposta a mudar as luzes do semáforo, a avançar ao longo do tráfego. Mas tudo estava subitamente paralisado. Estou nunca iria chegar até o meio-dia. Abruptamente eu puxei o meu telefone, disquei o número do escritório de Simon Johnson, e aguardei que sua assistente pessoal, Natasha, atendesse.
"Olá, Natasha?" Eu digo, na tentativa de soar calma e profissional.
"É Lexi. Estou ligeiramente atrasada, mas é realmente vital que eu participe da reunião. Poderia dizer-lhes que esperassem por mim? Eu já estou a caminho, em um táxi."
"Claro", diz Natasha agradavelmente. "Eu vou dizer a eles. Vejo você
mais tarde."
"Obrigado!"

Eu desliguei e me encostei de volta no meu banco, um pouquinho mais descontraída.
"Desculpe," diz Amy de repente.
"Yeah, que seja."
"Não, realmente, eu sinto muito."
Eu suspiro, e olho para Amy adequadamente pela primeira vez desde que entramos no taxi. "Porque, Amy?"
"Para ganhar dinheiro." Ela encolhe os ombros. "Porque não?"
"Porque você ainda vai se meter em problemas ainda mais sérios! Se você precisa de dinheiro, você não pode arranjar um emprego? Ou pedir para a mamãe?"
"Pedir à mamãe", ela repetiu com desprezo. "A mamãe não tem dinheiro nenhum."
"Tudo bem, talvez ela não tenha um monte de dinheiro-"
"Ela não tem nenhum. Porque você acha que a casa está para cair? Por que você acha que o aquecimento nunca está ligado? Eu passei metade do inverno passado na casa da minha amiga Rachel. Pelo menos eles ligavam o radiador. Estamos falidas".
"Mas isso é estranho" disse, perplexa. "Como chegamos a isso? Papai não deixou nada para mamãe?"
Sei que alguns dos negócios do papai eram um bocado suspeitos. Mas ele tinha vários deles, e eu sei que ela estava esperando
uma herança inesperada quando ele morreu. Não que ela algum dia tivesse admitido isso.

"Não sei. Não foi muito, mesmo assim."
"Bem, seja como for, você não pode continuar assim. Seriamente,
você vai acabar na prisão ou alguma coisa do tipo."
"Que seja." Amy arremessa para trás seu cabelo com mechas azuis.
"A prisão é legal".
"Prisão não é legal!" encarei ela. "D onde foi que você tirou essa idéia? É brutal! É nojento! Todo mundo tem cabelo ruim, e você
não pode depilar suas pernas ou usar sabonete facial".
Eu estava inventando tudo isso. Provavelmente nestes dias as prisões têm até spas e secadores.
"E não há rapazes", acrescento dosando bem. "E não é permitido usar iPod, ou comer chocolates ou ver DVDs. Você só tem de marchar em torno de um pátio." Essa parte tenho certeza que não é verdade. Mas eu estava numa lista agora. "Com correntes em torno de suas pernas."
"Eles não usam mais correntes nas pernas", diz Amy com desprezo.
"Trouxeram elas de volta," eu mentia sem perder tempo.
"Especialmente para as adolescentes. Foi uma nova iniciativa experimental do governo. Jeez, Amy, você não lê os jornais?"
Amy olha ligeiramente apavorada. Ha. Assim ela me paga por aquela história de Moo-Mah.
"Bem, está nos meus genes." Ela se recupera desafiando. "Estar no lado errado da lei."
"Não está em seus genes-"
"Papai esteve na prisão", ela atira de volta triunfante.
"O papai?" Fiquei olhando pra ela. "Como assim, o papai?" a idéia era tão absurda, que eu quis sorrir.
"Ele esteve. Ouvi alguns homens comentando isso durante o funeral.Então é, tipo, meu destino." Ela encolhe os ombros e pega uma carteira de cigarros.
"Pare com isso!" Eu peguei os cigarros e jogue-os fora pela janela. "O papai, não foi para a prisão. Você não irá para a prisão. E não é legal, é patético." Eu interrmpi e pensei por um momento. "Olhe, Amy... venha e seja uma estagiária em meu escritório. Isso vai ser divertido. Você pode obter alguma experiência, e ganhar algum dinheiro."
"Quanto dinheiro?" ela atira de volta.
Deus, às vezes ela é chata.

"Já chega! E talvez eu não diga nada sobre isto a mamãe." Eu
agitei o folheto amarelo. "Temos um acordo?" Houve um longo silêncio no táxi. Amy estava descascando as miniaturas de esmalte azul em sua unha, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo.
"Tudo bem", diz ela, finalmente, concordando com os ombros.
O táxi para em um sinal vermelho e sinto um espasmo ao consultar o meu relógio para a milionésima vez. Já tinham se passado vinte minutos. Eu só esperava que eles tivessem começado tarde. O meu olhar vagueou pelo folheto amarelo outra vez e um sorriso relutantemente apareceu em meu rosto. Foi um esquema muito engenhoso.
"Então, quem eram suas outras celebridades?" Não pude deixar de perguntar. "Você realmente não tinha uma Madonna."
"Eu tinha!" os olhos de Amy acenderam. "Tem uma mulher em Kensington que é igualzinha a Madonna, só que mais gorda. Todo mundo caiu nessa, especialmente quando eu disse que isso provava quantos artifícios eles usavam. E eu tinha um Sting, e uma Judi Dench, e um entregador de leite realmente agradável, em Highgate, que era a imagem cuspida do Elton John."
"Elton John? Um entregador de leite?" Não pude deixar de rir.
"Eu disse que ele estava fazendo serviço comunitário em segredo."
"E como na terra você conseguiu encontrá-los?"
"Bastou ficar olhando. Gwyneth foi a minha primeira - ela me deu a idéia." Amy sorri. "Ela realmente me odeia."
"Não estou surpresa! Ela provavelmente ganhou mais problemas do que a verdadeira Gwyneth Paltrow."
O táxi se move novamente. Estamos chegando na Victoria Palace
Road agora. Abro a minha apresentação e dou uma olhada nas minhas notas, só para garantir que todos os pontos importantes estão frescos na minha mente.
"Você sabe, eles realmente disseram que o pai tinha estado na prisão." A calma voz de Amy me pega de surpresa. "Eu não inventei isso."
Eu não sabia o que dizer. Não consigo fazer isso entrar na minha cabeça. O nosso pai? Na prisão? Parece... impossível.
"Você perguntou a mamãe sobre isso?" Eu aventurei afinal.
"Não." Ela deu de ombros.
"Bem, eu tenho certeza que ele não teria ido por qualquer coisa-" hesitei, sentindo a minha intensidade -"você sabe, má."
"Você se lembra de como ele costumava nos chamar de ‘as meninas’?" Todos os vestígios de rebeldia tinham desaparecido do rosto de Amy. "Suas três meninas. Você, minha mãe, e eu."
Eu sorri remanescentemente. "E ele costumava dançar com todas nós."
"Yeah". Amy assentiu. "E ele sempre comprava aquelas maciças caixas de chocolates-"
"E que você costumava ficar doente ..."


"Deller Carpets, Senhoras". O táxi tinha parado em frente ao prédio da companhia. Eu ainda nenm tinha notado.
"Oh, certo. Obrigado." Eu procurei em minha bolsa por algum dinheiro.
"Amy, tenho que correr. Sinto muito, mas isso é muito, muito importante."
"O que foi?" Para minha surpresa, ela pareceu realmente interessada.
"Tenho que salvar meu departamento." Eu movi o trinco da porta e caí fora do táxi. "Tenho de convencer onze diretores a fazer uma coisa que eles já decidiram não fazer. E eu estou atrasada. E eu não faço idéia de que porra eu estou fazendo."
"Wow". Amy fez uma cara duvidosa. "Bem... boa sorte com isso."
"Obrigada. E... nós vamos nos falar mais." Dei-lhe um breve abraço,
então corri escadas acima até invadir o saguão. Eu estava apenas com meia hora de atraso. Poderia ser pior.
"Olá!" Eu cumprimento Jenny, a recepcionista enquanto eu corro para sua mesa. "Eu estou aqui! Você pode informá-los?"
"Lexi-" Jenny começa a me falar alguma coisa, mas eu
não tive tempo para parar. Eu me apressei para o elevador, apertei o
botão para o oitavo andar, e aguardei os mais agonizantes trinta ou mais segundos que levavam para chegar ao topo. Precisamos de elevadores expressos neste local. Precisamos de elevadores instantâneos de emergência tipo atrasados-para-uma-reunião...
Até que enfim. Eu pulei porta afora, correndo em direção ao conselho... e parei.
Simon Johnson estava de pé no corredor fora da sala, falando alegremente a três outros caras de ternos.
Um homem em um terno azul se ajeitava em seu casaco. Natasha se movia entre eles servindo xícaras de café. Havia uma balbúrdia de tana tagarelice.
"O que está..." Meu peito ia rebentar com a adrenalina. Eu mal Podia falar. "O que está acontecendo?"
Todos os rostos se viraram para mim surpresos.
"Não se desespere, Lexi". Simon atirou-me o mesmo olhar de desaprovação que ele tinha me dado antes. "Estamos fazendo uma pausa. Nós já concluímos a parte crucial da reunião e Angus tem que sair." Ele aponta em direção ao cara do casaco.
"Concluíram?" Eu questiono abruptamente como se me sentisse horrizada com tanta onipotência. "Isso significa- "
"Já fizemos a votação. Todos foram favoráveis à reorganização."
"Mas você não pode!" Eu me apressei em direção a ele em pânico. "Eu tinha encontrado uma maneira de salvar o departamento! Só temos que cortar alguns custos, e eu tive algumas idéias sobre o marketing-"
Simon me cortou com firmeza. "Lexi, tomamos a nossa decisão."
"Mas é a decisão errada!" Eu choramingava desesperadamente. "A nossa marca tem valor - Sei que tem! Por favor." Apelei diretamente para Angus. "Não vá. Me ouça primeiro. Então vocês podem votar novamente..."
"Simon". Angus se volta pra longe de mim, parecendo embaraçado. "Bom ver você. Eu tenho que correr."
"Claro que sim."
Eles nem me deram a menor importância. Ninguém queria saber. Eu assisti, minhas pernas afundando, enquanto os diretores retornavam para a sala de reuniões.
"Lexi". Simon estava na minha frente. "Eu admiro a sua lealdade ao
seu departamento. Mas você não pode se comportar assim em reuniões da diretoria." Tinha aço sob a sua voz agradável, podia dizer que ele estava furioso.
"Simon, eu sinto muito..." Eu engoli.
"Agora, sei que as coisas têm sido complicadas para você desde seu acidente." Ele pausa. "Então, o que sugiro é que você tome três
meses de férias remuneradas. E quando você voltar, nós vamos encontrar um papel mais... adequado pra você dentro da empresa. Tudo bem?"
Todo o sangue do meu rosto foi sugado. Ele estava me rebaixando do cargo.
"Estou bem," digo rapidamente. "Eu não preciso de nenhuma licença-"
"Acho que você precisa." Ele suspirou. "Lexi, estou realmente sentindo muito pelas coisas estarem acontecendo desta forma. Se você recuperasse a sua memória logo, as coisas seriam diferentes, mas Byron tem me posicionado sobre a sua situação. Você não está apta para um cargo superior agora."
Havia um tom absolutamente definitivo em sua voz.
"Muito bem," Eu controlei por fim. "Eu compreendo".
"Agora, você pode querer ir para o seu departamento. Uma vez que você não estava aqui" -ele pausou significativamente- "dei a Byron a missão de informar a notícia triste para eles".
Byron?
Com um final aceno curto, Simon desaparece na sala.
Eu olhava para a porta como se estivesse pregada no chão,
depois com uma súbita explosão de pânico, corri para o elevador. Não posso deixar Byron dizer-lhes as más notícias. Eu tenho que fazer isso eu mesma, é o mínimo que devo a eles.
No elevador, eu teclo Byron na linha direta do meu telefone celular
e estava na caixa postal.
"Byron!" Disse, minha voz vibrando com urgência. "Não
informe o departamento sobre as demissões ainda, ok? Eu
queria fazê-lo eu mesma. Repito, não lhes diga nada."
Sem olhar à direita ou à esquerda eu saí do elevador, para meu
escritório, e fechei a porta. Estou toda me tremendo. Eu nunca
tinha ficado tão petrificada em toda minha vida. Como vou contar as novidades? O que vou dizer? Como você diria a todos os seus
amigos que vão perder os seus empregos?
Eu ando de um lado para outro em meu escritório, torcendo minhas mãos, sentindo como eu fosse vomitar. Isto é pior do que qualquer exame, qualquer prova, qualquer coisa que eu já tinha feito na vida e, em seguida, um som me alerta. Uma voz fora da porta. "Ela está aí?"
"Onde está Lexi?" chama outra voz.
"Será que ela se escondendo? Essa vaca".
Por um instante eu considero mergulhar sob o sofá e nunca mais sair.
"Será que ela ainda está lá em cima?" As vozes estavam ficando mais altas fora da minha porta.
"Não, eu vi ela! Ela está em aí! Lexi! Venha até aqui!"
Alguém bate à porta, fazendo com que eu me mexesse. De alguma forma eu me forcei a atravessar todo o tapete. Eu cautelosamente levantei uma mão e abri a porta. Eles sabiam.
Eles estavam todos de pé lá. Todos os quinze membros do departamento de revestimentos, silenciosos e reprovadores. Fi estava na frente, seus olhos como pedra.
"Isso... não foi coisa minha," Eu balbuciei desesperadamente. "Por favor, escutem, todo mundo. Por favor, compreendam. Não foi minha decisão. Eu tentei... Eu estava indo..." Eu perdi o rumo.
Eu sou a chefe. A questão é, cabia a mim salvar o departamento. E eu falhei.
"Lamento", eu sussurro, lágrimas enchiam meus olhos, observando de um rosto inflexível a outro. "Eu lamento, lamento muito..."
Há um silêncio. Eu acho que poderia derreter sob o ódio dos seus olhares. Então, como se em um sinal, todos eles e viraram
silenciosamente e foram embora. Minhas pernas estavam como geléia, voltei para minha mesa e cai na minha cadeira. Como foi que Byron informou todo mundo? O que ele disse?
E então de repente olhei na minha caixa de entrada. Um e-mail com uma circular sob o título: colegas - algumas más NOTÍCIAS.
Com ansiedade eu cliquei sobre o e-mail, e assim que eu li o conteúdo, eu dei um grito de desespero. Isto saiu? Sob o meu nome?
Para todos os colegas do Departamento de Revestimento,
Como vocês devem ter notado, o desempenho do departamento tem
sido terrivelmente insatisfatório. Foi decidido pela direção
que o departamento deve ser dispensado.
Vocês todos se tornarão redundantes a partir de junho.
Entretanto, Lexi, e eu ficaríamos muito gratos se vocês continuassem a trabalhar com maior eficiência e seguindo as normas. Lembrem-se que estaremos dando suas referências, então nada de relaxar ou negligenciar o trabalho.
Seus,
Byron e Lexi
OK. Agora eu quero atirar em mim mesma.
Quando eu cheguei em casa Eric estava sentado no terraço, ao pôr-do-sol. Ele estava lendo o Evening Standard e bebericando um gim com tônica. Ele tira os olhos do jornal em minha direção. "Teve um bom dia?"
"Para ser honesta... não", eu disse, a minha voz trêmula. "Foi um dia bastante terrível. O departamento inteiro está sendo despedido."
Assim que disse essas palavras em voz alta não pude evitar – me dissolvi em lágrimas. "Todos os meus amigos. Todos vão ficar desempregados. E todos eles me odeiam... e eu não os culpo."
"Querida". Eric abaixa o seu jornal. "Isto são negócios. Estas coisas acontecem."
"Eu sei. Mas estes são os meus amigos. Eu já conhecida Fi desde que eu tinha seis anos."
Eric parecia estar pensando enquanto ele dava um gole sua bebida. Por fim ele dá de ombros e se volta para o jornal. "Como eu disse, essas coisas acontecem."
"Elas não acontecem simplesmente." Eu sacudi minha cabeça com veemência."Você impede que elas aconteçam. Você luta."
"Docinho". Eric parecia se divertir. "Você ainda tem o seu
emprego, não tem?"
"Sim".
"A companhia não está falindo, está?"
"Não."
"Então, pronto. Tome um gim com tônica".
Como ele podia responder desse jeito? Ele é humano?
"Eu não quero gim com tônica, ok?" Eu sinto como se eu estivesse estupidamente fora de controle. "Não quero uma droga de gim com tônica!"
"Um copo de vinho então?"
"Eric, você não entende?" Eu quase gritei. "Você não percebe como isso é terrível?" Toda a minha raiva por Simon Johnson e os diretores estava se virando como um furacão, canalizada para Eric, com o seu terraço calmo e sua taça de cristal Waterford* e sua vida complacente.(*Waterford glass é uma marca registrada de cristais da cidade irlandesa de Waterford)
"Lexi-"
"Essas pessoas precisam de seus empregos! Eles não são... essa droga de ricos ultra-super bilionários!" Eu aponto ao redor de nossa brilhante varanda. "Eles têm hipotecas. Aluguéis pra manter. Casamentos para pagar."
"Você está exagerando", diz Eric brevemente, e vira uma página do seu jornal.
"Bem, você está menosprezando! E eu não entendo. Eu simplesmente não entendo você." Estava apelando diretamente a ele. Querendo que ele olhasse para cima, para explicar o seu ponto de vista, para conversar sobre isso. Mas ele não se mexeu. Era como se ele nem sequer me ouvisse.
Meu corpo inteiro pulsava com frustração. Eu sentia vontade de atirar o seu gim com tônica pela varanda.
"Muito bem", eu digo afinal. "Não vamos falar sobre isso. Vamos apenas fingir que está tudo bem e estamos de acordo, apesar de saber que não concordamos." Eu dei a volta e tomei um grande fôlego.
Jon estava parado bem na porta da varanda. Ele estava vestindo
jeans preto e uma camiseta branca e óculos escuros* (*a palavra original é shades que tem a ver com sombra ou sombreado, mas é uma gíria para óculos de sol, mais descolada que sunglasses), por isso eu não pude ver sua expressão.
"Olá". Ele entra no terraço. "Gianna me deixou entrar. Não estou... invadindo?"
"Não!" Eu me afastei rapidamente para que ele não pudesse ver meu rosto. "Claro que não. Está bem. Tudo está muito bem."
De todas as pessoas para aparecer, tinha que ser ele. Só pra completar ainda mais o eu dia. Pois bem, eu não vou nem sequer olhar para ele. Não vou nem conta de que ele está aqui.
"Lexi está um pouco chateada", diz Eric a Jon em um tom de cumplicidade masculina. "Algumas pessoas em seu trabalho estão prestes a perder os seus empregos."
"Não são só algumas pessoas!" Eu não consigo evitar protestar. "É um departamento inteiro! E eu não fiz nada para salvá-los.
Eu supostamente sou sua chefe e eu fodi tudo." Uma lágrima desce pela minha bochecha e eu a enxuguei com força.
"Jon". Eric não estava nem sequer me ouvindo. "Deixe-me pegar uma bebida pra você. Eu estou com o projeto Bayswater bem aqui. Temos muito o que conversar." Ele se levanta em direção à sala de estar. "Gianna! Gianna, você está aí?"
"Lexi". Jon atravessa o terraço até onde eu estava em pé, sua voz baixa e urgente.
Ele está tentando aquilo de novo. Eu não acredito nisso.
"Deixe-me em paz!" Eu atirei sobre ele. "Você não entendeu a mensagem antes? Não estou interessada! Você é apenas um... um mulherengo mentiroso. E mesmo se eu estivesse interessada, não seria uma boa hora, ok? O meu departamento inteiro acaba de ser reduzido a nada. Portanto, a menos que você tenha uma solução para isso, cai fora."
Há um silêncio. Esperava que Jon viesse com alguma frase feita melodramática, mas em vez disso ele tira seus óculos e pressiona sua cabeça como se estivesse perplexo.
"Eu não entendo. O que aconteceu com o plano?"
"Plano?" Digo agressivamente. "Que plano?"
"Seu grande negócio com os tapetes."
"Que negócio com tapetes?"
Jon mantém os olhos abertos em estado de choque. Por alguns momentos ele só me encara como se eu estivesse de brincadeira. "Você não está falando sério. Você não sabe sobre isso?"
"Saber sobre o quê?" Eu exclamei, chegando ao meu limite.
"Não faço a menor idéia de que porra é essa que você está falando!"
"Jesus Cristo". Jon respirou fundo. "Ok, Lexi. Me ouça. Você tinha esse enorme negócio de tapetes praticamente fechado em segredo. Você disse que isso iria mudar tudo, que iria trazer uma grande verba, que iria transformar o departamento... Então, você aprecia essa vista, hum!" Ele sensitivamente muda de assunto assim que Eric aparece na porta, segurando uma gim com tônica.
Grande negócio de tapetes?

Meu coração estava batendo rápido enquanto eu estava de pé lá, assistindo Eric dar bebida a Jon e puxar uma cadeira embaixo do enorme guarda-sol.
Ignore-o, diz uma voz na minha cabeça. Ele está inventando isso.
Ele está brincando com você - tudo isto faz parte do jogo.
Mas e se não fosse?
"Eric, querido, eu sinto muito sobre antes." Minhas palavras saem quase fluentemente demais. "Foi só um dia difícil. Você poderia
me trazer uma taça de vinho?" eu nem sequer olho para Jon.
"Não tem problema, querida". Eric desaparece dentro de novo e
eu giro de volta.
"Diga-me sobre o que você está falando", eu disse, em tom baixo. "Rapidamente. E é melhor que não seja invenção".
Assim que eu encontrei o seu olhar eu senti uma pontada de humilhação. Não tinha a menor idéia se eu poderia confiar ou não em qualquer coisa que ele dissesse. Mas tinha que ouvir mais. Porque, se houvesse apenas um por cento de chance de que o que ele está dizendo fosse verdade...
"Isto não é invenção. Se eu tivesse percebido antes que você não sabia..." Jon sacode sua cabeça incredulamente. "Você estava trabalhando nisso há semanas. Você tem um arquivo azul enorme que você costumava carregar por aí. Você estava tão animada sobre isso que você não conseguia dormir-"
"Mas o que era isso?"
"Eu não conheço os detalhes exatos. Você foi supersticiosa demais para me dizer. Você tinha essa teoria que eu era um azarado." Sua boca torceu brevemente como se ele estivesse compartilhando uma piada privada.
"Mas eu sei que estava usando alguns designs retrô de tapetes, tirados de algum livro de padrões antigos. E eu sei que iria ser enorme."
"Mas porque é que não sei sobre o assunto? Por que não ninguém sabe nada sobre isso?"

"Você manteve tudo em segredo até o último momento. Você disse que não confiava em ninguém no escritório e era mais seguro não falar." Ele elevou sua voz. "Ei, Eric. Como está indo?"
Eu senti como se levasse um tapa na face. Ele não podia parar ali.
"Aqui está, Lexi," diz Eric alegremente, entregando-me uma taça de vinho. Então ele se dirige para a mesa, se senta, e gesticula para que Jon o acompanhe. "Então é o mais novo, eu falei com o escritório de planejamento novamente... "
Estava perfeitamente em pé parada enquanto eles falavam, minha mente correndo, dilacerada com a incerteza. Poderia ser tudo enrolação. Talvez eu seja uma idiota crédula, ao ouvir uma palavra sequer.
Mas como ele poderia saber sobre o livro de velhos padrões?
E se fosse verdade? Meu peito apertava com um profundo, doloroso
espasmo de esperança. Se ainda houver uma chance, até mesmo uma minúscula chance...
"Você está bem, Lexi?" Eric atirou-me um olhar estranho, e eu percebi que estava plantada de pé no meio do terraço, com minhas mãos
segurando o meu rosto.
"Muito bem". De alguma forma eu me recompus, me retirei para o outro lado do terraço e sentei em uma cadeira de balanço
de aço galvanizado. O sol estava quente no meu rosto. Eu mal tinha consciência do distante barulho do tráfego abaixo. Em cima da mesa, Jon e Eric estavam analisando um desenho do arquiteto.
"Talvez tenhamos de repensar o estacionamento completamente."
Jon estava traçando sobre o papel. "Não é o fim do mundo."
"Ok". Eric suspirou fortemente. "Se você acha que isso pode ser feito,
Jon, eu confio que você".
Tomo um profundo gole de vinho - em seguida puxei o meu telefone. Eu não acredito que estou prestes a fazer isso. Com mãos nervosas tentei encontrar o número de Jon e comecei a teclar uma mensagem.
Será que podemos nos encontrar? L
Eu pressionei Enviar, em seguida imediatamente deslizei meu telefone em minha bolsa e encarei rigidamente a vista da varanda.
Um pouco mais tarde, ainda desenhando e sem olhar para nada perto de mim, Jon leva tira o telefone do seu bolso com
sua outra mão. Ele checa brevemente e tecla de volta. Eric não parecia nem prestar atenção.
Eu me forcei a contar até cinqüenta e então casualmente abri o flip do meu celular.
Claro. J
Capítulo 17

Nós combinamos de nos encontrar em um café chamado Fabian's em
Holland Park, um pequena e aconchegante lugar com paredes pintadas em terracota e fotos de Toscana e prateleiras repletas de livros italianos. Assim que eu entrei e olhei ao redor o bar de granito, a máquina de café, o sofá surrado... Eu tive uma sensação esquisita de já ter estado lá antes.Talvez eu estivesse só tendo um Deja Vu. Talvez fosse um desejo ilusório.
Jon já estava sentado numa mesa de canto, e assim que ele olha para cima eu sinto a minha apreensão aumentar. Contra todos os meus melhores instintos,depois de todos os meus protestos, aqui estou eu, para encontrá-lo ilicitamente. Exatamente como ele queria o tempo todo. Eu senti como se estivesse caindo em uma espécie de armadilha... mas eu não sabia qual era.
Seja como for, estou neste encontro por razões comerciais. Enquanto me lembrar disso, ficarei bem.
"Oi". Me juntei a ele à mesa, onde ele estava bebendo café, e soltei minha bolsa em uma cadeira ao lado.
"Então. Nós dois somos pessoas ocupadas. Vamos falar sobre este negócio."
Jon estava apenas me olhando, como se tentasse pensar em algo para me dizer.
"Existe algo mais que você poderia me contar?" Acrescento, tentando
ignorar sua expressão. "Eu acho que vou tomar um cappuccino".
"Lexi, o que é isso? E que porra foi aquela que aconteceu na festa?"
"Eu... Não sei do que você está falando." Eu peguei o menu e fingi estar escolhendo. "Talvez eu peça um latte".(café expresso com leite)
"Qual é". Jon puxou o menu pra baixo para que ele pudesse ver o meu rosto. "Você não se pode esconder. Que aconteceu?"
Ele acha que isso é engraçado. Posso afirmar pelo seu tom de voz.
Com um brilho de orgulho ferido, eu bati com menu na mesa."Se você insiste em saber," eu digo firmemente ", eu conversei com Rosalie na festa, e ela me contou sobre as suas... preferências. Eu sei que foi tudo conversa fiada. E eu não gosto de ser enganada, obrigada."
"Lexi-"
"Não tente fingir, ok? Eu sei que você deu em cima dela e da Margo. "Tinha uma ponta de amargura estranha em minha voz. "Você é só um bom manipulador que diz a mulheres casadas o que elas querem ouvir. O que você pensa que elas querem ouvir."
A expressão de Jon não tremeu.
"Eu dei mesmo em cima de Rosalie e Margo. E talvez eu possa ter ido" -ele hesita- “um tanto longe demais. Mas você e eu concordamos que eu deveria. Esse era nosso disfarce."
Pois bem, é claro que ele iria dar uma droga de desculpa como essa.
Eu olhava para ele com uma fúria impotente. Ele poderia dizer qualquer coisa que ele quisesse, e não existia nenhuma maneira de eu saber se ele estava falando a verdade ou não.
"Você tem que entender." Ele se inclina sobre a mesa. "Isso foi tudo armação. Nós criamos uma história que enganaria qualquer um, pois se alguma vez alguém nos visse juntos, isso poderia ser uma explicação. Rosalie caiu nela, tal como nós queríamos."
"Você queria ser retratado como um mulherengo?" Eu repliquei,rolando meus olhos.
"Claro que não!" Havia um súbito calor em sua voz. "Mas tivemos próximos de ser pegos... umas duas vezes. Rosalie, em particular -
ela é afiada. Ela teria percebido".
"Então você passou um papo nela." Eu não pude evitar o sarcasmo. "Legal. Realmente muito elegante".
Jon sustenta o meu olhar firmemente. "Você tem razão. Isso não tem sido tudo lindo. Não é uma situação perfeita e nós cometemos erros." Ele chega uma mão em direção a minha. "Mas você tem que confiar em mim, Lexi. Por favor. Você tem que me deixar explicar tudo."
"Pare!" Eu puxei minhas mãos pra longe. "Só... pare! Não estamos aqui para falar sobre isso, até porque, é irrelevante. Vamos nos ater ao que interessa." Uma garçonete abordou a mesa, e eu olhei para cima. "Um cappuccino, por favor." Logo que a garçonete se afasta, eu disse bruscamente, "Então, sobre este negócio. Isso não existe. Eu já procurei em toda a parte. Fui para o escritório e pesquisei cada pequena pasta, cada arquivo do computador. Eu olhei pela casa,
nada. A única coisa que eu encontrei foi isso." Eu avancei para a bolsa e tirei um pedaço de papel com os rabiscos codificados nele. "Isto estava em uma gaveta vazia na minha mesa. Só isso dentro."
Eu meio que esperava que Jon fosse acender os olhos, e dissesse,
"Aha! Esta é a chave do segredo!" tipo como no livro O Código Da Vinci. Ao invés disso ele apenas olha e dá de ombros. "Essa é sua letra."
"Sei que é minha letra." Tento manter a minha paciência. "Mas eu não sei o que isso significa!" Frustrada eu deixo o papel de lado. "Porque na terra eu não guardei minhas anotações no computador?"
"Tem um cara no trabalho, Byron?"
"Sim", eu disse cuidadosamente. "Que tem ele?"
"Você não confia nele. Você achava que ele realmente queria que
o departamento fosse dissolvido. Você achava que ele tentava estragar as coisas para você. Então você só iria apresentar tudo para o conselho da diretoria, quando tudo já estivesse pronto."
A porta para o café oscila ao abrir, e eu dou um salto de culpa,
imaginando que seria Eric. Eu já até tinha uma desculpa na ponta da
minha língua, do tipo eu estava fazendo compras e adivinhe quem eu encontrei: Jon! Por total coincidência! Mas é claro que não era
Eric, e sim um grupo de adolescentes que começava a falar em Francês.
"Então você não sabe de mais nada." A minha culpa me faz usar um
tom agressivo, quase acusador. "Você não pode me ajudar."
"Eu não disse isso," Jon responde com calma. "Eu estive pensando
de volta, e isso me fez lembrar uma coisa. Seu contato era
Jeremy Northam. Northwick. Algo parecido."
"Jeremy Northpool?" O nome aparece em minha cabeça. Eu
podia lembrar que Clare me entregou um post-it com esse nome
sobre ele. Junto com os outros trinta e cinco post-its.
"Sim". Jon assente. "Poderia ser isso. Northpool".
"Eu acho que ele ligou, enquanto eu estava no hospital. Várias vezes."
"Bem". Jon aumenta suas sobrancelhas. "Talvez você deva ligar pra
ele de volta."
"Mas eu não posso." Eu solto minhas mãos sobre a mesa em desespero. "Eu não posso dizer: "Olá, aqui é Lexi Smart, temos um acordo, e a propósito, qual é o seu negócio?" Não sei o suficiente!Onde está toda a informação? "
"Está por aí." Jon está agitando o seu café. "Está em algum lugar.
Você deve ter transferido o arquivo. Escondido em algum lugar,
ou colocou-o sob a guarda de alguém... "
"Mas onde?"
A garçonete chegou e colocou um cappuccino diante de mim. Eu peguei o pequeno biscoito de brinde e distraidamente comecei a desembrulhá-lo. Onde eu iria colocar um arquivo? Onde eu iria escondê-lo? O que eu estaria pensando?
"Lembro-me de outra coisa." Jon suga seu copo e pede outro a garçonete. "Você foi até Kent. Você foi para a casa da sua mãe."
"Sério?" Eu olho para cima. "Quando?"
"Pouco antes do acidente. Talvez você tenha levado para lá."
"Para a casa da minha mãe?" Digo ceticamente.
"Vale a pena tentar." Ele deu de ombros. "Ligue pra ela e pergunte."
Eu agitei o meu cappuccino temperamentalmente enquanto a garçonete trazia um outro café para Jon. Não queria ligar para mamãe. Ligar pra ela faz mal a minha saúde.
"Vamos lá, Lexi, você pode fazer isso." Jon torce a boca se divertindo com a minha expressão. "O que você é, uma mulher ou morsa? "
Eu levantei minha cabeça, atordoada. Fiquei imaginando por um momento se eu tinha ouvido direito.
"Isso é o que fi diz," Eu digo afinal.
"Eu sei. Você me contou sobre Fi".
"O que é que eu lhe disse sobre Fi?" Digo suspeita.
Jon saboreia o café. "Você me contou que se conheceram na classe da Sra. Brady. Você fumou seu primeiro e último cigarro com ela.
Vocês foram para Ibiza juntas três vezes. Perder sua amizade tem sido realmente traumático. " Ele acena para meu telefone, que estava fora da minha bolsa. "Por mais esse motivo é que você deve fazer a ligação".
Isto é tão assustador. Que diabos então que ele sabe mais?
Direcionando a ele olhares desconfiados, peguei o telefone e disquei o número da mamãe.
"Lexi, eu não sou mágico." Jon parecia ainda mais como se quisesse sorrir. "Tivemos um relacionamento. Nós conversávamos."
"Alô?" A voz da minha mãe na linha me distancia de Jon.
"Ah, mãe! Sou eu, Lexi. Escute, eu levei alguns papéis para aí em algum momento recentemente? Ou tipo... uma pasta?"
"Aquela grande pasta azul?"
Senti um impulso poderoso com incredulidade. Era verdade. Ela existia. Eu pude sentir a emoção crescendo dentro de mim. E a esperança.
"É isso mesmo." Eu tento ficar calma. "Você está com ela? Ainda está aí?"
"Está no seu quarto, exatamente onde você a deixou." A mamãe soou defensiva. "Um canto pode estar ligeiramente úmido..."
Eu não acredito nisso. Um cachorro fez xixi nela.
"Mas ela ainda está bem?" Digo ansiosamente. "Ainda está legível?"
"Claro!"
"Ótimo!" Eu segurei o telefone mais apertado. "Pois bem, só mantenha ela aí, mamãe. Mantenha-a segura que eu vou até aí pegá-la hoje." Eu desliguei o telefone e me voltei para Jon. "Você tinha razão! Está por lá. Ok, eu tenho que ir para lá imediatamente. Tenho de chegar a Estação Victoria – deve sair um trem nas próxima hora..."
"Lexi, acalme-se". Jon toma seu café. "Eu vou te levo, se você quiser."
"O que?"
"Eu não estou ocupado hoje. Mas vai ter que ser no seu carro, no entanto. Eu não tenho um."
"Você não tem um carro?" Digo sem acreditar.
"Estou dando um tempo de carros no momento." Ele levanta os ombros. "Eu uso a minha bicicleta ou táxis. Mas eu sei como dirigir uma elegante Mercedes conversível." Novamente ele olha como se estivesse compartilhando uma piada privada com alguém.
Comigo, de repente ela me dei conta. Com a garota que eu costumava ser. Abro minha boca para falar - mas eu estava muito confusa. Minha cabeça estava cheia de pensamentos.
"Certo", eu digo afinal. "Certo. Obrigado."
• • •




Nós tínhamos a nossa história totalmente desenvolvida. Pelo menos eu tinha. Se alguém perguntasse, Jon estava me dando uma aula de direção. Ele simplesmente estava fazendo uma visita quando eu estava entrando no carro, e ele se ofereceu para me ensinar.
Mas ninguém iria perguntar.
Era um dia ensolarado, e enquanto Jon retirava o carro da sua vaga de estacionamento, ele abaixa a capota. Então ele enfia a mão no seu bolso e me entrega um elástico preto de cabelo. "Você vai precisar disso. Por causa do vento."
Pego o elástico de cabelo surpresa. "Como é que você tinha isso no seu bolso?"
"Tenho-os por toda parte. Eles são todos seus." Ele rola seu
olhos, sinalizando à esquerda. "Eu não sei o que fazer, jogá-los fora?"
Silenciosamente, eu ponho o meu cabelo pra cima num rabo de cavalo antes que começasse a ventania. Jon pega a estrada e entra no primeiro cruzamento. "Fica em Kent," Eu disse assim que paramos no sinal.
"Você tem que sair de Londres sobre o-"
"Eu sei onde fica."
"Você sabe onde é a casa da minha mãe?" Digo com incredulidade.
"Eu já estive lá."

As luzes ficaram verdes e nós seguimos em frente. Eu olhava pra fora, para as luxuosas casas brancas pelas quais estávamos passando, mal percebendo-as. Ele já esteve na casa da minha mãe. Ele sabe sobre Fi. Ele tem o meu elástico de cabelo no seu bolso. Ele tinha razão quanto à pasta azul. Ou ele realmente fez uma investigação de verdade ou..."
“Então... hipoteticamente," Eu digo por fim. "Se tivéssemos sido amantes... "
"Hipoteticamente". Jon assente sem virar a cabeça.
"O que exatamente aconteceu? Como é que nós..."
"Como eu te falei, no conhecemos numa festa de lançamento. Nós continuamos nos esbarrando pela empresa. Eu freqüentava a sua casa cada vez mais e mais. Eu sempre chegava cedo, enquanto Eric ainda estava enrolado. Nós conversávamos, ficávamos no terraço, era totalmente inocente." Ele pausou, negociando uma delicada mudança de pista. "Então Eric viajou um fim de semana. E eu apareci. E depois disso... não foi mais tão inocente."
Eu estava começando a acreditar. Era como se o mundo estivesse deslizando – uma tela estava voltando. As cores se tornaram nítidas e
claras.
"Então, o que mais aconteceu?" Eu digo.
"Nós vimos um ao outro com a maior freqüência possível."


"Eu sei disso." Eu procurava em torno. "Quer dizer... como é que era? O que nós dizíamos, o que fazíamos? Só me conte... coisas".
"Você me faz rir". Jon balança sua cabeça, seus olhos eufóricos
em diversão. "Isso é o que você sempre me dizia na cama. "Diga-me coisas".
"Eu gosto de ouvir coisas." Levantei os ombros defensivamente. "Qualquer coisa antiga".
"Eu sei que você gosta. Okay. Qualquer coisa antiga." Ele dirige silenciosamente por um tempo e eu pude ver um sorriso empurrando sua boca enquanto ele pensava. "Todo lugar onde estávamos juntos, nós acabávamos comprando meias pra você. A mesma coisa toda vez, você largava seus sapatos para ficar descalça sobre a areia ou a grama, ou qualquer coisa assim, e então você ficava com frio e nós precisávamos encontrar meias pra você." Ele pára numa faixa de pedestre. "O que mais? Você me fez gostar de colocar mostarda em batatas fritas."
"Mostarda francesa?"
"Exatamente. Quando eu vi você fazendo primeiro, pensei que era uma perversão má. Agora eu sou viciado." Ele para longe da
travessia e vira para uma grande via dupla de alta velocidade. O carro estava acelerado; era mais difícil ouvi-lo com o ruído do tráfego. "Um final de semana que choveu. Eric estava fora jogando golfe e nós assistimos todos os episódios de Doctor Who, do começo ao fim." Ele olhava para mim. "Eu devo continuar?"
Tudo o que ele estava dizendo soava certo. O meu cérebro estava tentando sintonizar. Não me lembro do que ele estava falando, mas estava sentindo emoções de reconhecimento. Eu sentia que era eu. Sentia que essa era minha vida.
"Continue." assenti.
"Certo... Então, nós jogávamos tênis de mesa. Era muito brutal.
Você está há dois jogos na minha frente, mas acho que você está prestes a cair."
"Ah, eu não vou cair mesmo," Eu repliquei automaticamente.
"Ah, você vai."
"Nunca!" Não pude deixar de sorrir.
"Você conheceu minha mãe. Ela instantaneamente adivinhou. Ela me conhece bem demais para que eu consiga enganá-la. Mas isso não tem problema. Ela é legal, ela nunca iria dizer nada." Jon pasa para outra faixa." Você sempre dorme do lado esquerdo. Nós dormimos juntos cinco noites inteiras apenas, em oito meses." Ele ficou silencioso por um momento. "Eric ficou com as outras duzentos e trinta e cinco."
Não soube como responder a isso. O olhar de Jon estava centrado à frente; seu rosto estava intenso. "Eu devo continuar?" ele diz por
último.
"Yeah". Eu limpei a minha garganta que estava rouca. "Mantenha o curso."
• • •
Assim que nós entramos no município de Kent, Jon esgotou
todos os detalhes que ele pode me dar sobre a nossa relação.
Era óbvio que eu não podia fornecer nenhum dos meus próprios, de modo que ficamos sentados em silêncio enquanto os campos de lúpulo* e as casas com fornos usados para secá-los, passavam por nós. *(pra quem ao sabe, lúpulo é um dos ingredientes da cerveja)
Não que eu esteja prestando atenção nelas. Eu cresci em Kent, então eu nem mesmo noto a pitoresca paisagem do tipo jardim-da-Inglaterra.
Em vez disso ficava assistindo a tela do GPS em transe; seguindo as setas com meu olhar.
De repente isso me lembra da minha conversa com o perdedor Dave, e eu dou um suspiro.
"Que foi?" Jon olha pra mim.
"Oh, nada. Eu ainda estava me perguntando, como foi que eu cheguei onde estou? O que me fez correr atrás da minha carreira, arrumar os meus dentes, me transformar em... outra pessoa?" gesticulo mostrando a mim mesma.
"Bem," disse Jon, estreitando o olhar para um sinal. "Eu suponho que
começou com o que aconteceu durante o funeral."
"O que você quer dizer?"
"Você sabe. A coisa com seu pai."
"Que coisa com o meu pai?" Digo, perplexa. "Não sei sobre o que você está falando."
Com uma freiada brusca, Jon pára a Mercedes bem perto de um campo cheio de vacas, e se vira para me encarar. "Sua mãe não te contou sobre o funeral?"
"Claro que ela contou!" Eu disse. "Que aconteceu. Que meu pai foi...
cremado ou algo assim."
"Só isso?"
Eu rastreio meu cérebro. Tenho certeza mamãe não disse mais nada
sobre o funeral. Ela mudou o assunto quando comecei a perguntar, de repente me lembro. Mas, quero dizer, isso é normal para a mamãe.
Ela muda sempre quando o tema a desagrada.
Balançando a cabeça em descrença, Jon coloca o carro de volta em marcha. "Isso é irreal. Você sabe alguma coisa sobre sua vida?"
"Aparentemente não", eu disse, um pouco rapidamente. "Bom, diga-me! Se isso é tão importante."
"Uh-uh". Jon nega com sua cabeça enquanto o carro se move novamente.
"Não é minha tarefa. Sua mãe tem que te contar essa." Ele sai da estrada e pára em um trecho de cascalho. "Chegamos".
Então, estamos aqui. Eu ainda não tinha nem notado. A casa parecia muito com o que eu me lembrava: uma casa de tijolos vermelhos datada dos anos 1900, com uma estufa ao lado, onde a mamãe estacionava o Volvo velho em frente. A verdade é, o local não mudou nada desde que nós nos mudamos pra cá há vinte anos atrás, só estava mais acabado. A calha estava pendurada fora do telhado e a hera cresceu ainda mais longe subindo as paredes. Sob uma lona embolorada, ao lado do trajeto da entrada tinha uma pilha de pedras que papai deixou lá uma vez. Ele disse que iria vendê-las e iniciar um negócio, penso eu. Isso foi... há oito anos atrás? Dez?
Através do portão, podia apenas vislumbrar o jardim, que costumava ser muito bonito, com cama de flores* crescidas e umas ervas medicinais. Isso foi antes dos cachorros. (*no original é flower beds que são aqueles montinhos de flores coloridas bem unidas que parece uma cama ou pequenos muros)
"Então... você está dizendo que a mamãe mentiu para mim?"
Jon sacode sua cabeça. "Não mentiu. Editou". Ele abre a porta do carro. "Vamos lá".
• • •
A coisa sobre cães de corrida é que eles parecem bastante leves, mas
quando ficam sobre suas patas traseiras, eles são enormes. E quando
cerca de dez deles tentam saltar sobre você de uma só vez, é como estar sendo assaltado.
"Ophelia! Rafael!" só consigo ouvir a voz da mamãe
sobre os arranhões e latidos. "Desçam! Lexi, querida!
Você realmente veio depressa até aqui. O que é tudo isso?" Ela estava usando uma saia de veludo cotelê e camisa azul listrada com bainhas desfiadas nas mangas, e ela estava segurando um antigo pano de prato "Charles e Diana".
"Oi, mãe", eu disse sem fôlego, tirando à força um cão de cima de mim. "Este é Jon. Meu... amigo". Eu aponto em direção a Jon, que estava olhando um cão de corrida direto em seus olhos, dizendo: "Ponha suas
patas no chão. Afaste-se dos humanos."
"Pois bem!" A mamãe parecia atrapalhada. "Se eu soubesse, eu
teria preparado alguma coisa rápida para o almoço. Como você espera que eu providencie comida assim em cima da hora- "
"Mamãe, não esperamos que você providencie comida. Tudo o que eu quero é aquela pasta. Será que ainda existe?"
"Claro." Ela soa defensiva. "Está perfeitamente bem."
Eu me apresso sobre as escadas rangendo coberta com um tapete verde e entro no meu quarto, que ainda tinha o papel de parede floral Laura Ashley* que ele sempre teve. (*marca de acessórios de decoração famosa na Inglaterra)
Amy estava certa - este lugar fede. Eu não consigo dizer se é por causa dos cães ou a umidade ou a podridão... mas deve ser tudo isso combinado. Eu localizei a pasta em cima de uma cômoda e a peguei - então recuei.
Agora eu sei porque minha mãe estava na defensiva. Isto é tão repulsivo. Totalmente cheira a xixi de cachorro.
Enrugando meu nariz, eu cuidadosamente estendi dois dedos e abri a pasta.
Lá estava a minha letra. Linhas e linhas dela, claro como o dia.
Como se fosse uma mensagem de mim para. . . mim. Eu percorri a primeira página, na tentativa de colher formações o mais rápido possível, aquilo que eu estava fazendo, aquilo que eu tinha planejado, sobre o que era eu pude ver pois eu tinha escrito algum tipo de proposta, mas do que exatamente? Virei a página, a minha sobrancelha encolhida em atordoamento e, em seguida, virei outra página. E foi aí que eu vi o nome.
Ah. Meu Deus.
Em um instante, eu entendi. Eu tinha toda a imagem. Eu
levantei minha cabeça, meu coração batia forte com empolgação. Essa era uma baita boa ideia. Quer dizer, era uma puta boa ideia. Eu já podia ver o potencial. Isso poderia ser imenso, isso poderia mudar tudo.
Cheia de adrenalina, eu peguei a pasta, sem me importar com o cheiro dela, e corri para fora do quarto, descendo as escadas em dois degraus de uma só vez.
"Pegou?" Jon estava esperando na parte de baixo da escada.
"Sim!" Um sorriso derretia em meu rosto. "É brilhante! É uma idéia
brilhante!"
"A idéia foi a sua."
"Sério?" Eu sinto um brilho de orgulho, que eu tento dominar.
"Você sabe, isto é o que precisávamos todo esse tempo. Isso é o que
que deveria estar sendo feito. Se isto der resultado, eles não podem
desistir dos carpetes. Eles seriam loucos".
Um cão salta em mim e tenta mastigar o meu cabelo, mas mesmo isso não consegue afundar meu humor. Não posso acreditar que eu montei esse acordo. Eu, Lexi! Eu mal posso esperar para dizer a todos -
"Agora!" A mamãe se aproxima segurando uma bandeja com xícaras de café. "Eu posso, pelo menos, oferecer-lhes uma xícara de café e biscoitos."
"De verdade, mãe, não tem problema", eu disse. "Eu receio que nós tenhamos que sair com pressa. "
"Eu gostaria de um café", diz Jon agradavelmente.
Ele o quê? Atirando adagas nele com os olhos, eu o segui até a sala de estar e nos sentamos em um sofá desbotado. Jon se senta como se ele se sentisse totalmente em casa. Talvez ele sentisse mesmo.
"Então, Lexi estava exatamente falando sobre juntar os fatos sobre sua vida," diz ele, mastigando um biscoito. "E eu pensei, talvez sabendo tudo o que aconteceu a ela no funeral do pai iria ajudar."
"Bem, é claro, perder um dos pais é sempre traumático..." A mamãe estava centrada em quebrar um biscoito em dois. "Aqui está, Ophelia." Ela dá a metade a um dos cães.
"Não é sobre isso que estou falando," disse Jon. "Estou me referindo
aos outros eventos."

"Outros eventos?" A mamãe fica com o olhar vago. "Agora, Rafael,
que travesso! Café, Lexi?"
Os cães estavam por todo o prato de biscoito, babando e agarrando. Nós deveríamos comer aquilo agora?
"Lexi não parece ter uma imagem completa", Jon persiste.
"Smoky, não é a sua vez..."
"Pare de falar com a droga desses cães!" A voz de Jon me faz pular do assento.
A mamãe olha quase chocada demais para falar. Ou até mesmo se mover.
"Esta é a sua filha." Jon aponta pra mim. "Não isso." Ele
empurra um polegar em um cão e se levanta do sofá em um movimento brusco. Tanto minha mãe quanto eu olhavamos para ele, paralizadas, enquanto ele caminhava para a lareira, desordenando seu cabelo, ignorando os cães se aglomerando em torno dele. "Agora, eu me preocupo com sua filha. Ela não pode não se dar conta, mas é verdade." Ele se concentra diretamente em minha mãe. "Talvez você queira passar a vida em estado de negação. Talvez isso ajude você. Mas isso não ajuda Lexi".
"Do que você está falando?" Eu digo desamparada. "Mãe,o que aconteceu durante o funeral?"

As mãos da mamãe vibravam ao redor do seu rosto, como se isso a
protegesse. "Foi bastante desagradável...".
"A vida pode ser desagradável," disse Jon sem rodeios. "É mais desagradável ainda se você não sabe sobre o assunto. E se você não contar para Lexi, eu vou. Porque ela me disse tudo, você pode ver." Ele mastiga o seu último biscoito.
"Tudo bem! O que aconteceu foi..." A voz da mamãe sai em um sussurro.
"O que?"
"Os oficiais de justiça chegaram!" Suas bochechas estão ficando rosa com a angústia. "Mesmo no meio do enterro."
"Oficiais de justiça? Mas..."
"Eles vieram sem nenhum aviso. Cinco deles." Ela estava encarando
sempre em frente, acariciando o cão em seu colo com um movimento
repetitivo obsessivo. "Eles queriam o retomar a posse da casa. Levar todos os móveis, tudo. Veio à tona que o seu pai não tinha sido... totalmente honesto comigo. Ou com ninguém."

"Mostre o seu segundo DVD", diz Jon. "Não me diga que você não sabe onde está."
Há uma pausa e, em seguida, sem olhar para qualquer um de nós,
a mamãe se levanta, fuça em uma gaveta, e encontra um branco, brilhante disco. Ela coloca-o na máquina e nós três nos sentamos d volta.
"Queridas". Papai estava na tela de novo, na mesma sala como no outro DVD, vestindo a mesma bata de plush. O mesmo encantador brilho nos olhos enquanto enfrenta a câmera. "Se vocês estiverem assistindo isso, eu já devo ter apagado. E há uma coisa que vocês deveriam saber. Mas esta não é uma de... consumo público, digamos assim." Ele deu um profundo trago em seu charuto, franzindo o cenho arrependido. "Teve uma pequena catástrofe com a velha declaração da grana. Não significa a propriedade em si. Vocês garotas são espertas – vocês vão encontrar uma maneira de sair dessa." Ele considera um momento. "Mas se vocês ficarem de mãos atadas, peçam ao velho Dickie Hawford. Ele
deverá ser bom por pouco tempo. Saúde, minhas queridas." Ele levantou seu copo - então a tela fica escura. Eu dava voltas em torno de minha mãe. "O que ele quis dizer, 'catástrofe'?"
"Ele quis dizer que rehipotecou toda a casa." A voz dela estava tremendo. "Essa foi a sua verdadeira mensagem. Esse DVD só chegou uma semana depois do funeral. Mas já era tarde demais! Os oficiais de justiça já tinham vindo! O que nos poderíamos fazer?" Ela acariciava o cachorro mais e mais fortemente, até que, com um súbito latido, ele escapou de seu alcance.
"Então... o que nós fizemos?"
"Nós seríamos obrigadas a vender. Mudar para outro local.
Amy teria sido retirada da escola... " as mãos dela vibravam em torno de seu rosto novamente. "Então, meu irmão muito gentilmente interveio. E também minha irmã. E... e você também. Você disse que iria pagar a hipoteca. Tanto quanto você pudesse arcar."
"Eu?"
Eu afundei de novo no sofá, minha mente revirava com o choque, tentando imaginar tudo isso. Eu concordei em pagar as dívidas do Papai.
"Trata-se de uma hipoteca no exterior?" Digo de repente. "De um Banco chamado Uni... alguma coisa?"
Ela acenou com a cabeça. "A maioria das transações do seu pai eram fora do país. Na tentativa de evitar os impostos fiscais. Não sei por que ele não poderia apenas ser honesto - "
"Vindo de você, a mulher que manteve sua filha no escuro!"
censurou Jon. "Como você pode nem mesmo contar isso?"
Eu não pude deixar de acompanhar sua irritação.
"Mãe, você sabia que eu não podia recordar o funeral. Você
não me contou nada disso. Você não pode ver como isso poderia ter... tornado as coisas mais claras para mim? Eu não tinha idéia pra onde esse dinheiro estava indo."
"Tem sido muito difícil!" os olhos dela estavam girando de um lado a outro. "Eu tenho tentado manter isso em segredo pelo bem de Amy".
"Mas-" Eu parei assim que outra coisa ainda mais obscura me ocorreu. "Mãe... Eu tenho uma outra pergunta. O Papai já esteve na prisão?"
A mamãe se contrai como se eu pisasse em seu dedo do pé.
"Brevemente, querida. Há muito tempo atrás... Foi um mal-entendido.
Não vamos insistir nisso. Eu vou fazer mais um café."
"Não!" Frustrada eu levanto de uma vez e fico bem de frente a ela, determinada a obter sua atenção completa.
"Mãe, ouça! Você não pode apenas viver em uma bolha, fingindo
não aconteceu nada. Amy está certa! Você tem que sair disto... desta distorção do tempo que você vive."
"Lexi!" A mamãe diz abruptamente, mas eu a ignoro.
"Amy ouviu falar que o papai esteve na prisão. Ela acha que isso é o máximo. Não admira que ela tem se metido em tantos problemas.Jesus!" De repente as peças da minha vida estão se encaixando como num quebra-cabeças. "Foi por isso que de repente eu fiquei tão ambiciosa. Foi por isso que eu fiquei tão obcecada com trabalho. Esse funeral mudou tudo."
"Você me contou o que aconteceu," disse Jon. "Quando os oficiais de justiça chegaram, ela se recolheu." Ele olhou com desprezo para a mamãe. "Você teve que mantê-los fora, Lexi; você teve que tomar as decisões. Você tomou tudo para si mesma."
"Pare de olhar para mim como se tudo fosse minha culpa!" A mamãe
de repente grita, sua voz estridente e tremida. "Pare de amontoar toda culpa em mim! Você não tem nenhuma idéia sobre a minha vida, nenhuma! Seu pai, aquele homem-"
Ela se desconecta, as palavras pairam no ar, e eu seguro minha respiração enquanto seus olhos azuis encontram os meus. Pela primeira vez que me lembro, minha mãe soava... VERDADEIRA.
A sala estava totalmente quieta. Eu quase não ousava falar.
"O que você ia dizer sobre o papai?" Meu baixo tom sussurrante ainda parecia muito alto. "Mãe, me conte."
Mas é tarde demais.O momento já tinha passado. Os olhos dela mudavam de um lado a outro, evitando-me. Com um súbito sofrimento eu a vi como se fosse pela primeira vez: seus cabelos de menina com sua tiara, suas mãos enrugadas, a aliança do papai ainda em seu dedo.
Mesmo enquanto eu olhava, ela se abaixa para a cabeça do cachorro e começa a dar tapinhas nele.
"Está quase na hora do almoço, Agnes!" Sua voz é brilhante e
delicada. "Vamos ver o que podemos encontrar pra você -"
"Mamãe, por favor." Tomo um passo a frente. "Você não pode parar
aí. O que você ia dizer?"
Não sei exatamente o que eu estava esperando - mas assim que ela levantou os olhos eu pude ver que não iria conseguir tirar dela. Seu rosto estava opaco novamente, como se nada tivesse acontecido.
"Eu simplesmente ia dizer"- ela já estava readquirindo seu velho
martirizado espírito - "que, antes de começar a culpar-me por tudo em sua vida, Lexi, aquele cara tinha muito o que responder. Aquele seu namorado na época do funeral. Dave? David? Era a ele que você deveria estar acusando."
"Perdedor Dave?" olhei para ela, impressionada. "Mas... perdedor Dave não foi ao funeral. Ele me disse que se ofereceu para vir mas eu o dispensei. Ele disse... " Eu diminui assim que vi Jon apenas agitando sua cabeça, levantando os olhos para o céu.
"O que mais ele te disse que ele fez?"
"Ele disse que nós rompemos naquela manhã, e que foi muito bonito,
e que ele me deu uma rosa... "Oh Deus. O que eu estava pensando, em acreditar em pelo menos metade disso? "Com licença."
Eu caminho para fora do alcance, alimentada com a frustração com a mamãe, pelo papai, e comigo mesma por ser tão crédula. Sacando meu telefone celular do meu bolso, eu disco diretamente para o escritório do perdedor Dave.
"Auto Repair Workshop," ele atende com sua voz tipo-profissional. "Dave Lewis a seu serviço."
"Perdedor Dave, sou eu", eu disse, a minha voz de aço. "Lexi. Eu preciso ouvir sobre nosso rompimento novamente. E, desta vez eu preciso ouvir a verdade."
"Baby, eu lhe disse a verdade." Ele soa extremamente confiante.
"Você vai ter que confiar em mim nisto."
Eu queria espancá-lo.
"Escute aqui seu idiota fod...", eu disse num tom lento e furioso. "Estou no consultório do neurologista neste momento, ok? Ele disse que alguém andou me dando informações erradas e é isso que está bagunçando as minhas vias neurológicas da memória. E se isso não for corrigido,eu vou ter danos cerebrais permanentes".
"Jesus". Ele soa abalado. "De verdade?"
Ele é realmente ainda mais estúpido que os cachorros da mamãe.
"Yeah. O especialista está comigo aqui neste momento, tentando corrigir meu circuito de memória. Então, talvez você queira tentar novamente com a verdade? Ou talvez você gostaria de falar com o médico?"
"Não! Ok!" Ele parece totalmente intimido. Posso apenas imaginar ele respirando forte, correndo um dedo em torno de seu colarinho.
"Talvez não tenha acontecido exatamente como eu lhe disse. Eu estava tentando te proteger."
"Me proteger de quê? Você foi para o funeral?"
"Sim, eu fui junto", diz ele depois de uma pausa. "Eu estava ntregando
canapés. Sendo útil. Dando-lhe apoio."
"E então o que foi que aconteceu?"
"Então eu..." Ele limpou sua garganta.
"O que?"
"Transei com uma das garçonetes. Foi o stress emocional!" acrescenta defensivamente. "Isso faz com que façamos todo tipo de coisas malucas. Eu pensava que a porta estivesse trancada-"

"Eu entrei e peguei você?" Digo incrédula.
"Yeah. Nós não estávamos nus ou qualquer coisa assim. Bem, obviamente, só um pouquinho -"
"Pare!" Eu empurrei o telefone pra longe de mim.
Preciso de alguns momentos para absorver tudo isto. Respirando com dificuldade, eu digeri isso embaraçada, me sentei ao lado do jardim, e olhei para o campo de ovinos do lado oposto, ignorando o "Lexi! Lexi!" que vinha do telefone.
Eu peguei perdedor Dave me traindo. Bem, é claro que peguei. Eu nem sequer estou surpresa.
Por fim eu levantei o telefone de volta para a minha orelha. "Então, como eu reagi? E não me diga que me deu uma rosa e foi lindo."
"Bem". Perdedor Dave respira fundo. "Para ser honesto, você foi bem enérgica. Você começou a gritar sobre sua vida. Que tudo tinha que mudar, que era tudo uma merda, que você me odiava, você
odiava tudo que eu dizia a você, Lexi, foi muito extremo. Eu
tentei acalmar você, dar-lhe um sanduíche de camarão. Mas
você não estava interessada. Você foi violenta".

"Então o quê?"
"Então eu não te vi novamente. Da próxima vez eu que bati os olhos em você, você estava na televisão, parecendo totalmente diferente."
"Certo". Eu assisto dois pássaros circulando no céu. "Você sabe, poderia ter me dito a verdade na primeira vez."
"Eu sei. Lamento."
"Yeah, certo."
"Não, eu sinto mesmo." Ele soa tão verdadeiro como eu nunca ouvi antes.
"E eu sinto muito ter transado com aquela menina. E eu sinto muito por aquilo que ela chamou você, aquilo foi bem fora de hora."
Eu sentei, subitamente alerta. "Do que ela me chamou?"
"Ah. Você não lembra", diz ele precipitadamente. "Er... nada. Não me lembro mais também."
"Do que foi?" eu levantei, apertando o telefone mais ainda. "Diga-me do que ela me chamou! Perdedor Dave!"
"Eu tenho que ir. Boa sorte com o médico." Ele desligou. Eu
imediatamente redisquei o seu número, mas ele estava ocupado. Seu porcariazinha.
Eu avanço para casa e encontrei Jon ainda sentado no sofá, lendo um exemplar de Whippet World.
"Oi!" Seu rosto se acendeu. "Como é que foi?"
"Do que foi que a garçonete me chamou durante o funeral?"
Jon pareceu evasivo pela primeira vez. "Eu não sei o que você quer dizer. Ei, você já leu alguma vez a Whippet World?" Ele mostrou a revista. "Porque é surpreendentemente boa-"
"Você sabe sim o que quero dizer." Me sentei ao lado dele e puxei o seu queixo de modo que ele tivesse que olhar para mim. "Eu sei que disse a você. Diga-me."
Jon suspirou. "Lexi, é um pequeno detalhe. Porque é que isso importa?"
"Porque... sim. Olhe, Jon, você não pode minha dar uma palestra a minha mãe sobre negação e, depois, não me contar algo que
aconteceu na minha própria vida, que eu tenho direito de saber. Conte-me do que a garçonete me chamou. Agora." Eu encaro ele.
"Tudo bem!" Jon levanta suas mãos se rendendo. "Se você tem que saber, ela te chamou de ... Drácula".
Drácula? A despeito de mim mesma - apesar do fato de que eu saber que meus dentes não são mais tortos - Eu pude sentir minhas bochechas coradas com indignação.
"Lexi-" Jon fez uma cara de dor enquanto avançava para segurar minha mão.
"Não." Eu afastei ele. "Eu estou bem."
Meu rosto ainda quente, eu levantei e fui em direção a janela, tentando imaginar a cena, tentando colocar a mim mesma de volta aos meus próprios sapatos mastigados, de saltos retos. Isto em 2004. Eu não recebi um bônus. Era o funeral do meu pai. Os oficiais de justiça quase nos levaram à falência. Vejo o meu namorado transando com a garçonete... e ela dá uma olhada para mim e me chama de Drácula.
Ok. As coisas estão começando a fazer sentido.

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